• 24/05/2017

    Conselho Nacional de Direitos Humanos repudia ato presidencial que convoca Forças Armadas

    Em meio a uma poderosa frente unificada de lutas dos movimentos sociais contra as reformas trabalhista e previdenciária, somado dos gritos de Diretas Já! diante da total ilegitimidade de um governo envolvido com uma escala de escândalos, Michel Temer apelou e em um decreto convocou as Forças Armadas para garantir "a lei e a ordem" no Distrito Federal.


    A medida ocorreu após a polícia reprimir com virulência as manifestações desta quarta-feira, 24, em Brasília. O ato de Temer causou profunda indignação não apenas entre os movimentos sociais, mas também de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), parlamentares e opinião pública.


    O Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH), do qual o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) faz parte, publicou uma nota repudiando o decreto e exigindo a sua revogação.


    Leia na íntegra:



    NOTA DE REPÚDIO AO DECRETO PRESIDENCIAL DE 24 DE MAIO DE 2017, QUE AUTORIZA O EMPREGO DAS FORÇAS ARMADAS PARA A “GARANTIA DA LEI E DA ORDEM” NO DISTRITO FEDERAL

     

    O Conselho Nacional dos Direitos Humanos – CNDH, órgão criado pela Lei nº 12.986/2014, repudia o uso das Forças Armadas para reprimir legítima manifestação de Movimentos Sociais na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, no dia 24 de maio de 2017, contra a retirada de direitos constitucionalmente assegurados, após brutal repressão policial contra os manifestantes, comprometendo a estabilidade das instituições democráticas e republicanas deste país.

     

    O Conselho repudia, igualmente, a extensão dos efeitos do Decreto Presidencial de 24 de maio de 2017 por uma semana, quando é de conhecimento público que o ato foi convocado apenas para a tarde deste dia 24 de maio, o que caracteriza inadmissível Estado de Sítio de fato.

     

    O CNDH se posiciona pela revogação imediata do Decreto.

     

    Brasília-DF, 24 de maio de 2017.

     

    CONSELHO NACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS – CNDH


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  • 24/05/2017

    Ato denúncia: “É como se alguém tivesse licença para nos caçar e nos matar”


    O ato foi realizado pelo Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) em parceria com movimentos e organizações sociais. Foto: Guilherme Cavalli / Cimi

    Por Cristiane Passos (CPT) e Tiago Miotto (Cimi), no blog da Articulação dos Povos e Comunidades Tradicionais

    No dia 23 de maio, foi realizado no Memorial do Ministério Público Federal, em Brasília, o “Ato denúncia por direitos e contra a violência no campo”. Através de depoimentos de indígenas, quilombolas, pescadores e trabalhadores rurais, a atividade denunciou o aumento da violência contra os povos do campo recentemente.

    O ato foi realizado pelo Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) em parceria com movimentos e organizações sociais que, diante do acirramento dos casos de conflitos e principalmente de violência no campo, reivindicaram uma ação conjunta de denúncia e de articulação de ações que tentem desmobilizar tamanha violência.

    Casos como a chacina de Colniza, no Mato Grosso, que vitimou nove trabalhadores rurais, o ataque aos indígenas Gamela, no Maranhão, em que alguns tiveram mãos decepadas, o assassinato de trabalhadores e trabalhadoras no Pará e em Rondônia, se seguiram em curto espaço de tempo e chamaram a atenção para o aumento da violência contra esses povos.


    Jeane Bellini, da coordenação nacional da CPT, apresentou os dados de violência no campo de 2016, com 61 assassinatos. Foto: Guilherme Cavalli / Cimi

    De acordo com os dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT), apresentados na ocasião pela Jeane Bellini, da coordenação nacional da Pastoral, em 2016 foram registrados 61 assassinatos, o dobro da média de casos registrados nos últimos 10 anos. Em 2017 já foram 26 assassinatos registrados e alguns casos ainda sob investigação quanto a sua motivação. Da mesma forma, aumentaram as tentativas de assassinato, em 2016 foram 25% a mais que no ano anterior, e as prisões, que tiveram um aumento de 185%, mostram claramente a estratégia de criminalização dos povos que lutam pelos seus direitos, terra e território no Brasil.

    Jeane apresentou, também, os dados de assassinatos e julgamentos registrados pela CPT desde 1985. Nesses 31 anos, foram 1.834 assassinatos em conflitos no campo, em que somente 112 casos foram julgados, condenando 31 mandantes e 92 executores apenas. A coordenadora avalia que a impunidade continua sendo a mantenedora da violência no campo. A certeza de que não serão punidos motiva mais agentes do latifúndio a exercerem a violência como ferramenta de expropriação territorial e exploração desenfreada de recursos naturais. “O Estado não é apenas conivente ou omisso, mas também ativo na violência”, analisou ela.

    “Nos últimos três anos, percebemos um aumento preocupante nos números de violência no campo, e por isso pedimos o apoio do CNDH para dar visibilidade ao que está acontecendo”, explicou Jeane. A partir da provocação e da continuidade da violência, o CNDH convidou organizações e instituições para debater o tema.

    “Precisávamos denunciar e articular ações urgentes que envolvessem as entidades de direitos humanos, organizações sociais e o que restou da República para fazer algo diante de toda essa violência. Os órgãos competentes do governo precisam ver o que fazer para dar respostas imediatas diante desse processo generalizado de violência no campo”, disse Darci Frigo, presidente do CNDH.

    A professora de Direito da Universidade de Brasília (UNB), Beatriz Vargas reforçou a importância desse trabalho de registro e enfatizou que a realidade é ainda mais dura do que os números da CPT mostram. “Existe um tipo de violência que é oculto, que não aparece no relatório. Manifesto aqui minha expectativa pessoal e cidadã de que essas ações de denúncia consigam de fato fortalecer a pauta de uma agenda de reversão dessa situação que é histórica no Brasil, e que vem aparecendo na cena pública de forma mais intensa ultimamente”, avaliou Beatriz.


    “Estamos em um momento que começamos a ver na cena da chamada criminalização" Foto: Guilherme Cavalli / Cimi

    A professora mostrou preocupação, ainda, com o aumento dos dados de prisões. “Estamos em um momento que começamos a ver na cena da chamada criminalização uma novidade, que se esboçou na ação penal instaurada pelo Ministério Público de Goiás, em que relacionam ações de luta de integrantes do MST a crimes graves. A grande novidade e preocupação nessa ação é que o MST passa a ser descrito diretamente como organização criminosa. Precisamos estar atentos para que esse precedente não se alastre na justiça brasileira”.

    Os números na prática: depoimentos das vítimas da violência no campo

    Fátima Barros, do Quilombo Ilha de São Vicente, no Tocantins, e da Associação Nacional dos Quilombos (ANQ), afirma que a luta dos quilombolas sempre foi constante, mas a violência se ampliou muito nos últimos anos.

    “Agora, a gente sente que é como se alguém tivesse licença para nos caçar e nos matar. As violências não acontecem quando a gente se identifica como quilombola. Quando a gente diz isso, muitos até acham bonito. Mas quando digo que quero o território, que é meu por direito, aí a gente passa a incomodar, ser ameaçados, e os programas de proteção protegem cada vez menos. Regularizar nossos territórios é uma forma de amenizar as violências, mas não de cessá-las, porque a pressão sobre eles continua”, afirma a quilombola.


    "Mas quando digo que quero o território, que é meu por direito, aí a gente passa a incomodar, ser ameaçados" denunciou Fátima Barros. Foto: Guilherme Cavalli

    Para Fátima, a sociedade brasileira nunca reconheceu e nem se sente culpada pelos 400 anos de escravidão no Brasil. “Mas nós vamos seguir lutando pelos nossos territórios, porque é assim que estamos protegendo também o Brasil. Somos guardiões desses espaços, desses territórios. Estamos aqui e sempre vamos denunciar, e o mundo vai ter que ouvir sim a voz dos marginalizados. Não nos calaremos”.

