• 01/12/2014

    Ruralistas ampliam ataque aos direitos fundiários dos povos indígenas

    O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) repudia veementemente o texto do “Substitutivo à Proposta de Emenda à Constituição 215/2000” apresentado pelo deputado ruralista Osmar Serraglio (PMDB-PR), no dia 17 de novembro de 2014 (LEIA INTEIRO TEOR). A PEC 215/2000 e seu Substitutivo é descaradamente inconstitucional e ultrajante aos povos. Inviabiliza novas demarcações de terras indígenas. Reabre procedimentos administrativos já finalizados. Legaliza a invasão, a posse e a exploração das terras indígenas demarcadas.

    O Substitutivo propõe uma ampla gama de exceções ao direito de posse e usufruto das terras por parte dos povos indígenas. Além das “ocupações configuradas como de relevante interesse público da União”, as exceções e limitações à posse indígena também se aplicaria em relação à “instalação e intervenção de forças militares e policiais, independentemente de consulta às comunidades indígenas", à "instalação de redes de comunicação, rodovias, ferrovias e hidrovias”, à “área afetada por unidades de conservação da natureza”, a “perímetros urbanos” e ao “ingresso, trânsito e permanência autorizada de não índios, inclusive pesquisadores e religiosos”.


    Além de vedar à “ampliação de terra indígena já demarcada”, a proposta determina que a delimitação definitiva das terras indígenas seria feita somente por meio da aprovação de projeto de lei. Sendo assim, a demarcação de toda e qualquer terra indígena teria que passar pela aprovação da Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal. Com um Congresso Nacional dominado pelo ruralismo e interesses das grandes corporações empresariais multinacionais do campo, a consequência prática disso seria o total impedimento de novas demarcações de terras. A Proposta estabelece ainda que, “havendo conflito fundiário”, deve ser feita a “permuta de áreas”.


    Concomitantemente, a Proposta ressuscita a estratégia usada pelo Estado e inimigos dos povos para promover o roubo e o esbulho dos territórios indígenas em décadas passadas ao definir que “As comunidades indígenas em estágio avançado de integração com os não índios podem se autodeclarar, na forma da lei, aptas a praticar atividades agropecuárias e florestais sustentáveis, celebrar contratos, inclusive os de arrendamento e parceria”.


    Por fim, e não menos grave, o Substitutivo apresentado pelo deputado ruralista Osmar Serraglio, além de abrir a possibilidade das comunidades indígenas “permutar, por outra, a área que originariamente lhe cabe”, determina que “Os procedimentos de demarcação que estejam em desacordo com as disposições desta Emenda Constitucional serão revistos no prazo de um ano, contado da data da publicação desta Emenda”. Com isso, como evidente, abrir-se-ia uma situação de profunda fragilidade e instabilidade jurídica e política relativamente às terras indígenas já demarcadas e que estão na posse dos povos indígenas.


    O Cimi reafirma o compromisso de manter o apoio às necessárias, urgentes e abrangentes mobilizações dos povos em defesa do direito às suas terras e às suas Vidas. Não à violência da Bancada Ruralista no Congresso Nacional. Sim à causa e à vida dos povos originários. Pela rejeição da PEC 215/00.


    Brasília, DF, 1° de dezembro de 2014

    Cimi – Conselho Indigenista Missionário

    Read More
  • 01/12/2014

    Para rechaçar REDD+ e as indústrias extrativas, enfrentar o capitalismo e defender a vida e os territórios

    COP20, Lima, Dezembro de 2014

    Por ocasião das negociações da ONU sobre mudanças climáticas em Lima, no Peru – conhecidas como a COP20 -, advertimos que rechaçar REDD+ e os ‘serviços ambientais’, no contexto da ‘economia verde’, é uma parte central da nossa luta contra o capitalismo e as indústrias extrativas e em defesa dos territórios, da vida e da Mãe Terra.

    Os acordos das Nações Unidas sobre o clima têm falhado em reduzir as emissões de gases que geram o aquecimento global. De fato, os mecanismos e políticas surgidos a partir destes acordos, entre os quais está REDD+, têm permitido continuar, legitimar e intensificar atividades destrutivas como são as mineiras, petroleiras, gasíferas e carboníferas, as monoculturas florestais e o agronegócio, entre outras. Estas indústrias, que são as principais causadoras da crise climática, têm adotado discursos de ‘sustentabilidade’, ‘desmatamento zero’, ‘responsabilidade socioambiental’, ‘dissociação’ ou ‘projetos de baixo carbono’, sob o guarda-chuva de uma economia “verde”. Mas sabemos que mais além da propaganda para lavar sua imagem, o modelo extrativista e o capitalismo global institucionalizado sempre resultam no saqueio da Mãe Terra, assim como no despejo, violência, destruição e criminalização das comunidades, povos, terras e territórios.

    No marco da economia ‘verde’, seus promotores pretendem fazer-nos crer que é possível um ‘crescimento sustentável’ da economia, que pode ‘dissociar-se da natureza’ com as formas de produção capitalista, ou que é factível ‘compensar’ ou ‘mitigar’ a contaminação ou a destruição de um lugar com a ‘recriação’ ou ‘proteção’ de outro. Sob uma lógica injusta e colonialista, a economia ‘verde’ subjuga a natureza e os povos autônomos ao impor restrições sobre o uso e controle de seus territórios para encher os bolsos de alguns poucos, inclusive quando as comunidades são as que mantêm títulos de propriedade.

    Um dos pilares fundamentais do novo capitalismo global são os ‘serviços ambientais’. Eles significam a submissão, financerização, mercantilização, servidão e escravização da natureza à lógica do capital. O mercado de carbono, a compensação de biodiversidade ou os mercados de água são parte desta forma de capitalismo. Os ‘serviços ambientais’ são, em si mesmos, interdependentes do modelo econômico hegemônico.

    Uma das suas formas é o programa para a Redução das Emissões derivadas do Desmatamento e da Degradação das florestas (REDD), e da conservação, manejo sustentável e aumento de ‘reservas’ de carbono (REDD Plus ou REDD+), e agora também, a agricultura chamada ‘climaticamente inteligente’. Os impulsores de REDD+ esperam que a COP20 em Lima sente as bases para incluí-lo formalmente no próximo acordo internacional sobre o clima em 2015 durante a COP21 em Paris. De todas as maneiras, desde vários anos existem projetos e programas deste tipo, e que estão em constante expansão. Várias empresas, ONGs e governos, assim como os fundos de carbono do Banco Mundial e da ONU, estão empenhados em seguir adiante com esse negócio.

    Na prática, dado que as florestas se encontram principalmente em terras indígenas e que os camponeses e camponesas alimentam ao mundo, estes esquemas convertem os territórios indígenas e as terras agrícolas tanto em ‘sumidouros’ de dióxido de carbono como em ‘bancos’ de água ou biodiversidade.

    Por outro lado, do ponto de vista de combater o desmatamento o mecanismo é também absurdo, pois quanto mais desmatamento e ameaça às florestas haja, mais projetos de REDD+ podem ser justificados e levados a cabo com o objetivo de vender a ‘escassa’ mercadoria do carbono.

    Assim, com REDD+ a capacidade das florestas e solos de absorver carbono e retê-lo, das plantas de fazer fotossíntese, de criar a água, de cultivar ou criar biodiversidade está sendo quantificada, monetarizada, apropriada, privatizada e financeirizada como qualquer mercadoria. O comércio de ‘serviços ambientais’ também impulsiona a impunidade dos contaminadores e destruidores porque, ao invés de cumprirem leis que os proíbem contaminar e desmatar, podem ‘compensar’, além de evitar combater a mudança climática, pois não se ataca o que a provoca. A imperante necessidade de não extrair mais combustíveis fósseis, de deter a agricultura e as monoculturas industriais ou de assegurar o respeito aos direitos dos povos indígenas, que dependem, vivem e são parte das florestas, e dos camponeses e camponesas, de manejar, manter e controlar seus territórios, não são temas na agenda das negociações, de modo que a espiral continua e aumenta.

