• 10/12/2014

    Povos da floresta e territórios: serviços ou direitos?

    Por Cristiane Faustino e Fabrina Furtado

             Faltando um ano para ser concluída a elaboração do acordo global sobre clima, cujo prazo é dezembro de 2015, a Conferência das Partes (COP) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática (CQNUMC), de Lima, é um momento chave de negociações. O acordo em discussão criará um regime internacional sobre o clima, determinando obrigações para os países-membro (as Partes) da CQNUMC, e entrará em vigor em janeiro de 2020. Neste debate alguns setores são priorizados, entre eles, o tema das florestas ou a redução do desmatamento e degradação florestal, considerado um “setor” onde as emissões de gás carbônico (CO2), que contribuem para a mudança do clima, podem ser reduzidas de forma mais rápida, mais barata e com benefícios para todos os envolvidos.

    Isso significa, na prática, decisões sobre o mecanismo de Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação (Redd), mais especificamente sobre o seu financiamento, o papel dos mercados e se haverá compensação por Redd. Fortalecer os mecanismos de Redd já é praticamente consenso, mas os países precisam decidir se os créditos gerados pela redução do desmatamento e da degradação serão financiados pelo mercado de carbono ou por outros instrumentos de mercado, e se o investimento de um país em tal iniciativa significará que o mesmo possa usá-lo para diminuir/compensar suas obrigações de redução de emissões.

    Pelos mecanismos de compensação e pelo mercado de carbono, um país ou estado não precisaria efetivamente diminuir suas emissões, mas poderia “comprar” essa redução (pelo menos no papel), neste caso por não-desmatamento, de outro país, ou seja, comprar o direito de poluir. Para quem não acompanha os pontos e vírgulas das negociações, isso tudo pode parecer complexo e, às vezes, quase abstrato, mas como não existem florestas sem gente e essas gentes não vivem sem as florestas, esta é uma questão que afetará, e já afeta, a vida das populações tradicionais e indígenas.

    Neste debate, vale tomar como emblema o caso brasileiro do Acre, que é considerado referência nas negociações sobre clima. Atualmente, a chamada economia verde no estado é vista nos meios oficiais como uma experiência que harmoniza crescimento econômico e conservação ambiental, e é onde existe o programa jurisdicional de Redd considerado o mais avançado do mundo. O Sistema de Incentivos aos Serviços Ambientais (Sisa), lei estadual acreana aprovada em 2010, é definido como “um conjunto de princípios, diretrizes, instituições e instrumentos capazes de proporcionar uma adequada estrutura para o desenvolvimento de um inovador setor econômico do Século XXI: a valorização econômica da preservação do meio ambiente por meio do incentivo a serviços ecossistêmicos”. Os “serviços e produtos ecossistêmicos” citados são: o sequestro, a conservação, manutenção e o aumento de estoque e a diminuição do fluxo do carbono; a conservação da beleza cênica natural; a conservação da sociobiodiversidade; a conservação das águas e dos serviços hídricos; a regulação do clima; a valorização cultural e do conhecimento tradicional ecossistêmico; e a conservação e o melhoramento do solo. Nesse sentido, estão sendo desenvolvidos cinco programas relacionados: Carbono Florestal (ISA Carbono); Sociobiodiversidade; Recursos Hídricos; Regulação do Clima; e Valorização Cultural e Tradicional. O Programa ISA Carbono foi o primeiro a ser desenhado e implementado e busca alcançar a meta voluntária do governo do Acre de redução de emissões por desmatamento e degradação florestal[1].

             Para avançar com o Sisa, o governo do Acre já recebeu financiamento do Fundo Amazônia, gerido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), do banco alemão de desenvolvimento KfW, da, também alemã, agência de cooperação internacional GIZ, da organização conservacionista WWF-Brasil e da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, em sua sigla em inglês). Para o futuro, o governo do Acre pretende garantir recursos do mercado de carbono e de outros serviços ambientais, voluntários e oficiais.

    Ainda nesse terreno, em novembro de 2010, os governos do Acre, da Califórnia (Estados Unidos) e de Chiapas (México) assinaram um memorando de entendimento para discutir as bases de um acordo de comércio de créditos oriundos de Redd. Porém, as organizações da sociedade civil dos Estados Unidos lutam contra modificações no marco jurídico da Califórnia que permitam a lógica do mercado de carbono e da compensação[2]. Para o estado do Acre, serão estratégicas as definições da CQNUMC sobre a oficialização da relação entre Redd e mercado.

             Além de ser necessário realizar uma análise mais aprofundada em termos dos efeitos e impactos do Sisa sobre as demais políticas de Estado e sobre a própria sociedade como um todo, falta, avaliam inclusive alguns dos seus apoiadores, um debate mais amplo e qualificado. O governo estadual afirma que a consulta e participação para a elaboração e implementação do Sisa foram, e continuam sendo, amplas, mas algumas organizações locais, como o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), argumentam que as mesmas não contemplam a diversidade de perspectivas e pensamentos críticos no estado.

             Outras preocupações estão relacionadas à incidência da lei sobre os territórios federais, como as terras indígenas, as reservas e as florestas públicas, podendo haver sobreposição de poderes, o que colocaria em xeque a constitucionalidade da mesma; ao receio de que o Sisa elimine a cultura extrativista, caso as comunidades sejam proibidas de realizar atividades tradicionais de subsistência, como a extração de látex das seringueiras e as queimadas para roçados; e à privatização do meio ambiente, definido como bem de uso do povo (público) pelo art. 225 da Constituição Federal, quando  instala-se a compra e venda dos chamados serviços ambientais.