    Citando o caso do quilombo Rio dos Macacos, na Bahia, a quilombola Rosimeire dos Santos afirmou que em muitos casos o Estado, mais do que omisso, é o agente direto da violência. “A Marinha quer colocar cercas na água para nos destruir”. Ela se refere ao fato de que a Marinha do Brasil considera o território de Rio dos Macacos =área de defesa nacional, e pretende impedir o acesso dos quilombolas ao rio, de onde tiram seu sustento, por meio de um muro. “Se fecharem o acesso, logo vão começar a sair caixões de dentro da nossa comunidade, porque não vamos aceitar”, antevê a quilombola.

    Cao Gamela colocou sua preocupação com o que ainda pode vir a acontecer com seu povo. “Temos sofrido ameaças constantes. Essa abertura do governo deu possibilidade para ação criminosa. Eles falam que nós, que buscamos nosso território, é que somos criminosos. Nos últimos dias, fomos ameaçados por drones. A polícia nos diz que esses instrumentos não são da polícia, mas nenhuma ação está sendo tomada e o povo está sendo amedrontado, porque não sabe o que pode acontecer. Disseram que é para a ANAC que tenho que reclamar. Como eu, que estou lá na comunidade, vou saber como falar com a ANAC?” questiona o Gamela.

    Cao contou que os Krikati, no Maranhão, também vêm sofrendo ameaças.  “A gente já não sabe mais para quem reclamar. Na reunião que teve no dia do massacre, foi lida uma lista de cinco pessoas que tem que ser mortas lá em Viana. Lá tem os fazendeiros, mas tem também o patrão, o deputado federal Aluísio Mendes [PTN-MA]. Se algum de nós morrer, nós sabemos que a culpa vai ser dele”.


    "Continua a mesma ameaça, a partir do momento que a polícia sair de lá, índio vai morrer", lamentou a liderança Gamela. Foto: Guilherme Cavalli / Cimi

    Também do povo Gamela, Gracinalva Costa reforçou o ambiente de insegurança em que vivem os indígenas no Maranhão. “O massacre foi planejado com antecedência. Antes achavam que nós éramos os índios bonzinhos. A partir do momento que fomos cobrar nossos direitos, quiseram nos matar. Todos nossos direitos foram negados. Nós precisamos de nossa terra, sem o nosso território não temos nada. Continua a mesma ameaça, a partir do momento que a polícia sair de lá, índio vai morrer. Estamos com medo, mas com raiva também. Estamos cansados de correr atrás dos nossos direitos”.


    "A violência continua contra todas as comunidades que estão lutando pelos seus territórios". Foto: Guilherme Cavalli / Cimi

    Nailton Pataxó Hã-Hã-Hãe, liderança indígena histórica da  Bahia, tem 71 anos e foi incluído na lista de indiciamentos da CPI da Funai e do Incra. “É com muita raiva quevemos uma palhaçada contra as principais lideranças que trabalham com respeito com as suas comunidades e com o compromisso de recuperar os territórios que foram roubados. Nasci e me criei na aldeia, me tornei liderança para articular o povo que foi expulso da nossa terra na década de 1970”, relembra.
    “De 1975 até hoje, nenhum indígena pediu minha saída da liderança. Hoje estou incluído numa CPI, que eu nem sei o que é. Talvez isso tenha acontecido porque, depois de esperar 30 anos pela Justiça, resolvemos retomar o nosso território. A violência continua contra todas as comunidades que estão lutando pelos seus territórios, que lutam porque até hoje não foi cumprida a lei. Isso é vergonhoso. São pessoas que muitas vezes não sabem seus direitos, e quando alguém conhece e começa a lutar, é crucificado”, afirmou Nailton.

    Luís Batista, trabalhador rural e integrante do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST), ficou preso em Rio Verde, Goiás, por mais de um ano. Solto recentemente, ele avalia que sua prisão foi política.

    “Estou com 47 anos e nunca vi na minha vida lutar pela terra ser crime. Eu nunca sentei numa cadeira de escola para estudar, e não tenho vergonha de dizer isso, e nem de dizer que fui preso, porque foi uma perseguição. Teria vergonha de falar se fosse um criminoso, mas na minha vida aprendi a trabalhar na terra. Sou pai de três filhos e avô de dois netos. Eu, com 46 anos – completei 47 dentro da prisão – nunca tinha tido meu nome numa delegacia. Talvez nos fóruns, mas defendendo os direitos do povo. Não é uma prisão que vai me calar a boca. Lutar pela terra é um direito nosso e vamos continuar lutando”.

    Clóvis da Silva, do Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais (MPP) do Pará, ressaltou a pressão de projetos de infraestrutura sobre as comunidades tradicionais, falando sobre o caso de sua comunidade, pressionada pela construção de um porto de subsidiárias da multinacional Suzano. O pescador ressaltou que mesmo a energia que é vendida como “limpa”, caso de hidrelétricas e parques eólicos, é obtida por meio de projetos que desrespeitam os povos e comunidades tradicionais. “Tudo que acontece nos continentes reflete nas comunidades pesqueiras, porque tudo que se produz no país escoa pelos portos”, afirma o pescador, lembrando que a expansão do agronegócio também gera pressão sobre os territórios pesqueiros. “Nós estamos sendo ameaçados, recebendo ameaças de morte. Não dá para baixar a cabeça”.

    Carlos Augusto, da CONTAG do Pará, mostrou preocupação com a criminalização dos lutadores e lutadoras sociais, bem como com a grilagem, típica no Pará, que mantem a tensão no campo, resultando muitas vezes em violência.

    “Existe uma visão muito clara de criminalização dos movimentos sociais,um Estado conservador que tem um preconceito contra a luta pela terra em nível nacional. É evidente isso quando a gente olha as leis que esse congresso está aprovando”, afirma, citando os projetos do governo federal e da bancada ruralista que visam a reconcentração fundiária, a legalização da compra de terras no Brasil por estrangeiros, entre outros.

    Para ele, a ação do latifúndio é fortalecida pela falta de segurança pública. “Existe uma concepção perversa e conservadora baseada na pecuarização, numa matriz energética que destrói o ambiente, acaba com as terras indígenas e quilombolas, uma matriz minerária que vai destruindo milhares e milhares de trabalhadores e trabalhadoras. O Pará sempre foi um estado de lista de marcados para morrer, com preço de homens e mulheres marcados por se contrapor ao agronegócio, ao modelo de desenvolvimento e aos governos que foram eleitos em nome do latifúndio”.

    Giselda Pereira, seringueira de Rondônia, denunciou que “os que fizeram a chacina em Colniza são os mesmos que querem nos matar, invadir nossas reservas, nos destruir. Só em Rondônia, já foram 10 mortes por conflito agrário só neste ano. As pessoas que contrataram gente para matar aqueles nove são as mesmas que nos ameaçam. Pedimos que olhem para as unidades de conservação de Rondônia e parem os conflitos. Sou seringueira, não lutamos por terra, lutamos por florestas. Assim como nossos irmãos indígenas e quilombolas, é graças aos povos que sobrevivem nelas que elas ainda existem. Mas, infelizmente, se continuar assim elas vão deixar de existir e os povos que delas vivem serão dizimados”.


    “Estamos vendo legalizar esta questão de tirar nosso direito, de matar o índio e isso está legalizado". Foto: Guilherme Cavalli / Cimi

    Alberto Terena, do Conselho Terena e da APIB, também denunciou a gravidade da CPI da Funai e o indiciamento de indígenas como resultado dela. “Estamos vendo legalizar esta questão de tirar nosso direito, de matar o índio e isso está legalizado. Foi na semana passada aprovado o relatório da CPI da Funai, o Nailton e outros 14 indígenas estão sendo incriminados por lutar por seus direitos. Por isso eu também já fui preso. Dentro do Congresso hoje, tem a bancada ruralista, e ela é maioria. Onde que o nosso direito vai ser respeitado por essa bancada?”, questiona.

    “Os que nos defendiam não tinham direito de falar, e a sala era cercada para que nenhum representante indígena pudesse entrar. Quando você olha o relatório, são os índios que eles estão tentando incriminar, chamando o cacique Babau de bandido. Isso é gravíssimo. No Brasil, buscar o que diz a Constituição do nosso país se tornou crime, porque o governo não quer reconhecer e os grandes proprietários de terra que estão no Congresso dizendo ‘índio não precisa de terra’. Por isso estamos buscando fazer a denúncia internacional. Temos que nos juntar para que nossa caminhada se fortaleça a cada dia e não tenhamos que estar enterrando nossos parentes”, completou o Terena.