    Um claro exemplo nefasto dos projetos tipo REDD+ é aquele firmado entre os estados da Califórnia nos Estados Unidos, Chiapas no México, e Acre no Brasil, que pretende que as indústrias que contaminam na Califórnia o possam continuar fazendo em troca da compra de créditos de carbono de atividades REDD+ no Acre e em Chiapas. Se bem o Acre seja geralmente apresentado ao mundo como o ‘modelo da economia verde’, a realidade é outra: a exploração de madeira e o comércio de carbono vêm deixando devastação nos territórios e viola os direitos dos povos da floresta (1), como está sendo reportado pela Plataforma Dhesca (de direitos humanos, econômicos, sociais, culturais e ambientais), depois da sua missão no Acre em 2013 (2). Outros exemplos incluem o caso da comunidade N’hambita em Moçambique, que assinou um contrato com a empresa inglesa Envirotrade para que esta comercializasse créditos de carbono REDD+, pelo quê seus habitantes, em lugar de alimentos, terão que ‘cultivar carbono’ em seus territórios durante 99 anos (3). Outros exemplos como no Quênia (4), Congo (5), Papua Nova Guiné (6), Camboja (7), Brasil (8), e mais casos, demonstram como projetos REDD+ podem significar despejos forçados, prisões e despojo de territórios.

    Já são numerosas as comunidades que têm sido pressionadas ou enganadas a firmar contratos que supõe a perda de seus direitos sobre suas terras e territórios ancestrais (9). Os projetos tipo REDD+, além disso, não garantem que as empresas extrativas não ingressem nos territórios. Por exemplo, ‘Socio Bosque’, o programa tipo REDD+ do Equador, onde as comunidades estão obrigadas a cuidar a floresta por 20 ou 40 anos para que o Estado possa assegurar-se que os ‘serviços ambientais’ estejam conservados e possam ser comercializados, permite a extração de petróleo ou a mineração nestas zonas (10).

    Não obstante, REDD+ anuncia querer combater o desmatamento, garantir a participação local, melhorar a gestão das florestas, melhorar as condições de vida e desenvolvimento das populações locais e, em certas ocasiões, inclusive implementar os direitos territoriais, além de alegar combater as mudanças climáticas. Mas os incontáveis programas nacionais e sub-nacionais, acordos bilaterais e multilaterais e os projetos REDD+ a nível mundial demonstram cada vez mais que estas são mentiras e que seu objetivo é o de acumular mais capital e controlar territórios. As comunidades afetadas por projetos REDD+, seja de forma direta ou indireta – através das empresas contaminadoras que se beneficiam com os créditos de carbono gerados por tais projetos, ou através do Estado, não têm sido realmente informadas do que significa este tipo de compromissos. Os projetos REDD+ já estão definidos por seus promotores antes de serem apresentados às comunidades, roubando-lhes na prática a opção real de aceitar ou não o projeto, ou simplesmente são enganadas e caem na ‘redd’, vendo as promessas não serem cumpridas.

    Da mesma forma que REDD+, a chamada agricultura ‘climaticamente inteligente’, em lugar de ser uma solução para as mudanças climáticas, é uma tentativa a mais das corporações de biotecnologia e do agronegócio para patentear as sementes e controlar as terras agrícolas.

    Este mecanismo incitado pela FAO e o Banco Mundial, entre outros, aponta a que as camponesas e os camponeses adotem determinadas práticas de cultivo e utilizem sementes transgênicas ‘prontas para o clima’, despojando-lhes de seus campos, de sua autonomia, soberania alimentar e conhecimentos ancestrais. A Via Campesina denunciou que a agricultura ‘climaticamente inteligente’ é a continuação de um projeto iniciado com a revolução Verde na década de 1940 e que continuou nos anos 70 e 80 com os projetos de Redução da Pobreza do Banco Mundial que dizimaram as economias campesinas particularmente no Sul, provocando a perda da soberania alimentar e os tornando dependentes do Norte para poder alimentar a sua população” (11). Hoje, por exemplo, um programa do Banco Mundial no Quênia busca gerar créditos de carbono ao exigir ‘praticas sustentáveis de manejo de terras’, as quais incluem o uso sementes de uma variedade de milho híbrido que a Syngenta vende localmente, pressionando para que os camponeses e camponesas abandonem suas espécies nativas (12). Os partidários dessa perigosa falsa solução querem converter os campos, solos e cultivos em créditos de carbono, o que levaria a um incremento na usurpação de territórios e no despojo de direitos.

    Inclusive as monoculturas de árvores estão sendo camufladas como ‘climaticamente inteligentes’. O avanço das plantações em grande escala de árvores de eucaliptos, pinus, acácias, palma africana e outros é em realidade um processo de aprofundamento da acumulação de capital impulsionada pelas corporações sobre os territórios. As plantações são consideradas como ‘sumidouros’ de carbono e por tanto aptas para beneficiarem-se de créditos de carbono. Assim, em Aceh, no norte da Indonésia, um projeto REDD+ com 770 mil hectares foi desenvolvido pela ONG Fauna & Flora Internacional, a empresa broker de carbono Carbon Conservation e o então governador de Aceh. O documento do projeto afirma que uma forma de ‘compensar’ a perda de florestas na área designada para o projeto REDD+ seria através das plantações de palma africana, para as quais se estimou a ‘capacidade de absorver carbono’, para poder antecipar assim quantos créditos de carbono poderia gerar o projeto. Por sua vez, as comunidades locais na área do projeto têm afirmado em numerosas ocasiões não haver sido devidamente consultadas sobre o mesmo ou não ter recebido nenhum beneficio, senão ao contrário, a questão da propriedade de suas terras segue sendo um grave problema sem resolver (13).

    Empresas como a petroleira Shell ou a mineira Rio Tinto, de plantações florestais e papel e celulose como Green Resources e Suzano, agroindustriais como Wilmar, Monsanto e Bunge, organismos multilaterais como PNUD ou FAO, transnacionais da conservação como Wildlife Works, WWF, The Nature Conservancy ou Conservação Internacional, empresas consultoras, bancos públicos e privados e muitos governos elaboram, apóiam e financiam projetos e programas REDD+ e de agricultura ‘climaticamente inteligente’. Estes mecanismos minam as verdadeiras soluções à crise climática, pois são uma distração às mudanças necessárias nas formas de produção e consumo e rumo a economias e sociedades livres de combustíveis fósseis.

    Não devemos deixar-nos enganar pelas mentiras e propagandas enganosas. Sabemos que as negociações sobre o clima, cada vez mais capturadas pelo poder corporativo, não tratam de salvar o clima, nem proteger as florestas e as terras, nem erradicar a pobreza ou respeitar os direitos dos povos indígenas. Pelo contrário, protegem covardemente a corporações depredadoras, reforçando um modelo destrutivo e patriarcal. O que é ainda pior, manipulam informações para culpar pequenos agricultores e agricultoras e povos que vivem e dependem das florestas, como se fossem os principais causadores das mudanças climáticas por criar parcelas para a agricultura de subsistência, quando na realidade são justamente os e as habitantes tradicionais dos territórios que têm permitido a conservação das florestas, das fontes de água e dos ecossistemas.

    Não podemos permitir que as falsas soluções para as mudanças climáticas, como REDD+ e a chamada agricultura ‘climaticamente inteligente’, destruam o equilíbrio da Mãe Terra. Devemos nos opor a este tipo de programas e aos ‘serviços ambientais’ que buscam perpetuar o capitalismo.

    Devemos seguir impulsionando a transformação do atual modelo de produção e lutar contra as políticas impostas sobre os povos que priorizam a reprodução do capital por cima da reprodução da vida. São as lutas de indígenas, camponeses e camponesas, residentes urbanos, pescadores e pescadoras, mulheres, homens e jovens em defesa dos direitos e dos territórios que vêm guiando o caminho. São os povos que se opõem a extração petroleira e mineira, aos serviços ambientais, aos projetos agroindustriais e de monoculturas, os que estão dando passos certeiros frente às mudanças do clima. A esses povos, em lugar de criminalizá-los, há que respeitá-los e reconhecer seus esforços por contribuir a uma transformação global.

    Devemos nos organizar pela defesa dos territórios indígenas, pela defesa das populações que vivem, dependem e são parte doas florestas, pela defesa da autonomia sobre o controle de seus territórios, pela defesa da Mãe Terra.

    Por essas razões dizemos SIM à defesa dos territórios, à defesa das populações que vivem, dependem e são parte das florestas, a sua autonomia sobre seus territórios, e à defesa dos direitos da natureza.

    Basta de projetos extrativos, Não aos serviços ambientais, Lutar contra REDD+ também é combater o capitalismo! Não à criminalização dos povos que defendem seus territórios!

     Junte-se à marcha da cúpula dos povos!

