• 16/04/2008

    Terra Livre: é hora de agir!

     


    “Não adianta a gente fazer mais um documento e entregar às autoridades. A hora é de agir”. Esse foi o tom predominante nos depoimentos de dezenas de lideranças nesse primeiro dia do acampamento. Um forte sentimento de decepção, indignação e disposição de avançar na luta envolve as mentes, os corações, as falas, as celebrações da luta.


     


    O retrocesso com relação à Raposa Serra do Sol atravessa como flecha incendiária o Acampamento. “Vocês não estão sós… contem com a gente… se precisarem lá estaremos com vocês lutando…” essas tem sido algumas da manifestações fortes e inflamadas de solidariedade com a luta indígena em Roraima. O mais grave é que essa decisão do Supremo Tribunal Federal pode significar uma sinalização perigosa de retrocesso para grande parte dos povos indígena no país, que há décadas estão em luta pelos seus direitos, especialmente à terra.


     


    Foi lembrada a situação dos Pataxó-Hã-Hã-Hãe, na Bahia, de Nhanderu Marangatu, no Mato Grosso do Sul, dentre outros. Além disso, já foram levantado rumores de retalhamento em ilhas de várias terras indígenas já regularizadas, especialmente na Amazônia, como a TI Yanomami, Alto Rio Negro, Javari.


     


    Com a dança do “bate pau”, guerreiros Terena, do Mato Grosso do Sul, fizeram a apresentação como demonstração da disposição de continuarem lutando pela sua terra e apoiando as lutas de todos os parentes em todo o país. Essa foi a fala do cacique Zacarias.


     


    A solidariedade indígena latino americana


     


    Um dos aspectos relevantes do Acampamento é a socialização das lutas e construção de solidariedade e alianças. Isso significa avançar na articulação e organização para acumular forças e ser protagonistas nos enfrentamentos, na conquista dos direitos e da autonomia. “É hora de animar, hora de avançar, hora de unificar nossas lutas e contar com apoio de sempre mais gente que está lutando nesse país e na América Latina.”


     


    Um dos fatos que marcou esse primeiro dia foi a visita e solidariedade trazida por representantes indígenas do México, Nicarágua e Panamá. Eles estão participando da 30ª Assembléia Regional da FAO, organismo da ONU que se preocupa com a questão de fome e alimentação no mundo,  que está acontecendo há poucos metros do acampamento no Palácio Itamarati.


     


    Eles são parte da representação da sociedade civil, que pela primeira vez conquistou um número de 50 representantes nesse fórum dos representantes dos governos dos paises da América Latina e Caribe. Nas suas falas, todos ressaltaram a importância de articular as lutas em Abya Yala (América) pela vida e pelos direitos dos povos indígenas “Vocês não estão sós. A vossa dor é também a nossa. Vamos juntos lutar contra os sistemas de morte, pela vida”. Manifestaram a solidariedade dos povos de seus paises com os povos indígenas no Brasil, submetidos a tão graves violências. “Somos solidários com vocês”.


     


    O novo movimento indígena


     


    Nas falas dos líderes das organizações indígenas regionais foi ressaltada a importância de consolidar o processo de organização e articulação desde as comunidades até em nível nacional e continental. Foi ressaltada a importância do trabalho e responsabilidades assumidas coletivamente, onde não se destaquem “pessoas”, mas o trabalho conjunto. Também foi lembrado de que se tantas lideranças hoje estão aqui reunidas é graças à resistência e até mesmo a vida doada por tantas lideranças durante essas últimas décadas.


     


    As afirmações de que está se forjando um “novo movimento indígena”, no Brasil, sempre foram acompanhadas do reconhecimento das lutas já travadas e da importância de estar embasado na cultura e organização dos diversos povos. Ao dar algumas características desse novo movimento foi ressaltada a importância da participação e contribuição das mulheres através de seus diversos processos organizativos e de presença nas lutas. Também foi mencionada a participação dos jovens e especialmente dos professores e agentes de saúde, enquanto movimentos de expressivo acúmulo de conhecimentos e contribuições na luta.


     


     


    Egon Heck


    Cimi MS


    Brasília, 16 de abril 2008

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  • 15/04/2008

    Acampamento Terra Livre discute direitos indígenas

     


     


    A abertura oficial do Acampamento Terra Livre 2008 aconteceu na tarde desta terça-feira (15) com uma retrospectiva da luta dos povos indígenas nos últimos 20 anos. O advogado e assessor jurídico do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Paulo Guimarães, relembrou o processo histórico dessa luta desde que foi promulgada a Constituição de 1988.


