08/02/2007

Informe no. 752: Povos lembram morte de Sepé Tiaraju e avançam na articulação continental

 


 


  Povos lembram morte de Sepé Tiaraju e avançam na articulação continental



– Corte de cestas básicas gera fome no Mato Grosso do Sul. Movimentos fazem manifestação


 


 


POVOS LEMBRAM MORTE DE SEPÉ TIARAJU E AVANÇAM NA ARTICULAÇÃO CONTINENTAL 


 
Cerca de 250 indígenas Kaingang, Guarani e Charrua lembraram nessa quarta-feira, a morte de Sepé Tiaraju, ocorrida há 251 anos em sete de fevereiro, em São Gabriel, Rio Grande do Sul. Realizaram rituais na Sanga da Bica, local da morte do líder Guarani, e na Coxilha do Caiboaté, onde 1,5 mil Guarani foram assassinados por tropas portuguesas e espanholas em 10 de fevereiro de 1756. Na parte da tarde, o grupo visitou o acampamento do Movimento Sem Terra (MST) ao lado da fazenda Southall e prestou solidariedade às quase 300 famílias que reivindicam a desapropriação da área.


Com a presença de comunidades do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina e da Argentina, o encontro reforça a luta continental Guarani e contribui para a organização da luta pela terra. Também os Kainkang e Charrua reafirmaram que farão lutas conjuntas a fim de reconquistar suas terras.


O vice-cacique Kaingang Evergelino Nascimento, que mora em uma reserva indígena em Lajeado, ficou emocionado em visitar o local em que os indígenas morreram lutando em defesa da terra. Evergelino nasceu em uma reserva na cidade de Nonoai, mas conta que deixou o local devido à precária estrutura física e de saneamento básico.


“Comigo pensava que aqui era mato, quando Sepé passava por aqui, aqui talvez tivesse um pé de pinheiro, quem sabe tinha caça, qualquer tipo de bicho. E agora a gente passa só pelo meio de fazenda, não vê nenhum pé de pinheiro no meio desses lugares. Então, por causa disso o Sepé, para poder defender a cultura dele, o mato dele, ele foi massacrado”, avalia.

 Eexistem dez acampamentos indígenas às margens das rodovias no Rio Grande do Sul. Ao todo, são cerca de 25 comunidades Guarani no Estado, a maioria delas concentrada na Grande Porto Alegre e no litoral. Os Kaingang também têm cerca de 20 comunidades, localizadas mais na região Norte do Estado. A comunidade Charrua da Capital atualmente luta por 10 hectares de terra na cidade, mas há outros remanescentes na região de Bagé. (Raquel Casiragui, Agência Chasque, RS)


 


Corte de cestas básicas gera fome no Mato Grosso do Sul. Movimentos fazem manifestação



Desde o inicio do ano, cerca de 110 mil famílias deixaram de receber cestas básicas no Mato Grosso do Sul. Entre elas, estão 8 mil famílias indígenas. Sem terras para plantar, as cestas são a base da alimentação de grande parte desta população. Em protesto contra esta medida de André Puccinelli (PMDB), novo governador do estado, a Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS), a regional Oeste 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e lideranças indígenas realizam mobilizações durante o dia de hoje (8/2), em Campo Grande, capital do estado. 


 


Na Assembléia Legislativa do Mato Grosso do Sul, as lideranças denunciaram as conseqüências da suspensão da distribuição das cestas, que vão do aumento da fome à piora da saúde de crianças.


 


Além de representantes dos sindicatos e movimentos, discursaram um representante dos professores Guarani e Eliseu Guarani, de Kurusu Ambá, tekohá (terra tradicional) onde o problema da falta de comida é agravado pelo recente despejo, realizado por milícia privada após retomada de terra. As 70 famílias despejadas estão acampadas na beira de uma rodovia, e dependem de cestas básicas para sua alimentação. Havia sete deputados presentes na reunião.


 


Antes da audiência, os manifestantes foram barrados na entrada do Parque dos Poderes, onde ficam as sedes de diversos órgãos estaduais. Só puderam entrar após a intervenção de deputados.


 


Na sede do governo do estado, os manifestantes foram recebidos pelos secretários estaduais de Assistência Social e de Justiça e Segurança. Ambos justificaram que a suspensão das cestas está relacionada ao corte do orçamento de todo o estado, por causa de pagamento de parcela atrasada da divida do Estado à União, e não sinalizaram mudança na decisão do governador. No entanto, mesmo antes de assumir o governo já tinha anunciado o corte..


 


O governador André Puccinelli viajou hoje à Brasília, e divulgou agenda de reuniões com o ministro  de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Patrus Ananias, com a Funai e outros órgãos,  para solicitar que o governo federal passe a ser responsável pela distribuição de cestas.


O grupo encaminhou carta ao governador pedindo também atuação em relação ao problema da falta de terras para os indígenas no estado. “Precisamos que haja canais para encaminhar soluções estruturais para a fome. O estado do Mato Grosso do Sul também é responsável porque foi ele que deu, aos fazendeiros, os títulos de propriedade das terras onde viviam os indígenas”, afirma Egon Heck, coordenador do Cimi no Mato Grosso do Sul.


 


Campanha tem atividades até sexta-feira


 


As atividades fazem parte do encerramento da campanha em solidariedade ao povo Kaiowá Guarani da terra indígena Kurusu Ambá, contra a fome e violência no campo. Em frente à sede do governo estadual, as duas toneladas de roupas e alimentos arrecadadas serão entregues as lideranças Kaiowá Guarani de Kurusu Amba.


 


De lá, o grupo segue para o município de Dourados, onde serão incorporados alimentos doados por assentamentos do MST. Os mantimentos chegam à Kurusu Ambá no dia 9 pela manhã. Após a entrega, está programada uma manifestação pelas ruas do município de Amambai.


 


Brasília, 8 de fevereiro de 2007


 


 

Fonte: Cimi – Conselho Indigenista Missionário
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