     

    Assinam, inicialmente:

     

    Acción Ecológica, Equador

    Aliança RECOs – Redes de Cooperação Comunitária Sem Fronteiras

    Alternativa Intercambio con Pueblos Indígenas, Estado espanhol

    Amigos de la Tierra, América Latina y el Caribe (ATLAC)

    Amigos de la Tierra, Brasil

    Asamblea Nacional de Afectados Ambientales, México

    Bia´lii, Asesoría e Investigación, A.C., México

    Carbon Trade Watch

    Ceiba / Amigos de la Tierra, Guatemala

    Censat / Amigos de la Tierra, Colômbia

    Centro de Investigación, Documentación y Asesoría Poblacional (CIDAP), Peru

    Centro de Mujeres Aymaras Candelaria, Patacamaya, Bolívia – Sud América

    Cesta / Amigos de la Tierra, El Salvador

    Coeco Ceiba / Amigos de la Tierra, Costa Rica

    Colectivo de Miradas Críticas del Territorio desde el Feminismo, Equador

    Colectivo Voces Ecológicas (COVEC), Panamá

    Consejo Cívico de Organizaciones Populares e Indígenas de Honduras (Copinh), Pueblo Lenca, Honduras

    Conselho de Missão entre Povos Indígenas (COMIN), Acre e Sul do Amazonas, Brasil

    Conselho Indigenista Missionário (CIMI), Brasil

    Corporate Europe Observatory (CEO)

    Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Social, Brasil

    GroundWork / Amigos de la Tierra, Sudáfrica

    Grupo de Estudos em Produção do Espaço Amazónico (UFAC)

    Instituto Transnacional (TNI)

    Marcha Mundial de las Mujeres

    Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Brasil

    Movimento Mulheres pela P@Z!   

    Movimiento Mundial por los Bosques Tropicales (WRM)

    Núcleo de Pesquisa Estado, Sociedade e Desenvolvimento na Amazônia Ocidental (UFAC)

    Observatorio ciudadano de servicios públicos, Guaiaquil, Equador

    Oilwatch América Latina

    Oilwatch Internacional

    Otros Mundos Chiapas / Amigos de la Tierra, México

    Red de Ambientalistas Comunitarios de El Salvador (RACDES), El Salvador

    Red Latinoamericana contra los Monocultivos de árboles (RECOMA)

    REDES / Amigos de la Tierra, Uruguai

    Redmanglar Internacional

    Regional Latinoamericana de la UITA

    Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Xapuri – Acre, Brasil

    The Corner House, UK

    Para unir-se a esse chamado, enviar nome da organização e país para NoREDDCop20@wrm.org.uy Podem acessar o chamado em quatro línguas: Espanhol, Inglês, português e francês nos documentos disponíveis em http://wrm.org.uy/

     

    NOTAS:

    1.     Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais (WRM). Brasil: a contínua destruição das florestas e da biodiversidade no estado do Acre, considerada modelo de “Economia Verde” na Amazônia brasileira. Boletim 183. Outubro 2012.

    2.     Plataforma DHESCA Brasil, http://www.escr-net.org/es/node/364729

    3.     Via Campesina.  Moçambique, Comercio de Carbono e REDD +: campesinos cultivam carbono a serviço de contaminadores. 22 Junho 2012.

    4.     REDD-Monitor. Illegal evictions of the Embobut Forest in Kenya. 15 de Janeiro 2014.

    5.     Griffiths, Tom. “Seeing REDD? Forests, Climate Change Mitigation and the Rights of Indigenous People and Local Communities”. Maio 2009.

    6.     The Economist. “Money grows on trees”. 6 de Junho de 2009.

    7.     REDD-Monitor. Military clearing of community forests in Oddar Meanchey, Cambodia. 13 Juno 2014

    8.     Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais (WRM). Um projeto de redução de desmatamento no Paraná, Brasil, e a perseguição das comunidades. Boletim 169. Agosto 2011.

    9.     Ver por exemplo: Amigos da Terra Internacional, The Great REDD Gamble , 2014 em www.foei.org

    10.  CEDIB. PETROPRESS 21. Agosto de 2010. Industrias extrativas e o programa REDD. O que peca e reza, empata. 

    11.  Via Campesina. Desmascarando a Agricultura Climaticamente Inteligente. Setembro de 2014

    12.  Institute for Agriculture and Trade Policies. An Update on the World Bank’s Experimentation with Soil Carbon. Outubro de 2012.

    13.  REDD-Monitor. Série de artigos sobre o projeto em Aceh, Indonésia, Ulu-Masen
    Documento de Projeto Ulu-Masen. Project design note for CCBA Audit. Descimbre 2007

     

    Read More
  • 29/11/2014

    Em carta aberta, Conselho do Povo Terena reafirma que continuará na luta pelo território tradicional

    Após retomar parte de seu território tradicional, que incide na Fazenda Maria do Carmo, na madrugada de sexta-feira (28), 200 indígenas Terena foram atacados por seguranças armados. Em carta aberta do Conselho Terena, os indígenas afirmam que, “enquanto o ministro da Justiça não assinar a portaria declaratória da terra, continuarão na retomada”.


    Confira na íntegra o documento:


    Enquanto o ministro da Justiça não assinar nossa portaria declaratória continuaremos retomando fazenda por fazenda que incide em nosso território e faremos a autodemarcação de nosso território tradicional.


    Nós, Terena de Taunay/Ipegue reafirmamos que continuaremos retomando nosso território tradicional.


    O processo demarcatório da Terra Indígena Taunay/Ipegue iniciou-se em 1985 e mesmo com o prazo esculpido na Constituição Federal de 1988, de cinco anos para concluir todas as demarcações, nossa terra não está demarcada.


    Em 2010, a Justiça Federal suspendeu o processo demarcatório atendendo pedido dos fazendeiros. No entanto, em abril deste ano, essa decisão foi revogada e a sete meses estamos esperando o ministro da Justiça expedir nossa portaria declaratória.


    Mesmo sem nenhum entrave jurídico o Estado brasileiro se nega a concluir a demarcação de nossa terra.


    Diante disso, decidimos: Enquanto o ministro da Justiça não assinar nossa portaria declaratória continuaremos retomando fazenda por fazenda que incide em nosso território e faremos a autodemarcação de nosso território tradicional.

     

     

    Taunay/Ipegue, 29 de novembro de 2014.

     

    Conselho do Povo Terena

    Povo Terena

    Povo que se levanta!

     

    Read More
  • 29/11/2014

    Moção de repúdio à violência da ação do Estado contra o povo Pataxó de Boca da Mata no sul da Bahia

    Belo Horizonte, 27 de novembro de 2014.

    Nós, professores, funcionários e alunos do curso de Formação Intercultural para Educadores Indígenas da Faculdade de Educação da UFMG (FIEI/UFMG), manifestamos nosso repúdio e indignação à violência da ação do Estado contra o povo Pataxó da aldeia Boca da Mata, no sul da Bahia.

    No último dia 26.11.14, às 5 h da manhã, o povo Pataxó foi surpreendido com a ação violenta da polícia federal, polícia militar e civil do estado da Bahia que se utilizaram de bombas e balas de borracha para fazer cumprir mandado de reintegração de posse em benefício de fazendeiros invasores da terra tradicional do povo Pataxó. O fato narrado foi vivenciado por nossos alunos e professores que estavam na aldeia em atividades acadêmicas da etapa intermediária do curso FIEI, no referido período.

    Este grave conflito infringe a Constituição Federal de 1988 que garante o direito indígena à posse de suas terras imemoriais uma vez que, conforme apontam relatos históricos, a área do entorno do Monte Pascoal é tradicionalmente terra dos Pataxó, desde muito antes de 1500.

    Alertamos também para o fato de que alguns procedimentos legais referentes ao cumprimento de qualquer mandado de reintegração de posse não foram cumpridos, dentre eles, por exemplo, a presença da FUNAI, que poderia ter evitado a violência ocorrida, e o estabelecimento do diálogo prévio com o povo Pataxó.

    Solicitamos a imediata desintrusão da terra indígena e a devolução da mesma ao Povo Pataxó a fim de que a paz e a segurança possam ser restabelecidas na região bem como reiteramos nosso apoio ao Povo Pataxó.

    Professores, alunos e funcionários do curso de Formação Intercultural de Educadores Indígenas da UFMG (FIEI/UFMG)

    Read More
  • 28/11/2014

    Povo Munduruku ocupa sede da Funai de Itaituba para exigir a demarcação da TI Sawré Muybu

    Guerreiros, mulheres e crianças do povo Munduruku ocuparam durante esta sexta-feira, 28, a Coordenação Regional da Funai no Tapajós, localizada em Itaituba, sudoeste do Pará. Acossados pelo projeto de construção de um complexo hidrelétrico, com previsão de sete usinas nas partes média e alta do Tapajós, sendo uma delas no rio Jamanxim, os Munduruku reivindicam a publicação do Relatório Circunstanciado de Identificação e Delimitação da Terra Indígena Sawré Muybu Dajê Kapap Eypi.

