26/07/2007

Informe no. 776: Liderança religiosa atropelada em Antônio João, MS. Em protesto, grupo fecha estrada

Informe no. 776


– Povos Tupinikim e Guarani retomam parte de suas terras no Espírito Santo


– Liderança religiosa atropelada em Antônio João, MS. Em protesto, grupo fecha estrada


– Primeira médica indígena brasileira formada em Cuba


 


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Povos Tupinikim e Guarani retomam parte de suas terras no Espírito Santo


 


No dia 24 de julho, os povos Tupinikim e Guarani que vivem no Espírito Santo iniciaram a retomada de parte de seu território. Plantações da multinacional Aracruz Celulose invadem cerca de 11 mil hectares do território identificado pela Fundação Nacional do Índio (Funai) como terra indígena. A demarcação da terra do povo depende, agora, de decisão do Ministro da Justiça, Tarso Genro.


 


Desde o início de julho, o parecer da Fundação Nacional do Índio recomendando a demarcação da terra, está, novamente, no Ministério da Justiça. Genro deve agora publicar uma Portaria declarando a área como indígena para que se inicie a colocação dos marcos físicos delimitando a terra. Espera-se que ele não siga a linha de seu antecessor. O último ato do ex-ministro Márcio Thomaz Bastos neste caso foi em março de 2007: ele enviou o processo de volta a Funai, pedindo que a Fundação tentasse conciliar “os interesses das partes”.   


 


Enquanto aguardam a decisão de Genro, os Tupinikim e os Guarani voltam a ocupar suas terras. Cerca de 250 pessoas estão reconstruindo a aldeia Olho D´água, destruída em janeiro de 2006, depois de uma grande operação da polícia que expulsou os indígenas. “A gente esperou muito pela demarcação e ainda não conseguimos nem audiência com esse ministro”, informou o cacique Toninho Tupinikim.


 


Quando as casas estiverem erguidas, algumas famílias Guarani irão morar na área. Em seguida, irão reconstruir as aldeias Macacos e Areal. Os indígenas também estão retirando os invasores que roubam eucalipto da terra. Para isso fecharam algumas estradas na região.


 


Com a paralisação do corte e retirada dos não-índios, os indígenas pretendem preservar os plantios de eucalipto para serem usados como pagamentos das indenizações devidas à Aracruz Celulose pelas benfeitorias existentes nos 11 mil hectares. É o que explica um documento da Comissão de Caciques e Lideranças Tupinikim e Guarani.


 


Por enquanto, os indígenas ainda não receberam ordem judicial para deixar o lugar. Mas, o clima de tensão é sempre presente. “Se o ministro decidir logo o processo, os conflitos aqui na região vão diminuir”, acredita o cacique Toninho.


Liderança religiosa atropelada em Antônio João, MS. Em protesto, grupo fecha estrada


 


O rezador Hilário Fernandes, liderança religiosa da aldeia Campestre, da terra indígena Ñande Ru Marangatu, foi atropelado na noite de ontem, dia 25, por volta das 19 horas, na rodovia MS 384. Em protesto, cerca de 400 pessoas mantém a estrada fechada desde o meio-dia de hoje, 26. O motorista do carro que atropelou Hilário não prestou socorro. Houve testemunhas do acidente.


 


De acordo com informações dos indígenas, o corpo teve que ser levado a Dourados para exame de corpo de delito.


 


Os Guarani-Kaiowá de Ñande Ru Marangatu passaram seis meses acampados à beira da MS 384, após reintegração de posse em dezembro de 2005, em local próximo a onde ocorreu o atropelamento. Com o asfaltamento da estrada, o grupo foi removidos para uma pequena parte de sua terra, que está homologada mas que não voltou à posse dos indígenas porque há decisões judiciais favoráveis aos fazendeiros, Desde o inicio de 2006, este grupo espera o julgamento sobre o destino de sua terra pelo Supremo Tribunal Federal.


 


De acordo com a liderança Hamilton Lopes, que também vive na região da aldeia Campestre, desde antes da inauguração da rodovia o grupo já havia solicitado, oralmente, à prefeitura de Antônio João, a colocação de quebra-molas, sinalização com placas e a proteção para os pedestres ao longo da estrada.


 


 


Primeira médica indígena brasileira formada em Cuba


 


Maria da Glória Oliveira da Silva, do povo Pataxó Hã-Hã-Hãe, acaba de se formar em medicina. Primeira indígena nascida no Brasil que concluiu este curso em Cuba, ela garante que quer voltar a viver com seu povo, no sul da Bahia. “O compromisso foi voltar e trabalhar na comunidade”, disse em entrevista por telefone.


 


Glória começou o curso em 2001 e pretende, no Brasil, especializar-se em ginecologia e obstetrícia ou em pediatria. Chegando ao Brasil, ela ainda terá que enfrentar o desafio de convalidar seu diploma.


 


Ela conta que uma das grandes lições durante sua estadia na Ilha foi aprender a enfrentar as dificuldades “Apesar de todas as dificuldades, que não só nós estudantes temos, mas também todo o povo cubano, o que aprendemos é a ter consciência do que se tem e do que não se tem, e improvisar quando for necessário. Mesmo com as dificuldades que vivem, o povo aqui está sempre disponível para ajudar, tem um hábito humanitário.”



A bolsa para os estudantes ligados a movimentos sociais é oferecida pela embaixada de Cuba no Brasil, e inclui o curso, hospedagem e alimentação dos alunos. O Cimi tem apoiado a formação dos indígenas facilitando o contato entre o movimento indígena, as comunidades e a embaixada cubana. Neste ano, pelo menos oito indígenas devem ir estudar em Cuba.


 


Cimi – Conselho Indigenista Missionário


www.cimi.org.br


Brasília, 26 de julho de 2007

Fonte: Cimi
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