    Denúncia e compromisso
    Representantes de órgãos do governo, como Ministério Público Federal, Comissões de Direitos Humanos e Meio Ambiente da Câmara dos Deputados, OAB Nacional, Conselho Nacional de Justiça, Conselho Nacional do Ministério Público, Comissão de Direitos Humanos do Senado, entre outros, ouviram os depoimentos e as diversas denúncias de violência.

    Após a leitura da Carta Compromisso do Ato, as autoridades assumiram o compromisso de levar o documento para suas instâncias de ação e cobrar desses órgãos que também assumam a responsabilidade sobre essas denúncias, exigindo ações imediatas do Estado para frear a violência no campo.


    "Tivemos um ministro do Trabalho que se recusou a publicar a lista suja do trabalho escravo”. Foto: Guilherme Cavali / Cimi

    Para Deborah Duprat, procuradora federal dos Direitos do Cidadão (MPF), a construção histórica do nosso país sempre deixou os povos originários de lado e os atingiu com violência para manter seu processo colonialista de consolidação social.

    “Temos que lembrar a construção da nossa história, da falta de alteridade em relação aos povos originários, da escravidão e tantas outras mazelas, bem como a divisão das sesmarias. Parece que agora estamos voltando ao início da nossa história. Tivemos um ministro do Trabalho que se recusou a publicar a lista suja do trabalho escravo”.

    Para a procuradora, há uma ofensiva para que voltemos a ser uma sociedade de poucos homens, brancos e ociosos. “Precisamos combater a ideia de que uma pessoa seria criminosa por lutar”.

    Duprat também ressaltou a preocupação com a impunidade dos agressores e a atuação cada vez mais intensa de milícias armadas. “A CPT em Mato Grosso denunciou que de todos os assassinatos que tiveram no estado, não houve nenhuma punição. No Mato Grosso do Sul conseguimos somente através de uma força tarefa ter alguma punição em relação às constantes violências contra os Guarani e Kaiowá e os Terena. Queremos, também, assumir um compromisso de enfrentamento às milícias armadas. Sabemos que em Rondônia e no Pará o número de casos tem aumentado muito”.

    A absurda atuação da bancada ruralista na CPI da Funai e do Incra também causa preocupação à procuradora que enfatizou que precisamos cobrar esses agentes do agronegócio dos seus crimes contra os povos do campo. O próprio deputado Nilson Leitão (PSDB – MT), relator da CPI, responde a inquérito que segue em segredo de justiça no STF por ter tido uma ligação telefônica interceptada quando da demarcação da TI Marãiwatsédé, conclamando as pessoas para invadirem a área indígena e impedirem a demarcação. “A legislação está sendo feita para a violência aumentar, e os latifundiários estão se sentindo muito à vontade”, finalizou.

    O subprocurador da República e coordenador da Sexta Câmara do MPF, especializada em direitos dos Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais, anunciou que o órgão está organizando um mecanismo de alerta rápido para prevenção de massacres e violações de direitos.

    “Mesmo nas situações de ameaça, há algumas que podem ser consideradas ameaças mais agravadas, e essas que podem se converter em morte. O que é importante é que nós tenhamos essa rede de parceiros articulada para que possamos imediatamente responder, para impedir que a fase seguinte aconteça”, explicou.


    Foto: Guilherme Cavalli / Cimi

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  • 24/05/2017

    Chacina em Redenção (PA) deixa pelo menos dez posseiros mortos

    As dez vítimas foram mortas na manhã desta quarta-feira, 24 de maio, durante o cumprimento de uma ação de reintegração de posse determinada pelo juiz da Vara Agrária de Redenção. Ainda segundo informações iniciais, o magistrado determinou que essa ordem fosse cumprida por policiais militares e civis. O juiz não se atentou para as orientações que constam na Cartilha da Ouvidoria Agrária Nacional e nas diretrizes do Tribunal de Justiça, que determinam que esse tipo de ação seja realizada por Batalhão da Polícia Militar especializado nestas situações.

    Equipe da Polícia Federal (PF) está se deslocando para a área onde ocorreu o conflito para verificar se há mais pessoas mortas ou feridas.

    Segundo veículos de comunicação da região, os corpos dos posseiros foram levados, inicialmente, para o necrotério do Hospital Municipal de Redenção, posteriormente devem ser transferidos para o Instituto Médico Legal (IML) do município de Marabá.

    A Comissão Pastoral da Terra (CPT) divulgou, há pouco mais de um mês, o seu relatório anual, Conflitos no Campo Brasil 2016, em que destacou os 61 assassinatos ocorridos no ano passado, o maior número já registrado desde 2003. E a violência não dá trégua em 2017. Até o momento, já são 26 pessoas assassinadas em conflitos no campo brasileiro – as mortes ocorridas hoje em Redenção ainda não constam nesta relação. E no último dia 19, completou-se um mês da Chacina de Colniza, no Mato Grosso, quando 9 trabalhadores rurais foram brutalmente assassinados por um grupo de homens encapuzados.

    Histórico de conflito

    No segundo semestre do ano passado, no dia 21 de outubro, durante reunião da Comissão Nacional de Combate à Violência no Campo, realizada na sede do INCRA, em Marabá (PA), o coordenador do Acampamento Nova Vida, Ronaldo da Silva Santos, informou que as 150 famílias acampadas desejavam que o imóvel fosse destinado para a Reforma Agrária. As famílias estavam acampadas na área desde 18 de maio de 2015.

    O então Superintendente Regional do INCRA em Marabá, Claudeck Alves Ferreira, assumiu compromisso com Ronaldo de se reunir com o proprietário da fazenda e negociar sua destinação à Reforma Agrária. Porém, segundo Ferreira, a área não poderia ser desapropriada enquanto estivesse ocupada.

    Na época, participaram desta reunião, o então Ouvidor Agrário Nacional e Presidente da Comissão Nacional de Combate à Violência no Campo, desembargador Gercino José da Silva Filho; Aílson Silveira Machado, representante da Secretaria de Direitos Humanos do Ministério da Justiça e Cidadania; Representantes regionais do INCRA; Representante da Polícia Militar de Marabá; e coordenadores da Federação Estadual dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar do Pará (FETRAF – PARÁ).

    Mais informações:

    Cristiane Passos (assessoria de comunicação da CPT Nacional): (62) 4008-6406 / 99307-4305

    Elvis Marques (assessoria de comunicação da CPT Nacional): (62) 4008-6414 / 99309-6781


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  • 24/05/2017

    XVII Assembleia do Povo Xukuru do Ororubá: “Nenhum direito a menos! Fora Temer!”


    Crédito das fotos: Ângelo Bueno/Cimi Regional NE


    Com a inauguração do Espaço Mandaru, nome que o cacique Xikão Xukuru recebeu ainda vivo durante pajelança, cerca de 1.500 indígenas Xukuru, de outros povos, aliados e parceiros se reuniram para a XVII Assembleia do Povo Xukuru do Ororubá, que ocorreu entre os dias 17 e 19 de maio – se encerrando no dia 20 com a tradicional descida da Serra do Ororubá até o local em que Xikão foi assassinado, na cidade de Pesqueira, agreste pernambucano.

     

    O encontro foi marcado por reflexões relacionadas ao grave estado de deterioração das instituições democráticas do Brasil promovido pelo Capital em concluiu com seus aliados, caso de Michel Temer e seu governo mergulhado em graves denúncias de corrupção e reformas para a retirada de direitos sociais. "Vivenciamos um grande ataque aos direitos sociais, políticos, culturais e econômicos", salienta a carta final da XVII Assembleia do Povo Xukuru.

     

    "O povo Xukuru se fortalece quando se junta nos rituais, quando aumenta o diálogo entre as organizações internas e realiza suas atividades reafirmando a identidade e formação política do nosso povo. Reforça a união do povo, não só nas comunidades, mas com todos os movimentos sociais, recebendo as várias representações da sociedade comprometida com as lutas", diz outro trecho da carta.