                “Querem a gente acuado”

    Enquanto o Sisa é institucionalizado, projetos privados de Redd já começam a gerar conflitos nos territórios, como o projeto Purus e os projetos Russas e Valparaíso, todos em vias de registro no Sisa. No caso do Purus, localizado no interior do município de Manoel Urbano, as preocupações estão relacionadas à falta de entendimento sobre o projeto por parte da comunidade; à divisão da comunidade e ao acirramento de conflitos; à impossibilidade de realizar uma série de atividades importantes para a subsistência, sob pena de criminalização; ao fato de que o incremento na renda será mínimo, se efetivamente ocorrer, para quem participa voluntariamente do projeto; e à constatação de que as ações sociais propostas são, na verdade, de responsabilidade do Estado e direitos constitucionais da população, que não podem estar associados e muito menos condicionados à execução do projeto. Receosa com as perdas e insegura quanto às oportunidades e melhorias prometidas pelos proponentes, a comunidade tenta agora sair do projeto e garantir a regularização da terra. Como expressou um seringueiro impactado pelo projeto “Eles querem que nós fique aqui dentro, acuados, num canto, sem poder fazer nada pra, daqui uns dias, a gente não ter nenhum roçado para plantar nossa roça”.

             No caso dos projetos Russas e Valparaíso, localizados no município de Cruzeiro do Sul, os comunitários estão preocupados com a falta de informação sobre o significado do projeto; as restrições sobre o uso da terra e da floresta; o futuro; as promessas de regularização fundiária em troca da aprovação do projeto; a ameaça de expulsão, no caso do não acordo; a individualização do processo de regularização (mediante contratos individuais de titulação da terra); e a falta de apropriação da comunidade em relação aos termos dos contratos com proprietários de terras e empresas estrangeiras.

             Segundo informações do governo do estado, esses projetos não serão registrados no Sisa enquanto o proprietário (e não o próprio Estado) não regularizar a situação. Entretanto, os projetos continuam em andamento. No caso do Purus, por exemplo, em junho de 2013, a Federação Internacional de Futebol (Fifa) declarou seu apoio ao Projeto Purus, como instrumento para “neutralizar” a emissão de carbono durante a Copa do Mundo. De acordo com a Fifa, os projetos (Purus e mais dois) “passaram por um rigoroso processo de licitação e cumprem os padrões definidos pela International Carbon Reduction and Offsetting Alliance (Icroa), tendo sido realizada a seleção final por um painel independente de ONGs ambientais” (FIFA, 2014).

    Do ponto de vista socioambiental é preciso considerar, de antemão, as enormes contradições existentes entre a destruição ambiental/desigualdade social e as soluções de mercado, tendo em vista que a degradação ambiental e os problemas sociais dela decorrentes estão vinculados à própria lógica mercantil de acumulação, em detrimento da preservação do meio ambiente e da garantia dos direitos dos povos. Nessa lógica de “economia verde”, a natureza é percebida como um estoque de carbono e de outros “serviços” e os sujeitos de direitos são reduzidos a fornecedores ou compradores de serviço.

    Além disso, transfere-se a “culpa” da degradação ambiental para os sujeitos comunitários, cujas práticas são de baixo impacto ambiental. Ao impor, de forma simplista e descolada da realidade e das necessidades comunitárias, a ideia absoluta de “floresta em pé”, desvaloriza-se e coloca-se em risco os diferentes modos de ocupação e uso feitos pelas comunidades tradicionais e pelos povos indígenas. Ao optar por desenvolver políticas dessa natureza, o governo faz uma escolha direcionada e expõe a população aos riscos que advêm desta opção, num contexto de enormes desigualdades entre os sujeitos envolvidos: comunidades, por um lado, e fazendeiros e empresas, por outro.

             Ao mesmo tempo, os principais agentes da degradação ambiental, como os fazendeiros e as empresas, recebem incentivos financeiros e compensação, como se estivessem prestando um serviço para a sociedade, que deve pagar pelo mesmo. Desse ponto de vista, os efeitos da economia verde expressam-se no processamento das injustiças e desigualdades históricas que, além de situar as comunidades em lugar desprivilegiado na relação, parte do pressuposto de sua culpabilização e legitima a penalização de sua existência. 

              De fato, no caso dos projetos de Redd no Acre, o processo ocorre em um contexto de muitas desigualdades, aprofundadas pela falta de informação e formação adequadas das comunidades sobre questões fundamentais que afetam as suas vidas. Isso favorece a atuação das empresas e a imposição dos projetos nas comunidades. Além disso, frente à insegurança da posse, as comunidades locais ficam fragilizadas e passíveis de serem coagidas a aceitar as propostas externas como redenção de suas necessidades em detrimento de sua autonomia.

             A situação imposta a essas comunidades é o de duas perversas opções: 1 – perda da floresta e dos seus territórios e ausência de políticas públicas; 2 – projetos de Redd. A regularização territorial e as políticas de direitos aparecem como moeda de troca para as comunidades aceitarem os projetos. Por outro lado, a responsabilidade da regularização da situação de posseiros, direito da população e dever do Estado, é “transferida” para o “proprietário” da terra/do projeto, diretamente e em posição privilegiada, interessado na sua exploração mercadológica. Agravante dessa situação é a ausência de metodologias de trabalho que possibilitem uma apropriação qualificada por parte das comunidades da linguagem e das informações “técnicas” apresentadas pelos proponentes e executores dos projetos.

