• 25/09/2017

    Munduruku ocupam Funai exigindo audiência e demissão de político nomeado para coordenação


    Ocupação da Funai em Itaituba (PA). Foto: Barbara Dias/Cimi Norte 2

    Por Renato Santana e Tiago Miotto, da assessoria de Comunicação
    Fotos: Barbara Dias/Regional Cimi Norte 2

    Lideranças Munduruku do Alto e do Médio Tapajós ocuparam o prédio da Fundação Nacional do Índio (Funai) em Itaituba (PA), na manhã desta segunda (25). Os indígenas, que exigem uma audiência com o presidente da Funai e a exoneração de um político do PSC nomeado na semana passada para um cargo de chefia na Coordenação Regional da Funai na região do Tapajós, afirmam que só deixarão a sede do órgão depois de terem suas reivindicações atendidas.

    Os Munduruku denunciam a nomeação política do ex-prefeito de Aveiro, Olinaldo Barbosa da Silva, conhecido como Fuzica, para a Divisão Técnica (DIT) da Coordenação Regional Tapajós, segundo mais importante cargo na hierarquia da coordenação. A nomeação é uma indicação do PSC, o mesmo partido responsável por indicar os últimos presidentes da Funai, incluindo o atual, general Franklinberg Ribeiro de Freitas.

    Durante sua desastrosa passagem pelo ministério da Justiça do governo Temer, o ruralista Osmar Serraglio (PMDB-PR) chegou a afirmar que a Funai era “do PSC, do deputado André Moura”, líder do governo na Câmara dos Deputados. As denúncias de loteamento de cargos na Funai têm sido reiteradas por indígenas e foi reverberada pelo último ex-presidente do órgão indigenista, Antônio “Toninho” Costa, exonerado em maio.

    “[Fui exonerado] Por não ter atendido o pedido do líder do governo André Moura, que queria colocar 20 pessoas na Funai que nunca viram índios em suas vidas. Estou sendo exonerado por ser honesto e não compactuar com o malfeito e por ser defensor da causa indígena diante de um ministro ruralista”, declarou, à época, Toninho Costa.

    “Sabemos que essa é uma tentativa do PSC em se fortalecer para as próximas eleições, não vamos deixar que usem nossos direitos pra seus interesses eleitorais”, afirmam, em carta, o movimento Ipereg Ayu e a Associação Pariri, representações Munduruku. “Só vamos sair da CR de Itaituba com as respostas da nossas demandas e confirmação da presidência da Funai na audiência da aldeia Missão Cururu”.

    Audiência com presidente

    Os Munduruku também cobram uma audiência com o presidente da Funai para tratar de acordos feitos durante a ocupação do canteiro de obras da Usina Hidrelétrica (UHE) São Manoel, no rio Teles Pires. Na ocasião, como contrapartida ao término da ocupação, Franklinberg prometeu fiscalizar os acordos assumidos pelas empresas hidrelétricas com os indígenas.

    “Desde que deixamos a ocupação da Usina Hidrelétrica de São Manoel nem a empresa e tampouco o presidente da Funai cumpriram com as promessas que fizeram ao povo Munduruku”, afirma a carta.

    Para ser construída, a UHE São Manoel destruiu locais sagrados para os indígenas e removeu urnas funerárias da região, sem avisar nem respeitar os ritos e a espiritualidade dos Munduruku. Por isso, a concessão da licença de operação à usina, liberada pelo Ibama em setembro, é definida por eles como um “desrespeito aos nossos pajés, lideranças, as nossas crianças, aos caciques, guerreiros e guerreiras”.


    Indígena cobra de Olinaldo Barbosa, o Fuzica (de óculos) a renúncia ao cargo na Funai

    Interferência política

    A chefia da DIT, objeto da nomeação criticada pelos indígenas, é um cargo estratégico. Todas as outras funções da coordenação – de gestão ambiental e social, de planejamento e de pessoal – passam pela chancela da DIT, que tem – ou deveria ter – caráter técnico administrativo.

    Filiado ao Partido Social Cristão (PSC), Olinaldo Barbosa, mais conhecido como Fuzica, chegou à Prefeitura de Aveiro em agosto de 2010. A então prefeita, Maria Gorete Xavier Dantas, teve o mandato cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Pará. A determinação era para que o segundo colocado assumisse, posto que o terceiro colocado também teve a candidatura cassada.

    Em 2012, Fuzica concorreu e permaneceu na Prefeitura com mais de 50% dos votos válidos. A partir daí o prefeito passou a conviver com denúncias de improbidade administrativa, malversação de recursos públicos, acusação de fraudes em licitação, atrasos e irregularidades em repasses. Em agosto de 2014, a Câmara dos Vereadores de Aveiro decidiu por unanimidade afastar Fuzica por 180 dias.

    O prefeito ficou longe de suas funções por apenas nove dias. O juiz Marcelo Gomes, da Justiça Estadual de Itaituba, atendeu a pedido liminar da defesa de Fuzica sob o argumento de que ele não teve direito a ampla defesa e o reintegrou ao posto. Ao mesmo tempo, blogueiros e sites da região divulgaram fotos de Fuzica e sua família em praias do país.  

    A situação chegou ao Ministério Público, que em julho de 2015 encaminhou à Justiça Federal de Itaituba uma denúncia contra Fuzica por improbidade administrativa baseada em dois processos. No entanto, o social-cristão chegou ao fim do mandato e se candidatou à reeleição em 2016; ficou em quarto lugar. Em janeiro deste ano, sob vaias, transmitiu o cargo para o madeireiro e filiado ao PMDB, Vilson Gonçalves.


    Falta de consulta

    Os e as Munduruku também cobraram da Funai o respeito a seu protocolo de consulta. “A gente não aceita esse tipo de pessoa, a gente quer pessoas que têm compromisso com os povos indígenas. Na ocupação do canteiro de obras [da UHE São Manoel], o presidente da Funai disse que estava considerando o protocolo de consulta Munduruku, mas ele não está cumprindo o acordo que fez conosco”, critica Kabaywun Munduruku, uma das muitas mulheres indígenas que participam da ocupação.

    Após a pressão dos indígenas, Fuzica assinou um documento, enviado à sede nacional de Brasília, afirmando que não irá assumir o cargo. Os indígenas afirmam que permanecerão em alerta, até que a revogação da nomeação política seja publicada no Diário Oficial da União.

