24/03/2020

Indígenas temem proliferação de coronavírus com entrada ilegal de evangélicos na TI Vale do Javari

A Univaja denuncia que são missionários evangélicos dos EUA. Um deles já entrou na área outras vezes sem comunicar as lideranças e a Funai

Indígenas temem que missionários fundamentalistas levem doenças ao Vale do Javari. Crédito da foto: J. Rosha/Cimi

Por J. Rosha, da Assessoria de Comunicação – Cimi Regional Norte I (AM/RR)

Lideranças indígenas do Vale do Javari, no Amazonas, estão recorrendo à Fundação Nacional do Índio (Funai), ao Ministério Público Federal (MPF) e à Polícia Federal para impedir um missionário já preparado para entrar na Terra Indígena Vale do Javari em direção a aldeias de grupos sem contato. Eles temem a proliferação do novo coronavírus com a entrada de não indígenas que não respeitam os protocolos adotados pelos órgãos de assistência aos povos indígenas.

A Coordenação da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) denuncia que o indivíduo é um missionário evangélico norte-americano, que já entrou na área outras vezes sem comunicar as lideranças e a Funai. Ele estaria organizando uma expedição para ir em busca de indígenas sem contato. “Pelas informações dos próprios indígenas participantes dessas reuniões, já existe uma logística toda elaborada para acessar os isolados do “lambança”, um Igarapé localizado no interior do Vale do Javari”, diz a Coordenação da Univaja em documento encaminhado às autoridades.

Em outro trecho do documento, a coordenação da Univaja diz ainda que “o missionário tem cooptado indígenas para realizar as expedições ao interior da Terra Indígena, desafiando todos os protocolos de prevenção, além das próprias diretrizes que orientam essa questão, em detrimento da integridade física e territorial dos índios em isolamento voluntário”.

Leia na íntegra:

 

“Pelas informações dos próprios indígenas participantes dessas reuniões, já existe uma logística toda elaborada para acessar os isolados do “lambança”, um Igarapé localizado no interior do Vale do Javari”. Crédito da foto: J. Rosha/Cimi

Nota à imprensa da Univaja

A Coordenação da Organização Indígena Univaja, em nome dos povos Marubo, Mayoruna (Matsés), Matis, Kanamary, Kulina (Pano), Korubo e Tsohom-Djapá vem a público informar aos nossos parceiros, à imprensa e demais interessados pela causa indígena que o missionário Andrew Tonkin, Pastor da organização missionária evangélica norte americana “Frontier Intenational” vem promovendo reuniões com alguns indígenas em Atalaia do Norte, sobretudo, os catequizados, com a finalidade de organizar uma entrada ilegal na Terra Indígena Vale do Javari.

Pelas informações dos próprios indígenas participantes dessas reuniões já existe uma logística toda elaborada para acessar os isolados do “lambança”, um Igarapé localizado no interior do Vale do Javari.

Essa já é a terceira vez que esse senhor tem tentado e, conseguido parcialmente, adentrar na Terra Indígena Vale do Javari, conforme denúncias apresentadas pela Univaja em diversas ocasiões e infelizmente sem que houvesse qualquer atitude enérgica por parte das autoridades competentes. A nossa preocupação é que em pleno contexto de pandemia do coronavírus, além dos protocolos administrativos de prevenção divulgados pela FUNAI e pela SESAI, ainda há a insistência de grupos proselitistas fundamentalistas atuando com esse fim, uma atitude irresponsável e Criminosa.

O missionário tem cooptado indígenas para realizar as expedições ao interior da Terra Indígena, desafiando todos os protocolos de prevenção, além das próprias diretrizes que ordenam essa questão, em detrimento da integridade física e territorial dos índios em isolamento voluntário.

Nesse contexto, a conivência estatal gera inércia, na medida em que os grupos extremistas de evangélicos ocupam cargos importantes no governo e alinham-se ideologicamente à pessoas como esse pastor infrator. Não obstante, o atual chefe da Coordenação de índios Isolados da FUNAI, órgão responsável pela implementação da política pública para índios isolados e de recém contato também é um pastor e missionário.

Diante do exposto, reiteramos que a Polícia Federal, o Ministério Público Federal e a FUNAI tomem medidas enérgicas que se fazem necessárias, para que iniciativas nefastas e repugnantes como essas possam ser contidas em nossa região.

Atalaia do Norte AM, 23 de março de 2020.

A Coordenação do UNIVAJA

 

Fonte: Por Assessoria de Comunicação - Cimi
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