    Consolidação das injustiças

    Nessas ponderações, importa considerar que num contexto de desigualdades sociais e ambientais, que marcam não só o estado do Acre, mas o Brasil e outros países do Sul global, o caminho do mercado para enfrentar os fatores das mudanças climáticas mostra-se como uma solução problemática, uma vez que não enfrenta as injustiças e a degradação socioambientais, mas consolida-se por meio delas, ao passo em que pode comprometer direitos conquistados e agravar violações crônicas, como a concentração fundiária e a negação dos direitos políticos, culturais, econômicos e ambientais das populações.

    Em seus territórios históricos, os povos da floresta não podem ser excluídos dos processos de decisão sobre seus próprios futuros ou serem considerados obstáculos ao desenvolvimento e progresso. No que se refere ao tema das mudanças climáticas e ao significado das florestas é absolutamente legítimo e necessário que às comunidades e aos povos que com elas convivem, seja garantido o direito de pensar, opinar e decidir. Entretanto, a compreensão plena das comunidades sobre a situação exige uma participação ativa na própria concepção da política, garantindo o direito de rejeitar processos que provoquem perdas, danos e aumento das vulnerabilidades. Também exige que o acesso às informações, aos recursos e às instituições nacionais e internacionais sejam garantidos mediante processos democráticos e não ocorram como fatores de favorecimentos, privilégios e reprodução de desigualdades.

    Aos chefes de Estados da COP cabe desprenderem-se de uma lógica que situa as soluções dos problemas socioambientais e do clima sempre integradas ao atual sistema de produção e consumo hegemônico. Pois talvez seja necessário fazer justamente o contrário, ou seja, a sociedade ocidental se “abrir” para aprender com os povos e as populações tradicionais, especialmente sobre como viver de um modo mais respeitoso e harmônico com todas as formas de vida. No mais, a diversidade sociocultural e a garantia dos direitos dos povos é, de antemão, a melhor e mais sustentável forma de conter e enfrentar não só as mudanças climáticas, mas toda a crise civilizatória que coloca em risco a própria existência humana no planeta.

     

    Cristiane Faustino e Fabrina Furtado foram, respectivamente, relatora e assessora da Relatoria de Direito Humano ao Meio Ambiente da Plataforma Dhesca Brasil, entre maio de 2012 e maio de 2014.

     



    [1]    BRASIL. Governo do Acre. Sistema de Incentivo a Serviços Ambientais. Rio Branco, 2010

    [2]    WWF. O Sistema de Incentivos por Serviços Ambientais do Estado do Acre. Lições para políticas, programas e estratégias de Redd jurisdicional. WWF: Brasília, 2013. Disponível em: http://www.wwf.org.br/?uNewsID=35382

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  • 10/12/2014

    Povos do MA bloqueiam BR 316 contra PEC 215, que pode ser votada ainda hoje na Câmara

    Contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215/2000, que – depois de manobra de deputados ruralistas – pode ser votada ainda hoje, às 18h na Câmara dos Deputados, cerca de 150 indígenas do povo Awá Guajá e Guajajara, no Maranhão, interditam desde a manhã dessa terça-feira (9) a rodovia BR-316, que corta a Terra Indígena Pindaré, perto do município de Bom Jardim.

    Além da PEC 215, o grupo protesta contra o Projeto de Lei Complementar (s/n) do senador Romero Jucá que pretende regulamentar o Artigo 231 da Constituição Federal. Os ruralistas interessados na aprovação das propostas pressionam para que sejam votadas ainda este ano, pois em 2015 teriam que ser criadas novas Comissões para análise das matérias, que restringem drasticamente os direitos de povos indígenas sobre suas terras.  Leia mais aqui

    “Estamos bloqueando a BR desde ontem para que desistam dessas propostas”, diz Flauberth Guajajara. “Essa PEC 215 não faz sentido. Já temos a Funai para tratar da demarcação de terras, ela só precisa ser fortalecida. Se deixarmos nas mãos do Congresso a demarcação, aí é que não teremos nossos territórios”.

    As propostas seriam votadas nessa terça e quarta-feira (10) e foram adiadas para o dia 16, próxima terça-feira, tanto na Câmara dos Deputados como no Senado. Entretanto, uma manobra de deputados ruralistas fez com que a votação da PEC 215 entrasse na pauta da Câmara ainda hoje, às 18h, onde será analisada por Comissão Especial. Flauberth Guajajara ressalta que os povos indígenas estarão mobilizados contra as proposições ruralistas. “Vamos continuar protestando contra esses ataques aos nossos direitos. Os povos do Brasil estão unidos e toda a população brasileira está convida a dizer não aos ruralistas que querem acabar com os povos indígenas”.  

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  • 10/12/2014

    CARTA DO XIV ENCONTRO NACIONAL DA 6ª CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

    FLORIANÓPOLIS – SANTA CATARINA/SC

    Nós, Procuradoras e Procuradores da República abaixo assinados, reunidos no XIV Encontro Nacional da 6ª CCR, promovido nos dias 03, 04 e 05 de dezembro de 2014, em Florianópolis, Santa Catarina, com o objetivo de discutir e estabelecer uma atuação coordenada, sem descuidar das peculiaridades dos povos e das demandas de cada local, para o enfrentamento de problemas comuns no tocante aos direitos dos povos indígenas e demais comunidades tradicionais

    EXPRESSAMOS nossa preocupação com a aplicação das condicionantes criadas pelo Supremo Tribunal Federal para o caso Raposa Serra do Sol (Pet 3.388);