    Clique aqui para ler a carta divulgada pelos indígenas na ocupação

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  • 25/09/2017

    ONU cobra ações de proteção do Brasil para indígenas isolados na Amazônia


    Foto: Marcelo Camargo/Arquivo ABr

    Por Helena Martins, da Agência Brasil – EBC

    A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) e o Escritório Regional para América do Sul do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) emitiram nota  instando o Estado brasileiro a desenvolver políticas para a proteção de indígenas que optam por viver isolados.

     O posicionamento decorre de denúncias sobre assassinatos de dez índios que vivem nessas condições no Vale do Javari, no oeste do Amazonas, por um grupo de garimpeiros. Os organismos vinculados às Nações Unidas dizem estar preocupados com a situação das comunidades indígenas no Brasil e citam que esses povos estão sendo massacrados.

    Há dez dias, a Fundação Nacional do Índio (Funai) e o Ministério Público Federal no Amazonas (MPF/AM) e a Polícia Federal (PF) informaram que apuram a possível ocorrência de mortes. A pedido da Funai, a Polícia Federal (PF) instaurou inquérito policial e a Procuradoria da República em Tabatinga (AM) passou a acompanhar as investigações.

    No posicionamento oficial sobre o caso, CIDH e ACNUDH “celebram” a decisão de realizar as apurações e cobram que o Estado apresente “os resultados de tais investigações sobre todas as ações de violência e alegadas incursões com a devida diligência, de uma maneira adequada e culturalmente apropriada”, bem como julgue e sancione “os possíveis responsáveis de forma ágil e efetiva”.

    A Funai informou à Agência Brasil que as investigações acerca dos possíveis assassinatos de indígenas isolados no Vale do Javari seguem em curso e que ainda não há data prevista para a conclusão dos trabalhos. Sobre as outras questões levantadas pelas CIDH e ACNUDH, a Funai não se manifestou.

    Outras denúncias

    A comissão e o ACNUDH registram o recebimento de outras denúncias de situações que ameaçam os povos indígenas da região do Vale do Javari, que onde se registra a maior presença de povos em isolamento no mundo. “Segundo a informação recebida pelas instituições, o suposto massacre seria uma das numerosas denúncias de parte das comunidades indígenas em relação a incursões e ataques contra povos indígenas em isolamento voluntário e contato inicial na área, perpetrados por garimpeiros, produtores e extrativistas de madeira ilegais”, diz a nota.

    Incursões violentas de garimpeiros, produtores e extrativistas de madeira ilegais; possível massacre de integrantes da comunidade indígena em contato inicial Warikama Djapar, a suspensão, há alguns anos, das atividades de uma Base de Proteção Etnoambiental (BPE) da Funai na região voltada a oferecer salvaguarda aos isolados são apontados como exemplos de outras situações preocupantes relacionadas a esses povos.

    O comunicado destaca que contatos não desejados constituem um sério risco para a sobrevivência física dos povos em isolamento voluntário, pois resultam em agressões, problemas de saúde devido à ausência de defesas imunológicas e escassez de alimentos, entre outros riscos. Tais impactos são irreversíveis e podem, segundo os órgãos, resultar em seu desaparecimento. Diante desse cenário, CIDH e ACNUDH exigem “esforços diligentes do Estado brasileiro para adotar políticas e medidas apropriadas para reconhecer, respeitar e proteger as terras, os territórios, o meio ambiente e as culturas destes povos, bem como sua vida e integridade individual e coletiva”.

    Nesse sentido, “exortam o Estado a implementar políticas imediatas para efetuar, nos territórios indígenas, controle de entrada, vigilância permanente, e ações de localização e monitoramento dos movimentos territoriais dos povos em isolamento. Ademais, a comissão e o ACNUDH instam o Estado brasileiro a adotar medidas para prevenir e responder as atividades ilegais de mineração, cultivo, caça, pesca e extrativismo ilegal de madeira nos territórios indígenas sob análise”, acrescentam os organismos da ONU.

    Tratados internacionais

    Em plano internacional, o Brasil, por ser signatário de vários tratados internacionais que tratam do tema, como a Convenção Americana sobre os Direitos Humanos e a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas, possui o compromisso de garantir que esses povos isolados tenham o direito de vive de acordo com suas culturas.

    A situação da população indígena no Brasil também tem sido objeto de discussões no Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU). Ontem, representantes da sociedade civil apresentaram carta em que reportam ataques aos direitos desses povos, como a paralisação nas demarcações das terras indígenas e os alarmantes casos de suicídio entre os Guarani e Kaiowá, relacionados à situação precária em que vivem. As organizações cobraram a estruturação de políticas efetivas por parte do governo brasileiro.

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  • 25/09/2017

    Comissão Pastoral da Terra (CPT) publica Atlas de Conflitos na Amazônia Legal



    Na próxima quinta-feira (28), às 14 horas, no Centro Cultural Missionário, em Brasília (DF), a Comissão Pastoral da Terra (CPT), com o apoio da Comissão Episcopal para a Amazônia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM), lançará o “Atlas de Conflitos na Amazônia”. O material tem enfoque no mapeamento, por municípios, dos locais onde existem conflitos no campo na Amazônia Legal. A maior disputa pela terra e os grandes números de pessoas violentadas, atualmente, encontra-se nessa região.

    No Atlas, cada regional da Comissão Pastoral da Terra apresenta os conflitos a partir de uma contextualização elaborada pelos agentes de pastorais de cada Estado. Para aproximar ainda mais o leitor da realidade, o Atlas traz casos emblemático de cada regional. Os estados que compõem a Amazônia Legal e, que, portanto, são os regionais da CPT, por ordem alfabética, compreendem: Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins.

    Mapeamento sistemático de áreas em disputa na Amazônia

    A Amazônia tem destaque no aumento da violência no campo no Brasil nos últimos anos. Em 2016, foram registrados 61 assassinatos por conflitos no campo no país, sendo que 48 destes assassinatos ocorreram na Amazônia Legal. Neste ano de 2017, já foram registrados 63 assassinatos em conflitos no campo, até o momento, sendo 49 na região.

    Os dados acima são disponibilizados anualmente pela Comissão Pastoral da Terra na publicação impressa e digital “Conflitos no Campo Brasil”. Já o “Atlas de Conflitos na Amazônia” tem uma proposta metodológica diferente, pois mostra os conflitos que permaneceram vigentes nos últimos anos nesta região.

    A partir de um alinhamento técnico com o Centro de Documentação Dom Tomás Balduino, da CPT, e com a assessoria do geógrafo e professor da Universidade Estadual de Montes Claros (UniMontes-MG), Gustavo Ferreira Cepolini, cada regional da CPT contribuiu no levantamento dos dados para o Atlas, registrando detalhes como: municípios onde o conflito estava localizado, nome da comunidade, número de famílias impactadas, identidade (posseiros, sem terra, indígenas, quilombolas etc.), com quem disputavam seus territórios, e outros.

