11/10/2006

Informe no. 736: Maninha Xukuru-Kariri faleceu na manhã desta quarta-feira, em Alagoas

Informe no. 736


 


– Maninha Xukuru-Kariri faleceu na manhã desta quarta-feira, em Alagoas


Após 19 anos, assassinos de Vicente Canhas sentarão no banco dos réus


 


Maninha Xukuru-Kariri faleceu na manhã desta quarta-feira, em Alagoas


 


O Cimi comunica com pesar o falecimento de Maninha Xukuru-Kariri na manhã desta quarta-feira, 11, às 9h30, em Palmeira dos Índios, Alagoas. As informações que temos até o momento são de que a liderança estava com problemas respiratórios, teve uma parada cardíaca e não foi atendida a tempo no hospital daquela cidade.


 


Maninha participou da Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo desde as primeiras reuniões para a criação da entidade. Ela foi a primeira mulher a fazer parte da coordenação da Apoinme, e esteve na entidade por 16 anos. Em 2005, ela se afastou da coordenação, mas foi convidada a continuar próxima, assessorando a atuação da Articulação.


 


Maninha foi especialmente homenageada na 6a. Assembléia da Apoinme, em junho de 2005. Lá, Girleno Xocó companheiro de luta durante anos, falou da importância de Maninha para as lutas dos povos do Nordeste e do Leste do país. Contou que ela esteve sempre presente: nas reuniões que duravam dias, nas retomadas de terras, na organização dos povos. “No meio daquele monte de homens, ela dizia: ‘respeito é bom e eu gosto´. E todos nós aprendemos muito com isso”, afirmou Girleno. 


 


Maninha esteve entre as 52 brasileiras indicadas pelo Projeto 1000 Mulheres Para o Prêmio Nobel da Paz de 2005. “A sociedade tenta negar suas origens indígenas. Eles tomaram nossas terras, nossas línguas e nossas crenças. Hoje, nós sabemos quem nós somos, quais são os nossos direitos e a posição que queremos ocupar na história”, disse, ao ser indicada ao prêmio.


 


Lembraremos de Maninha como uma grande mulher lutadora, preocupada com a vida dos povos, engajada em todos os aspectos da luta, atuante na conquista da terra, da educação, da saúde. A morte de Maninha é uma perda irreparável para o movimento indígena e para os movimentos sociais. 


  


 


Após 19 anos, assassinos de Vicente Cañas sentarão no banco dos RÉUS


 


Após 19 anos do bárbaro assassinato de Vicente Cañas Costa, missionário jesuíta que vivia com o povo Enawenê-Nawê no estado de Mato Grosso, um mandante e dois executores do crime sentarão no banco dos réus. O julgamento está marcado para 24 de outubro, em Cuiabá, Mato Grosso e pode significar um grande avanço na luta contra a impunidade. O crime ocorreu porque Cañas apoiava a demarcação da terra Enawenê-Nawê e trabalhava pela saúde deste povo.


 


Dois mandantes denunciados já morreram. A ação contra o terceiro acusado prescreveu pela sua idade avançada. Assim, Ronaldo Antônio Osmar, ex-delegado de polícia de Juína, localidade do crime, Martinez Abadio da Silva e José Vicente da Silva serão julgados pelo Tribunal do Júri pelos crimes de homicídio duplamente qualificado, mediante pagamento e em emboscada. As penas para homicídio qualificado podem variar de doze a trinta anos de reclusão. O ex-delegado Ronaldo responde ainda pelo agravante por ter promovido ou organizado a cooperação no crime, dirigindo a atividade criminosa dos demais envolvidos.


 


Vicente Cañas viveu com os Enawenê por 10 anos. Participou dos primeiros contatos do grupo com não-índios, em 1974. Ele os acompañava em suas atividades tradicionais de pesca, agricultura e na vida cotidiana. Em uma região onde contaminação por verminoses era comum, atuou na prevenção destas doenças. Manteve constantes vacinações para prevenir doenças infecto-contagiosas como sarampo, que dizimaram tantos outros grupos indígenas no Brasil. A população dos Enawenê-Nawê era de 97 pessoas quando foram contatados. Hoje, são 430.


 


Lutava ainda pela demarcação de suas terras tradicionais, cobiçadas pelos fazendeiros que se instalavam na região, e participava oficialmente de um grupo de trabalho da Funai para identificação do território indígena. Por esta razão a competência para o julgamento dos acusados foi transferida para a Justiça Federal.


 


Ameaçado de morte por seu comprometimento com a sobrevivência do povo Enawenê-Nawê, Vicente Cañas foi vítima da ambição e violência dos fazendeiros, que o mataram a facadas em 1987, quando se preparava para atender a uma aldeia, levando medicamentos. Foi abandonado, agonizante, à porta de seu barraco, pelos assassinos que fugiram pelas picadas abertas na mata, em direção à fazenda de um dos mandantes. Seu corpo só foi encontrado cerca de quarenta dias depois. O inquérito tramitou durante seis anos, e a revelação do envolvimento dos acusados se deu por testemunhos de indígenas da etnia Rikbaktsa (canoeiros), habitantes das terras vizinhas à dos Enawenê-Nawê.


 


O Cimi convoca movimentos pastorais e sociais na divulgação deste julgamento e convida a todas as pessoas solidárias a estarem presentes no Auditório da Justiça Federal de Cuiabá às 8h do dia 24 de outubro, para demonstrar a importância deste julgamento na luta contra a impunidade.


 


Brasília, 11 de outubro de 2006


Cimi – Conselho Indigenista Missionário


www.cimi.org.br


 


 

Fonte: Cimi
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