    ENFATIZAMOS o caráter constitucional da posse de terras indígenas e de povos e comunidades tradicionais;

    RESSALTAMOS que a compreensão da ocupação tradicional dessas terras não se deve limitar aos parâmetros da sociedade envolvente baseados em meios tradicionais de prova, como a documental;

    CONSIDERAMOS imprescindível levar em conta a forma como as diversas etnias desenvolvem seus modos de vida, bem como a história que o grupo possui com o seu território, sobretudo as estratégias de sobrevivência física e cultural para permanecer vinculado a ele mesmo após a ocorrência de esbulho;

    DESTACAMOS que, nos processos judiciais, deve-se buscar a adequada valoração das formas de organização, das tradições orais e da análise antropológica como meios de prova;

    FRISAMOS que a trajetória de muitos grupos étnicos se deu à custa de esbulho, violências e desestruturação, fatores que devem ser considerados na análise de processos judiciais que examinam ocupações tradicionais de terras indígenas;

    REPUDIAMOS a visão essencialista e estigmatizante dos modos de vida dos povos indígenas, como a adotada na sentença que declarou inexistente a Terra Indígena Maró, em Santarém/PA, negou validade jurídica ao autorreconhecimento e à prova antropológica realizada pela FUNAI, bem como estabeleceu a identidade da comunidade como ribeirinha e não indígena (processo n° 2010.39.02.000249-0 e processo n° 2091-80.2010.4.01.3902);

    RECHAÇAMOS a indevida paralisação dos processos administrativos de regularização de terras indígenas e de terras de comunidades e povos quilombolas e tradicionais, levada a efeito pelo governo federal, e exortamos à sua retomada, conferindo-lhes razoável duração, especialmente nas áreas mais conflituosas;

    ENTENDEMOS que a constituição de mesas de diálogo não justifica a paralisação de processos administrativos de regularização dessas terras;

    CONSTATAMOS a necessidade de que a atuação de Procuradores da República na temática da 6ª Câmara de Coordenação e Revisão seja pautada por um diálogo livre e permanente com os povos indígenas e comunidades tradicionais, bem

    como pela interação com outras áreas do conhecimento, como a antropologia, devendo os cursos de ingresso e vitaliciamento observar as especificidades desta matéria;

    REITERAMOS o compromisso de defesa da saúde indígena e entendemos que a criação do Instituto de Saúde Indígena (instituído sob a natureza de serviço social autônomo – ente do terceiro setor) não está de acordo com a Constituição Federal, uma vez que representa a privatização da prestação desse serviço público, violando o caráter complementar da participação de instituições privadas na saúde;

    ENFATIZAMOS a importância da aproximação entre o Ministério Público Federal e os órgãos de controle social da saúde indígena, especialmente por meio do acompanhamento dos Planos Distritais de Saúde Indígena e da garantia do respeito às deliberações dos Conselhos Distritais de Saúde Indígena;

    REFORÇAMOS a necessidade de que a Administração Pública garanta liberdade plena na atuação dos Conselhos Distritais de Saúde Indígena, bem como dos Conselhos Locais de Saúde Indígena, com disponibilização adequada de recursos para o exercício de suas atribuições.

    ALMIR TEUBL SANCHES

    ANSELMO HENRIQUE CORDEIRO LOPES

    BRUNA PFAFFENZELLER

    CARLOS EDUARDO RADDATZ CRUZ

    CARMEM ELISA HESSEL

    CAROLINA AUGUSTA DA ROCHA ROSADO

    CINTHIA GABRIELA BORGES

    CRISTINA NASCIMENTO DE MELO

    DANIEL LUIS DALBERTO

    DEBORAH DUPRAT

    EDMUNDO ANTÔNIO DIAS

    ELIANA PERES TORELLY DE CARVALHO

    EMERSON KALIF SIQUEIRA

    FABIANA KEYLLA SCHNEIDER

    FELIPE ALMEIDA BOGADO LEITE

    FELIPE AUGUSTO DE BARROS C. PINTO

    FERNANDA ALVES DE OLIVEIRA

    FERNANDO MERLOTO SOAVE

    GUSTAVO KENNER ALCÂNTARA

    JOÃO AKIRA OMOTO

    JORGE IRAJÁ LOURO SODRÉ

    JÚLIO JOSÉ ARAÚJO JÚNIOR

    LÍVIA NASCIMENTO TINÔCO

    LUCAS HORTA DE ALMEIDA

    LUCIANO MARIZ MAIA

    MARCELO FREIRE LAGE

    MÁRCIO BARRA LIMA

    MARCO ANTONIO GHANNAGE BARBOSA

    MARCUS VINICIUS AGUIAR MACEDO

    MARIA BEATRIZ RIBEIRO GONÇALVES

    MARIA ELIANE MENEZES DE FARIAS

    MARIA LUIZA GRABNER

    MAURO CICHOWSKI DOS SANTOS

    NATÁLIA LOURENÇO SOARES

    PAULA CRISTINE BELLOTTI

    PEDRO MELO POUCHAIN RIBEIRO

    REGINALDO PEREIRA TRINDADE

    RICARDO GRALHA MASSIA

    THAÍS SANTI

    WALQUÍRIA IMAMURA PICOLLI

    WILSON ROCHA ASSIS

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  • 10/12/2014

    MPF acompanha tensão entre colonos e índios Tembé no nordeste do Pará

    O Ministério Público Federal (MPF) acompanha de perto a tensão entre índios Tembé e colonos no nordeste do Pará, município de Garrafão do Norte, onde cinco pessoas ficaram feridas em um confronto no último dia 1. O conflito é objeto de duas ações do MPF na Justiça Federal que ordenam a retirada de todos os invasores (de boa-fé e de má-fé) da terra indígena. Mas até agora o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) não cumpriu o dever de reassentar os agricultores.