    Serviço

    Lançamento do Atlas de Conflitos na Amazônia
    Quando: 28 de setembro (quinta-feira), às 14h.
    Onde: Centro Cultural Missionário (CCM) – Sgan, 905 – Conjunto C – Asa Norte – 0790-050 – Brasília (DF).

    Composição da mesa:

    Dom Leonardo Ulrich Steiner
    secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil

    Felício Pontes Junior
    Procurador Ministério Público Federal (MPF) atua nos feitos cíveis relativos à defesa dos direitos e interesses das populações indígenas e comunidades tradicionais

    Manuel Cardeal
    representante do Seringal Itatinga, munícipio de Manoel Urbano, Acre e ameaçado pelo projeto de Redução de Emissões provenientes de Desmatamento  e Degradação (REED)

    Darlene Braga
    representante da articulação da Comissão Pastoral da Terra (CPTs) Amazônia.

    Cleber César Buzzatto

    secretário-executivo do Conselho Indigenista Missionário (Cimi)

    Gustavo Henrique Cepolini Ferreira

    Mestre e Doutorando em Geografia Humana e assessor do Atlas de Conflitos na Amazônia

    Outras informações:
    Cristiane Passos (CPT) – (62) 4008-6406 / 99268-6837
    João Damasio (CPT) – (62) 4008-6412 / 99143-8923
    Osnilda Lima (REPAM) – (61) 98366-1235

     

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  • 22/09/2017

    Cercados, Guarani Nhandeva temem ataque de pistoleiros em retomada no Mato Grosso do Sul


    Retomada fica dentro de terra delimitada pela Funai em 2016 com 19,7 mil hectares. “Precisamos da Polícia Federal. Estamos cercados e em perigo”, denuncia liderança

    Por Tiago Miotto/Cimi e Rafael de Abreu

    Após a retomada de uma fazenda localizada dentro do perímetro da Terra Indígena Ypo’i/Triunfo, no município de Paranhos (MS), fronteira com o Paraguai, indígenas do povo Guarani Nhandeva foram cercados por pistoleiros e, com medo de ataques e mortes, pedem a presença da Polícia Federal. A retomada ocorreu no início desta semana e o grupo está isolado e sem alimentação.

    “Precisamos de apoio o mais rápido possível. Estamos cercados e passando perigo”, denuncia uma das lideranças da retomada, não identificada por razões de segurança. “Parte do grupo foi dividido pelos pistoleiros que estão nos cercando. Ficamos sem comunicação com o pessoal que está na retomada”.

    Os pistoleiros chegaram logo após a retomada e permanecem cercando os Guarani Nhandeva, que, sem sinal de telefone, estão com dificuldades de comunicação. Segundo informações dos indígenas, a tensão tem aumentado na retomada e nenhuma autoridade chegou ainda na área. Eles temem que ataques possam ocorrer à noite e, por isso, reforçam que a presença da Polícia Federal é urgente.

    Assassinatos, água envenenada e cárcere privado: um histórico de violência e violações

    A Terra Indígena Ypo’i/Triunfo foi uma das incluídas no Termo de Ajustamento de Condutas (TAC) celebrado entre Ministério Público Federal (MPF) e Fundação Nacional do Índio (Funai) em 2007, após diversas tentativas dos indígenas de retornarem para seus tekoha e sucessivas expulsões por parte de fazendeiros.

    O TAC estabeleceu o ano de 2009 para que a Funai publicasse os Relatórios Circunstanciados de Idenficação e Delimitação (Rcid) de um conjunto de terras Guarani e Kaiowá, no sul do Mato do Grosso do Sul, sob pena de multa diária de mil reais em caso de descumprimento do prazo. Atualmente, essa multa já soma uma cifra milionária e segue crescendo a cada dia.

    No final daquele ano, com o prazo da publicação vencido e sem perspectiva de verem a demarcação de Ypo’i/Triunfo concluída, os Nhandeva resolveram retomar uma fazenda incidente sobre sua terra tradicional. No dia seguinte à retomada, foram brutalmente atacados por pistoleiros, que despejaram os indígenas e assassinaram os irmãos Rolindo e Genivaldo, ambos professores, cujos corpos desapareceram.

    Os indígenas conseguiram retornar e permanecer na área retomada, garantida por decisão da Justiça. A violência e as violações, entretanto, continuaram: fazendeiros envenenaram o córrego que era a única fonte de água dos indígenas, e seu direito de entrar e sair da área retomada foi restrito pelo fazendeiro, que os cerrou por mais de 100 dias atrás das porteiras da fazenda.

    Em 2015, uma nova retomada foi feita, e desde então os Guarani Nhandeva seguem vivendo em pequenas áreas de mato retomadas dentro da terra indígena. Após anos de luta, finalmente, em 19 de abril do ano passado, Dia do Índio, o Rcid de Ypo’i/Triunfo foi publicado pela Funai, reconhecendo aos indígenas os 19,7 mil hectares desta área.

    Desde 2016, os indígenas aguardam a publicação da Portaria Declaratória da área pelo Ministério da Justiça, para proceder com a demarcação da área e encerrar a situação crítica de vulnerabilidade em que vivem. Foi nesse contexto que, sem mais aguentar esperar, resolveram realizar a retomada que está agora cercada por jagunços.

    “Não queremos que se repita o que aconteceu com Rolindo e Genivaldo”

    O assassinato dos irmãos Rolindo e Genivaldo Vera segue vivo na memória dos Guarani Nhandeva de Ypo’i/Triunfo. O corpo de Genivaldo foi encontrado nove dias depois do ataque, a trinta quilômetros do local do ataque, e o de seu irmão jamais foi localizado.

    “Por isso estamos pedindo que a Polícia Federal venha aqui urgente garantir a nossa segurança. Por causa da demora da Polícia Federal que os professores Rolindo e Genivaldo Vera foram assassinados aqui nessa mesma região”, afirma outra liderança, ressaltando que eles também esperam a Funai e pedem que a informação “chegue até o presidente” do órgão.

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  • 22/09/2017

    Taxa de mortalidade envolvendo atos contra a própria vida é maior entre indígenas, aponta boletim

    Por Renato Santana, da Assessoria de Comunicação – Cimi

    O primeiro Boletim Epidemiológico de Tentativas e Óbitos por Suicídio no Brasil, divulgado nesta sexta-feira, 22, pelo Ministério da Saúde, informa que os maiores índices de mortalidade estão entre os povos indígenas. A taxa entre os índios é quase três vezes maior (15,2), a cada 100 mil habitantes, do que o registrado entre os brancos (5,9) e negros (4,7), aponta o boletim. A divulgação dos números abarca um período de óbitos e tentativas de suicídios entre 2011 e 2016.