     

    Leia o documento na íntegra:

    CARTA DA XVII ASSEMBLEIA DO POVO XUKURU

     

    LIMOLAIGO TOIPE: NENHUM DIREITO A MENOS

    “A Nossa Luta Não Para”

     

    Nós, povo Indígena Xukuru do Ororubá, estivemos reunidos entre os dias 17 à 19 de maio de 2017 durante a realização de nossa assembleia anual que teve inicio com o ritual sagrado, realizado no terreiro do Rei do Ororubá, onde pedimos força aos encantados, ao nosso Pai Tupã e a nossa Mãe Tamaim para abrir os caminhos e orientar nossas atividades. Nesse ano, inauguramos o Espaço Mandaru, em memória do nosso grande líder Xikão Xukuru, que em vida recebeu este nome durante uma pajelança, indicado pelos encantados. Dona Zenilda, a mãe sacarema, fez o batismo do espaço. Inspirada pela Natureza Sagrada, entoou um ponto do toré, fazendo ecoar sua voz por todo ambiente. Este será o local permanente de realização das nossas assembleias, se constitui também num lugar de acolhimento, celebrações e vivências várias que contribuem com nosso processo de construção do Bem Viver Xukuru e todos os povos da Terra. Na criação do espaço Mandaru valorizamos nossa arquitetura tradicional através do trabalho em mutirão.

     

    Cerca de mil e quinhentas pessoas participaram durante os três dias. Além dos guerreiros e guerreiras do povo, representantes das aldeias Pão de Açúcar, Pé de Serra de São Sebastião, Pé de Serra dos Nogueiras, Cana Brava, Brejinho, Afetos, Caípe, Caetano, Couro Dantas, Oiti, Caldeirão, Capim de Planta, Lagoa, Cimbres, Sucupira, Guarda, Jatobá, Pedra D’Água, Curral Velho, São José, Gitó, Mascarenhas, Santana, Passagem, Cajueiro e os indígenas da cidade, participaram também os parentes dos povos Kambiwá, Tuxá, Truká, Kapinawá, Fulni-ô, Pankararu e Pipipã do estado de Pernambuco, dos povos Potiguara e Tabajara do estado da Paraíba, do povo Tapuia do estado de Goiás, representantes da juventude indígena dos povos Pano Tacana de Rondônia e Tumbalalá da Bahia. Contamos ainda com a presença de várias instituições de Ensino Superior como o IFPE, UFPE, UPE, UFRPE, UNICAP, UNIVASF, UFPB, UFRN, UFCG, Museu do Homem do Nordeste, uma delegação dos Cursos de Saúde Coletiva e de residência em Medicina da Família e Comunidade e Multiprofissional, várias escolas dos municípios de Pesqueira, Poção e Sanharó e dos Movimentos sociais: CIMI, MCP, IPJ, FETAPE, Centro Sabiá, Ocupe Estelita, Fórum da Juventude de Pernambuco,Serta, Adveniat (Alemanha), CASA, Nãlu’um, e Diocese de Pesqueira.

     

    Vivenciamos um grande ataque aos direitos sociais, políticos, culturais e econômicos dos povos indígenas, populações tradicionais e vários setores da sociedade brasileira. Essa ofensiva tem como objetivo aumentar a concentração de riqueza provocando um maior empobrecimento das classes sociais oprimidas. São ameaças às demarcações de terra, à retirada de direitos trabalhistas e dos recursos das pessoas que mais necessitam, atacando os benefícios e a previdência social, promovidas no Congresso Nacional a mando dos latifundiários e dos grandes empresários cada vez mais ricos em conluio com a grande mídia empresarial.

     

    Como resposta, o povo Xukuru assume, firmemente, que a organização e a luta de resistência é uma necessidade na defesa dos direitos conquistados e na ampliação dos mesmos. Reforça a importância de efetivar articulações e consolidar alianças entre os lutadores e lutadoras, nas lutas concretas em defesa das conquistas sociais. Precisamos nos unir contra as propostas de emendas à Constituição Federal que atingem direitos dos Povos do Campo, das Águas, das Florestas e das Cidades.

     

    O povo Xukuru se fortalece quando se junta nos rituais, quando aumenta o diálogo entre as organizações internas e realiza suas atividades reafirmando a identidade e formação política do nosso povo. Reforça a união do povo, não só nas comunidades, mas com todos os movimentos sociais, recebendo as várias representações da sociedade comprometida com as lutas. Por esse motivo, essa assembleia ganhou amplitude, assumindo um caráter de assembleia popular e revolucionária. Diante desse momento político grave em que o Brasil atravessa a assembléia se junta a milhões de brasileiras e brasileiros pelo “FORA TEMER!”, em defesa de eleições gerais com a participação ativa dos povos indígenas.

     

    O Povo Xukuru fortalecido, sem medo, renova seu compromisso na busca por seu espaço político na construção de uma sociedade justa, solidária e pluralista.

     

    Nenhum direito a menos!

    Unidade do povo Xukuru e daqueles que querem lutar!

    Diga ao povo que avance!

    Avançaremos!

    Aldeia Pedra D’Água, 19 de maio de 2017.

     

     

     

     

     

     

     


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  • 24/05/2017

    Funai e SPU encaminham solução, mas Justiça Federal insiste com despejo de 67 famílias indígenas para esta quinta, 25


    Indígenas mantêm plantações por toda área retomada, entre casas e escombros. Fotos: Renato Santana/Cimi


    Por Renato Santana, da Assessoria de Comunicação – Cimi

     

    Uma nova reintegração de posse está programada contra a retomada do povo Kariri Xocó de Paulo Afonso, no sertão da Bahia. Contrariando decisão do Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região, que suspendeu por 45 dias o despejo no último dia 29 de março para a busca de uma solução alternativa, cujas medidas foram providenciadas e estão em curso pela Funai e o SPU, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) comunicou ao Ministério Público Federal (MPF) que está pronta para retirar à força nesta quinta-feira, 25, 67 famílias que passaram a viver nos escombros de uma vila abandonada há 30 anos pelo Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte (DNIT). A decisão pela execução da reintegração partiu de liminar da Justiça Federal de Paulo Afonso alegando que o prazo concedido pelo TRF-1 expirou.


    Conforme documentos obtidos pela Assessoria Jurídica do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Funai e SPU atenderam a decisão do desembargador. Um fluxograma das ações da destinação do imóvel da União, onde está a retomada Kariri Xocó de Paulo Afonso, à Funai está em pleno desenrolar como parte do processo administrativo na SPU/BA N.º: 04941.000304/2017-54. "A decisão do TRF-1 permitiu a resolução da demanda sem a necessidade de reintegração. Pelos documentos oficiais obtidos isso aconteceu, não tem como negar. Não tem sentido uma decisão para retirar os indígenas da aldeia se há um encaminhamento", argumenta o advogado Adelar Cupsinski, do Cimi.


    O desembargador Kassio Marques do TRF-1, em Brasília, suspendeu a reintegração de posse em março. Na decisão, Marques concedeu prazo de 45 dias para que a Fundação Nacional do Índio (Funai) e a Secretaria de Patrimônio da União (SPU) encontrassem uma solução para a área retomada pelos indígenas, na medida em que se trata de um patrimônio público e o DNIT demonstrou não ter interesse no local. Os órgãos estatais chegaram a uma solução depois de tratativas e deram início aos trâmites burocráticos, que seguem correndo respeitando as determinações legais. "Entendemos que esse prazo precisa ser indeterminado. Pedimos isso para as autoridades, o MPF também", destaca o cacique Jailson dos Santos Kariri Xocó de Paulo Afonso.


    A nova decisão de despejo não teve a divulgação necessária diante da repercussão do ato para a vida de 170 indígenas. Foram dias em busca da confirmação, atrapalhando a defesa dos indígenas. Uma integrante do corpo técnico do MPF chegou a fazer contato com a Subseção Judiciária de Paulo Afonso para confirmar a reintegração. Conforme relatório do MPF obtido pela assessoria de comunicação do Cimi, um diretor da Subseção não identificado confirmou o despejo, mas ressaltou que não poderia conceder cópia do agendamento por não estar autorizado a dar publicidade ao ato. Questionada pela mesma técnica do MPF, a Fundação Nacional do Índio (Funai) tampouco havia sido notificada da agenda do despejo. A Advocacia-Geral da União (AGU), responsável pela Procuradoria da Funai, sequer recebeu o despacho do TRF-1 com a decisão do desembargador – só depois disso os 45 dias podem ser contados; menos ainda tomou conhecimento da nova decisão pela reintegração.  