    A invasão da Terra Indígena Alto Rio Guamá por colonos e agricultores é um problema antigo, quase sempre ligado ao interesse de grandes fazendeiros e madeireiros. No caso da Vila Livramento, onde ocorreu o tiroteio dessa semana, os colonos foram atraídos pelo fazendeiro Mejer Kabacznic, que invadiu a área dos índios em 1976 e conseguiu abrir uma estrada, por onde outros invasores entraram. O fazendeiro já morreu, mas os herdeiros brigaram pela posse da terra contra o MPF na Justiça até recentemente e perderam.

    Duas sentenças da Justiça Federal em Paragominas obrigam a retirada de todos os invasores da região da fazenda de Mejer, também chamada Irmãos Coragem, incluindo os moradores da Vila Livramento. No dia 24 de novembro passado, para que a sentença fosse cumprida, o MPF enviou recomendação ao Incra pedindo o reassentamento urgente dos colonos. Uma semana depois, o conflito estourou.

    Além da ação judicial que pediu a desintrusão (retirada de invasores) da terra indígena, o MPF, avisado do conflito no dia 1 de dezembro, também acionou a Polícia Federal e a Polícia Militar para se dirigirem ao local do conflito. São considerados invasores de boa-fé aqueles que são beneficiários da reforma agrária e deveriam ser assentados pelo poder público. De má-fé, grandes fazendeiros, grileiros e latifundiários que invadem terras públicas, áreas quilombolas e indígenas. Os primeiros têm direito a indenizações e reassentamento, enquanto os segundos, se for o caso, têm direito apenas à indenização por benfeitorias.

    No próximo dia 12, uma reunião vai ser feita na sede da Polícia Federal em Belém, para tratar da retirada dos invasores, com a presença do MPF, Fundação Nacional do Índio (Funai) e Incra.

    Histórico – A Terra Indígena Alto Rio Guamá, com pouco mais de 279 mil hectares é uma das mais antigas da Amazônia e teve o território reconhecido em 1945 pelo então governador do Pará, Magalhães Barata. Em 1988, durante o processo de demarcação federal, o ministro da reforma agrária à época, Jader Barbalho, dividiu a terra dos Tembé, Timbira e Ka’apor em duas partes, criando vilas agrícolas no meio do território indígena e criando o terreno para as invasões em vários pontos.

    Em 1993, a divisão feita por Barbalho é anulada e a TI Alto Rio Guamá tem a demarcação definitiva homologada pelo governo federal, em toda sua extensão. Mesmo assim, até 2014, as consequências dos erros governamentais provocam situações de conflito como a do último dia 1 de dezembro.

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  • 09/12/2014

    Depois de ataque previamente anunciado ocorrer, Polícia Federal chega à comunidade Kaiowá e Guarani

    O Tekoha – lugar onde se é – Tey’Juçu, dos Kaiowá e Guarani, altura do município de Caarapó (MS), foi mais uma vez atacado na tarde desta terça-feira, 9, por homens armados em caminhonetes. A ofensiva, todavia, não apanhou a comunidade de surpresa. Pela manhã, um sujeito identificado pelos indígenas como proprietário da Fazenda Burana os informou por telefone que seriam atacados entre 14 e 15 horas. A ameaça teria sido a reação do latifundiário diante da negativa das lideranças Kaiowá e Guarani em aceitar uma quantia não especificada de dinheiro para que saíssem da área.

    Leia mais: Fazendeiro liga para Kaiowá e marca horário para segundo ataque à comunidade em menos de 24 horas; jovem indígena segue desaparecida


    Após o ataque, a Polícia Federal chegou ao Tey’Juçu. De acordo com os indígenas ouvidos pelo Cimi, o bando armado não atacou ninguém da comunidade, mas destruiu tudo o que viu pela frente. O acampamento Kaiowá e Guarani foi posto abaixo. Diferente do que ocorreu nesta segunda, 8, perto do final da tarde, quando grupo armado – os indícios apontam que seja o mesmo desta terça – invadiu o tekoha empoleirado em caminhonetes e a tiros tentou expulsar a comunidade do lugar.

    Para ter acesso ao local onde se encontra a sede da fazenda é preciso passar por uma estradinha de terra que cruza com o acampamento eguido pelos Kaiowá e Guarani no tekoha – destruído pelos pistoleiros. Nesta posição estão os indígenas. A estratégia deles foi montar uma barreira na estrada. Cerca de 200 metros à frente deles, sob árvores frondosas, o bando ligado aos latifundiários fica se protegendo do sol, à espreita. Quem esteve por lá na tarde desta terça-feira, conforme apurou a reportagem, pode ver cerca de 35 caminhonetes paradas e os pistoleiros aninhados no sopé da árvore.  

    “Entramos na área por um outro caminho, desviando de Caarapó. De fato o clima está muito tenso. São perto de 35 caminhonetes e homens armados sob árvores. A Funai estava lá, portanto não pode dizer que nada estava acontecendo”, afirma fonte que não identificamos por razões de segurança. Ainda de acordo com a fonte, nas árvores dentro do círculo preto (fotos ao lado) estavam os capangas armados.

