Indígena Warao morre de covid-19, em Recife; MPF informa que 40 testaram positivo em João Pessoa
Segundo o procurador da República José Godoy, os indígenas que testaram positivo em João Pessoa serão levados para um local especial e reservado
No Nordeste, a situação dos imigrantes indígenas Warao em meio à pandemia do novo coronavírus não tem se diferenciado daquela vivida pelos povos e comunidades indígenas do país em contexto urbano. Se a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) não contabiliza e atende pelo subsistema diferenciado os indígenas, os imigrantes venezuelanos são ainda mais desconsiderados pelo Poder Público.
A Cáritas Brasileira Regional Nordeste 2 informou na terça-feira (4) a morte de um indígena Warao testado positivo para covid-19. Na última quinta-feira (30) foi a óbito Francisco José Burio, 81 anos, indígena do povo Warao, que residia no bairro Coelhos, em Recife (PE). Em João Pessoa (PB), 40 indígenas Warao testaram positivo para covid-19, conforme informações do Ministério Público Federal (MPF).
“Os testes foram feitos na segunda-feira (4), no grupo Warao que está hospedado no Centro Social Arquidiocesano São José, residência da Igreja Católica, localizado na rua Diogo Velho, no Centro da capital. As informações são da rede de proteção social formada na Paraíba para atuar na crise decorrente da pandemia causada pelo coronavírus”, explicou em nota a Procuradoria da República em João Pessoa.
Segundo o procurador da República José Godoy, os indígenas que testaram positivo serão levados para o Centro de Atividades e Lazer Padre Juarez Benício Gramame (Cejube), equipamento do governo do estado. No domingo (3), uma Warao, grávida de 31 semanas, estava entubada na Unidade de Terapia Intensiva da Maternidade Frei Damião e havia testado positivo para covid-19. A venezuelana faz parte das famílias indígenas que estão hospedadas no Centro Social Arquidiocesano São José.
“É uma situação em que está havendo a atuação do estado, através da Secretaria de Desenvolvimento Humano; a participação do município, através da Secretaria Municipal da Saúde de João Pessoa, que está monitorando os casos; a Secretaria de Desenvolvimento Social de João Pessoa, que vai fazer o transporte dos indígenas para o Cejube; além do Hospital Padre Zé”, destacou o procurador da República.
Para a Cáritas, em Recife, “há uma questão cultural da etnia Warao que é o convívio das famílias, de estarem sempre juntas, e sobre este item, como forma de preservação dos costumes e prevenção para não disseminação da covid, a Cáritas Brasileira tem reforçado com as famílias a importância da higiene e limpeza”. Doações e insumos sanitários e cestas básicas também estão sendo organizadas pela Cáritas
A entidade tem realizado incidências junto à Prefeitura de Recife para reforçar que o município adote medidas de prevenção urgentes nas residências dos indígenas Warao. O Comitê Interinstitucional de Promoção dos Direitos das Pessoas em Situação de Migração, Refúgio e Apatridia, um coletivo que promove, acompanha e promove ações de sensibilização e mobilização composto por diversas organizações, também está monitorando e realizando outras intervenções.
Histórico
A imigração dos indígenas Warao intensificou-se na região Norte do Brasil a partir de 2014, conforme reportagem do site Amazônia Real, em um processo de deslocamento por estrada e rio que abrange os estados de Roraima, Amazonas e, nos últimos anos, Pará. Em dezembro de 2016, houve uma tentativa de deportação coletiva de cerca de 400 indígenas de Boa Vista, o que despertou a atenção da opinião pública. Os Warao chegaram a Belém no primeiro semestre de 2017. Mas atualmente eles também estão em estados do Nordeste, como Maranhão, Ceará, Paraíba e Pernambuco.