     


    Guimarães também ressaltou a importância da mobilização indígena para a aprovação do Estatuto dos Povos Indígenas, discussão paralisada no Congresso há mais de 13 anos. “A batalha para aprovar o Estatuto vai ser como a da Constituinte. Existem pelo menos 15 temas a serem tratados no Estatuto”. O assessor ainda falou da importância de se recorrer a instrumentos internacionais, como a Convenção 169 da OIT – da qual o Brasil é signatário desde 2004 – e a Declaração da ONU sobre os Direitos dos Povos Indígenas – aprovada em setembro de 2007, para subsidiar as discussões sobre o Estatuto.


     


    Pela manhã, lideranças indígenas e representantes de entidades indigenistas concederam entrevista coletiva à imprensa. Jecinaldo Sateré-Mawé, da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), ressaltou a grave situação da saúde indígena. “As crianças é que pagam o preço pelo descaso e pela politicagem permitida pelo governo. Muitas crianças morrem de desnutrição”. Em recente relatório divulgado pelo Cimi, apenas em 2007 foram registrados 491 casos de desnutrição de crianças indígenas.


     


    Já Marcos Xukuru, da Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoime) falou sobre a necessidade de se garantir a instalação do Conselho Nacional de Política Indigenista, instância formada por representantes indígenas e governamentais com poder de deliberação das políticas públicas. “Assim seremos protagonistas de nossa própria história, definindo os rumos dos assuntos que dizem respeito aos povos indígenas”. Ele ainda denunciou o forte processo de criminalização das lideranças indígenas em diversas partes do Brasil. “Apenas entre os Xukuru [em Pernambuco], 60 pessoas têm sido criminalizadas”, afirmou.


     


    Jaci Makuxi, do Conselho Indígena de Roraima (CIR), falou da situação na terra indígena Raposa Serra do Sol. A terra homologada há três anos continua invadida por arrozeiros. Na última quarta-feira (9) o Supremo Tribunal Federal decidiu suspender a desintrusão da área iniciada pela Polícia Federal. “Os arrozeiros destruíram pontes, queimaram 12 casas na aldeia do Mutum, nos impede de navegar em balsas. Ficamos ilhados. A situação é triste. Esperávamos que dessa vez a lei fosse ser respeitada, mas eles [arrozeiros] derrubaram tudo”.


     


    Amanhã (16)l, às 10h, o presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB/RN), e o presidente da Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia (PT-SP), receberão os indígenas em audiência no Salão Negro do Senado.


     


    Antes da audiência, a partir das 8h30, os indígenas estarão reunidos em grupos de trabalho temáticos. Neles serão discutidas questões sobre: saúde indígena; terras indígenas (demarcação, proteção, desintrusão e sustentabilidade); educação indígena; regulamentação dos direitos indígenas (APL Conselho Nacional de Política Indigenista, PL Estatuto dos Povos Indígenas e matérias correlatas); e violência e criminalização contra os povos indígenas. À tarde, às 14h30 será feito o relato das discussões dos grupos temáticos.


     

    O Acampamento Terra Livre, evento central do Abril Indígena, permanecerá instalado até o dia 17 de abril – quinta-feira. Participam do evento 700 indígenas de 20 estados. Read More
  • 15/04/2008

    Representantes indígenas acampam na Esplanada dos Ministérios

    Chuva torrencial não esfria os ânimos na preparação do Acampamento Terra Livre, ou aldeia Brasil Livre, que pela quinta vez é erguida na Esplanada dos Ministérios, para dar visibilidade às lutas, reivindicações e direitos dos povos indígenas. Mais de 700 indígenas de dezenas de povos de todo o país foram se concentrando no Centro de Formação Vicente Canha, em Luziânia.


     


    Além de uma rápida avaliação a partir da leitura do Acampamento do ano passado, da discussão da pauta e da organização dos trabalhos durante os três dias do acampamento, algumas falas mostraram o clima e o tom que marca o Abril Indígena deste ano.