    Inversão  

    Por intermédio de portais sul-mato-grossenses na internet, latifundiários plantadores de soja, e que se dizem proprietários de fazendas incidentes no território tradicional, se anteciparam na manhã desta terça, invertendo os fatos: os indígenas é que teriam atacado o grupo deles quando para lá se dirigiram para ver o que estava acontecendo. Um deles declarou ter sofrido emboscada no último domingo, dia em que os Kaiowá e Guarani retomaram área do tekoha. Por fim, reclamaram que foram até a Força Nacional pedir apoio, mas os agentes afirmaram que só Brasília poderia autorizá-los a atuar.  

    “Um absurdo completo. Como pode uma comunidade pequena, com muitas mulheres e crianças, atacar um bando com mais de trinta caminhonetes, fortemente armado¿ Quando que nosso povo foi pego fazendo emboscada, indo pra matar fazendeiro¿ Quem é assassinado é a gente, quem passa fome é a gente, quem vive nas beiras das estradas é a gente, os filhos que morrem de fome são os nossos”, defende Otoniel Guarani Kaiowá.  

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  • 09/12/2014

    “Pra quê projetos que destroem a vida?”, questiona Henrique Suruí

    Em setembro de 2013, fotos do povo Paiter-Suruí foram amplamente veiculadas na imprensa e nas redes sociais tanto no Brasil como no exterior. Tratava-se da divulgação do contrato que os indígenas assinaram com a maior empresa brasileira de cosméticos, a Natura, em que esta comprava as primeiras 120 toneladas de créditos de carbono “sequestrados” da Terra Indígena Sete de Setembro, no período de 2009 a 2012. A empresa foi a primeira do mundo a adquirir créditos de carbono indígena, emitidos por duas certificadoras internacionais.

    Apesar de toda a euforia com que este contrato foi propagandeado, o cacique da aldeia Sete de Setembro, Henrique Iabaday Suruí, 50 anos, pai de nove filhos, um ano após a assinatura desse contrato, afirma que, atualmente, “100% da comunidade é contra este projeto”. Segundo ele, os Suruí não entenderam muito bem do que se tratava o projeto e foram iludidos com falsas promessas de melhoria de vida. Nesta entrevista exclusiva ao Porantim, Henrique conta que desde 2007, quando teve início o “Plano de Gestão de 50 anos do Povo Paiter-Suruí”, a vida da comunidade mudou radicalmente, sendo impedida de caçar, pescar, fazer roça e produzir artesanato. Sem autonomia em seu próprio território, houve muita divisão no povo Suruí, que “tá sem vida”. Ele anuncia que a comunidade quer a supressão do projeto, centralizado em uma pessoa só, pra voltar a viver como antes e “Voltar a ser guerreiro”.


    Entrevista concedida à Patrícia Bonilha, da Assessoria de Comunicação do Cimi

     

    Porantim – Fale um pouco sobre a realidade do povo Paiter-Suruí hoje.

    Henrique Suruí – Atualmente, somos cerca de 1.800 pessoas vivendo em 25 aldeias. Cada aldeia tem um cacique. A Terra Indígena Sete de Setembro foi homologada no final dos anos de 1970 e tem uma área de 248.000 hectares, que fica metade no estado de Rondônia e metade no Mato Grosso. Cerca de 30% do povo Suruí só fala a língua Tupi, sendo que muitos que entendem o português, falam muito mal esta língua.

     

    Porantim – Em relação ao projeto de Carbono Florestal Suruí, quantas aldeias participaram desse projeto?

    Henrique Suruí – Quando começaram a discussão sobre o projeto de carbono, em 2007, vinte aldeias começaram a participar, as outras cinco ficaram fora. Eu alertei muito algumas lideranças que o projeto não seria bom futuramente para o povo Suruí.

     

    Porantim – Como foi o processo de construção do projeto? A comunidade participou? Houve uma ampla consulta?

    Henrique Suruí – Quem começou o projeto não foram nem as ONGs [Organizações Não Governamentais], nem a Natura, que entrou agora, quando negociou recursos e comprou um pouco de sequestro. Quem trouxe o projeto para dentro foi o Almir Suruí, com o apoio da [organização] Kanindé. Tem outras organizações envolvidas, mas não lembro muito porque eu nunca participei das discussões porque sempre fui contrário. Quando começaram a discutir o projeto de carbono, ele dizia que nós termos projeto de carbono significa melhoria de qualidade de vida para o povo: “Suruí vai virar empresário, vai ter mercado, loja, posto de gasolina”. Disseram que teria mercado dentro da terra indígena. Cada um teria dinheiro na conta, individualmente. E o povo Suruí quer melhoria de qualidade, e aceitaram a proposta. Eu dizia que projeto não era bom pro povo Suruí.

     

    Porantim – Por que você dizia isso?

    Henrique Suruí – Porque quando começaram, eu procurei muito saber como seria esse recurso passado para o povo Suruí. Diziam que seria doado e, um dia, descobri através de meus amigos e entidades de apoio que nós, um dia, ia perder a terra porque o recurso passado ia pagar o direito de viver em nossa terra e ia tirar o nosso direito. As organizações começaram a fazer reuniões com a comunidade e faziam muita promessa, ofereciam muita coisa e agradavam demais. Diziam que recursos seriam passados pra conta de cada um e que ia melhorar a vida de cada pessoa. Isso iludiu muito a vida do meu povo.

     

    Porantim – Você acha que os indígenas conseguiram entender, de fato, o que significa participar de um projeto como esses?