    A Funai propôs aos Munduruku uma reunião no próximo dia 8 de dezembro, em Brasília (DF), com a ida de uma comissão de indígenas. No entanto, as lideranças do movimento afirmaram que se sentem enganadas toda vez que retornam para suas aldeias e a demarcação segue parada, “como se fosse um monte de papel sem significado na mesa do presidente (da Funai)”, disse cacique Juarez Munduruku, da aldeia Sawré Muybu. Os indígenas seguirão com a autodemarcação, iniciada há algumas semanas – leia abaixo a 1ª Carta da Autodemarcação.

    O relatório circunstanciado está concluído e resta ao presidente da Funai, Flávio Chiarelli, a simples tarefa de assiná-lo e publicá-lo. Nem tão simples assim diante das intenções que movem as ações anti-indígenas do governo federal nessa região do Pará, na opinião do cacique Juarez: “O que dificulta é esse empreendimento de usinas. A presidente anterior (da Funai, Maria Augusta Assirati) disse que esse era o problema, por isso não fizeram em abril (a publicação) como prometeram”. 

    Para o cacique, o governo, porém, se nega a explicar oficialmente as razões que o leva a “desrespeitar os direitos dos índios na Constituição” e não concluir a demarcação, que se arrasta há 13 anos. A ocupação, portanto, torna-se mais uma ação dos Munduruku no sentido de garantir direitos conquistados pelo conjunto dos povos indígenas do Brasil; direitos desrespeitados duas vezes: para os indígenas, não restam dúvidas de que a demarcação paralisada é a primeira consequência das barragens, ainda nas maquetes do projeto hidrelétrico no Tapajós, mas anunciada pelo secretário-geral da Presidência da República Gilberto Carvalho, em entrevista para a BBC Brasil, como um complexo que o governo não “abrirá mão de construir”.  

    Leia mais: Dilma deixou a desejar no diálogo com a sociedade, diz ministro

    A demarcação do território da Sawré Muybu fatalmente mudará as mais de dez mil páginas do EIA-Rima (estudo e relatório de impactos ambientais) da UHE São Luiz, uma das sete do complexo. O trabalho foi coordenado pela Eletrobras, no âmbito governamental do Ministério de Minas e Energia. O estudo é profundamente questionado pelo Ministério Público Federal (MPF) desde sua execução, envolvendo tropas da Força Nacional, aos aspectos metodológicos e de abrangência, posto que os estudos não contemplaram a Bacia do Tapajós. A consulta prévia, exigência da Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), também não aconteceu.

    “Se demarcar fica mais difícil para o governo fazer usinas, dizemos que não abrimos mão da demarcação. Por isso estamos autodemarcando, para mostrar que estamos decididos. Então também somos contra essas usinas porque se elas forem erguidas vão inundar as terras Munduruku, incluindo a Sawré Muybu”, conclui cacique Juarez.

    Leilão da terra tradicional

    Não bastasse o complexo de usinas, os Munduruku convivem com a ameaça do governo federal entregar para madeireiras a concessão de áreas da Floresta Nacional (Flona) do Crepori. O processo de licitação dos recursos florestais, de acordo com o MPF do Pará, que pediu à Justiça Federal a suspensão da concessão, escondeu a existência de populações tradicionais e indígenas vivendo no interior da área e utilizando a floresta. Para os procuradores do MPF, há flagrantes irregularidades no plano de manejo elaborado pelo Instituto Chico Mendes (ICMBio), gestor da Flona. O vencedor do leilão foi a empresa Brasad’Oc Timber Comércio de Madeiras Ltda. 

    “Quando o edital de licitação da Flona do Crepori foi divulgado pelo Serviço Florestal Brasileiro (SFB) em maio de 2013, o MPF identificou a irregularidade no plano de manejo, que mencionava a existência de pelo menos 213 pessoas morando e utilizando os recursos da área mas desconsiderava a presença de possível população tradicional e dos limites entre a Flona e a Terra Indígena Sawre Muybu, dos Munduruku, em fase de demarcação”, se posicionou em nota o MPF.

    Sobre a consulta prévia, os Munduruku definiram como querem o procedimento. Todavia, até o momento, o governo não se manifestou. Assista ao vídeo aqui.

     

    Leia a 1ª Carta da Autodemarcação Munduruku:

    I CARTA DA AUTODEMARCAÇÃO DO TERRITÓRIO DAJE KAPAP EYPI

    Aldeia Sawré Muybu – Itaituba/PA, 17 de novembro de 2014

    Nossos antigos nos contavam que o tamanduá é tranquilo e quieto, fica no cantinho dele não mexe com ninguém, mas quando se sente ameaçado mata com um abraço e suas unhas.

    Nós somos assim. Quietos, tranquilos, igual o tamanduá. É o governo que está tirando nosso sossego, é o governo que está mexendo com nossa mãe terra – nossa esposa.

    Hoje, 17 de novembro, faz três meses que reunimos com a FUNAI e representantes do governo em Brasília-DF exigindo a publicação do relatório da demarcação da Terra IPI` WUYXI`IBUYXIM`IKUKAM; DAJE KAPAP EYPI – I`ECUG`AP KARODAYBI. Em setembro de 2013 o relatório delimitando nosso território foi concluído, mas não foi publicado e escutamos como resposta da então Presidente da FUNAI, Maria Augusta, dizendo que a nossa terra é uma área de empreendimentos hidrelétricos, e que por causa do interesse de outros órgãos do governo o relatório não foi publicado. Após duas semanas da reunião de Brasília recebemos notícias de que o Ministério Público Federal entrou com ação obrigando a FUNAI a publicar o relatório, o que a mesma não fez, e semana passada ficamos sabendo que o desembargador do TRF-1 caçou a referida liminar. Mas isso não foi novidade para nós Munduruku. Nunca abaixaremos a cabeça e abriremos a nossa mão, a luta continua! Somos verdadeiros donos da Terra, já existimos antes da chegada dos portugueses invasores.

    Hoje também fez um mês que iniciamos a autodemarcação da nossa Terra IPI`WUYXI`IBUYXIM`IKUKAM DAJE KAPAP EYPI, por não confiar nas palavras enganosas do governo e de seus órgãos.

    Garantir o nosso território sempre vivo é o que nos dá força e coragem. Sem a terra não sabemos sobreviver. Ela é a nossa mãe, que respeitamos. Sabemos que contra nós vem o governo com seus grandes projetos para matar o nosso Rio, floresta, vida.

    Esse território atende às populações do Médio e Alto Tapajós.

    Esperamos pelo governo há décadas para demarcar nossa Terra e ele nunca o fez. Por causa disso que a nossa terra está morrendo, nossa floresta está chorando, pelas árvores que encontramos deixados por madeireiros nos ramais para serem vendidos de forma ilegal nas serrarias e isso o IBAMA não atua em sua fiscalização. Só em um ramal foi derrubado o equivalente a 30 caminhões com toras de madeiras, árvores centenárias como Ipê, áreas imensas de açaizais são derrubadas para tirar palmitos. Nosso coração está triste.

    Nesses 30 dias da autodemarcação já caminhamos cerca de 7 km e fizemos 2 km e meio de picadas. Encontramos 11 madeireiros, 3 caminhões, 4 motos, 1 trator e inúmeras toras de madeiras de lei as margens dos ramais em nossas terras, e na manhã do dia 15 fomos surpreendidos em nosso acampamento por um grupo de 4 madeireiros, grileiros liderado pelo Vilmar que se diz dono de 6 lotes de terra dentro do nosso território, disse ainda que não irá permitir perder suas terras para nós e na segunda próxima estaria levando o caso para a justiça.

    Agora decretamos que não vamos esperar mais pelo governo. Agora decidimos fazer a autodemarcação, nós queremos que o governo respeite o nosso trabalho, respeite nossos antepassados, respeite nossa cultura, respeite nossa vida. Só paramos quando concluir o nosso trabalho.

    SAWE, SAWE, SAWE.