     

    "Parece que estão fazendo por debaixo dos panos, não entendemos direito. Isso gerou um desencontro de informações, parece que para confundir mesmo. Como podem despejar mulheres, crianças, idosos, um povo que para viver precisa de estar na terra sagrada, dessa maneira? Pra gente é genocídio", protesta o cacique Jailson. Para o indígena, "é muita tristeza. As autoridades estão sendo arbitrárias com um povo já sofrido por tanta violência de ser expulso cada vez de um canto diferente". O cacique explica que eles estão sobre dois hectares de uma área reivindicada que possui 170.  

     

    A retomada se localiza às margens do rio São Francisco – um lugar sagrado para os povos indígenas do Submédio e Baixo São Francisco: as cachoeiras sagradas de Paulo Afonso, interrompidas pela barragem do complexo hidrelétrico construído na década de 1950. "Não estou entendendo porque tão fazendo isso com a gente. A cidade não tem o que oferecer, só nossa aldeia. São muitos anos de sofrimento, e aqui sentimos que a vida pode ser melhor na tradição, na terra, na nossa religião, na nossa cultura. Peixe fora da água se acaba. A gente é assim", diz a liderança José Francisco dos Santos Kariri Xokó de Paulo Afonso. O indígena explica que os federais estão "passando" na frente da aldeia e intimidando a comunidade.

     

    A 6a Câmara de Coordenação e Revisão da Procuradoria-Geral da República (PGR), por intermédio de seu coordenador, o procurador João Akira Omoto, interveio junto à Justiça Federal no sentido de demonstrar que por mais que o prazo de 45 dias tenha expirado, uma solução definitiva está em curso – no âmbito do governo federal. Para a PGR, uma reconsideração precisa ser feita quanto ao despejo. O Procurador da República em Paulo Afonso, Bruno Jorge Rijo Lamenha Lins, entende ainda que a reintegração solicitada possui duas justificativas nada sólidas.    

     

    Para o MPF, com base em farta documentação anexada nos autos, a área pertence à União – a impetrante da ação é uma empresa privada, a UZI Construtora, que alega ter a posse – e a liminar de reintegração não correspondente à terra retomada pelos indígenas. Em 2014, o DNIT manifestou à SPU não ter interesse nesta área chamada Cachoeira dos Veados, ao lado da Ponte Metálica da BR-423 – local da retomada Kariri Xocó. No entanto, a construtora impetrou liminar pela reintegração da Fazenda Tapera de Paulo Afonso. "Estou convicto e tenho total clareza de que a terra é da União. Da mesma forma que nos autos há dúvidas sobre qual a área a ser reintegrada", afirmou o procurador ainda em março.

     

    Uma semana antes da reintegração, os Kariri Xocó de Paulo Afonso estiveram com o juiz de primeira instância João Paulo Pirôpo de Abreu, que mesmo entendendo que a área pertence à União, e silenciando diante da dúvida pertinente quanto à área a ser reintegrada, afirmou se tratar de uma possessória, ou seja, a construtora apresentou documentos de posse, e que certo ou errado, a função do juiz é decidir; e a decisão dele estava dada. "A gente pede socorro. Por mim, pelos meus filhos, pelo meu povo. Aqui plantamos, temos um teto, a natureza que nos oferece o contato com os encantados e a medicina da gente. Temos o rio, o rio dos peixes para comer e do Reino Encantado que existe nele", diz Rafaela Kariri Xocó. "Meus filhos me perguntam: por que não querem que sejamos felizes aqui? O que vai acontecer com o feijão, a abóbora e a melancia que a gente plantou, mamãe?".

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  • 24/05/2017

    Povos tradicionais debatem alternativas ao modelo social imposto pelo capitalismo



    O capitalismo e sua ideia de desenvolvimento e exploração de recursos ambientais e humanos nunca vai ser bom, nunca vai ser verde” Foto: Tiago Miotto / Cimi

    Por Cristiane Passos (CPT), no blog da Articulação dos Povos e Comunidades Tradicionais

    No segundo dia do II Encontro Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais, os participantes debateram formas de organização social que se contraponham ao paradigma desenvolvimentista do capitalismo.

    Ruben Siqueira, da coordenação nacional da Comissão Pastoral da Terra (CPT), iniciou o debate retomando um documento do século XVI que traz o início da construção da sociedade brasileira, ainda a partir da perspectiva colonialista, em que outra potência europeia, a França, passa a disputar com os portugueses o domínio desse modelo social no país. Nenhuma alteração viria em relação à imposição de um modelo desenvolvimentista de sociedade, desconsiderando totalmente as experiências dos povos que aqui já viviam. A ideia de um plano desenvolvimentista para a sociedade brasileira já fixou raízes no início da sociedade colonial.

    Até hoje este é o modelo que ainda tenta se impor, não só no Brasil, como no mundo. Com novas roupagens e fases, o desenvolvimentismo, o neodesenvolvimentismo ou mesmo, já dito hoje, o hiperneodesenvolvimentismo, tem a mesma base de raciocínio: o capitalismo precisa manter sua máquina e produzir em detrimento da capacidade do planeta, em detrimento de outras ideias de sociedade, de consumo e mesmo de produção.

    “Não existe desenvolvimento bom. O capitalismo e sua ideia de desenvolvimento e exploração de recursos ambientais e humanos nunca vai ser bom, nunca vai ser verde, como eles tentam passar”, analisou Ruben.

    O Bem Viver

    Padre Paulo Suess, assessor teológico do CIMI, trouxe o Bem Viver como um modelo de sociedade que se contrapõe ao modo capitalista, priorizando os saberes dos povos originários. “Nós temos uma missão para converter essa sociedade. Temos o argumento de que somos o futuro, pois se a natureza, que nós defendemos, for destruída, isso vai atingir a todos e todas”, analisou.

    Para Paulo, dentro da perspectiva do Bem Viver e de uma sociedade mais equilibrada, devemos priorizar a sobriedade feliz ao invés da alegre irresponsabilidade (superficialidade). O Papa Francisco também desenvolve essa ideia em sua encíclica, a Laudato Sí, em que fala que não podemos separar a questão ecológica das questões sociais. A natureza é uma aliada fiel aos pobres, pois encontra-se junto aos pobres mais maltratados.

    “A sobriedade é libertadora porque restabelece a nossa relação com o mundo. Precisamos nos converter ecologicamente, mudar nossas práticas pelo mundo. O desapego é essencial para a construção livre, não sejamos escravos das coisas, precisamos nos desapegar. O desapego desestabiliza o sistema, a redução do consumo desnecessário faz isso. Não significa simplesmente abrir mão, mas desprender-se, libertar-se, purificar-se. Recusar a práticas obsessivas de acumulação”, enfatizou Suess.

    Para ele, a vida com mais simplicidade é possível, junto à natureza. “Precisamos construir um consenso mundial, bem característico dos povos indígenas, a partir desses paradigmas. Nós que temos o privilégio de saber, temos também o dever de agir”, finalizou.


    Fotos: Guilherme Cavalli / Cimi

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  • 23/05/2017

    II Encontro dos Povos e Comunidades Tradicionais reúne cerca de 100 pessoas em Luziânia (GO)


    Ritual da Teia dos Povos e Comunidades do Maranhão. Foto: Tiago Miotto / Cimi

    Por Cristiane Passos (CPT), no blog da Articulação dos Povos e Comunidades Tradicionais

    De 22 a 24 de maio ocorre no Centro de Formação Vicente Cañas, em Luziânia, o Encontro que reúne representantes de diversos povos tradicionais do país, onde discutem a conjuntura política nacional e a luta diária pela garantia de seus territórios e de seus direitos. O Encontro teve início na manhã desta segunda (22), com um ritual da Teia dos Povos e Comunidades do Maranhão, acolhendo indígenas, quilombolas, pescadores, seringueiros, geraizeiros, retireiros, catadores de flores sempre viva, e todos e todas que irão participar da atividade.