     


    “Estão assassinando a Constituição Federal. Temos que dar uma resposta dura”, exclamou Anastácio Kaiowá Guarani, referindo-se principalmente ao retrocesso na Raposa Serra do Sol, em Roraima, sem deixar de fazer referência às violências contra seu povo, que no ano passado tiveram 53 pessoas assassinadas. A Constituição rasgada e a terra não demarcada.  Outros, como os Pataxo-Hã-Hã-Hãe, do sul da Bahia, esperam ansiosos, e ao mesmo tempo temerosos, o julgamento que está há mais de 20 anos no Supremo Tribunal Federal.


     


    A calamitosa situação de saúde é outra das grandes preocupações de vários povos, que vieram ao Acampamento para denunciar e exigir providências imediatas. Este é um dos temas já pautados para esses dias. Além disso, manifestaram as preocupações pelas freqüentes investidas contra os direitos indígenas no Congresso Nacional. Especialmente preocupante é a pressão da bancada da mineração, que tenta a qualquer custo ver as terras indígenas liberadas para o saque dos minérios. Essa questão estará sendo debatida juntamente com o Estatuto dos Povos Indígenas.


     


    Intimidação e decisão


     


    Esse ano, muito mais do que nos anteriores, a coordenação do acampamento tem sido alvo de intimidação por parte dos responsáveis pela segurança do no Distrito Federal, dizendo que de nenhuma maneira seria permitido o Acampamento Terra Livre no local de sempre, ou seja, em frente ao Ministério da Justiça, na Esplanada dos Ministérios.  Ao serem informados dessa atitude, as lideranças mostraram sua firme decisão de não abdicar desse seu espaço dos acampamentos anteriores.


     


    Pouco depois da uma hora da madrugada, os ônibus chegaram à Esplanada. Apesar da apreensão, as delegações indígenas não foram impedidas de acampar. Iniciaram imediatamente a alegre construção da aldeia de lonas pretas. Em pouco tempo chegou o caminhão com as taquaras, que foram rapidamente carregadas para o local de dezenas de barracos.  Esse ano houve até inovação. Na ausência de barbante, e estando o cipó distante milhas e milhas, foram “inventando” amarrações com o que havia no local.


     


    Antes das quatro da manhã, um grande silêncio tomava conta do local. Hora dos guerreiros e guerreiras descansarem num sonho rápido até o amanhecer. Com a falta de um pouco de lona alguns não tiveram dúvidas: estenderam seus corpos cansados sobre a grama e recostaram a cabeça a seus poucos pertences trazidos e curtiram um sereno levemente frio.


     


    Antes do dia clarear, uma grande lona de circo começou a ser erguida. Será o palco dos debates e partilhas, definição de estratégias e assumir compromissos na árdua luta pelos direitos e pela vida.


     


    Enquanto Brasília se prepara para comemorar mais um aniversário, a partir do dia 18, ao lado do acampamento, no Palácio Itamaraty, dezenas de representantes dos governos da América Latina e do Caribe e alguns representantes da sociedade civil e dos movimentos sociais, estão debatendo a grave questão da fome e suas desastrosas conseqüências para a maior parte da população.


     


    Em outro canto da cidade, trabalhadores rurais estão acampados no estádio Mané Garrincha, debatendo os grandes desafios do campo, particularmente o avanço da monocultura do agronegócio, das violências e criminalização das lutas… Estarão sendo realizadas várias mobilizações, algumas em conjunto com os indígenas acampados.


     


    Brasilia, 15 de abril de 2008.


     


    Egon Heck


    Cimi Regional Mato Grosso do Sul


     

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  • 14/04/2008

    Abril Indígena 2008

    COLETIVA – Abril Indígena 2008 – Abertura do Acampamento Terra Livre


     


    O Acampamento Terra Livre, evento central do Abril Indígena, será instalado na próxima terça-feira, 15 de abril, e ficará montado até quinta-feira, 17 de abril, na Esplana dos Ministérios, em Brasília. Para apresentar a programação e fazer um balanço da situação dos direitos indígenas a partir das realidades vividas pelos povos, haverá uma entrevista coletiva à imprensa, que será realizada dia 15/4 (terça-feira), na Esplanada dos Ministérios – Brasília, às 10h30.


     


    Cerca de 800 indígenas de todo o país devem se reunir no Acampamento. O tema central do evento será a análise da situação dos direitos indígenas e da política indigenista no Brasil, no contexto dos 20 anos da Constituição Federal. Serão priorizadas a discussões sobre a aprovação do Estatuto dos Povos Indígenas (paralisado no Congresso há mais de 13 anos) e sobre a criação do Conselho Nacional de Política Indigenista.