    Entre os jovens indígenas está o maior número de suicídios. A faixa etária de 10 a 19 anos concentra 44,8% dos óbitos – brancos e negros possuem a mesma porcentagem, 5,7%. Em pelo menos mais uma faixa etária, o suicídio entre os indígenas é maior: dos 20 aos 29 anos, correspondendo a 30% dos registros ante quase 20% de brancos e negros. Na medida em que a idade avança para os indígenas, o índice cai: entre 30 e 39 anos, 15%; 40 a 49 anos, 10%; 50 a 59 anos, 5%; 60 em diante, menos de 5%.

    As mulheres indígenas também possuem taxas mais elevadas de óbitos por atentados contra a própria vida (7,7) se comparado com mulheres brancas (2,7) e negras (1,9). Entre os homens, no entanto, a quantidade de suicídios é bem mais acentuada: 23,1 – brancos (9,5) e negros (7,6). Os indígenas correspondem a 0,47% da população do Brasil, com 896.917 indivíduos (IBGE,2010). Dessa maneira, o suicídio entre as populações indígenas é considerado um sério problema de saúde – sobretudo porque está concentrado na infância, adolescência e juventude.

    O suicídio entre crianças e jovens indígenas no Brasil, por exemplo, foi classificado como pandemia por pesquisa do Programa de Estudos sobre Violência da Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais (Flacso). O relatório ‘Violência Letal Contra as Crianças e Adolescentes do Brasil’, divulgado em junho de 2016, aponta que em ao menos um município, 100% do total de suicídios entre indígenas ocorreu na faixa dos 10 e 19 anos. Dos 17 municípios com número igual ou superior a 10 mil crianças e jovens – critério para o levantamento – , com alta densidade populacional indígena, 327 indígenas acima dos 20 anos se suicidaram entre 2009 e 2013. Desse total, 163 crianças e adolescentes tiraram a própria vida – quase a metade do número final e a maioria em relação às demais faixas etárias reunidas.

    “Vemos nos municípios arrolados que os suicídios na faixa de 10 a 19 anos representam entre 33,3%, em São Gabriel da Cachoeira (AM), e 100%, em Tacuru (MS), do total de suicídios indígenas, verdadeira situação pandêmica de suicídios de jovens indígenas”, destaca trecho do relatório. No Mato Grosso do Sul, a pesquisa aponta 5,2% suicídios de crianças e jovens por 100 mil habitantes. No Amazonas, a taxa é de 4,0%. A mortandade suicida nestes estados é puxada de forma trágica pelas crianças e jovens indígenas, conforme constataram os pesquisadores. AM e MS são os que mais possuem municípios envolvidos no suicídio entre a faixa etária do estudo.

    Um estudo das Nações Unidas (ONU) de 2009 coloca o suicídio dos jovens indígenas em um contexto de discriminação, marginalização, colonização traumática e perda das formas tradicionais de vida, mas adverte sobre a complexidade dos fatores que intervêm na transmissão desses traumas entre gerações na forma de comportamento suicida. “A marginalização desses jovens tanto em suas próprias comunidades, ao não encontrar nelas um lugar adequado às suas necessidades, quanto nas sociedades envolventes, pela profunda discriminação, forja um sentimento de isolamento social que pode conduzir a reações autodestrutivas do ponto de vista ocidental”, diz trecho do estudo.

    Setembro Amarelo

    O Ministério da Saúde decidiu pelo lançamento este mês devido ao Setembro Amarelo, período de campanha determinado para a prevenção e a importância da conscientização sobre o assunto. Conforme a amostragem, o número de suicídios aumentou sendo a quarta principal causa de morte no país.


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  • 21/09/2017

    CIDH e ACNUDH expressam preocupação sobre denúncias de massacre contra indígenas isolados


    Garimpo ilegal no rio Jandiatuba, onde massacre de isolados foi denunciado. Foto: MPF/AM

    Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) e Escritório Regional para América do Sul do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH)

    Washington D.C. / Santiago do Chile – A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) e o Escritório Regional para América do Sul do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) expressam sua preocupação com a informação recebida sobre um possível massacre de indígenas em isolamento voluntário conhecidos como “flecheiros”, perto do alto curso do rio Jandiatuba, no território indígena Vale do Javari, localizado no extremo oeste do estado do Amazonas. A informação amplamente difundida em meios de comunicação indicaria que cerca de 10 pessoas indígenas em isolamento, incluindo mulheres e crianças, foram assassinadas. O Ministério Público Federal (MPF) confirmou publicamente que está investigando denúncias sobre mortes de indígenas em isolamento no território indígena Vale do Javari.

    A Comissão e o ACNUDH observam com preocupação que a região enfrenta atualmente uma situação caracterizada pelo aumento das incursões e de atos de violência contra as comunidades indígenas  em isolamento voluntário e contato inicial na região do Vale do Javari. Segundo a informação recebida pelas instituições, o suposto massacre seria uma das numerosas denúncias de parte das comunidades indígenas em relação a incursões e ataques contra povos indígenas em isolamento voluntário e contato inicial na área, perpetrados por garimpeiros, produtores e extrativistas de madeira ilegais. Ambas instituições receberam também informação sobre o possível massacre de integrantes da comunidade indígena em contato inicial Warikama Djapar. Ao mesmo tempo, a CIDH e o ACNUDH receberam informação indicando que a suspensão há alguns anos das atividades da “Base de Proteção Etnoambiental (BPE)” da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), localizada no rio Jandiatuba, a qual oferecia salvaguarda aos povos indígenas isolados na Amazônia, havia deixado as comunidades em isolamento voluntário e contato inicial em uma situação de desamparo frente a terceiros.

    A Comissão e o ACNUDH recordam que os Estados têm uma obrigação especial de proteção e respeito com relação aos direitos das comunidades em isolamento voluntário e contato inicial por sua situação única de vulnerabilidade. Esta obrigação foi consagrada diretamente no artigo 26 da Declaração Americana sobre os Direitos dos Povos Indigenas, e também foi refletida na Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem, na Convenção Americana sobre os Direitos Humanos, na Convenção 169 da OIT sobre povos indígenas e tribais em países independentes, na Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas, assim como nas Diretrizes de Proteção dos Povos Indígenas em Isolamento Voluntário e em Contato Inicial da Região Amazônica, do Gran Chaco e da Região Oriental do Paraguai. Os Estados se comprometeram a garantir o direito dos povos indígenas isolados e em contato inicial a permanecer nesta condição e a viver livremente e de acordo com suas culturas. A Comissão e o ACNUDH também observam que a região do Vale do Javari conta com a maior presença de povos indígenas em isolamento no mundo, o qual exige esforços diligentes do Estado brasileiro para adotar políticas e medidas apropriadas para reconhecer, respeitar e proteger as terras, os territórios, o meio ambiente e as culturas destes povos, bem como sua vida e integridade individual e coletiva.