    Read More
  • 28/11/2014

    Como rasgar a Constituição e massacrar índios, segundo o governo Dilma Rousseff

    O segundo mandato nem começou e o governo Dilma Rousseff já escreve mais um capítulo de violência contra os povos indígenas, desta vez no rio Tapajós, na Amazônia. Depois de impor Belo Monte, que já considera fato consumado, o governo concentra seus esforços em esmagar toda a resistência contra as hidrelétricas de São Luiz do Tapajós e Jatobá, no município de Itaituba, no oeste do Pará. E, como já fez em Belo Monte, atropelando também a Constituição e qualquer princípio de respeito aos direitos e à dignidade humana. Um vídeo gravado pelos Munduruku, etnia que vive na área afetada pelas usinas, mostra a então presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Maria Augusta Assirati, afirmando a lideranças indígenas, durante uma reunião no mês de setembro, que o relatório da demarcação da sua terra ancestral não tinha sido publicado ainda porque estava no caminho das barragens. “Eu tô em débito com vocês, sim, vocês têm toda razão, mas eu acredito, e quero acreditar, porque o dia que eu não acreditar eu não tenho que estar mais aqui falando com vocês”, afirmou Maria Augusta. Nove dias depois, ela deixou a presidência da Funai.

    A Funai não publicou o relatório que comprova a terra indígena Munduruku Sawré Muybu porque, segundo a Constituição, os povos indígenas só podem ser retirados de sua terra em caso de catástrofe ou epidemia que ponha em risco sua população, ou no interesse da soberania do país. E isso só após deliberação do Congresso e garantido, em qualquer hipótese, o retorno imediato logo que cesse o risco. Assim, ainda que o governo federal, quando se trata de impor seu projeto de desenvolvimento e o interesse das grandes empreiteiras, não costume demonstrar qualquer prurido antes de rasgar a Constituição, com a terra Sawré Muybu demarcada, ficaria bem mais complicado, porque ela é atingida diretamente por São Luiz do Tapajós. E o escândalo internacional teria proporções muito maiores.

    Para evitar riscos e atrasos na sua sanha de barrar o Tapajós com obras megalômanas, o processo de demarcação foi paralisado. No vídeo, Maria Augusta deixa bem claro os motivos e as pressões sofridas pela Funai. Em maio deste ano, o Ministério Público Federal entrou com uma ação exigindo a publicação do relatório. No final de outubro, a Justiça Federal, na vara de Itaituba, deu uma liminar determinando a publicação do documento em 15 dias. Curiosamente, a Funai, órgão que por lei deveria defender os interesses indígenas, entrou com agravo de instrumento, pedindo a suspensão da liminar para não publicar o relatório pronto há mais de um ano. E a Justiça Federal, em Brasília, acatou o pedido, liberando a Funai para continuar sentada em cima do futuro dos Munduruku.

    Ameaçados de ter sua terra ancestral alagada e traídos pela Funai, guerreiros Munduruku protagonizam, desde o final de outubro, uma cena impressionante: a autodemarcação do seu território (veja aqui)

     Está em curso mais um capítulo sombrio da história do Brasil. O mais nocivo governo para os povos indígenas e para a Amazônia desde a ditadura militar começa a escrever mais um capítulo vergonhoso do seu legado. E tudo isso acontece, neste exato momento, sem que parte da imprensa brasileira dê qualquer destaque, sem que a maioria da população brasileira pareça se importar. Nesse ritmo, quando os brasileiros acordarem, não só estarão sem água nas torneiras, como não haverá um rio vivo e uma árvore em pé na mais mítica floresta tropical do planeta.

    Aqui, a transcrição das falas do vídeo da reunião entre Munduruku, Funai e outros membros do governo federal:

    FOTOS: Maurício Torres/Arquivo Pessoal

    Brasília, 17/09/2014

    Reunião da Funai com os Munduruku e a presidente do órgão, Maria Augusta Assirati

    Também estavam presentes:

    Nilton Tubino, secretário geral da Presidência da República

    Celso Knijnik, do Ministério do Planejamento

    Márcio Lopes de Freitas Filho, do Ministério da Justiça

    (Imagens gravadas por Deusiano Saw Munduruku)

     

     MARIA AUGUSTA ASSIRATI, PRESIDENTE DA FUNAI:

    “Então, gente, aquela vez em que nós conversamos aqui, né, vocês estiveram aqui no final do ano passado, a gente teve uma reunião longa, né? Colocando para vocês que naquele momento o relatório ainda precisava de alguns ajustes finais, para a gente poder concluir, né? Explicamos para vocês quais eram esses pontos ainda, né? E como é que era o andamento do processo aqui dentro, né. Que o grupo, a coordenadora do GTI, os coordenadores do GTI iam concluir a sua parte, mandavam para a coordenadora de identificação e depois isso ia para a diretoria e depois viria para a presidência para se manifestar, publicar o relatório ou, enfim, decidir sobre aquela proposta, né? E a gente combinou com vocês que, falamos para vocês que em abril o relatório estaria pronto, né? Foi essa a informação que naquele momento eu coloquei para vocês, fui eu mesma que disse isso, né? E de fato a gente conseguiu concluir nosso relatório nesse período. Quando foi em abril, o diretor me mandou o processo. O processo tá hoje comigo, tá na minha mesa, lá, pronto para ser deliberado.

    Mas quando a gente conseguiu concluir o relatório, existia um conjunto de questões que estavam sendo decididas na região que fizeram com que a gente precisasse discutir o relatório não só no âmbito da Funai e vocês, povo Munduruku, mas outros órgãos do governo passaram a também discutir essa proposta de relatório, discutir a situação fundiária da região. Por quê? Porque vocês sabem que ali tem uma proposta de se realizar um empreendimento hidrelétrico, né, uma hidrelétrica ali naquela região, que vai contar com uma barragem pra geração de energia e essa barragem tá muito próxima da terra de vocês. E quando a gente concluiu o relatório surgiram dúvidas se essa área da barragem, se esse lago que essa barragem da hidrelétrica vai formar, vai ter uma interferência na terra indígena de vocês. Na área de vocês, na vida de vocês, né? Então começou-se a estudar isso. A reunir elementos para que se tivesse uma definição realmente concreta de que essa barragem, esse lago não vai causar um prejuízo pra vida do povo que tá vivendo ali, pra essa terra indígena.

    (corte)

    O empreendimento tem uma importância, porque vai gerar energia para um conjunto grande de pessoas no país, né, enfim, e também, sobretudo do ponto de vista da nossa atuação da Funai, né, que é o nosso papel, do órgão indigenista, né, a gente acha fundamental que o território de vocês também esteja garantido, né? Principalmente, né, porque, como vocês colocaram, aquela região já tá tendo pressão madeireira, garimpeira, de uma série de outros elementos que tão em volta da onde vocês moram, que o empreendimento não pode ser mais um fator de dificuldade para a vida de vocês. Então a gente tem que garantir o território, a gente tem que garantir que vocês tenham proteção suficiente para viver tranquilos, né? Pra desenvolver o modo de vida tradicional de vocês naquela região, né, que é uma região que historicamente, né, vocês vivem. O povo Munduruku ele é originalmente daquela região, né. Isso a gente sabe, isso nosso estudo, ele comprova, então trata-se de uma ocupação tradicional. Então, e a gente tem buscado defender essa posição, de que é possível ter essa compatibilização. E por isso que a gente não conseguiu até hoje publicar. Por quê? Porque a gente aguarda esses elementos técnicos, para poder realizar essa compatibilização: permitir que o setor elétrico faça seu empreendimento, a barragem, e com isso beneficie um número grande de pessoas no país, e permitir que a terra de vocês seja reconhecida, e que vocês tenham o direito de vocês assegurado, e que a gente cumpra o nosso dever, como Estado brasileiro e como Fundação Nacional do Índio, que pertence ao governo, que pertence a um órgão de Estado, é um órgão público de Estado. Por isso a gente ainda não conseguiu publicar. Essa notícia ela é ruim ainda. Ela é uma notícia que não é ainda positiva, não é a que a gente gostaria de dar.”

    (corte)

    ROSENINHO SAW, PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO PAHYHYP

    “Se você tá na Funai, você tem de defender o interesse nosso lá, não é? Então, o povo lá tá sofrendo. O povo lá tá sofrendo. Porque a gente veio aqui foi pra tratar de terra, tratar só da demarcação, né, porque a prioridade que foi fechada aqui, naquela reunião passada, foi a aldeia de lá, que é a Sawré Muybu, né, mas você disse que ia ver essa possibilidade, prometeu, mas não saiu, né? Agora, então, o meu pensamento: se você não quer trabalhar na Funai, eu entregaria o cargo. Você não tem interesse de defender a nossa causa.

    (corte)

    A prioridade é gerar energia para o Brasil, né? (…) Barragem acaba com todo mundo, porque o que é que vem depois da barragem? Mineração. Para mim, isso não é projeto pro Brasil, não. Porque até mesmo nós não somos brasileiros, não. O Brasil foi invadido. Nós morava aqui há muito tempo. Pra que tanta energia? Eu sei que não vai beneficiar o Brasil, não. Ninguém. Então essa é a revolta das lideranças. Por isso que foi priorizada a questão da demarcação.”

