24/05/2017

XVII Assembleia do Povo Xukuru do Ororubá: “Nenhum direito a menos! Fora Temer!”


Crédito das fotos: Ângelo Bueno/Cimi Regional NE


Com a inauguração do Espaço Mandaru, nome que o cacique Xikão Xukuru recebeu ainda vivo durante pajelança, cerca de 1.500 indígenas Xukuru, de outros povos, aliados e parceiros se reuniram para a XVII Assembleia do Povo Xukuru do Ororubá, que ocorreu entre os dias 17 e 19 de maio – se encerrando no dia 20 com a tradicional descida da Serra do Ororubá até o local em que Xikão foi assassinado, na cidade de Pesqueira, agreste pernambucano.

 

O encontro foi marcado por reflexões relacionadas ao grave estado de deterioração das instituições democráticas do Brasil promovido pelo Capital em concluiu com seus aliados, caso de Michel Temer e seu governo mergulhado em graves denúncias de corrupção e reformas para a retirada de direitos sociais. "Vivenciamos um grande ataque aos direitos sociais, políticos, culturais e econômicos", salienta a carta final da XVII Assembleia do Povo Xukuru.

 

"O povo Xukuru se fortalece quando se junta nos rituais, quando aumenta o diálogo entre as organizações internas e realiza suas atividades reafirmando a identidade e formação política do nosso povo. Reforça a união do povo, não só nas comunidades, mas com todos os movimentos sociais, recebendo as várias representações da sociedade comprometida com as lutas", diz outro trecho da carta.

 

Leia o documento na íntegra:

CARTA DA XVII ASSEMBLEIA DO POVO XUKURU

 

LIMOLAIGO TOIPE: NENHUM DIREITO A MENOS

“A Nossa Luta Não Para”

 

Nós, povo Indígena Xukuru do Ororubá, estivemos reunidos entre os dias 17 à 19 de maio de 2017 durante a realização de nossa assembleia anual que teve inicio com o ritual sagrado, realizado no terreiro do Rei do Ororubá, onde pedimos força aos encantados, ao nosso Pai Tupã e a nossa Mãe Tamaim para abrir os caminhos e orientar nossas atividades. Nesse ano, inauguramos o Espaço Mandaru, em memória do nosso grande líder Xikão Xukuru, que em vida recebeu este nome durante uma pajelança, indicado pelos encantados. Dona Zenilda, a mãe sacarema, fez o batismo do espaço. Inspirada pela Natureza Sagrada, entoou um ponto do toré, fazendo ecoar sua voz por todo ambiente. Este será o local permanente de realização das nossas assembleias, se constitui também num lugar de acolhimento, celebrações e vivências várias que contribuem com nosso processo de construção do Bem Viver Xukuru e todos os povos da Terra. Na criação do espaço Mandaru valorizamos nossa arquitetura tradicional através do trabalho em mutirão.

 

Cerca de mil e quinhentas pessoas participaram durante os três dias. Além dos guerreiros e guerreiras do povo, representantes das aldeias Pão de Açúcar, Pé de Serra de São Sebastião, Pé de Serra dos Nogueiras, Cana Brava, Brejinho, Afetos, Caípe, Caetano, Couro Dantas, Oiti, Caldeirão, Capim de Planta, Lagoa, Cimbres, Sucupira, Guarda, Jatobá, Pedra D’Água, Curral Velho, São José, Gitó, Mascarenhas, Santana, Passagem, Cajueiro e os indígenas da cidade, participaram também os parentes dos povos Kambiwá, Tuxá, Truká, Kapinawá, Fulni-ô, Pankararu e Pipipã do estado de Pernambuco, dos povos Potiguara e Tabajara do estado da Paraíba, do povo Tapuia do estado de Goiás, representantes da juventude indígena dos povos Pano Tacana de Rondônia e Tumbalalá da Bahia. Contamos ainda com a presença de várias instituições de Ensino Superior como o IFPE, UFPE, UPE, UFRPE, UNICAP, UNIVASF, UFPB, UFRN, UFCG, Museu do Homem do Nordeste, uma delegação dos Cursos de Saúde Coletiva e de residência em Medicina da Família e Comunidade e Multiprofissional, várias escolas dos municípios de Pesqueira, Poção e Sanharó e dos Movimentos sociais: CIMI, MCP, IPJ, FETAPE, Centro Sabiá, Ocupe Estelita, Fórum da Juventude de Pernambuco,Serta, Adveniat (Alemanha), CASA, Nãlu’um, e Diocese de Pesqueira.

 

Vivenciamos um grande ataque aos direitos sociais, políticos, culturais e econômicos dos povos indígenas, populações tradicionais e vários setores da sociedade brasileira. Essa ofensiva tem como objetivo aumentar a concentração de riqueza provocando um maior empobrecimento das classes sociais oprimidas. São ameaças às demarcações de terra, à retirada de direitos trabalhistas e dos recursos das pessoas que mais necessitam, atacando os benefícios e a previdência social, promovidas no Congresso Nacional a mando dos latifundiários e dos grandes empresários cada vez mais ricos em conluio com a grande mídia empresarial.

 

Como resposta, o povo Xukuru assume, firmemente, que a organização e a luta de resistência é uma necessidade na defesa dos direitos conquistados e na ampliação dos mesmos. Reforça a importância de efetivar articulações e consolidar alianças entre os lutadores e lutadoras, nas lutas concretas em defesa das conquistas sociais. Precisamos nos unir contra as propostas de emendas à Constituição Federal que atingem direitos dos Povos do Campo, das Águas, das Florestas e das Cidades.

 

O povo Xukuru se fortalece quando se junta nos rituais, quando aumenta o diálogo entre as organizações internas e realiza suas atividades reafirmando a identidade e formação política do nosso povo. Reforça a união do povo, não só nas comunidades, mas com todos os movimentos sociais, recebendo as várias representações da sociedade comprometida com as lutas. Por esse motivo, essa assembleia ganhou amplitude, assumindo um caráter de assembleia popular e revolucionária. Diante desse momento político grave em que o Brasil atravessa a assembléia se junta a milhões de brasileiras e brasileiros pelo “FORA TEMER!”, em defesa de eleições gerais com a participação ativa dos povos indígenas.

 

O Povo Xukuru fortalecido, sem medo, renova seu compromisso na busca por seu espaço político na construção de uma sociedade justa, solidária e pluralista.

 

Nenhum direito a menos!

Unidade do povo Xukuru e daqueles que querem lutar!

Diga ao povo que avance!

Avançaremos!

Aldeia Pedra D’Água, 19 de maio de 2017.

 

 

 

 

 

 

 


Fonte: Assessoria de Comunicação - Cimi
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