    Representante do povo Pataxó Hã-Hã-Hãe, do sul da Bahia, cacique Nailton Pataxó ressaltou a importância da união dos povos tradicionais e, além disso, a importância dos rituais desses povos como forma de fortalecimento na luta. Ele destacou também a atuação fundamental das mulheres na luta e nos espaços de liderança entre as comunidades. “Precisamos fazer uma reflexão da nossa organização, nos juntar para enfrentar essa conjuntura que estamos vivendo. O ritual é uma das ferramentas principais para a gente se reforçar e também para quebrar o medo. Quero destacar, com isso, a importância das mulheres na luta. Grande parte dos encantados no meu povo se manifesta nas nossas mulheres, elas são centrais na nossa cultura e nos nossos rituais. Precisamos também que elas participem cada vez mais nas instâncias de liderança dos nossos povos”.


    “Precisamos fazer uma reflexão da nossa organização, nos juntar para enfrentar essa conjuntura que estamos vivendo". Foto: Guilherme Cavalli / Cimi

    Ana Rita Picanço, quilombola do Amapá, aponta como maior desafio atualmente a regularização dos territórios. Para ela, ao mesmo tempo em que estão na mira da violência do capital no campo, os povos se fortalecem com a sua união. “Temos que ser unidos na luta e no tambor. Eu me sinto fortalecida quando estou com todos os povos, não me sinto sozinha assim”.

    Já Josemar Durães, do Movimento dos Pescadores Populares (MPP), de Minas Gerais, trouxe a problemática da água. “A questão da água é muito séria. Estamos na nossa região fazendo a revitalização de nossos rios, com o manejo e o saber dos povos. Quando falamos em resistência, temos que falar em ameaças também. E temos que unificar a nossa luta. Queremos chegar nesse mundo proposto pela nossa tradição, baseado na ideia do bem viver”.

    Do MPP do Pará, Josana Pinto convocou os guerreiros para se unirem na luta. “Não devemos simplesmente formar lideranças, mas formar guerreiros. Nossa luta é todo dia. A história dos povos das águas é igual a dos outros povos, precisamos resistir para garantir nossos direitos e contra o retrocesso desse governo ilegítimo”.

    Josenilson Nogueira e Antônia Valéria Nascimento, seringueiro e seringueira do Acre, compartilharam a dura realidade dos conflitos e da violência contra eles. Mas destacaram a importância da união das lutas, da criação de associações e do apoio de parceiros, como as Pastorais do Campo. Giselda Pereira, seringueira de Rondônia, também trouxe a realidade dos conflitos e da violência cada vez maior na região. Denunciou a invasão de unidades de conservação do estado, que estão sendo tomadas por grupos que exploram ilegalmente a madeira e que, de forma violenta, expulsam os povos tradicionais que lá vivem. “Onde os invasores veem dinheiro, nas nossas florestas, nós vemos vida, e vida que deve ser respeitada”, enfatizou ela.

    O plano de civilização brasileira não contempla o saber tradicional

    Na análise de conjuntura nacional e internacional, Zezé Pacheco, do Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP), destacou o conceito de civilização que foi construído no Brasil a partir de uma ideia eurocêntrica de formação social. “A violência e o castigo exemplar são marcas da nossa construção social, o negro que tentou se insurgir apanhou na frente dos demais para servir de exemplo, para que todos aceitassem a subjugação. Essa lógica é a mesma que vivemos até hoje. Não querem que haja espaço para outros povos e modos de vida diferentes desse modelo social. Querem manter essa ideia do homem cordial, o brasileiro pacato que tudo aceita. Mas temos sim muitas histórias de resistência, como o povo Tupinambá, na Bahia, que lutou para expulsar os portugueses e luta até hoje para se manter em seu território”.


    "A violência e o castigo exemplar são marcas da nossa construção social" Foto: Tiago Miotto / Cimi

    De acordo com Zezé, a lógica desenvolvimentista sempre pautou o nosso país. Pautou inclusive entidades representativas, como os sindicatos, e boa parte da esquerda brasileira. “Por isso a dificuldade em nossa luta de ter defesa, porque ela contrapõe esse modelo de pensamento”, completou. Exemplo disso foi em 2005, com o estudo minerário brasileiro, quando o governo descobriu que a maioria das reservas de minérios do Brasil está em territórios tradicionais. A investida contra esses territórios aumentou e Lula, então presidente, declarou que não deixaria de fazer um plano de desenvolvimento para o Brasil por causa de “alguns bugres”.

    Cleber Buzatto, do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), destacou o momento complicado que vivemos com o governo ilegítimo de Michel Temer. “Estamos em um período de inconstância política, o que acaba por atacar cada vez mais o modo de vida dos povos tradicionais. Nesse momento da conjuntura, os inimigos desses povos estão mais fortes e mais organizados para atacar os direitos dos povos e mesmo seus apoiadores na sociedade. Grave também é o ataque que esses grupos fazem inclusive contra a Constituição Brasileira, desrespeitando-a. Outro instrumento de ataque dos ruralistas é a CPI da Funai, que está aí contra lideranças indígenas, contra pessoas vinculadas a órgãos públicos e apoiadores. Podemos ver que um dos modos de operar essa campanha é o racismo. Os ruralistas se referem aos indígenas como ‘supostos’ indígenas, questionando seu direito de autodeclaração identitária”.

    Cleber destacou, por outro lado, a importância de espaços de união e articulação das lutas. “Esse encontro é um reflexo desse processo, de luta, articulação e mobilização dos povos no Brasil. É importante estarmos atentos, articulados, mobilizados, não baixarmos a cabeça diante das tentativas de criminalização ou mesmo de cooptação. Precisamos estar muito atentos. O processo histórico sempre tentou negar a legitimidade dos povos, a legitimidade das comunidades tradicionais. Por isso esses espaços de articulação são de extrema importância para combater essa ideia”, finalizou.

    Biomas e a Casa Comum

    Representando a Articulação das CPT’s do Cerrado, Isolete Wichinieski falou da importância da escolha do tema da Campanha da Fraternidade desse ano sobre os biomas, e como essa ação facilitou a discussão sobre ecologia, conservação da natureza e convivência entre os povos e as florestas e as águas. “A Campanha da Fraternidade trouxe o chamado do Papa para entender a ecologia integral, entender a convivência com a natureza, renunciar ao modelo consumista”, completou.

    Isolete destacou também que a grilagem de terras pelo capital transnacional na área do cerrado tem aumentado, principalmente no Piauí e no Maranhão. “O próprio CAR (Cadastro Rural) está contribuindo para isso. Alguns fazendeiros colocam dentro do cadastro rural as áreas de comunidades como suas reservas e depois expulsam os povos”.



    "Alguns fazendeiros colocam dentro do cadastro rural as áreas de comunidades como suas reservas e depois expulsam os povos”. Foto: Ingrid Campos / CPP

    A privatização dos parques é outro grande problema. “Esses espaços estão sendo vendidos e explorados pelo capital. Da mesma forma, a questão da venda de terras para estrangeiros e a não exigência mais do licenciamento ambiental só tem agravado o problema. No cerrado hoje é permitido desmatar 80%. A Campanha da Fraternidade vem fortalecer esse processo de denúncia, como estamos fazendo na Campanha ‘Sem Cerrado, Sem Água, Sem Vida’. Precisamos visibilizar os problemas e conflitos nos biomas, pois a impressão que é passada é que nos biomas além da Amazônia não existem povos”, analisou Isolete.

    José Iborra, da Articulação das CPT’s da Amazônia, trouxe um panorama da região amazônica, uma das mais ricas do planeta, tanto em biodiversidade como em diversidade de povos. Os problemas que acometem a região não se limitam aos estados da Amazônia Legal brasileira, mas atingem também outros nove países da América Latina, que fazem parte da chamada Pan-Amazônia. “Desmatam mesmo dentro das unidades de conservação. Entre os casos de violência (conflitos), os maiores números são na Amazônia. A violência atinge mais os sem-terra na Amazônia. O principal alvo dos conflitos são as comunidades tradicionais, mas o foco da violência são os sem-terras”.

