16/09/2019

Retomada Guarani Mbya da Ponta do Arado sofre ataque a tiros; o segundo no ano

Todo mundo fica assustado, as crianças tudo com medo e chorando”, conta o cacique Timóteo Karai Mirim Guarani Mbya

Seguranças de empreendimento privado acompanham de perto visita de apoiadores a indígenas na Ponta do Arado. Foto: Douglas Freitas/Amigos da Terra Brasil

Seguranças de empreendimento privado acompanham de perto visita de apoiadores a indígenas na Ponta do Arado. Foto: Douglas Freitas/Amigos da Terra Brasil

Por Assessoria de Comunicação – Cimi

Os Guarani Mbya da Ponta do Arado, retomada localizada em Belém Novo, Porto Alegre (RS), sofreram, na tarde deste domingo (15), por volta das 16h30, mais uma investida a tiros de indivíduos não identificados posicionados a partir da Fazenda Arado Velho, sobreposta ao território tradicional reivindicado pelos indígenas. A comunidade fica às margens do rio Guaíba, área também assediada por empreendimentos imobiliários.  

“Não atiraram contra pessoa, mas assim… por cima dos barracos, né, dos lados. Todo mundo fica assustado, as crianças tudo com medo e chorando”, conta o cacique Timóteo Karai Mirim Guarani Mbya. Ele explica que ataques do tipo, a tiros, com a intenção de assustar, são comuns na retomada, composta por uma comunidade que vive sob lonas pretas.

Desde que retomaram a terra, em 18 de junho de 2018, os Mbya Guarani sofreram atentados a tiros, foram ameaçados de morte e tiveram seus direitos de ir e vir cerceados pelos que se dizem donos do empreendimento imobiliário e que pretendem construir na região um condômino de luxo para abrigar famílias de classe média alta.

Em nota, o Cimi Regional Sul entende que “parece haver uma conexão entre esse fato e aquele ocorrido, na madrugada de sábado (14) para domingo (15), na retomada Terra de Areia”. A entidade defende que as autoridades públicas investiguem os dois ataques, separados apenas por algumas horas, em duas retomadas.

Outra “coincidência” do ataque contra Ponta do Arado é que os tiros foram disparados enquanto acontecia um ato dos movimentos sociais e de apoiadores à retomada Guarani Mbya. Integrantes desse grupo de apoiadores, inclusive, acompanharam os indígenas à delegacia para o registro de um boletim de ocorrência.

“Espera-se que as autoridades tomem as medidas cabíveis no sentido de assegurar paz e tranquilidade para na área reivindicada pela comunidade Mbya Guarani da Ponta do Arado”, diz o Cimi Regional Sul em nota. Este não foi o primeiro ataque a tiros sofrido pelos Guarani Mbya da Ponta do Arado. 

“Não é a primeira vez que fazem tiroteio no nosso barraco. Vem, ameaça, xinga a gente. Uma covardia isso acontecer”, lamenta cacique Timóteo Guarani Mbya. 

Mais um ataque registrado no ano

Era madrugada de uma sexta-feira, 11 de janeiro deste ano, quando os Guarani Mbya da Ponta do Arado foram atacados a tiros por homens encapuzados. Segundo o relato da comunidade, o ataque ocorreu por volta das três horas da manhã, quando dois homens com os rostos cobertos atiraram dezenas de vezes sobre os barracos dos indígenas. Além dos disparos, que não atingiram ninguém, os agressores também ameaçaram os Guarani, afirmando que, se não deixassem a área em dois dias seriam todos mortos.

“Chegaram dois homens armados, encapuzados, dando tiros em cima do nosso barraco. As crianças ficaram todas assustadas, chorando. Eles falaram que vão esperar até domingo. Se a gente não sair até domingo, eles disseram que vão matar todo mundo, que não vai sobrar nenhuma pessoa. Foram muitos tiros”, relatou na ocasião o cacique Timóteo Karai Mirim.

Os Guarani Mbya retomaram uma área na Ponta do Arado há um ano e meio. São quatro famílias vivendo sob condições precárias, ataques e ameaças. No entanto, cacique Timóteo Guarani Mbya afirma que não arredam o pé da “terrinha que é nossa para criar nossos filhos”. Durante o mês de abril quase inteiro, homens armados que prestam serviço de segurança para o empreendimento Arado Velho ameaçaram de morte os Guarani Mbya. A Justiça também tentou impedir a presença de apoiadores na retomada, sem sucesso. 

Fonte: Assessoria de Comunicação - Cimi
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