     


    Outro objetivo será avançar na consolidação da articulação do movimento indígena nacional para aprimorar o controle social das políticas públicas voltadas aos povos indígenas.


     


    Eixos temáticos


    Durante a apresentação da programação, serão também detalhados os eixos temáticos do Acampamento: saúde indígena; territórios indígenas (demarcação, proteção, desintrusão e sustentabilidade); educação Indígena; regulamentação dos direitos indígenas (Conselho Nacional de Política Indigenísta, Estatuto dos Povos Indígenas e matérias correlatas); e violência e criminalização contra os povos indígenas serão tratados no decorrer do Acampamento.


     


    Estarão presentes na coletiva:


            Marcos Xukuru – integrante da Comissão Nacional de Política Indigenista (CNPI)


          Uilton Tuxá – Representante indígena no Conselho Nacional de Saúde/ Coordenador da Apoinme (Articulação dos Povos Indígenas  do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo)


            Joênia Wapichana – CIR (Conselho Indígena de Roraima)


            Jecinaldo Sateré-Mawé – Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira)


            Saulo Feitosa – Cimi/CNPI (Conselho Indigenista Missionário e Comissão Nacional de Política Indigenista)


            Gilberto Azanha – CTI/CNPI (Centro de Trabalho Indigenista / Comissão Nacional de Política Indigenista)


             Ana Paula Caldeira Souto Maior – ISA (Instiuto Socioambiental)


     


    O Acampamento Terra Livre é organizado pela Articulação dos Povo Indígenas do Brasil – Apib (Coiab, Apoinme, Arpinsul e Arpipan) e pelo Fórum em Defesa dos Direitos Indígenas – FDDI (Coaib, Apoinme, CIR, Foirn, CTI, Cimi, Inesc, Isa, CCPY, Anai, ABA e Opan)


     


     


     

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  • 11/04/2008

    Manifesto da Coapima

     


    A Coordenação das Organizações e Articulações dos Povos Indígenas do Maranhão, organização indígena que representa os povos indígenas do estado do Maranhão, devida e legalmente constituída em consonância com as leis brasileiras, com sede na cidade de Imperatriz, estado do Maranhão, vêm de público manifestar total apoio aos povos indígenas e ao CIR – Conselho Indígena de Roraima, que sempre lutaram pela demarcação e homologação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol.


     


    Neste mesmo documento repudiamos a decisão do Supremo Tribunal Federal, que concede liminar ao Governo do Estado de Roraima, por entendermos que não índios (invasores) querem se apropriar da terra onde, historicamente, sempre foram dos povos indígenas que habitam a Terra Indígena Raposa Serra do Sol.


     


    Imperatriz (MA), 10 de abril de 2008.-


     


     


    Lourenço Borges Milhomem – Krikati


    Coordenador Geral


     


    José Wilson da Silva – Guajajara


    Vice-Coordenador


     


    Sônia Bone de Sousa Silva Santos – Guajajara                     


    Diretora Secretária


     


    Kátia Bandeira Gavião – Gavião


    Diretora Tesoureira

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  • 11/04/2008

    CNBB divulga nota de apoio aos povos indígenas da Terra Raposa Serra do Sol







    Nós, bispos do Brasil, reunidos na 46ª Assembléia Geral da CNBB, em Indaiatuba, SP, solidarizamo-nos, mais uma vez, com a Diocese de Roraima e os povos da Terra Indígena Raposa Serra do Sol. No último dia 4, através da “Nota de Esperança”, tornamos público nosso apoio à Operação Upatakon 3, que estava sendo realizada pelo Governo Federal para a retirada dos ocupantes não indígenas da referida terra.


     


    Na tarde de ontem, 9 de abril, por unanimidade, o Supremo Tribunal Federal, concedeu medida liminar na Ação Cautelar proposta pelo Governo de Roraima. Desta forma, ficam suspensos todos os atos de desocupação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol até o julgamento do mérito da primeira ação contra a demarcação desta terra, que também tramita no STF.


     


    Em nosso entendimento, a demora na retirada definitiva dos não índios que insistem em permanecer na terra homologada tem contribuído para o agravamento do quadro de violência a que estão submetidos os povos Ingarikó, Macuxi, Wapixana, Patamona e Taurepang.


