Informe n.º 750
Os Guarani relatam “armadilha” para prender lideranças. Presos recebem visita de familiares
Uma comissão com 15 representantes de entidades, movimentos sociais e sindicatos visitou, no sábado, 20, o acampamento dos Guarani que foram retirados da terra que haviam retomado, em episódio que legou à morte de uma indígena de 70 anos, em 9 de janeiro e ao desaparecimento de dois jovens, no Mato Grosso do Sul. Nos depoimentos dados à comissão, os Guarani relatam que a prisão da maior liderança da retomada e de outros três homens foi uma “armadilha”.
Novos fatos
A liderança Ortiz Lopes conta como foi feita a prisão dos indígenas, sob a acusação de roubo de um trator, em 8 de janeiro.“O fazendeiro da fazenda Madama chegou lá, conversou com as lideranças, cedeu o trator e disse que a gente podia usar. O líder da retomada estava indo de trator buscar comida para a comunidade, e aí a polícia apareceu. Foi uma armadilha”, disse. Após o episódio, a liderança Francisco Fernandes e vários outros Guarani foram presos. Quatro homens continuam na prisão.
Questionado sobre outros detalhes do suporto roubo divulgado pela imprensa em 9 de janeiro, Ortiz respondeu que em nenhum momento a versão dos Guarani havia sido ouvida: “Eles só ouviram a versão dos não índios. Não foi divulgado a versão dos índios. Não teve nada disso que publicaram, não teve reféns”, afirma.
Inquérito
O inquérito da Polícia Federal, que apura a morte de Churetê Lopes, ainda não foi concluído. O outro inquérito, realizado pela Polícia Civil, já terminou. Baseado nele, o Ministério Público Estadual (MPE) fez a denúncia dos quatro indígenas com acusação de roubo de equipamentos agrícolas. Agora, se a denúncia for aceita pela Justiça Estadual, os indígenas responderão a processos.
Visita aos presos
A comissão acompanhou familiares dos presos à cidade de Amambaí para que pudessem visitar seus parentes. Além da dificuldade de locomoção até a cidade, os indígenas quase foram impedidos de entrar pela falta de documentos com fotografias. Acontece que os documentos deles foram queimados, junto com todos os seus pertences, depois que foram retirados da retomada de terras.
Superadas as dificuldades com identificação, os grupo realizou a visita. “Ninguém se queixou de violência física, mas todos afirmam receber um tratamento desrespeitoso e dizem serem vítimas de uma armação, insistem que precisam ser retirados de lá com urgência e pedem-me atenção a seus processos”, relaotu Saulo Feitosa, vice-presidente do Cimi que participou da comissão.
Sem notícias do filho
Joana, mãe de Natalino, 16 anos, contou que seu filho está desaparecido desde o dia 8 de janeiro. O jovem fazia parte do grupo que foi preso, acusado pelo roubo. Naquela noite, mulheres e crianças foram liberadas, e os homens permaneceram presos na delegacia. Segundo o relato da mãe, o menino não coube na ambulância onde os liberados foram jogados para serem transportados à aldeia Taquaperí. Foi a última vez que ela viu seu filho, na porta da delegacia.
Também está desaparecido um jovem de 14 anos. Ele foi visto pela última vez no momento da retirada dos indígenas pelo grupo armado e encapuzado que chegou ao local da retomada em caminhonetes e com um ônibus.
Retomada
O Guarani-Kaiowá Ortiz Lopes, que na semana passada esteve em Campo Grande para uma entrevista coletiva à imprensa convocada pelos movimentos sociais locais, explicou também os motivos que levaram cerca de 50 famílias a realizar a retomada do tekoha (terra tradicional) Kurusu Ambá: “Retomamos quando conseguimos juntar os parentes antigos, que viviam naquela área. Estávamos vivendo com muita dificuldade”, disse.
Cerca de 36 familias que tentaram retomar as terras estão agora acampados na beira da rodovia MS-289. Segundo a liderança Ortiz Lopes, o grupo tem expectativa de que a Fundação Nacional do Índio crie um Grupo Técnico para a identificação do território Kurusu Ambá.
Brasília, 25 de janeiro de 2007
Cimi – Conselho Indigenista Missionário