Informe no. 773
Transposição: Povo Truká retoma nova área em Cabrobó, Pernambuco
O Povo Truká retomou outra área na região de Cabrobó, Pernambuco, na madrugada desta quinta-feira. A ação acontece após a reintegração de posse da fazenda Mãe Rosa, que havia sido ocupada dia 25 de junho, em conjunto com outros movimentos sociais e entidades contrários à transposição do rio São Francisco. A reintegração ocorreu com a presença de policiais fortemente armados, mas não houve conflitos.
As reivindicações são a demarcação do território Truká e a paralisação das obras da transposição.
A nova retomada fica a cerca de 8km de Cabrobó e é conhecida como fazenda do Tonho da Lalinha. Cerca de 300 pessoas participam da ação.
Os acampados que ainda não voltaram para suas cidades seguiram em marcha por cerca de 13 quilômetros até o assentamento Jibóia, de trabalhadores ligados ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Na manhã desta quinta-feira, eles montaram novo acampamento. Decidiram continuar as ações em protesto contra a transposição do São Francisco.
Os acampados fazem hoje atividades de sensibilização das famílias que vivem no assentamento e nas imediações, assim como nas escolas públicas. O Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (IRPAA) faz uma formação sobre alternativas de convivência com o semi-árido.
Os trabalhadores deverão construir uma cisterna de tela e cimento para captação de água da chuva que atenderá ao centro comunitário. O assentamento é formado por 50 famílias que estão no local há 10 anos, sendo seis deles como assentadas. No local não há água encanada, os moradores sofrem graves problemas de abastecimento, principalmente para consumo humano.
Funai afirma que vai enviar antropólogo para a área Truká
Na manhã desta quarta-feira, a liderança Edilene Truká esteve reunida com o presidente da Fundação Nacional do Índio (Márcio Meira), acompanhada por representantes do Cimi, da Coiab e do CTI, entidades do Fórum de Defesa dos Direitos Indígenas. A presidência da Funai comprometeu-se a enviar antropólogo para a área.
Durante a reunião, ficou claro que a Funai há muito tempo tomou conhecimento da reivindicação do povo Truká sobre a terra onde foram iniciadas as obras da transposição.
Segundo informações de funcionários do órgão indigenista, a licença prévia para a obra foi autorizada pelo Ibama sem nenhum estudo prévio, e a licença para instalação foi dada pela gestão anterior da Funai sem levar em conta estudos produzidos.
Impactos
O estudo de impacto ambiental do projeto de transposição do rio São Francisco prevê impactos diretos da obra sobre três grupos indígenas: os Truká, Pipipã e Kambiwá. Nos Estudo Etnoecológico daTerra Pipipã, realizado em 2005 para complementar o Relatório de Impacto de ambiental da obra, há previsão de impactos ambientais graves, como desmatamento em uma das poucas áreas conservadas da região e interferência no deslocamento de animais. Ele prevê também “fortes” interferências sobre a organização econômica e cultural do grupo, que terá um canteiro de obras a menos de 1 km das comidades.
O Estudo Etnoecológico daTerra Truká apresenta a reivindicação deste povo pelas terras que foram alvo da retomada na semana passada, mas não propõe encaminhamento sobre isso.
O estudo afirma também que “é necessário entender que para este povo a sobrevivência do Rio São Francisco significa sua própria sobrevivência”. A liderança Edilene Truká explica que os membros de seu povo recebem forças e orientações dos encantos de luz que vivem na mata, nas águas, na terra e no ar. “Se o rio for comprometido, isso vai atingir forças que vão atingir diretamente os Truká”.
Cimi – Conselho Indigenista Missionário
Brasília 5 de julho de 2007