     


    Não podem ser premiados os que violam sistemática e impunemente a Constituição, invadindo e ocupando de maneira ilegal terras que não lhes pertencem a nenhum título, promovendo ali o garimpo, a extração ilegal de madeira, a pecuária e plantações de arroz, ao arrepio da lei, e afrontando a Constituição Federal.


     


    No aguardo de que o STF possa julgar em breve o mérito da primeira ação contra a demarcação, pedimos ao Deus da Vida que oriente os caminhos a serem trilhados pelos povos habitantes do Estado de Roraima, para que não percam a esperança e possam alcançar a Paz e Justiça.


     


     


    Itaici, Indaiatuba-SP, 10 de abril de 2008


     


    Dom Geraldo Lyrio Rocha


    Arcebispo de Mariana


    Presidente da CNBB


     


    Dom Luiz Soares Vieira


    Arcebispo de Manaus


    Vice-Presidente da CNBB


     


    Dom Dimas Lara Barbosa


    Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro


    Secretário-Geral da CNBB


     


     

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  • 11/04/2008

    Movimentos sociais, indigenistas e sindicatos de trabalhadores rurais realizam reunião conjunta no Mato Grosso

    Com a participação de representantes de movimentos sociais, sindicatos de trabalhadores rurais e entidades indigenistas, realizou-se nos dias 29 e 30 de março, em Lucas do Rio Verde, o primeiro encontro estadual entre as entidades.


     


    Na busca de ampliar o diálogo, pautando lutas conjuntas, estiveram presentes no encontro representantes de 16 entidades entre elas Cimi, CPT, CPM, OPAN, MST, MPA, MTA, MAB, Fetrag, Abra, MMC e Fase, além do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Lucas do Rio Verde, que recebeu os participantes, sediando a reunião.


     


    Apesar da diversidade, os pontos levantados por cada representante partiram de um elemento comum: as conseqüências do latifúndio e do agronegócio sobre cada seguimento, caracterizada pela pressão contra a Reforma Agrária, pelas barreiras às demarcações de terras indígenas, a poluição do solo e das águas pelos defensivos utilizados nos monocultivos de soja e cana, principalmente, e a exploração dos trabalhadores através do trabalho escravo ou degradante.


     


    Constatou-se que nenhum seguimento está entre as prioridades do governo Lula que, a partir de sua articulação com o governo Maggi, vem beneficiando o agronegócio e os grandes projetos no Mato Grosso em detrimento dos pequenos agricultores e indígenas.


     


    Identificado o ‘inimigo comum’, as entidades puderam apontar formas para uma maior unidade e planejamento de suas lutas, onde cada seguimento pode e deve fortalecer o outro.


     


    Foi ponto pacífico entre as entidades a necessidade de formação e a busca de políticas que garantam o desenvolvimento sustentável baseado na agroecologia e no resgate a práticas tradicionais de agricultura que não agridam ao meio ambiente. Neste processo, é indispensável a articulação com os indígenas, o diálogo e a participação mesmo que de algumas etnias, num primeiro momento, o que trará positivas contribuições para o fortalecimento das lutas no estado e para que os segmentos excluídos estejam na mesma trincheira.


     


    Gilberto Vieira – Cimi/MT


     


    CPM: Centro de Pastoral para Migrantes, OPAN: Operação Amazônia Nativa; MPA: Movimento de Pequenos Agricultores; MTA: Movimento de Trabalhadores da Agricultura; MAB: Movimento de Atingidos por Barragens; FETRAG: Federação dos Trabalhadores da Agricultura; ABRA: Associação Brasileira DE Reforma agrária; MMC: Movimento de Mulheres Camponesas e FASE: Fundação de Atendimento sócio-educativo.


     

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  • 10/04/2008

    A opção pela violência crônica contra os povos indígenas de Roraima

    A decisão liminar do Supremo Tribunal Federal – STF, de suspender a Operação Upatakon 3, da Polícia Federal para a retirada dos arrozeiros da Terra Raposa Serra do Sol, tomada na data de 09/03/2008, é uma opção pela continuidade indefinida da violência contra os povos indígenas em Roraima. Remete-nos à conclusão de que o Estado considera legítimo o uso de carros bomba, coquetéis molotov e a destruição de bens públicos por grupos para a defesa de seus interesses. Essa é a leitura que pode ser feita da decisão do STF, tomada com base na justificativa de se evitar a violência. A decisão favorece o interesse de seis arrozeiros contra o direito de 18 mil índios.