    (corte)

     

    DEPOIMENTO DE UMA INDÍGENA

    “Porque nós, quando fala que vai fazer, a gente nunca esquece, né, a gente fica esperando, porque a pessoa se compromete de fazer as coisas. A gente ficou aguardando até agora, até agora ainda não saiu esse relatório. Não foi publicado. Então, por isso que a gente tá aqui. Como a gente fala, aqui, não é fácil a gente chegar aqui, é um sofrimento grande. Nós mesmos saímos de Jacareacanga passando fome até aqui em Brasília. Hoje que o pessoal se coisaram para tratar de comer. A gente tá aqui porque a gente tem que defender. A gente tá aqui pedindo não é as terras dos outros. A gente tá aqui defendendo o que é da gente, né? Não é da outra pessoa. Não é dos pariwat (não indígena ou branco). É o que é nosso, onde vivemos, onde nossos antepassados deixaram para nós.”

    (corte)

     

    DEPOIMENTO DE OUTRO INDÍGENA (camisa xadrez)

    “Onde que a barragem vai interferir na demarcação da terra indígena, né? A barragem vai impactar, assim, de qualquer jeito, sabe? Porque se não quisesse que o povo indígena sofresse, eu acho que o governo não ia fazer empreendimento no Tapajós, não.”

    (corte)

    DEPOIMENTO DE OUTRO INDÍGENA (em pé, no vídeo)

    “Dá para ver que o governo, (tanto) quanto a Funai, não tem nenhum compromisso, nenhum, com os indígenas, em trabalhar com os indígenas. Eu não sei se esse relatório tá andando em passo lento, igual passo de jabuti, ou então estão aproveitando que corra mais um empreendimento … (…). A gente fica até assim, até, muito, com raiva, né? Que você falou uma coisa e depois não cumpriu, né. Então a senhora não está levando as coisas a sério. Está fazendo tipo um como o pessoal fala, desculpa a expressão, mas, como um papel de moleque, né?”

    (corte)

    MARIA AUGUSTA

    “Eu acho que essa terra indígena já deveria estar demarcada, já deveria ter sido o relatório publicado, mas que isso não depende da vontade de uma só pessoa, de um só órgão. Isso é um conjunto de fatores que define essas questões, que não sou só eu que posso ditar quais são os interesses prioritários do governo. Eu pertenço e represento um órgão do governo. Mas não a sua totalidade. Eu acho que vocês estão certos de me cobrar. Eu acho que vocês têm toda razão quando dizem que eu estou em débito com vocês. Eu estou e queria aqui reconhecer isso. Mas também queria que vocês soubessem que não é porque eu não tenho compromisso com os povos indígenas, mas é porque eu tenho um limite para minha atuação dentro do governo.

    (corte)

    O empreendimento, vocês têm razão, que teve um avanço, algumas coisas aconteceram, chegou a um ponto de terem algumas conclusões em relação ao empreendimento, mas ele também ainda não se concretizou.

    (corte)

    O que que é o correto? É justamente isso que você tá colocando, que se cumpra a Constituição, porque eu, no meu papel de governo, eu não defino, e não posso definir, nem sou chamada para a discussão, se a energia vai ser hidrelétrica, solar, eólica, onde vai ter hidrelétrica. Isso a gente não entra nessa questão, mas quando se trata de falar da questão da ocupação tradicional, dos direitos de vocês, da relação com os povos indígenas, aí sim a minha obrigação é dizer qual é a situação que vocês estão vivendo.

    (corte)

    Eu tô em débito com vocês, sim, vocês têm toda razão, mas eu acredito, e quero acreditar, porque o dia que eu não acreditar eu não tenho que estar mais aqui falando com vocês. Eu acredito ainda que existe um caminho, uma possibilidade, de a gente conseguir viabilizar a garantia territorial para vocês lá. Não só em Sawré Muybu, mas nas outras áreas que são o grande território Munduruku, que ocupam e habitam há muitos e muitos e muitos anos toda a bacia do rio Tapajós. É uma tarefa muito difícil, minha gente. É uma tarefa muito difícil, porque o governo, também, e isso vocês sabem, ele é composto por um conjunto de órgãos que às vezes têm interesses diferentes entre si e a gente precisa estar o tempo inteiro fazendo esse diálogo, levando e apresentando as demandas de vocês, as necessidades de vocês. Esse é o nosso papel.

    Essas preocupações, que vocês colocaram aqui, hoje, elas têm sido as preocupações que a gente leva para essas discussões, onde têm esse conjunto grande de órgãos. Mas não somos nós que definimos. Isso é uma estratégia de governo. O nosso papel é defender os direitos de vocês, mas têm órgãos dentro do governo que têm como prioridade, sim, construir a hidrelétrica.

    (corte)

    Nós erramos, né, eu acho que a gente realmente deveria ter procurado esse contato antes, lá atrás, em abril, para dizer quais foram os problemas que surgiram. Não fizemos isso. Então eu estou aqui pedindo desculpas para vocês, né, reconhecendo que isso foi uma falha nossa, da Funai sede, aqui, sobretudo.

    Então vamos marcar final de outubro, gente, para a gente dar essa avaliação para vocês, do que é que a gente acha que vai ser esse impacto, porque isso tá diretamente relacionado à questão da demarcação. Embora a gente não atrele às coisas, na prática é difícil para nós, separar. A gente daqui um mês, aqui no final de outubro, voltaria a conversar com essa análise preliminar.”

    Maria Augusta Assirati pediu demissão no dia 26 de setembro de 2014, nove dias depois da reunião, sem assinar o relatório da Terra Indígena Sawré Muybu.

    Assista o vídeo aqui


    Funai admite: interesse hidrelétrico compremete demarcação de Território Indígena from mdk on Vimeo.

    Read More
  • 28/11/2014

    O povo Xukuru propõe uma alternativa de vida: a Agricultura do Bem-Viver

    O agricultor comercial pensa: “eu entrei pra plantar, a natureza vai ter que sair”

    O povo Xukuru propõe uma alternativa de vida: a Agricultura do Bem-Viver

    Para o agrônomo e liderança indígena, Iran Neves, a salvação do planeta estará na sabedoria ancestral dos povos originários.

    Está acontecendo na Aldeia de Canabrava o II Encontro Urubá Terra, do povo da etnia Xukuru Urubá, no município de Pesqueira, Pernambuco. Esse encontro discutirá a agricultura do bem-viver como um projeto de vida, com seus princípios e valores de base ecológico-ancestral, numa luta histórica contra o etnogenocídio. Durante o evento ocorrerá a feira de sementes tradicionais.  A Rel-UITA dialogou com Iran Neves Ordonio, liderança Xukuru do Orubá, formado em Agronomia, com especialização em Pesca Agrícola e mestrado em Ciência do Solo.

    O povo Xuruku ocupa hoje uma área de 27.525 hectares e sua organização social possui os Conselhos Indígenas, para a agricultura, para a saúde, e para a educação. No caso, o liderança Iran Neves Ordonio está no conselho indígena para a agricultura.

    Como surgiu a ideia de fazerem esse encontro, que está já na sua segunda edição?

     

    O despertar para a agricultura como modo de vida faz parte do tradicional projeto de vida Xukuru. Portanto, neste evento não se discute agricultura, discute-se um projeto de vida, com os princípios e valores do modo de vida ancestral. E ao mergulharmos no tempo, na memória dos anciões, percebemos que a agricultura permeia praticamente todas as falas, etapas e processos de luta.  E que essa agricultura é bem diferente da agricultura comercial.

    Como é a agricultura Xukuru, se comparada com a convencional?

     

    A agricultura Xukuru, ancestral, é um princípio organizador, um fundamento do bem-viver. Agora, se a compararmos com a convencional, percebemos que esta última não está fundamentada em princípios, nem em valores. Está voltada para uma relação puramente comercial, resume-se em uma atividade econômica. Ou seja, planta-se e se produz para o mercado.

    Já a agricultura do bem-viver alerta para o fato de que no plantar e colher existe um mundo de relações, saberes e atividades entre as pessoas e a natureza. Nossa agricultura não é comércio, portanto não pode ser permitido o uso de agrotóxicos, de agroquímicos, nem nenhum outro tipo de desrespeito à natureza.

    O agricultor comercial pensa: “eu entrei pra plantar, a natureza vai ter que sair”. Mas não vamos permitir isso, por conseguinte esta é uma luta pelos nossos princípios.

    E nessa luta por seus princípios, como fica a questão do agronegócio?

