21/09/2006

Informe no. 733: Guarani do Mato Preto: luta e resistência na reconquista da terra tradicional





 


Carinho e solidariedade marcam enterro de Dom Franco Masserdotti


 


Com forte presença do povo de Balsas, cidade onde vivia Dom Franco Masserdotti, foi realizado na manhã desta terça-feira, 19, o enterro do bispo, falecido na tarde de domingo, 17, vítima de atropelamento. Após procissão pela cidade, o enterro foi realizado na Catedral de Balsas. Masserdotti foi presidente do Cimi desde 1999.


 


A Catedral esteve lotada durante a missa, realizada na entre 9 e 11 da manhã, e muitos outros presentes acompanharam a celebração do lado de fora da igreja. Ao lado da população local, estiveram presentes familiares de Dom Franco vindos da Itália, religiosos católicos e de outras igrejas, indígenas do povo Apinajé, missionários do Cimi de diversas regiões do país e representantes dos governos locais e federal.


 


Os Apinajé presentes fizeram um ritual fúnebre tradicional de seu povo, no qual entregaram como oferendas alimentos como farinha e pão, para que Dom Franco continue forte.


 


Dom Franco, como era chamado, costumava afirmar que seu batismo na questão ocorreu em Coroa Vermelha, por ocasião da Conferência Indígena 2000, quando as elites celebraram 500 anos do início da invasão. Ali, ele enfrentou a repressão comandada pelo coronel Muller. Muitos índios ficaram feridos e D. Franco ficou retido por algum tempo, pois, mesmo tendo sido dispensado, quis ficar junto ao presos. Foi um momento forte, em que o presidente do Cimi soube estar ao lado dos povos indígenas e dos missionários que ali estavam. Não se ausentou do confronto. E, por ocasião da celebração dos 500 anos de Evangelização, teve a coragem de, juntamente com um pequeno grupo de bispos, registrar sua discordância com tais comemorações.


 


Uma missa de sétimo dia será realizada na capela do Centro de Formação Vicente Cañas, em Luziânia, neste sábado, 22 de setembro, às 16h30.


 


 


Guarani do Mato Preto: luta e resistência na reconquista da terra tradicional


 


Acampadas na beira da estrada RS-135 desde 2003, 20 famílias Guarani vivem expostas aos rigores do tempo no Rio Grande do Sul. Precária é a palavra para definir a situação desta comunidade: precárias são suas casas, o atendimento à saúde que recebem e as condições para que as crianças estudem. Mesmo assim, persistentes como são os Guarani, eles seguem lutando pela demarcação de sua terra, em fase de identificação. Segundo a assessoria de imprensa da Fundação Nacional do Índio (Funai), o órgão está debatendo o estudo com a antropóloga responsável pela identificação da terra, que foi entregue já pela segunda vez em julho deste ano.


 


Em 15 de setembro, a Funai publicou portaria criando um Grupo Técnico que tem o prazo de 45 dias para apresentar o levantamento fundiário da área. Este levantamento, que identifica ocupantes não índios, o tamanho da área que ocupam e o tipo da propriedade, é uma das informações necessárias para a identificação de uma terra indígena.


 


Mato Preto (Tekoá Ka’aty) localiza-se no Noroeste do Rio Grande do Sul, no município de Getúlio Vargas. A região tem apenas uma terra Guarani demarcada, a terra Vontouro, com 3,3 mil hectares, compartilhada com o povo Kaingang. Nesta região, as famílias Guarani vivem há várias gerações em terras do povo Kaingang, apesar de ser notório, pelos dados históricos e arqueológicos, que ali também há territórios Guarani.


 


Após serem expulsos das terras onde viviam, na década de 1950, os Guarani do Mato Preto passaram a viver na terra Cacique Doble, dos Kaingang, em município que leva o mesmo nome.


 


Em 2002, através de pressão dos Guarani, a Funai realizou um levantamento prévio sobre Mato Preto, que concluiu pela criação do Grupo Técnico (GT) para identificação e delimitação da terra. A partir disso, os Guarani mobilizaram-se e realizaram uma ocupação de terras em setembro de 2003, exigindo providências da Funai. Segundo informações da equipe do Cimi que atua com este povo, o GT foi criado em abril de 2004 e o relatório com as conclusões foi entregue pela antropóloga Flávia de Melo em outubro de 2005,  indicando a identificação de aproximadamente 4000 hectares. No início deste ano, a Funai solicitou complementações ao relatório. O estudo foi devolvido à Funai em julho e agora passa por nova revisão.


 


A oposição ao reconhecimento da terra Guarani é encabeçada por federações de agricultores, como a Farsul, e por algumas prefeituras da região. No ano passado, foi criada Farsul, prefeituras da região e sindicatos rurais uma comissão denominada “Comissão para assuntos indígenas e Quilombolas”, com o objetivo de contestar a demarcação da terra Mato Preto, segundo informações da equipe do Cimi na região.


 


Brasília, 21 de setembro de 2006


Cimi – Conselho Indigenista Missionário


www.cimi.org.br


 


 

Fonte: Cimi
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