     


    Remete-nos também a questionar se um grupo indígena ou de sem terra, expulsos de suas terras usasse as mesmas armas e estratégias, conseguiria o amparo da Justiça para se manter numa área retomada do latifúndio.


     


    Com a lei do mais forte, voltando a imperar em Roraima, as comunidades indígenas ficam completamente desamparadas diante da violência provocada pelos invasores. Que ninguém espere que elas aceitem passiva e indefinidamente serem destratadas, ameaçadas, discriminadas, afrontadas, terem suas casas queimadas e seus filhos feridos e assassinados em suas próprias terras.


     


    O Conselho Indigenista Missionário – CIMI, Regional Norte I(AM/RR), solidariza-se com os povos indígenas da terra Raposa Serra do Sol e manifesta preocupação diante de atos ainda mais violentos por partes dos arrozeiros, que muito antes da ação da Polícia Federal vinham aterrorizando as comunidades até mesmo com pistoleiros.


     


    Manaus (AM), 10 de abril de 2008.


     


    Conselho Indigenista Missionário (Cimi) – Regional Norte I


    A Coordenação


     

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  • 10/04/2008

    Informe nº. 811: CIMI DIVULGA RELATÓRIO VIOLÊNCIA CONTRA POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006 -2007

    O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) realizou hoje (10/4) o lançamento da publicação Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil – relatório 2006 – 2007, com dados sobre as violências praticadas contra os indígenas e sobre as violações dos direitos indígenas.


     


    Há quase 20 anos, o Cimi acompanha, por meio do trabalho em área dos missionários e do levantamento de matérias publicadas em jornais de todo o país, os casos de violências que envolvem povos indígenas. O lançamento do relatório ocorreu durante a 46ª Assembléia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Indaiatuba, São Paulo.


     


    A publicação aborda a violência praticada contra o patrimônio indígena, como os conflitos territoriais e os danos ambientais e a violência praticada contra os indivíduos, como os assassinatos, as ameaças e os atos de racismo. Outro tema abordado pelo relatório são as violências decorrentes da omissão do poder público, como os suicídios, a mortalidade infantil e desassistência à saúde indígena. O capítulo final do relatório apresenta dados sobre ameaças a povos indígenas isolados e de pouco contato que vivem na Amazônia.


     


    Apresentamos abaixo, alguns dos pontos centrais do relatório.


     


    Em 2007, aumentou em 99% o número de indígenas assassinados no Mato Grosso do Sul


     


    Da mesma forma que no relatório divulgado em 2006, o dado que mais chama atenção no relatório Violência Contra os povos Indígenas no Brasil – relatório 2006-2007 é o número de indígenas assassinados no Mato Grosso do Sul. Foram 53 em 2007 e 27 em 2006, o que mostra um aumento de 99% no número de assassinatos entre os dois anos. Em todo o país, o número de indígenas assassinatos aumentou 64% entre 2006 e 2007, passando de 57 para 92 casos – segundo o registro do Cimi.


     


    Na maior parte dos assassinatos, cuja autoria foi identificada, o crime foi cometido por indígenas, em contextos de brigas, muitas delas entre familiares. Em 2006 (24 casos) e em 2007 (31 casos), há um grande número de casos em que a autoria permanecia desconhecida até a elaboração do relatório. Em muitos casos, os indígenas são encontrados mortos dias depois do assassinato.


     


    Como a maior parte dos assassinatos ocorreu no Mato Grosso do Sul, isso revela que é crescente a tensão que perpassa o cotidiano das comunidades Guarani-Kaiowá, vivendo em parcelas exíguas de terra, em acampamentos em beiras de estradas e em terras demarcadas que abrigam grupos de Tekohás (terra tradicional) diversos. Nesta situação, sobra pouco espaço para plantação e o trabalho assalariado fora das aldeias é a condição quase exclusiva de sobrevivência.


     


    Segundo análise da antropóloga Lúcia Rangel, organizadora do relatório: “A situação do povo Guarani-Kaiowá permanece igual à que foi retratada no relatório A Violência contra os Povos Indígenas no Brasil – 2003-2005; os dados mostram que um verdadeiro genocídio continua em curso no Mato Grosso do Sul: maior número de vítimas de assassinatos, tentativas de assassinato, suicídios; índices ainda altos de desnutrição, mortalidade infantil, alcoolismo e toda sorte de agressões e ameaças. Morrem atropelados, mendigam nas cidades, sofrem violências sexuais, são presos e vivem em meio a grandes plantações (cana, soja, milho) e pecuária extensiva que contaminam com agrotóxicos as fontes de água, provocam doenças e não deixam espaço para a agricultura familiar”.