    Henrique Suruí – Primeiro, não entendiam não. O pensamento era mais focado no dinheiro. Não pensavam o que ia trazer futuramente e o que podia prejudicar o povo Suruí. A promessa era muito bonita. Até hoje a maioria do povo Suruí não entende ainda o que é isso, Redd [Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação]. Poucas lideranças entendem.

     

    Porantim – E a comunidade foi consultada?

    Henrique Suruí – Eles nunca perguntaram se querem participar, se o povo Suruí quer participar. Chegaram a dizer pro Suruí: “temos este projeto e vocês têm que aceitar este projeto”. Nunca perguntou se era bom ou não pros Suruí. Diziam: “este projeto é bom e pode melhorar a vida dos Suruí”. Falavam só isso.

     

    Porantim – E quem assinou o projeto?

    Henrique Suruí – Todas as seis associações da base assinaram. Elas foram criadas para receber os recursos do projeto.

     

    Porantim – O que mudou, a partir da implantação do projeto?

    Henrique Suruí – Depois do “Plano de Gestão de 50 anos do Povo Paiter-Suruí”, empresas internacionais queriam comprar sequestro de carbono. Esse plano servia só pra dizer que os Suruí autorizaram comprar carbono na sua terra e que os interessados teriam mais facilidade. Esperavam a assinatura de um projeto, mas já impedia a vida tradicional do povo Suruí. Acabaram com as plantações culturais e com o artesanato tradicional, com a pesca, a caça, a liberdade na sua terra. Além disso, nós ficamos na mão da Polícia Federal, que nos ameaçava por qualquer coisa, por fazer derrubada ou caça na nossa terra… quem fizesse, seria condenado por isso. Acabou a liberdade do Suruí na nossa terra. A Polícia Federal agia por pressão dos responsáveis do projeto. Eles que pediam pra PF atuar, pra mostrar pro mundo que os Suruí poderiam cumprir um acordo.

     

    Porantim – Conte mais sobre como era a vida na comunidade antes dessas iniciativas de projeto de carbono.

    Henrique Suruí – Nossa vida era festa tradicional. O povo tinha liberdade e saúde, era sem doença. Hoje, na vida presente, temos doenças, perdemos nossos velhos, temos depressão. Muitos velhos Suruí estão com depressão. Hoje, o povo Suruí não acredita no que aconteceu com eles. Ninguém sabe o que aconteceu com o dinheiro. Estão gastando dinheiro e comprando, com recursos do carbono, lideranças dos [povos] Arara, Zoró, Gavião e Tupari para convencê-los a também fazer projeto de carbono. Suruí, quando foi assinar contrato com Natura, pensou que este recurso tava chegando pra melhorar a vida do povo porque ficou muitos anos esperando este projeto. Ficou deprimido e sem autoridade pra fazer o que fazia antes. Houve uma divisão muito grande entre nós. Então, é muito difícil a nossa vida hoje. Nós não acreditamos em ninguém. O povo não acredita no que aconteceu com nós. Suruí tá assustado. Não tem pra quem falar o que aconteceu com Suruí. O povo tá sem vida. Queremos a supressão do projeto pra voltar a ter a vida que tínhamos antes. Voltar a ser guerreiro.

     

    Porantim – O projeto levou algum benefício para a comunidade?

    Henrique Suruí – Nada, nada, nada. Só prejudicou a vida Suruí. A vida acabou, não tem mais nada. Não tem projeto como tinha antes. Acabou. Antigamente tinha projeto da Funai, da associação nossa pra dentro da comunidade e, agora, não tem mais. Eles que comandam tudo e têm tudo na mão. Não tem conversa com ninguém. Brigam quando perguntam sobre o dinheiro. Todos que estavam ao lado dos responsáveis pelo projeto, saíram. Eles estão sozinhos.

     

    Porantim – Na imprensa foi noticiado que o valor do contrato com a Natura é de R$ 1,2 milhão. Você sabe se este valor está correto?

    Henrique Suruí – É este o valor sim, mas ninguém sabe onde tá este dinheiro. E a comunidade não recebeu nenhum benefício.

     

    Porantim – Como está a situação hoje? Quem concordava com o projeto, mudou de posição?

    Henrique Suruí – Hoje 100% da comunidade é contra este projeto. Ninguém mais quer falar deste projeto nos Suruí. Tudo ficou centralizado em uma pessoa. A Natura só trata com uma pessoa. Nem Natura sabe o que tá acontecendo com o Suruí. Ninguém sabe. Não abrimos a boca ainda. Esta é a primeira vez que falamos sobre a realidade do povo Suruí, pra vocês.

     

    Porantim – O que seriam as operações da Polícia Federal?

    Henrique Suruí – A PF chega, entra na aldeia e checa se os índios estão cumprindo o projeto. Se não tiver, pode ser processado. Fiscaliza dentro da aldeia e a gente recebe muita ameaça dos policiais. Agora acalmou mais. Mas o projeto tá prejudicando o Suruí. Agora, o MPF [Ministério Público Federal] e a PF tão começando a entender que o projeto não é bom pro povo Suruí.

     

    Porantim – Qual o propósito de fazer o diagnóstico socioeconômico e ecológico nas terras indígenas? Quem é responsável por ele?

    Henrique SuruíA ONG Kanindé e outras. Pra fazer outros projetos de Reed em outras terras indígenas, ampliar pro estado todo.

     

    Porantim – Outros povos estão se envolvendo com o mercado de carbono em Rondônia? Qual é a posição do governo?

    Henrique SuruíEstão preparando projetos também. O governo do estado está favorável. O Almir é apoiado pelo Estado.

     

    Porantim – Diante do contexto que você descreve, o que o povo Suruí pretende fazer?