     

     O que estamos vivenciando e promovendo neste evento é totalmente antagônico à bandeira do agronegócio. Porque o agronegócio pega os elementos que para nós são do bem-viver, de usufruto coletivo, de identidade, de relações psicológico-espirituais, e os transforma em mercadorias. Toda e qualquer riqueza proveniente da natureza, como por exemplo, a água, para o agronegócio é um produto. A terra é um bem privado que pode ser comercializado e vendido. O agrotóxico é utilizado de maneira indiscriminada, como se fosse uma verdade absoluta que para plantar é preciso de agrotóxico. O agrotóxico é de fato uma consequência dessa relação destrutiva, desrespeitosa, antiética e indecente, que o sistema tem com a própria natureza.

    Você diz isso como agrônomo também?

     

    Com certeza! Foi estudando agronomia, indo a fundo no estudo das ciências agrônomas, que eu concluí que o agronegócio na realidade é uma grande mentira, movida apenas por interesses puramente políticos e econômicos. O agronegócio é apenas mais uma forma de manter o sistema capitalista e favorecer os grandes empreendimentos e as grandes transnacionais que comandam as relações econômicas no mundo.

    Portanto, a nossa visão com relação ao agronegócio é extremamente crítica, e não uma critica burra, um ativismo superficial. Nosso alerta tem base e convicção também científica e acadêmica. Esse sistema atual é inviável, e já está em crise. É só uma questão de tempo.

    E neste encontro vocês oferecem soluções para esta crise atual e inevitável?

     

    Nesse encontro estamos exatamente divulgando e oferecendo uma alternativa para o mundo, que é de base ecológico-ancestral.

    Como assim?

     

    Estamos divulgando e oferecendo ao mundo um modo de vida, porque não estamos falando aqui só de plantar. Trata-se de toda a simbologia, todo rito e todo mito que leva ao plantar e a outras relações. Quando a gente fala em ancestral é como se a gente imaginasse e fizesse uma viagem no tempo para recuperar os saberes ancestrais.

    Uma cosmovisão

    A Materialização do encantamento

     

    E como vocês viajam no tempo?

     

    Revivendo e relembrando a nossa memória, principalmente a nossa memória oral. Através da fala e do diálogo de saberes com os nossos anciões. E aí surge também uma coisa que pode ser difícil para muita gente entender, que é a relação com a nossa espiritualidade. Muitas de nossas decisões são baseadas num diálogo com o mundo espiritual e com a nossa religiosidade, que nos orienta e que nos indica a praticar determinada atividade ou a proceder de determinada maneira.

    Ou seja, nós temos um mundo encantado, um mundo sobrenatural, um mundo da nossa religião e da nossa espiritualidade, que nos orienta. E quando a gente coloca isso na prática, efetiva isso, a gente está materializando o mundo encantado. Ou seja, materializando o encantamento.

    Mas vocês também precisam lutar contra a colonização, não é?

     

    Claro! Nós estamos vindo de um processo violento de colonização e de invasão. Não só das nossas terras, do espaço sagrado, mas também invasão dos nossos mitos. Precisamos descolonizar e desconstruir aquilo que a sociedade, o sistema e o Estado colocaram como verdade.

    É como se dividissem o mundo em duas áreas. De um lado está o que a ciência moderna valida e do outro o que ela invalida. Isso levou e leva ao etnogenocídio, que é a morte dos saberes ancestrais. Mesmo que para determinados povos seus saberes também sejam modos de ser, de marcar uma identidade.

    E qual seria então o caminho para evitar esse etnogenocídio?

     

    Promovendo a agricultura do bem-viver como um projeto de vida. A terra não é para nós um meio de produção, é um meio de vida. E só viveremos na Terra, se cuidarmos dela. Uma liderança nossa diz assim: “Nós somos natureza”. Nós temos que ter essa compreensão. Não somos nós de um lado e a natureza do outro. Portanto, defender uma cultura do bem-viver é também defender a nossa própria existência.

    Esse encontro também traz com ele algum recado aos nossos governantes e à presidenta Dilma em especial?

     

    Gostaríamos de dizer para o Estado, para os governantes e para a sociedade como um todo que a gente precisa lutar e defender a diversidade. Os governantes precisam respeitar os povos, respeitar os seus saberes, respeitar as suas formas de vida, e principalmente respeitar a Constituição. Alerto também que os princípios, valores e direitos originários surgiram bem antes da Constituição. E o Estado precisa compreender isso.

    Devolver a terra ao índio não é um empecilho para o desenvolvimento. Até porque o desenvolvimento puramente econômico é um suicídio do mundo como um todo. Devolver a terra aos povos indígenas significa o resguardo daqueles saberes que darão ao mundo uma nova chance de continuar neste planeta. Pois, a salvação do planeta, ou um dos caminhos para isto, estará na sabedoria ancestral dos povos originários. A sociedade como um todo tem muito que aprender com os saberes ancestrais dos nossos povos.

    Read More
  • 28/11/2014

    Indígenas Terena são atacados por seguranças armados em fazenda retomada no MS

    Um grupo de 200 indígenas Terena que retomou a fazenda Maria do Carmo na madrugada desta sexta-feira (28), em Mato Grosso do Sul, foi atacado por seguranças armados assim que chegou ao local. A fazenda fica no distrito de Taunay, em Aquidauana, a 135 quilômetros da capital Campo Grande e faz parte da Terra Indígena (TI) Taunay/Ipegue, identificada pela Fundação Nacional do Índio (Funai) desde 2004.

    “Quando chegamos fomos recebidos a bala por alguns seguranças e logo depois chegaram três caminhonetes grandes e cheias de gente… Agora os carros estão parados na sede, e as pessoas estão lá dentro, armadas. Um de nossos irmãos foi atingido por um tiro de raspão no braço, mas está bem”, conta o cacique Isaías.

    Os indígenas, que vieram das aldeias Ipegue, Bananal, Lagoinha, Morrinho e Água Branca, estão no centro da fazenda, a cerca de 1 km da sede da propriedade, e o risco de novo ataque é iminente. O cacique Isaías diz que a comunidade está “com medo do pessoal vir pra cima, temos nossas mulheres e filhos e não queremos uma tragédia”.

    A área onde incide a fazenda Maria do Carmo teve os estudos de identificação conclusos em 2004, e foi reconhecida como de ocupação tradicional indígena e enquadrada na TI Taunay/Ipegue, junto com outras 16 propriedades da região.

    O povo Terena aguarda apenas a assinatura, pelo ministro da Justiça, da Portaria Declaratória. “Ele (José Eduardo Cardozo) falou pra gente que não vai assinar, mas a Justiça já reconheceu que aqui é área indígena. Por isso vamos continuar retomando o que é nosso”, explicou o cacique Mauro Ṕaes. Das 17 áreas identificadas, os Terena ocupam apenas duas.

    A Polícia Militar chegou ao local no final desta manhã e vai permanecer até a chegada de representantes da Funai, Polícia Federal e Ministério Público Federal.

    Read More
  • 27/11/2014

    Boletim Mundo: Povos do Maranhão reivindicam em Brasília retomada das demarcações de terras indígenas

    As 40 lideranças indígenas do estado do Maranhão que chegaram a Brasília nessa segunda-feira (24) para uma série de reivindicações junto aos Três Poderes, protestaram nessa quarta (26) e quinta-feira (27), no Palácio do Planalto, Ministério do Planejamento e no Supremo Tribunal Federal (STF). A delegação trouxe representantes dos povos Krikati, Gavião, Krenyê, Guajajara, Gamela e Ramkokamekrá Canela.

    Na manhã de quarta-feira os indígenas fizeram ato político em frente ao Palácio do Planalto para propor audiência com o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e protocolar dois documentos destinados à presidente Dilma Rousseff, pela retomada dos processos de demarcação das terras indígenas e contra a indicação da senadora ruralista Kátia Abreu (PMDB-TO) para o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

    Seguranças impediram a entrada dos indígenas, que mantiveram suas danças e rituais em frente à sede do Poder Executivo Federal, espremidos entre as cercas impostas e o Eixo Monumental, que as lideranças ameaçaram bloquear caso não fossem recebidas. “Só saibam que tem lei e a lei será cumprida. Se alguém morrer a culpa é de vocês”, disse um assessor do ministro Gilberto Carvalho, que tentava negociar a desocupação da frente do edifício. “Se alguém morrer a culpa é dos governantes, porque eles é que não cumprem as leis”, rebateu o cacique Fred Guajajara.