    Neste sentido, a CIDH e o ACNUDH celebram a decisão do Ministério Público Federal (MPF) no Estado do Amazonas e da Polícia Federal (PF) de realizar uma investigação em conjunto com a Polícia Federal sobre as ações das quais teriam sido vitimas os “flecheiros”. O governo brasileiro informou que as investigações pelo MPF e PF estão ocorrendo a pedido da FUNAI, e que os garimpeiros que foram vistos falando do suposto ataque foram presos e conduzidos a prestar depoimento, cumprindo mandado de busca e apreensão. O governo também informou que realizou operação de combate ao garimpo ilegal na região. Nestes termos, a CIDH e o ACNUDH urgem o Estado brasileiro a apresentar os resultados de tais investigações sobre todas as ações de violência e alegadas incursões com a devida diligência, de uma maneira adequada e culturalmente apropriada, bem como julgar e sancionar os possíveis responsáveis de forma ágil e efetiva.

    A Comissão e o ACNUDH reiteram que os Estados estão obrigados a adotar medidas céleres e integrais para respeitar e garantir os direitos das comunidades índigenas ao gozo e controle de seus territórios e a viver livres de todo tipo de violência e discriminação. Este dever de proteção é acentuado em terras indígenas demarcadas administrativamente para a proteção de comunidades indígenas em isolamente voluntário e contato inicial, como a Terra Indígena Vale do Javari. Ao mesmo tempo, a Comissão e o Escritório do ACNUDH recordam que os Estados devem adotar medidas imediatas de ação de maneira articulada, destinadas à prevenção das incursões aos territórios dos indígenas em isolamento voluntário e contato inicial na Terra Indígena do Vale do Javari. Os contatos não desejados e as incursões por parte de terceiros nos territórios dos povos em isolamento voluntário e contato inicial constituem um sério risco para sua sobrevivência física. Tais contatos resultam em agressões diretas, problemas sérios de saúde devido à falta de defesas imunológicas, e escassez de alimentos, entre outros riscos. Todos estes problemas têm um impacto irreversível na capacidade do povo afetado de sobreviver e podem resultar em seu desaparecimento.

    A Comissão e o ACNUDH exortam o Estado a implementar políticas imediatas para efetuar, nos territórios indígenas, controle de entrada, vigilância permanente, e ações de localização e monitoramento dos movimentos territoriais dos povos em isolamento. Ademais, a Comissão e o ACNUDH instam o Estado brasileiro a adotar medidas para prevenir e responder ãs atividades ilegais de mineração, cultivo, caça, pesca e extrativismo ilegal de madeira nos territórios indígenas sob análise. A CIDH e o ACNUDH reconhecem a importância da recente ação tomada pelo Exército para combater a presença dos garimpeiros ilegais no rio Jandiatuba, e insta o Estado a seguir ampliando esforços nesta direção.

    A CIDH é um órgão principal e autônomo da Organização dos Estados Americanos (OEA), cujo mandato surge a partir da Carta da OEA e da Convenção Americana sobre Direitos Humanos. A Comissão Interamericana tem como mandato promover a observância e defesa dos direitos humanos na região e atua como órgão consultivo da OEA na temática. A CIDH é composta por sete membros independentes, que são eleitos pela Assembleia Geral da OEA a título pessoal, sem representarem seus países de origem ou de residência.

    O Escritório do Alto Comissariado para os Direitos Humanos (ACNUDH) tem o mandato de promover e proteger o desfrute e a realização plena, para todas as pessoas, de todos os direitos contemplados na Carta das Nações Unidas, bem como nas leis e nos tratados internacionais de direitos humanos. O ACNUDH realiza o seu trabalho à luz do mandato que lhe foi conferido pela Assembleia Geral das Nações Unidas em sua resolução 48/141. Sua sede internacional se encontra em Genebra, na Suíça. Já o Escritório Regional do ACNUDH para América do Sul está localizado em Santiago, no Chile, e cobre os seguintes países: Argentina, Brasil, Chile, Equador, Peru, Uruguai e Venezuela.

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  • 21/09/2017

    Possibilidade de votação em plenário da nova Lei de Licenciamento Ambiental preocupa MPF

    Por Secretaria de Comunicação Social PGR

    O Ministério Público Federal (MPF) divulgou nesta quarta-feira (20) nota técnica para alertar parlamentares e sociedade civil sobre os riscos de aprovação, em caráter de urgência, no Plenário da Câmara dos Deputados, de uma nova versão do projeto de substitutivo ao PL 3.729/2004, que institui a Lei Geral do Licenciamento Ambiental. De acordo com a Câmara de Meio Ambiente e Patrimônio Cultural (4CCR/MPF), “o texto mantém dispositivos nitidamente inconstitucionais, promovendo um inaceitável e vedado retrocesso socioambiental”.

    Elaborada pelo Grupo de Trabalho Grandes Empreendimentos, que reúne membros do MPF com atuação na temática ambiental, indígena e de direitos do cidadão, a nota destaca a escassez de tempo disponibilizado para o exame do novo substitutivo, além da carência de uma abordagem técnica multidisciplinar, considerada imprescindível para a perfeita compreensão das consequências da alteração legislativa.

    “Chama atenção o açodamento na pretendida votação do projeto em Plenário, que só teria uma justificativa: aprovar texto desconhecido e prejudicial à Política Nacional de Meio Ambiente e à população brasileira, em um momento em que os olhares estão voltados para os escândalos de corrupção”, ressalta a nota.

    Vícios – De acordo com o documento do MPF, o substitutivo apresenta vários problemas, entre eles: fixação de prazo muito curto para aprovação de licenciamentos, que poderiam ser feitos sem a manifestação (ou mesmo com parecer contrário) de órgãos como Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Fundação Nacional do Índio (Funai) ou Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio); excessiva autonomia aos entes da federação, sem o estabelecimento de parâmetros e critérios nacionais unificados; descaracterização das condicionantes, que são restrições com objetivo de barrar o rito de licenciamento em caso de descumprimento; e criação da Licença por Adesão e Compromisso (LAC), que dispensa licenciamento prévio para atividades causadoras de degradação ambiental.

