06/07/2006

Informe n°722: Orçamento indigenista cresce, mas dinheiro para demarcações diminui


Informe n°722



 


Orçamento indigenista cresce, mas dinheiro para demarcações diminui


 


– Manifestação silenciosa lembra impunidade um ano após assassinatos em PE


 



 



 


ORÇAMENTO INDIGENISTA CRESCE, MAS DINHEIRO PARA DEMARCAÇÕES DIMINUI


 


A análise das ações específicas para os povos indígenas no orçamento brasileiro entre os anos 2000 e 2005 conclui que houve aumento no gasto da administração pública estatal, mas diminuíram os recursos destinados à regularização fundiária e à proteção dos territórios indígenas. Este tipo de investimento é considerado “estratégico para a sustentabilidade social e econômica desses povos” pelo autor da análise, o pesquisador Ricardo Verdum, do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc).


 


O período avaliado engloba os últimos três anos do mandato do ex-presidente FHC e os três primeiros anos do governo Lula. Em valores reais, isto é, atualizados pela inflação, o orçamento indigenista foi de R$ 144, 75 milhões em 2000, ficou próximo a R$250 milhões entre 2001 e 2003, passou para R$ 308,1 milhões em 2003 e chegou a R$ 345,46 milhões em 2005. Ao longo dos seis anos, a pesquisa constata que as políticas indigenistas foram sendo distribuídas por diversos ministérios e que isso resultou na “fragmentação e falta de coordenação das ações”. A análise aponta também que a participação indígena na gestão das políticas públicas não passou das intenções. “Falta uma instância que articule políticas, que dê diretrizes gerais. Esta é a idéia de propostas como a da criação do Conselho Nacional de Política Indigenista. E falta incluir indígenas na formulação de programas, definir se teremos uma reedição da velha política integracionista, agora aliada a um discurso de inclusão social, ou se é algo novo, voltado para a autonomia das comunidades em definirem as políticas voltadas para elas”, afirmou Verdum em entrevista a este boletim.


 


No sentido oposto ao aumento dos gastos totais, o estudo constata a diminuição do gasto com demarcação de terras indígenas: o maior investimento ocorreu em 2001, quando foram gastos R$ 67,138 milhões. Daí para frente, os valores caíram para R$ 53,323 milhões, em 2002; R$ 51,034 milhões, em 2003; R$ 47,870, em 2004; e R$ 42,496, em 2005. No orçamento de 2006, essa tendência se mantém, pois estão previstos R$ 42,081 milhões para o mesmo conjunto de ações. “Houve, neste caso, uma sensível diminuição nos investimentos e no ritmo dos trabalhos, o que certamente deve estar relacionado com os compromissos do governo federal com os chamados setores estratégicos para a geração de superávits primários – particularmente, o capital investido no agronegócio –, a ponto de desacelerar e até paralisar a demarcação das terras indígenas”, diz a publicação, de junho de 2006.


 


A análise dos gastos públicos revela também que, apesar do aumento de gastos para suporte a projetos de geração de alternativas econômicas para a população indígena, os resultados práticos ainda estão “aquém das expectativas”, inclusive porque demandas centrais do movimento indígena, como o acesso ao crédito, ainda não foram enfrentadas adequadamente.


 


Do total de investimentos, que soma cerca de R$1,5 bilhões, 64,5% (R$ 1,036 bilhões) foram gastos com ações de prevenção, controle e recuperação da saúde indígena, de responsabilidade da Fundação Nacional de Saúde (Funasa). Em relação à saúde, a análise da aplicação do orçamento termina com questionamentos: “Considerando as constantes invasões indígenas às sedes da Funasa nos estados; as denúncias de uso político da máquina administrativa e de desvio de recursos; as greves de funcionários; os problemas de relacionamento envolvendo técnicos contratados e indígenas; a persistência de situações graves de saúde, como os casos dos Guarani e dos Xavante, e o agravamento dos problemas de saúde entre os Yanomami, se faz urgente avaliar o que está gerando tudo isso, apesar do aumento dos recursos financeiros alocados no orçamento”.


 


Para ter acesso à análise completa, clique aqui


 






Manifestação silenciosa lembra impunidade um ano após assassinatos em PE


 


Uma passeata silenciosa nas ruas de Cabrobó, Pernambuco, marcou a memória do assassinato de Adenilson dos Santos Vieira e Jorge dos Santos Barros, do povo Truká. Em 30 de junho, mais de mil pessoas carregaram faixas que expressavam saudade dos guerreiros, executados pela Polícia Militar do estado de Pernambuco há um ano. Até agora, o inquérito para apuração das mortes ainda não foi concluído. O ato organizado pelos Truká foi um protesto contra a impunidade e contra as intimidações que continuam ocorrendo contra as lideranças deste povo.


 


Apesar do clima de tensão e desconfiança que havia na cidade, a manifestação silenciosa e pacífica calou a todos que esperavam um manifesto violento e de provocações. Estiveram presentes, além dos indígenas, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a Comissão Pastoral da Terra (CPT),o Centro de Cultura Luiz Freire (CCLF), o Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH), Pastoral dos Pescadores (CPP) e Cimi.


 



Brasília, 6 de julho de 2006


Cimi – Conselho Indigenista Missionário


www.cimi.org.br

Fonte: Cimi
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