    “Viemos de tão longe porque está muito difícil o conflito com os fazendeiros e madeireiros que invadem nosso território. Sofremos ameaças constantes e o governo simplesmente nos ignora”, disse Maria Helena, do povo Gavião. “Desde 2007 nossa terra está em estudo para ser ampliada e até hoje não publicaram a portaria declaratória”, explica. A Terra Indígena (TI) Governador, declarada em 1982 com 42 mil hectares, fica no município de Amarante (MA).

    Nesta quinta-feira as lideranças estiveram no Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão e protocolaram documento pelo fortalecimento da Fundação Nacional do Índio (Funai), com mais recursos para os processos de demarcação e proteção territorial e também a realização de concurso público para o órgão indigenista.

    Durante a tarde, no STF, os indígenas expressaram sua indignação e pediram a revisão, por meio de documento, das decisões da Segunda Turma que anularam as portarias declaratórias das Terras Indígenas Guyraroká, no Mato Grosso do Sul, e Porquinhos, no Maranhão. “Agora a Justiça quer tirar até o que já foi reconhecido? Os indígenas no Brasil estão cada vez mais encurralados e precisam reagir. No Maranhão, somos 10 povos e vamos continuar na luta pelas terras que nos são de direito”, reforçou Fred Guajajara.

    Do povo Gamela, que luta por seu reconhecimento étnico e territorial no município de Viana (MA), vieram sete representantes. “Os fazendeiros querem tomar nossas terras. Precisamos de liberdade para trabalhar e do nosso reconhecimento como índios. Meus avós, bisavós, tataravós nasceram e morreram lá.  Hoje, se não lutarmos por nossas terras e cultura, logo não teremos mais nada”, disse Jaldenir Ribeiro, da TI Taquaritiua.


    Fotos: Ana Mendes

    A notícia faz parte do boletim semanal O Mundo que nos Rodeia. Para recebê-lo ou enviar sugestões, basta escrever para mundo@cimi.org.br

     

    Read More
  • 27/11/2014

    No RS, encontro dos “Kujã”, líderes espirituais Kaingang, reuniu representantes de 18 TIs

    Entre os dias 21 e 23 de novembro Porto Alegre (RS) recebeu o V Encontro dos Kujã, líderes espirituais do povo Kaingang. Representantes de 18 Terras Indígenas (TIs) dos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina participaram do evento, que aconteceu na TI Morro do Osso.

    Leia o documento assinado pelas comunidades:

    O V Encontro dos Kujã

    Nos dias 21, 22 e 23 de novembro de 2014, a capital do estado do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, região hidrográfica do Guaíba, originalmente com vegetação característica da Mata Atlântica e incidência de floresta ombrófila mista (floresta com araucária), na Terra Indígena Morro do Osso, um momento se fez. Marcado pelas narrativas, pelas memórias e reminiscências que compõem a figura dos Kujãs, líderes espirituais na sociedade indígena Kaingang, o V Encontro dos Kujã emerge no contemporâneo como um contraponto às assimetrias em relação aos direitos existenciais desse grupo indígena Jê Meridional.

    As danças, as pinturas, os cantos enérgicos que ecoam a milênios no planalto meridional, hoje dão o tom de nossa existência enquanto continuidade, identidade e resistência de um povo que habita esse território a milhares de anos antes do presente, antes de senhores e escravos, de ricos e pobres, de patrões e empregados, quando vivíamos soberanos, absolutos, com dignidade e liberdade, numa lógica pautada no respeito com a natureza e sobrenatureza. Hoje queremos uma pauta concreta e própria, uma pauta que respeite nossa cosmologia. Afinal, historicamente fomos silenciados, oprimidos, tivemos nossos sagrados espaços apropriados pelos “visitantes” indesejados, onde a opção era a de aldeamentos diminutos ou a morte. Vimos nossas casas virarem cinza, nossas histórias e narrativas ridicularizadas e fomos entendidos como atrasados por quem pisava em nosso sagrado solo, nosso não no sentido patrimonial, mas como parte de nós.

    Vimos o caos se manifestar na sua forma mais atroz, e com ele a morte. De nossos guerreiros, dos nossos velhos, das nossas mulheres, muitas inclusive escravas do corpo gélido e desumano de quem nos cassava a esmo, nem mesmo as crianças escaparam das garras de quem se dizia civilizado. Um país e um estado que se nega a admitir sua dívida histórica com os povos indígenas, um Estado que se “desenvolveu” e consolidou-se sobre os corpos dos nossos antepassados, onde o progresso e ambição lhe conferem as mãos encharcadas do sangue de nossos irmãos.

    Isso é para lembrar que atualmente sobrevivemos em terras diminutas que foram demarcadas, e, na beira de rodovias, sem o mínimo de condições de um bem viver, nós, os Kaingang, somos a 3ª maior população de originários do Brasil, e hoje vivemos dias cinzentos e incertos, marginalizados em nossa própria terra, por uma sociedade que se fez sobre o nosso sofrimento.

    Porém, aqui nesses dias e no improviso de estruturas, ressignificamos nossa luta e resistência, batizados na figura dos Kujãs, interpretado por muitos como eixo semântico na organização sociopolítica Kaingang. Não poderia haver relação mais prática, pois se o eixo semântico é o lugar virtual em que se articulam os pólos opostos criadores da significação, o Kujã tem exercido esse papel ao longo de nossa existência entre Kamê e Kairu, as duas metades que compõem o mundo Kaingang. Juntamente com outros seres e símbolos, o Kujã transita e totaliza as articulações nas supostas oposições das metades que são inexoravelmente indissociáveis e entre medicina tradicional, tradutor das falas da floresta, dançador, cantor e contador de histórias nostálgicas do nosso povo, essa figura é símbolo de nossa resistência.

    Outros personagens do mundo Kaingang, como as parteiras tradicionais e os guerreiros dançadores, são no concreto o pulsar de uma identidade que aqui afirma e grita que não vai deixar de existir, pois somos os filhos da mata, os piolhos da mata, o espírito da mata, somos Nãn Gá, somos kokoj, somos pó, somos Ka fár, somos Jorge Kagnõn Garcia, somos Kaingang. E exigimos respeito às nossas pautas, exigimos que órgãos estatais dialoguem com nossos costumes, presentes nos Kujã, nas parteiras e valorize a farmacopeia tradicional Kaingang, exigimos da Fundação Nacional do Índio (Funai) e do Ministério da Justiça o reconhecimento de nossos territórios por parte do Estado brasileiro, solicitamos sua identificação e delimitação, seguida da demarcação e homologação nos termos do artigo 231 da CFB/1988, Decreto 1775/96 e Portaria 14/96.

    Este evento exige um basta nas assimetrias e na falta de equidade na relação com os povos indígenas brasileiros que nem sequer têm a liberdade de expressar suas categorias etnológicas na resolução de problemáticas; um basta na criminalização de lideranças, que sejam feitas investigações sólidas nos crimes contra indígenas como o caso do professor indígena de Vicente Dutra; um basta na desproporcionalidade de força quando se trata de perseguir indígenas, que no seu mais recente caso na Terra Indígena Kanóia deixou a comunidade em estado de choque, com seu espetáculo de mostrar força.

    Por fim, este evento reforça a importância na demarcação de terras indígenas, afinal sem a demarcação de nossas terras tradicionais, não teremos educação indígena de qualidade, não teremos saúde de qualidade, não teremos sequer nossa cultura. E aqui o movimento e resistência Kaingang se junta à pauta de outros contextos lationoamericanos, no emprego da categoria bem viver, essa categoria é o expressar da nossa posição étnica frente à sociedade, à natureza e à sobrenatureza, traduzindo nossos modos próprios de pensar, viver e sentir. E assim como para outros povos essa categoria é nossa resposta e alternativa às categorias impostas por agências estatais – tais como “etnodesenvolvimento”, “sustentabilidade” ou “desenvolvimento sustentável” – na busca por uma relação de igualdade, justiça e liberdade.

    Não seria possível aqui dimensionar a cultura Kaingang latente nas atuais gerações, como já existiu e continua a existir, que busca no passado os sentidos de existência e resposta para constituir um bem viver indígena. Este que repousa na demarcação de terras indígenas.

    Por fim, este documento traduz a voz e a representatividade das terras indígenas de Nonoai, Iraí, Vicente Dutra, Rio da Várzea, Inhacorá, Votouro, Xingu, Campo do Meio, Apucaraninha, Morro dos Cavalos, São Leopoldo, Ligeiro, Kandóya, Lomba do Pinheiro. Guarita, Tabaí, Morro Santana e Morro do Osso.


    Porto Alegre, 24 de novembro de 2014

    Comunidade Kaingang do Morro do Osso

     

    Read More
Page 478 of 1205