    Por fim, a nota técnica enfatiza que, em vez de se flexibilizar o licenciamento, seria mais eficiente fortalecer os órgãos ambientais, que vêm sofrendo um gradativo sucateamento. “Não se pode confundir rigor com burocracia. Não se pode, a pretexto de reduzir a burocracia, eliminar o rigor”, finaliza o documento.

    Alerta reiterado – Esta é a quarta nota técnica produzida pela Câmara de Meio Ambiente do MPF para alertar parlamentares sobre os riscos da aprovação de uma Lei Geral do Licenciamento sem uma análise criteriosa de todas as questões envolvidas e amplo debate com a sociedade civil.

    Apesar dos diversos posicionamentos apresentados pelo MPF e por outras entidades com atuação na área ambiental, “o projeto do substitutivo, além de ignorar as mais significativas contribuições até então apresentadas, não promoveu suficiente debate nem estabeleceu o desejável diálogo com a sociedade civil, do que se extrai a nítida deficiência na participação popular que deveria permear o processo legislativo. Não fosse o bastante, o texto mantém dispositivos nitidamente inconstitucionais, promovendo um inaceitável e vedado retrocesso socioambiental”, ressalta o texto.

    Leia a nota na íntegra

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  • 21/09/2017

    Seminário debaterá sobre demarcação da Raposa Serra do Sol e direitos indígenas

    Uma comissão de lideranças indígenas da Raposa Serra do Sol estará em Brasília na primeira semana do mês de outubro, 2 a 6, para cumprir uma intensa agenda de visibilidade dos avanços após a homologação e fortalecer a luta dos povos indígenas do Brasil pela garantia dos direitos originários.

    Entre as atividades confirmadas, trata-se do seminário “Raposa Serra do Sol e os direitos dos povos indígenas” que será realizado no dia 4 de outubro, às 16h, no auditório Joaquim Nabuco, da Faculdade de Direito na Universidade de Brasília (UnB). O objetivo é dialogar com a comunidade universitária e a sociedade em geral sobre os avanços que as comunidades indígenas da TI Raposa Serra do Sol conseguiram após a homologação, conforme o decreto de 15 de abril de 2005. 

    A Homologação da TI Raposa Serra do Sol é um ponto chave na história recente do reconhecimento e garantia dos direitos fundamentais dos povos indígenas, principalmente o direito à terra e o território. Porém, o Brasil vive um momento de grave retrocesso na garantia desses direitos em nosso país, em que forças que atuam no Congresso Nacional, no Governo Federal e no Poder Judiciário pretendem questionar, reduzir, limitar, condicionar os direitos dos povos indígenas.

    De modo arbitrário, insistem na aplicação das condicionantes de RSS para julgar outros territórios indígenas e defendem a tese do Marco Temporal que agride frontalmente os direitos e legitima a história de violência e expulsão de muitos povos indígenas.

    Por este motivo, os povos indígenas querem mostrar como a homologação da TI Raposa Serra do Sol significa, fundamentalmente, a confirmação dos direitos e que isso deve ser compreendido como um impulso, e não um empecilho, para a demarcação e homologação de todas as terras indígenas.

    A comitiva de lideranças indígenas busca também questionar a tese do Marco Temporal e mostrar a solidariedade e força a todos os povos e organizações indígenas na sua luta pela terra, autonomia e garantia dos direitos originários.
    Para o evento, o Conselho Indígena de Roraima (CIR) convidou a Procuradora Geral da República, Raquel Dodge, a Presidente do Conselho Nacional de Justiça e Ministra do Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia e Procuradora da República, Ela Wiecko.

    Outra atividade confirmada será visita aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Em breve mais informações sobre a visita das lideranças indígenas da Raposa Serra do Sol a Brasília.

    Para imprensa:

    Conselho Indígena de Roraima – CIR
    Mayra Wapichana – Assessora de Comunicação – Ascom/CIR
    (95) 3224-8574 (CIR)
    (95) 98101-7827 (Mayra Wapichana)                       

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  • 20/09/2017

    Organizações brasileiras denunciam políticas anti-indígenas no Conselho de Direitos Humanos da ONU

    Por Assessoria de Comunicação Cimi

    Na manhã de hoje (20), em carta lida no Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), uma liderança indígena Guarani e Kaiowá e  grupo de organizações – Anistia Internacional, FIAN Internacional, Articulação para o Monitoramento dos Direitos Humanos no Brasil, Conectas, Aty Guasu e Conselho Indigenista Missionário (Cimi) – denunciaram a situação de ataques aos direitos dos povos indígenas no Brasil. Levando ao conhecimento internacional as medidas anti-indígenas do governo Temer, eles cobraram a estruturação de políticas efetivas “através da constituição de um novo patamar de convivência descolonizada, entre os Povos Indígenas, os Estados Nacionais e demais atores sociais”.

    Em documento entregue à ONU, o grupo de organizações da sociedade civil relata às instâncias internacionais o sucateamento da Fundação Nacional do Índio (Funai); a ineficiência do Conselho Nacional de Políticas Indigenista (CNPI), adjetivado como paternalista, ao não cumprir com sua função de controle social das políticas voltadas aos povos indígenas; a paralisação nas demarcações das Terras Indígenas (TIs) e os alarmantes casos de suicídio entre os Guarani e Kaiowá, “devido à falta de perspectiva e políticas preventivas, por não haver seus territórios tradicionais”.

    “Enquanto o Governo Brasileiro continuar negociando os direitos indígenas, consequentemente suas vidas, suas terras, junto à setores do agronegócio, como forma de garantir sua sobrevivência política, em meio aos escândalos de corrupção, o Brasil não nos parece ter a mínima condição de exemplificar boas práticas”, encerra o texto.

    Incidência Internacional

    A incidência internacional integra um conjunto de iniciativas efetivadas pela sociedade civil organizada para cobrar do Brasil o cumprimento das recomendações recebidas pelo país na Revisão Periódica Universal (RPU), no final de maio. Na revisão, que analisa a atuação do Estado frente às políticas ligadas a Direitos Humanos, 29 países mostraram-se preocupados com as políticas anti-indígenas assumidas pelo governo brasileiro.

    O grupo brasileiro na Europa, que conta com Voninho Benites Pedro, liderança Guarani Kaiowá, membro do conselho Aty Guassu e do Conselho Continental da Nação Guarani, viajará participando de atividades nas capitais políticas europeias – Genebra, na Suíça, e Bruxelas, capital da Bélgica.