    Além da violência, os povos amazônicos e seus apoiadores sofrem constantemente com as ações desqualificadoras dos meios de comunicação contrários à luta. “Vemos todos os dias a criminalização dessas pessoas, bem como constantes ameaças contra os defensores das causas desses povos”.

    Thiago Valentim, da coordenação nacional da Comissão Pastoral da Terra (CPT), reforçou a importância de planos de convivência dos povos com as características de cada bioma em que eles vivem, como por exemplo o semiárido e a caatinga. Mesmo com a seca comum nessas regiões, é possível produzir e viver em harmonia com o ambiente.

    “Existem várias formas de utilizar a terra e a água em sintonia com as características da região. Estamos com cinco anos de seca no Nordeste. Essas secas estão sendo mais prolongadas, muito por causa da própria ação do homem e, principalmente, do capital, causando um desequilíbrio no ecossistema. Dessa forma, essas secas acabam atingindo mais duramente as comunidades. Mas ainda assim é possível pensar em ações e políticas públicas que possibilitem essa convivência, é por isso que temos que lutar”, completou.


    "O ecossistema do manguezal é de extrema importância para a permanência do nosso povo no território". Foto: Ingrid Campos / CPP

    João Batista dos Santos, do Movimento dos Pescadores e Pescadoras (MPP), falou de como a dinâmica dos litorais é importante para o equilíbrio do planeta. Os mangues também fazem parte desse processo. “O desequilíbrio ecológico nessas áreas impacta em tudo. O ecossistema do manguezal é de extrema importância para a permanência do nosso povo no território, para a reprodução material e imaterial dessas comunidades. Por isso que há resistência, mesmo com toda a violência. O manguezal é muito importante para a reprodução das espécies, não só marinha, mas também da fauna e da flora”. Segundo ele, os manguezais são mais invisibilizados que os outros biomas e, por isso, essas regiões e seus povos são tratados com racismo ambiental, menosprezados e diminuídos dentro das discussões pela preservação da natureza.

    A Articulação e as Pastorais do Campo

    A Articulação dos Povos e Comunidades Tradicionais surgiu em 2013, a partir da percepção de que povos indígenas e diversas comunidades tradicionais do campo, das florestas e das águas enfrentavam os mesmos desafios e violações, sofrendo com a pressão direta dos interesses privados sobre seus territórios e modos de vida.

    A partir da provocação das Pastorais do Campo – CPT, Cimi, CPP, Cáritas, PJR e SPM – e dos próprios povos, comunidades e suas organizações próprias, começou a organizar-se uma articulação nacional, protagonizada por representantes dos povos e comunidades tradicionais e voltada a unificar as lutas em defesa de seus direitos, seus territórios e projetos de vida e de futuro.


    Foto: Guilherme Cavalli / Cimi


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  • 22/05/2017

    II Encontro de Mulheres Munduruku do Alto Tapajós:


    Mulheres Munduruku discutem ameaças à terra indígena. Crédito das fotos: Fernanda Moreira/Cimi Regional Norte II


    A aldeia Santa Cruz sediou no início deste mês, entre 8 e 10 de maio, o II Encontro de Mulheres Munduruku do Alto Tapajós. Esta porção da terra indígena, localizada no município de Jacareacanga (PA), concentrou 100 mulheres Munduruku que estiveram reunidas com caciques, pajés, professores, guerreiros e cantores de mais de 30 aldeias do Alto Tapajós. Mulheres indígenas do Baixo Tapajós e do Xingu, dos povos Kumaruara e Juruna, também participaram do encontro.  

    Na esteira dos debates internacionais levados a cabo pela Relatora Especial da ONU para o Direito dos Povos Indígenas, Victoria Tauli-Corpuz, que está atualmente reavaliando a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e sua aplicabilidade nos diversos países, as indígenas afirmaram que o direito à consulta livre, prévia e informada não está sendo respeitado pelo Governo Brasileiro e reforçaram a importância de fortalecerem o Protocolo de Consulta Munduruku dentro das aldeias.  

    Foram discutidas, ainda, as ofensivas do Governo contra os direitos dos povos indígenas, a crescente invasão e exploração ilegal de recursos na Mundurukânia e a destruição de muitos dos locais sagrados do povo Munduruku por empreendimentos hidrelétricos, como é o caso da cachoeira de Sete Quedas, do morro do Jabuti e morro do Macaco, no Teles Pires, além de mineração ilegal dentro de suas terras.  

    Ao debaterem desafios e perspectivas de uma “guerra entre mundos”, em que se opõem o mundo da vida – da agrobiodiversidade, das florestas e águas livres e limpas – e o mundo da morte – da poluição dos rios, da contaminação  e empobrecimento do solo, da morte de peixes, doenças (…) – lideranças lembraram os fins de mundo previstos na escatologia Munduruku e destacaram o papel central dos pajés e das pajés, líderes espirituais, na sustentação e proteção de suas relações ancestrais com o território.

    Leia na íntegra o documento final do encontro:

    Aonde nós mulheres vamos lutar?

    Análise munduruku da conjuntura na Amazônia

    Introdução

    O Brasil foi construído com o sangue de muitos indígenas. Desde o começo só o que os pariwat viam era o que nós indígenas não tínhamos. Diziam que não tínhamos rei, verdade, mas temos nossas lideranças que nós escolhemos. Diziam que não tínhamos leis, verdade nossas leis são o respeito e o amor por nossa terra, ensinados por todos os nossos sábios. Diziam que não tínhamos fé, mais uma verdade dos pariwat, temos a presença viva de Karosakaibu em nossas terras, suas pegadas e tudo o que ele fez pelos munduruku estão contados nas corredeiras do Tapajós e nos campos da nossa mundurukania.

    Hoje nós mulheres do povo wuyjugu vamos mostrar o que nós temos.

    Temos um povo de luta, não vamos contar tudo pra não cansar os pariwat que vão ler o que nós estamos vendo. Na mundurukânia tem guerreiras e guerreiros que enfrentam os inimigos. Lutamos muito pra demarcação das terras Munduruku e Sai Cinza e quando esperávamos que a terra de Dajé Kapap Eipi seria demarcada um governo de pariwat, dizendo que nós não tínhamos nada quis construir uma barragem pra trazer energia pro Brasil.

    Como sempre os pariwat dizem o que não temos, o que sabem sobre nós? Não sabem nada! E pra mostrar que não gostamos que digam o que somos. Nós decidimos ir em 2013 até Altamira em Belo Monte ocupar aquela obra cheia de doenças e que hoje até os pariwat que só dão valor ao dinheiro sabem que tudo ali foi construído com mentiras e isso adoece todo mundo.

    Olhando do alto dos barrancos vimos a terra ser rasgada e pisada por máquinas e homens que não tinham rei só engenheiros, não tinham leis só a da Força Nacional e nem tinham fé só tinham dinheiro.

    E havia um grande silêncio no Brasil, ninguém se importava com nossa mundurukânia porque a terra dos deuses do rio Xingu estava sendo destruída e muitos trabalhadores diziam que viriam pra cá pro nosso Tapajós.

    Isso pareceu uma ameaça, mas não nos zangamos com trabalhadores, nos zangamos com presidentes, presidentas, ministros e ministras que com suas mãos doentes querem agarrar nossa floresta.

    Os pariwat estão errados quando pensam que as florestas separam os indígenas, não importa pra nós a distância entre nós e nossos inimigos, nós levaremos a luta até eles. E no caminho vamos libertando as florestas e nos unindo com outros parentes. As ameaças hoje têm muitos nomes, reformas da previdência, PEC’s, corrupção e muito mais.

    Um governo doente caiu, o governo do PT que sempre que veio até a Mundurukania veio armado. Destruiu a aldeia Teles Pires, quis forçar audiências na cidade com agente e protegeu pesquisadores no território de Daje Kapap Eipi, mas com tudo isso ele caiu e nós estamos aqui.

    Um governo podre assumiu, governo do PMDB, do PSDB, do PSC todos podres todos com as mãos cheias de doenças pra querer tomar a Amazônia, vão cair na mesma sujeira que o outro governo deixou.

    O que tem na mundurukania hoje?