     


    Nas usinas de cana-de-açúcar, trabalho degradante e assassinatos


     


    No relatório 2006-2007, merece destaque o impacto que o aumento das usinas de cana de açúcar causa aos povos indígenas no Mato Grosso do Sul. No relatório, há o registro de casos de indígenas encontrados trabalhando em condições extremamente degradantes ou em condições análogas à escravidão em fazendas de cana e usinas. Em março de 2007, 150 indígenas que trabalhavam no corte de cana na Destilaria Centro Oeste Iguatemi Ltda. (Dcoil) foram libertados por fiscais da Delegacia Regional do Trabalho/MS. Em novembro do mesmo ano, o Grupo Especial de Fiscalização Móvel do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) descobriu 1.011 indígenas vivendo em condições degradantes na usina Debrasa. A maioria dos resgatados pertencia ao povo Guarani-Kaiowá e inúmeros pertenciam ao povo Terena. Segundo Lúcia Rangel, “além das condições degradantes de trabalho, há registros de quatro assassinatos de indígenas ocorridos em alojamentos de usinas. Menores de idade falsificam seus documentos para irem trabalhar no corte de cana, enganados por falsas promessas de ganhar muito dinheiro, deixam a escola da aldeia ou da cidade, burlando a fiscalização e deixando seus pais preocupados”.


     


    O recurso ao trabalho assalariado em fazendas e usinas tem sido uma alternativa regular para os homens indígenas no Mato Grosso do Sul. Essa alternativa tenta driblar a falta de terras, o desemprego, a super­população nas aldeias e a vida em acampamentos em beira de estrada, que caracterizam a situação atual dos Guarani-Kaiowá. Em algumas aldeias deste povo, há menos de 1 hectare de terra por pessoa, o que impossibilita a maneira de vida tradicional destes povos.


     


    ***


    No Maranhão, exploração de recursos naturais gera agressões e mortes


     


    Em 2007, o estado onde foi registrado o segundo maior número de assassinato foi o Maranhão. Foram 10 vítimas. Destes casos, três estão relacionados ao problema da exploração ilegal de madeira na terra Araribóia, do povo Guajajara. A ação de um grupo de madeireiros, em outubro de 2007, além de matar Tomé Guajajara, feriu outros dois indígenas. A presença constante dos madeireiros e o desmatamento provocado também ameaçam um grupo de pelo menos 60 pessoas do povo Awá Guajá que vive nesta terra, sem contato com a sociedade envolvente.


     


    Ainda no Maranhão, o povo Guajajara continua sofrendo as conseqüências da presença da Vale (antiga Companhia Vale do Rio Doce) em seu território. Em 2006, os dois casos de homicídios culposos registrados no estado es­tão ligados à estrada de ferro da empresa que corta a terra Maranduba, dos Guajajara. Em agosto de 2006, uma pessoa morreu eletrocutada por um fio de alta tensão que foi derrubado por uma locomotiva. A queda já havia sido comunicada à empresa, que não havia tomado providências. O outro caso foi o atropelamen­to de um indígena por trem de carga da Vale.


     


    Invasões possessórias


     


    Ao longo de 2006, o Cimi registrou 32 casos de invasões possessórias e exploração de recursos naturais nos estados do Amazonas (4), Bahia (1), Ceará (2), Maranhão (1), Mato Grosso (3), Mato Grosso do Sul (4), Pará (4), Rondônia (2), Roraima (9), Tocantins (1) e Santa Catarina (1). Em 2007, foram 14 ocorrências, registradas no Acre e nos demais estados mencionados em 2006. Os invasores foram posseiros, grileiros, fazendeiros, madeireiros, garimpeiros, mas também empresas, nacionais e internacionais e até agentes do Estado, como a Polícia Federal ou a Polícia Militar.


     


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    Tupinikim e Guarani, em 2006 – A demora do Estado em regularizar as terras indígenas provoca a violência


     


    Dentre as situações de violência registradas em 2006, o Cimi destaca o conflito entre a empresa Aracruz Celulose e os povos Tupinikim e Guarani, no Espírito Santo. A disputa em torno de 11 mil hectares de terra foi encerrada em agosto de 2007, quando o Ministro da Justiça assinou a portaria declarando como indígena a área, que até então era ocupada por plantações de eucalipto da Aracruz.