    Foto: Luiz Donizete /RCA

    Após a visita de parlamentares europeus ao Conselho Aty Guasu, em dezembro do ano passado, Voninho Benites dá seguimento às denúncias numa perspectiva de cobrar da União Europeia (UE) sua parcela de responsabilidade com o avanço da violência sobre as comunidades Guarani Kaiowá, no Mato Grosso do Sul (MS). Através das exportações, UE financia o agronegócio brasileiro, segundo a delegação. O tema será debatido em Bruxelas com euro-parlamentares.

    Flávio Vicente Machado, missionário do Cimi MS e representante do organismo no encontro, observa as agendas como oportunidade para responsabilizar o Estado brasileiro sobre os perigos que cercam a vida dos povos indígenas no país.

    “Denunciamos o desmantelamento, por corte de orçamento, das instituições governamentais que são responsáveis pelas políticas indígenas. Também, o parecer da Advocacia Geral da União (AGU) assinado por Michel Temer que paralisa as demarcações de terras indígenas. Isso tudo ocorre em um contexto onde se revela o possível massacre dos povos isolados na Amazônia”, avalia.

    Memória e resistência

    Na tarde de hoje, durante o diálogo interativo com Victoria Tauli-Corpuz,  relatora especial da ONU sobre direitos dos povos indígenas, Voninho Benites, ao solicitar medidas urgentes sobre a “grave crise humanitária” enfrentada pelos Guarani Kaiowá,  fez memória do massacre de Caarapó, quando fazendeiros atacaram o acampamento da retomada, apoiados por jagunços e pistoleiros uniformizados e encapuzados.


    Foto: FIAN Internacional

    “Venho da Terra Indígena Dourados-Amambaí I. Há um ano sofremos um terrível massacre. Cerca de 50 caminhonetes com fazendeiros fortemente armados atacaram nossa comunidade deixando diversos feridos e um de nossos agentes de saúde, Clodiodi, foi morto com dois tiros enquanto atendia os feridos”.  O ataque foi resposta da retomada ocorrida no dia  12 de junho, onde Clodiodi Guarani e Kaiowá, ao lado de outros 300 indígenas do povo, retomou uma área de 490 hectares da Fazenda Yvu, incidente sobre o tekoha.

    Resolução do Parlamento Europeu

    Há quase um ano, o Parlamento Europeu aprovou uma resolução exigindo que o Estado brasileiro tomasse medidas imediatas para proteger a segurança dos povos indígenas e garantir que seus direitos às terras ancestrais sejam cumpridos. A resolução também pediu ao governo brasileiro para que garanta as investigações independentes aos assassinato e massacres de povos indígenas em suas tentativas de defender seus direitos humanos e territoriais.

    A delegação da sociedade civil organizada que participa da Assembleia Geral da ONU também se reunirá com outros parlamentares europeus para debater o Acordo de Livre Comércio, negociado com o MERCOSUL – Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. O Brasil é um grande exportador de "commodities de risco florestal", incluindo a soja, para a União Europeia. A produção dessas commodities frequentemente ocorrem em grandes custos humanos e ambientais para as comunidades locais e indígenas.

    Aty Kuña, o espaço político para mulheres Guarani Kaiowá

    Paralelamente às atividades em Genebra e Bruxelas, entre dias 18 e 22 de setembro, em Kurusu Ambá, no município de Coronel Sapucaia (MS), acontece a Grande Assembleia das Mulheres Kaiowá e Guarani – Kuñangue Aty Guasu. Líderes femininas de toda a região se encontram para discutir os principais desafios como mulheres indígenas.

    Realizada pela primeira vez em 2006, a assembleia que reúne lideranças indígenas mulheres está, neste ano, em sua quarta edição, e traz para o debate a memória dos territórios tradicionais e a resistência dos povos pela vida em seus tekoha. “Desde 1920 nós fomos colocados em reservas indígenas, com espaço limitado e em confinamento. Hoje lutamos incansavelmente para recuperar nosso tekoha. Isso gera conflitos intensos em Mato Grosso do Sul e com o governo federal, que privou todos os nossos direitos indígenas, especialmente [quando se trata de] demarcação de nossas terras”, ressaltam lideranças da Aty Kuña.

    *Com informações da FIAN Internacional

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  • 20/09/2017

    Povo Pankararu emite nota ressaltando procedimento demarcatório e cuidado aos posseiros



    Com o objetivo de combater a desinformação, o povo Pankararu divulgou nesta quarta-feira, 20, uma nota traçando todos os principais pontos que compõem o procedimento demarcatório, realizado do início ao fim em respeito à legislação e observando os direitos dos posseiros que seguem ocupando a terra indígena.

    "Em momento algum, desconsideramos, desfazemos, desrespeitamos, atacamos ou humilhamos aos posseiros, sempre lutamos pela justiça e desintrusão da nossa terra sagrada. Respeitamos a angústia de todos que terão que sair. O INCRA já apresentou a proposta do reassentamento Abreu e Lima no município de Tacaratu – PE, este com extensão territorial de 18.500ha, área muito maior de que nosso território", diz trecho da nota.

    Leia na íntegra:

    Ante aos fatos decorrentes da questão jurídica e fundiária da Terra Indígena Pankararu localizada entre os municípios de Jatobá, Tacaratu e Petrolândia, sertão Pernambucano, vimos a publico esclarecer os seguintes fatos:

    1. Os primeiros registros do etnômio Pankararu foram levantados pelo historiador e antropólogo W. D.Hohenthal Jr, datados do século XVII, como o relatório de 1702, confirmando a existência do povo Pankararu na região e que nós Pankararu mantínhamos vínculos culturais com as cachoeiras do Rio São Francisco, reconhecido por nos como Opará. Isso também está nos registros do pesquisador e antropólogo Carlos Estevão, em 1938 e 1941;

    2. As frentes de colonização com o advento da produção de cana de açúcar e a construção da hidroelétrica, fomentou a presença descontrola de novos habitantes. Essa presença desenfreada dos não indigenas fez com que nosso povo se distanciasse das margens do rio, nos obrigando a se refugiar em cima das nossas serras, com medo das constantes ameaças e perseguições dos invasores;

    3. Os relatos dos nossos ancestrais afirmam que sempre houve perseguições, provocações, xingamentos, ameaças e violências, a ponto de tentarem limitar nossa permanência dentro do nosso próprio território, local que nunca nos afastamos;