    Sabemos que todos os anos do governo do PT foi preparando grandes obras pra plantar soja, mas quando plantam querem levar pra vender lá fora e por isso construíram um porto em Itaituba e agora querem uma ferrovia e continuam querendo barragem e depois vão querem mineração, mineração pra matar o rio, como aconteceu com o rio Watu dos nossos parentes Krenak.

    As florestas que são a casa dos animais estão ameaçadas por que um ministro que planta soja e seus amigos, querem derrubar a mata pra plantar mais soja, fazer mais estradas e ficar rico. Estão inventando leis pra poder nos derrotar.

    O governo não demarcou o território de Dajé Kapap eipi por que espera mudar as leis pra não precisar consultar nosso povo.

    Quer entregar a saúde do povo pra gente que só pensa em ganhar dinheiro. E nem liga pra educação. Ainda bem que nossa educação é feita por nossos sábios.

    Mas a Mundurukânia tem a nós wuyjugu e tem Montanha e Mangabal e tem os Tupinambá, Cara Preta e tem pescador e mais ribeirinhos e muita gente, a mundurukânia é maior que Brasília.

    Estamos olhando vocês não podem se esconder dos nossos olhos, neste território vocês não vão entrar. Sabemos que o governo doente quer voltar e o governo podre quer ficar, nenhum dos dois merece a confiança de nenhum povo.

    Em toda parte que vamos tem as armadilhas do governo, nós mulheres sabemos que vai ter muita dificuldade mas nossa força é nosso Movimento.

    Sawe!

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  • 19/05/2017

    Ato Denúncia: “Por direitos e contra a violência no campo”


    Ato Denúncia "Por direitos e contra a violência no campo", dia 23 de maio (terça-feira), às 14h, no Memorial do Ministério Público Federal (MPF), em Brasília

    Diante da intensificação da violência no campo, o Conselho Nacional dos Direitos Humanos (CNDH), em conjunto com organizações da sociedade civil e órgãos públicos de atuação em defesa dos direitos humanos, realiza no próximo dia 23 de maio (terça-feira), às 14h, no Memorial do Ministério Público Federal (MPF), em Brasília, o ATO DENÚNCIA “Por direitos e contra a violência no campo”.

    Por meio de dados que revelam o aumento da violência no último ano e de depoimentos de trabalhadores e trabalhadoras rurais, indígenas, quilombolas, pescadores artesanais e defensores e defensoras de direitos humanos, vítimas ou ameaçadas, o ato vai denunciar a omissão do Estado diante do aumento da violência no campo, bem como sua contribuição para o aumento e manutenção deste quadro, por meio da criminalização dos movimentos sociais, da atuação desproporcional das polícias e da aprovação de medidas que agravam os processos de concentração, privatização e estrangeirização das terras brasileiras.

    De acordo com levantamento da Comissão Pastoral da Terra (CPT), o ano de 2016 teve registro recorde no número de conflitos no campo: foram 61 assassinatos de trabalhadores rurais (o dobro de casos de assassinato em relação à média dos últimos 10 anos) e 1.536 conflitos, envolvendo 909.843 famílias. O ano de 2017 já revela que os conflitos serão intensificados. Nos primeiros cinco meses deste ano foram registrados pela CPT 25 assassinatos em decorrência dos conflitos agrários no Brasil, o dobro dos assassinatos do ano passado para o mesmo período. Outros seis estão sob investigação e ainda não foram inseridos no banco de dados da Pastoral.

    Além de um contexto de impunidade aos responsáveis pelos assassinatos, o aumento significativo de conflitos no campo possui relação direta com o desmonte do Estado brasileiro e da política agrária, como a extinção do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), a desestruturação da Fundação Nacional do Índio (Funai) e a paralisação das ações de reforma agrária e da demarcação e reconhecimento das terras indígenas e quilombolas.

    O modelo de desenvolvimento vigente, que prioriza o agronegócio voltado à monocultura para exportação em detrimento da agricultura familiar e camponesa, real responsável pela alimentação da população brasileira, também contribui para o acirramento e manutenção dos conflitos no campo. Em vez de buscar progresso e bem estar social com inclusão, tal modelo reforça a lógica de concentração da terra, do trabalho escravo, da devastação das florestas e do ataque aos direitos de trabalhadores e trabalhadoras rurais e de comunidades tradicionais, sobretudo o direito à terra e aos territórios.

    Além de manifestar solidariedade às vítimas e seus familiares, o ato buscará construir soluções e apontar compromissos que devem ser assumidos pelas organizações e reunir exigências que devem ser tomadas pelo Estado em caráter de urgência para conter o avanço do quadro. Parlamentares, demais autoridades e ativistas comprometidos com a luta por justiça e paz no campo são convidados a se somarem ao evento, aberto à participação do público em geral.

    ATO DENÚNCIA “Por direitos e contra a violência no campo”
    Data: 23 de maio de 2017 (terça-feira)
    Hora: 14h
    Local: Memorial do MPF – Procuradoria Geral da República
    Endereço: Setor de Administração Federal Sul, Quadra 4, Conjunto C, Brasília
    Mais informações: (61) 2027- 3907

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  • 19/05/2017

    Insegurança nos Rios: Indígenas, missionários e servidores da saúde atacados por piratas no Rio Japurá (AM)

    Por Assessoria de Comunicação Cimi Norte I (AM/RO)

    O indígena José Sales de Oliveira, do povo Mayoruna, juntamente com outros três ocupantes de uma pequena embarcação, foram atacados e espancados por seis homens fortemente armados. Ele é morador da aldeia Marajaí, do município de Alvarães (AM), distante 531 quilômetros de Manaus. O fato aconteceu na última sexta-feira, 12/05, no rio Japurá, na região do Médio Solimões no Estado do Amazonas. Um barco com motor de 15HP foi tomado no assalto.

    No mesmo dia, pela manhã, um grupo de servidores do Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei), havia sido atacado na altura da comunidade Nova Esperança, quando estava em deslocamento para atendimento às comunidades indígenas da região.

    O mesmo bando chegou a perseguir Nelma Catulino de Oliveira e Edvarde Bezerra Júnior, membros do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), após a saída destes da aldeia São Pedro.

    “Vivemos horas de terror”, relatou o enfermeiro Everaldo Almeida dos Santos, do Polo-base Cuiu-cuiu.  Além de Everaldo, a equipe de saúde era formada pelos técnicos de enfermagem Edvaldo Cavalcante Praia, Givanildo Barbosa Rodrigues e pelo motorista fluvial Ludgelson Cavalcante Ribeiro.

    Segundo relato das vítimas, o bando armado se apresentou como agentes da Polícia Federal.  Os servidores do Dsei ficaram durante algum tempo com armas apontadas em suas cabeças. Os bandidos levaram das vítimas uma pequena quantia em dinheiro.

    Cerca de uma hora depois do ataque à equipe de saúde, os missionários do Cimi saíram da aldeia São Pedro. Com dez minutos de viagem, eles avistaram o bando armado saindo da ilha e partindo em sua direção.  “Depois de percebermos que eram os bandidos, retornamos à aldeia”, disse Edvarde Bezerra.

    Tanto a equipe do Dsei quanto os missionários registraram ocorrência na Delegacia de Polícia da cidade de Tefé. Na Polícia Federal, os servidores do Dsei foram orientados a relatar minuciosamente o ocorrido para que o fato fosse comunicado à Superintendência da Polícia Federal em Manaus. Os agentes da PF em Tefé disseram que não iriam ao local do ocorrido porque não houve danos a patrimônio da União.  

    “Nós ficamos expostos aos bandidos, pois eles nos conhecem, viram nossos rostos e prometeram estourar nossas cabeças. Solicitamos à Coordenação do Dsei mais segurança. Com risco eminente de vida será impossível permanecermos no mesmo polo base”, reclamou Everaldo Almeida.

    De acordo com registros da Policia Federal da cidade de Tefé, casos desse tipo têm aumentado na região. “Está ficando mais perigoso. Essa região está descoberta, não tem vigilância fluvial na área”, disse o agente Almeida da Policia Federal, coordenador local do posto da PF, onde estão lotados apenas três agentes para prestar assistência a região do Médio Solimões, formada por oito municípios.  
     

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