     


    A partir de 2005, o conflito, que já existia há décadas, ficou acirrado. Neste processo, o governo demorou a dar uma solução para a questão, descumprindo todos os prazos legais do Decreto 1775/98, que regula o processo de demarcação de terras indígenas. Enquanto isso, os povos Tupinikim e Guarani foram vítimas de abuso de poder, agressões, ameaças, racismo e outros tipos de violência. Em algumas destas agressões, como na destruição de aldeias que ocorreu em janeiro de 2006, o Estado e a Aracruz Celulose agiram juntos.


     


    Diversas situações de violência contra os povos indígenas decorrem da omissão e da morosidade do Estado em regularizar as terras indígenas. Em 2006, o Cimi registrou 26 situações de omissão, morosidade ou descumprimentos de prazos na regularização de terras. Muitos processos se encontram ou se encontravam parados. Trata-se dos estados do Acre (1 caso), Bahia (3), Mato Grosso do Sul (1), Pará (1), Paraná (2), Rio de Janeiro (2), Rio Grande do Sul (4), Santa Catarina (8), Espírito Santo (1) e São Paulo (4). Em 2007, há registros de 20 casos, referentes aos estados do Paraná, Santa Catarina, Bahia, Paraíba, Acre, Pará e Rio Grande do Sul. 


     


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    Abaixo, tabelas-resumo das violências registradas pelo Cimi no período 2006-2007:


     


    Conflitos relativos a direitos territoriais














    Ano


    Casos


    2006


    5


    2007


    6


     


    Invasões possessórias, exploração ilegal de recursos naturais e danos diversos ao patrimônio














    Ano


    Casos


    2006


    32


    2007


    15


     


    Danos ambientais e biológicos














    Ano


    Casos


    2006


    19


    2007


    14


     


    Omissão e morosidade na regularização de terras

















    Ano


    Casos


    Vítimas


    2006


    26


    Não há vítimas individuais


    2007


    20


    Não há vítimas individuais


     


    Assassinatos

















    Ano


    Casos


    Vítimas


    2006


    56


    57


    2007


    91


    92


     


    Tentativa de assassinato

















    Ano


    Casos


    Vítimas


    2006


    25


    33


    2007


    38


    49


     


    Homicídios culposos

















    Ano


    Casos


    Vítimas


    2006


    12


    18


    2007


    8


    8


     


    Ameaças de morte

















    Ano


    Casos


    Vítimas


    2006


    8


    9


    2007


    8


    10


     


    Ameaças várias







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  • 10/04/2008

    Bispo de Roraima reprova decisão do STF que suspende retirada de não-índios da Terra Raposa Serra do Sol

    Nesta manhã, 10, o bispo de Roraima (RR), dom Roque Paloschi, concedeu entrevista à Rádio Glogo/CBN de Campinas (SP), sobre a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de suspender a retirada de não-índios da Terra Raposa Serra do Sol, em Roraima. A retirada estava sendo feita pela Polícia Federal e foi suspensa, ontem, por meio de liminar pedida pelo governador José de Anchieta Júnior (PMDB).


     


    “A situação da Raposa/Serra do Sol preocupa a CNBB e a sociedade brasileira que vem trabalhando para que os direitos dos povos indígenas sejam respeitados como forma de pagar a grande dívida histórica que o Brasil tem que com os índios”, afirma o bispo de Roraima.


     


    Dom Roque classificou de “prepotentes” as ações daqueles que estão na área pertencente aos povos indígenas. “Pontes sendo queimadas, estradas sendo interrompidas, tratores e escavadeiras cortando estradas, bombas de artefatos sendo fabricadas em plenos olhos da polícia na frente das câmeras de televisão, das máquinas fotográficas de jornalistas e tudo isso fica impune”, numerou.


     


    Dom Roque deixou claro ainda, que as pessoas devem ser responsabilizadas pelos atos que cometem. “Os povos indígenas têm mostrado ao longo dos anos a capacidade da não-violência, têm acolhido os apelos das autoridades e têm tido paciência, esperando que a lei seja cumprida, mas infelizmente em Roraima a lei não é cumprida e os povos indígenas são cada vez mais massacrados”, sublinhou. “A convivência pacífica entre os índios e não-índios não tem acontecido e os povos indígenas esperam ainda pelos direitos que a Constituição lhes concede”, concluiu.


     

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