Cimi Regional Maranhão promove semana de vivência com povo Krenyê
A semana, que ocorreu entre os dias 20 e 24 de março, faz parte do projeto de intercâmbio linguístico e cultural de povos em retomada no Maranhão
Entre os dias 20 e 24 de março, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) – Regional Maranhão realizou uma semana de vivências com o povo Krenyê. O encontro, realizado na aldeia Mangueira, na Terra Indígena (TI) Krenyê, é parte das ações desenvolvidas no projeto de intercâmbio linguístico e cultural que envolve, também, os povos Krikati e Akroá Gamella.
Durante a semana, o povo Krenyê fez memória de sua existência, da sua história e da relação da cultura com o território. Na oportunidade, as atividades foram divididas em dois eixos: o primeiro foi relacionado à permanência e à territorialização dos Krenyê em sua TI.
Segundo Meire Diniz, missionária do Cimi Regional Maranhão, em 2023, a entidade completa 20 anos de vivências com os Krenyê, e, nesse processo, muitas foram as conquistas na retomada desse povo. “A semana de vivência foi importante para o povo olhar para o passado, nesses anos de caminhada, que foi uma luta permanente para a conquista desse território e que o Cimi sempre esteve presente”, destaca.
“A semana de vivência foi importante para o povo olhar para o passado”
A demarcação da TI Krenyê, em 2018, após anos de luta, foi fortalecida junto à articulação da Teia dos Povos e Comunidades Tradicionais do Maranhão. Na ocasião, os diálogos passaram, também, por outros temas/esteios, como a soberania alimentar e a proteção territorial, visando a permanência na TI para o fortalecimento do povo.
Em relação à soberania alimentar, Tetun Krepym explicou a importância da produção da comida sem veneno para o povo. “Temos que produzir a nossa comida para não ir toda hora buscar comida no povoado”, ressaltou.
“Temos que produzir a nossa comida para não ir toda hora buscar comida no povoado”
Ainda sobre o primeiro eixo da semana de vivência, o povo Krenyê pontuou as dificuldades para a sua permanência no território, dentre elas o acesso à água. Após cinco anos de demarcação, a TI segue abastecida por carro-pipa, mesmo com uma decisão judicial que obriga a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) a construir um poço na aldeia Mangueira.
Além do resgate da memória histórica, o povo Krenyê construiu um plano de futuro para os próximos cinco anos. No plano, foram abordados dez pontos que precisam ser fortalecidos, entre eles a fluência na língua materna, que compreende o segundo eixo das ações da semana de vivência.
“A atividade passou nessa avaliação da caminhada e nessa projeção do futuro por mais cinco anos, a partir desse território, pensando como se territorializar cada vez mais tanto no aspecto da soberania alimentar, na autoproteção, na espiritualidade, na retomada dos rituais e das narrativas de criação e de fundação do povo”, diz Meire Diniz.
Intercâmbio linguístico e cultural
Em relação ao segundo eixo, a semana de vivência teve o objetivo de desenvolver ações voltadas à incorporação da língua Krenyê no dia a dia do povo, como atividades do projeto de intercâmbio linguístico e cultural. “Fomos perceber se a língua Krenyê está viva, se ela está sendo utilizada e, se não estava, quais as estratégias para a sua inserção no cotidiano do povo”, explica Meire Diniz.
Nesse sentido, foram realizadas diversas atividades relacionadas ao fortalecimento da língua, como o reconhecimento dos falantes, das músicas e dos nomes próprios na língua. Na ocasião, o povo identificou a liderança Cujcwá Krenyê como falante da língua materna e se comprometeram a usarem a língua no seu dia a dia.
“Vimos no povo o potencial das crianças em continuar tendo uma formação voltada para a cultura, para história e memória dos Krenyê”
“Vimos no povo o potencial das crianças em continuar tendo uma formação voltada para a cultura, para história e memória dos Krenyê, bem como o aspecto da língua materna”, finaliza Meire Diniz.