    4. A preocupação que trazemos de outrora são referentes ao nosso futuro e das próximas gerações. Nossa história sempre terá continuidade, que nós e nossos filhos continuaremos a constituir famílias, por isso, temos a consciência e compromisso de amparar as próximas gerações, no sentido de garantir um legado positivo, satisfatório e justo, assim como nossos avós nos asseguraram com muita dificuldade e esforços. O crescimento da nossa população é constante, e nosso território não estica, sempre será do mesmo tamanho. Hoje, somos cerca de 8.000 indígenas vivendo em um espaço reduzido a 8.100ha, com 20% ainda ocupado pelos posseiros;

    5. Em momento algum, desconsideramos, desfazemos, desrespeitamos, atacamos ou humilhamos aos posseiros, sempre lutamos pela justiça e desintrusão da nossa terra sagrada. Respeitamos a angústia de todos que terão que sair. O INCRA já apresentou a proposta do reassentamento Abreu e Lima no município de Tacaratu – PE, este com extensão territorial de 18.500ha, área muito maior de que nosso território, além do pagamento de indenizações já depositado em juízo, cabendo a cada um que queira receber as indenizações das benfeitorias dirigirem-se a Secretaria da 38ª Vara Federal, em Serra Talhada. Não cabendo aos indigenas à responsabilidade por qualquer ato da justiça, pois esta é regida por leis, seguindo a CF 1988 que ampara todos e todas as populações. Nosso povo teve a sabedoria, a paciência de esperar, acreditando na justiça, não trapaceamos, não fomos desleais, simplesmente lutamos por nossos direitos;

    6. Pedimos encarecidamente que parem de nos atacar, ofender, xingar, ameaçar, difamar, agredir verbal e fisicamente. Somos todos humanos sim, com origem culturais diferentes, nem melhores e nem piores. Não somos vagabundos, desocupados e nem ladrões como muitos tentam nos acusar, manipulando a opinião pública;

    7. Há diversas fontes de material legítimo e legal, relatórios técnicos contendo processos, decisões judiciais, levantamentos, termos de concordância, processos julgados, que estão acessíveis na internet. Esse material já deveria estar em mãos de todos interessados, se não estão, não é nossa responsabilidade;

    8. Nosso sentimento para com a nossa Terra Pankararu não é e nem nunca será de exploração, é onde praticamos nossa cultura e reverenciamos nossos antepassados, nosso meio ambiente, os animais e a manutenção da nossos conhecimentos tradicionais, algo que só diz respeito ao nosso povo;

    9. É muito importante esclarecer que todo esse processo, que se arrasta na justiça há 25 anos, seguiu todos os trâmites legais. O processo iniciou em 1993, dando causa ganha aos Pankararu, em 1ª instância, a união e o INCRA recorreram da decisão e mais uma vez perderam em 2ª instância e por fim coube a 3ª instancia julgar em 2009, sendo a Sra. Ministra Eliana Calmon, do Superior Tribunal de Justiça, relatora do processo, com uma votação unânime e favorável mais uma vez ao nosso povo, onde  o processo foi remetido para que a 1ª instancia cumprisse a retirada de todos os posseiros da Terra Pankararu.

    10. Anteriormente a tramitação deste processo na justiça, já existia a primeira demarcação em 1940 pelo SPI, em 1987 houve a homologação da Terra e consequentemente seu registro em cartório, cabendo a retirada de todos os posseiros;

    Não estamos aqui para atacar, mas sim demonstrar a veracidade dos fatos. Deixamos alguns materiais disponíveis de comprovação do  que falamos aqui, são estudos, pesquisas, sentenças que podem ser encontrados em sites.

    CONHEÇA A HISTÓRIA DO POVO PANKARARU   E A SUA LUTA PELA GARNTIA DE SEU DIREITO A TERRA:

    Carlos Estevão:

    http://biblio.wdfiles.com/local–files/estevao-1942-ossuario/estevao_1942_ossuario.pdf

    INDÍGENAS NO SERTÃO: UMA HISTÓRIA DE ESBULHOS DAS

    TERRAS, CONFLITOS E DE MOBILIZAÇÃO POR SEUS DIREITOS:

    http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:XarJ7FmgZykJ:revistaopara.facape.br/article/download/27/18+&cd=10&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br

    Histórico de resistência Pankararu: https://www.socioambiental.org/sites/blog.socioambiental.org/files/nsa/arquivos/27941_20140714_163159.pdf

    ENTENDA COMO SE TRAMITA A REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA:

    http://www.funai.gov.br/index.php/2014-02-07-13-24-53

    OS PROCESSOS NA INTEGRA:

    RECURSO ESPECIAL Nº 1.044.650 – PE (2008/0069469-0) RELATORA : MINISTRA ELIANA CALMON RECORRENTE : UNIÃO RECORRENTE : INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA – INCRA PROCURADOR : VALDEZ ADRIANI FARIAS E OUTRO(S) RECORRIDO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL INTERES. : FUNDAÇÃO NACIONAL DO ÍNDIO – FUNAI ADVOGADO : RICARDO RAMOS COUTINHO E OUTRO(S):

    https://jurisprudencia.s3.amazonaws.com/STJ/IT/RESP_1044650_PE_1263867520201.pdf?Signature=LA2AaTPKiRWtCuqnI8%2BadXs4WUY%3D&Expires=1505673807&AWSAccessKeyId=AKIAIPM2XEMZACAXCMBA&response-content-type=application/pdf&x-amz-meta-md5-hash=012149dfdd1d4a2f79a9263baaf13ae5

    APELAÇÃO CÍVEL Nº 344734-PE (2004.05.00.024999-0) APTE INCRA – INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA REPTE : PROCURADORIA REPRESENTANTE DA ENTIDADE APTE UNIÃO APDO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PARTE R : FUNAI – FUNDAÇÃO NACIONAL DO ÍNDIO REPTE : PROCURADORIA REPRESENTANTE DA ENTIDADE PARTE R : JOSE FREIRE DE LIMA e outro ADV/PROC : JOSE DANTAS DE LIMA PARTE R : ANTONIO ARAUJO DA SILVA e outros ADV/PROC : CELSO PEREIRA DE SOUZA e outro Origem : PE RELATORA : Desembargadora Federal MARGARIDA CANTARELLI  :

    https://jurisprudencia.s3.amazonaws.com/TRF5/IT/AC_344734_PE_13.09.2005.pdf?Signature=Kh0cGSr4EbNzjlTpUSHOf04PulA%3D&Expires=1505673748&AWSAccessKeyId=AKIAIPM2XEMZACAXCMBA&response-content-type=application/pdf&x-amz-meta-md5-hash=c855f96537d17fb8584b89f68c3b73e8

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