    Henrique Suruí – Primeiro, nós nos reunimos no mês passado. Sabemos que este projeto dividiu o povo e quase acabou com a nossa vida. E entendemos que o povo é pra sempre e tem que vencer, apesar de toda esta situação. Depois, nunca mais pensar em carbono em nossa terra e, principalmente, nenhuma ONG fazer projeto em nome do povo Suruí. Vamos lutar pela nossa saúde, educação, nossa cultura. Vamos fazer. Acreditamos que apesar da situação difícil que vivemos hoje, vamos vencer. Pensar o futuro do povo Suruí. Lutar pelos nossos direitos. Este projeto de promessa que vem de foram não dá futuro pra gente. Vamos voltar a ser Suruí novamente. Hoje é muito difícil dizer que estamos unidos. O projeto trouxe uma divisão muito grande. Não é qualquer liderança que pode organizar o povo Suruí novamente e que pode dizer para voltar a ser Suruí. Povo Suruí desacreditou liderança com projeto enganoso que iludiu a gente. Tá difícil. Lideranças velhas não conseguem acreditar e ficam com depressão. E muitas pessoas que foram responsáveis, que acreditaram no projeto, não querem conversa com ninguém. Não acreditam em mais nada. Nem eu acredito ainda no que aconteceu.

     

    Porantim – Hoje, como você definiria o mercado de carbono?

     Henrique Suruí – Projeto de carbono pra nossa terra é pra tirar a vida do povo Suruí. Vai tirar a sua vida de felicidade, de direito de viver em cima da sua terra. Se você está feliz hoje e vê a destruição na sua vida, é difícil. É uma bomba pra vida de qualquer ser humano. O que tá acontecendo com a gente não é fácil. O que aconteceu com povo Suruí é uma história pro resto da vida e para o mundo… pra que nenhum indígena faça este tipo de projeto em sua terra, porque a terra dá a vida, a floresta dá a vida, pra nós plantar e colher. Faço votos que nenhum outro povo aceite um projeto desses. Pra que querer projetos que destroem a vida?

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  • 09/12/2014

    Fazendeiro liga para Kaiowá e marca horário para segundo ataque à comunidade em menos de 24 horas; jovem indígena segue desaparecida

    Menos de 24 horas depois de um grupo armado atacar a área de retomada do Tekoha – lugar onde se é – Tey’Juçu, município de Caarapó, Mato Grosso do Sul, liderança dos Kaiowá e Guarani da comunidade afirma ter recebido uma ligação do proprietário da Fazenda Burana, que incide sobre a terra indígena, onde o sujeito marcou para esta terça-feira, 9, entre 14 e 15 horas, novo ataque contra os indígenas. “Ofereceu dinheiro para sairmos e quando eu disse que não aceitaria ele anunciou o ataque”, diz Edson Chamorro Guarani Kaiowá. A agressão com hora marcada poderá acontecer na sequência do desaparecimento de uma jovem indígena, durante o primeiro ataque ocorrido ontem.    

     

    Na tarde desta segunda-feira, 8, por volta das 16h30, o grupo armado chegou à retomada descendo de dezenas de caminhonetes, que cercaram os barracos improvisados. Conforme os relatos de indígenas vítimas da investida, capangas passaram a atirar contra a comunidade. Enquanto descarregavam suas armas, explica os Kaiowá e Guarani ouvidos pelo Cimi, os motoristas davam cavalos de pau para levantar poeira com o objetivo de desnortear os indígena. Nessa hora, afirmam os indígenas entrevistados, a jovem Julia Venezuela Almeida Guarani Kaiowá, de 17 anos, caiu depois de ser baleada. O ataque lembra o episódio que culminou com o assassinato do cacique Nísio Gomes Guarani Kaiowá (na foto, à esquerda), em 18 de novembro de 2011. Depois de assassinado, um consórcio envolvendo fazendeiros, advogados e uma empresa de segurança deram fim ao corpo do indígena depois de levá-lo numa caçamba de caminhonete. 

     

    “Eram todos hilux, carro de luxo, de fazendeiro. Chegaram e já foram atirando”, afirma Otoniel Guarani Kaiowá. A liderança estava na estrada quando viu a aproximação dos veículos – mais ou menos 40, na contagem dos indígenas. “No meio da poeira eu vi o corpo da guria ser arrastado e jogado na caçamba de uma das caminhonetes, que partiu em alta velocidade. Desde então ela está desaparecida e acho que morta”, explica Chamorro. O indígena é enfático ao dizer que não aceita nenhuma quantia para sair de Tey’Juçu. Do local os Kaiowá e Guarani foram expulsos há algumas décadas atrás. O avô de Julia, inclusive, foi assassinado em Tey’Juçu há 55 anos, período em começaram a ser expulsos do tekoha. Se chamava Vento Almeida.     

     

    “A sepultura dele ainda tá nesta terra”, afirma Leonardo de Souza Kunumi Jeroñtva, 2º cacique do Tekoha Tey’YiKue, que ao lado de Tey’Juçu compõe o território tradicional em processo de demarcação pela Funai. Naquelas terras o latifúndio é de soja. “A menina estava no campo de soja quando eles chegaram atirando. Eles deram vários tiros de revólver e levantaram muita poeira com as caminhonetes. Os parentes correram. Depois, viram quando a menina foi arrastada e colocada na caminhonete”, enfatiza os fatos Jeroñtya. A comunidade, inclusive, sabe quem atirou em Julia. “Disseram que ele fugiu da cidade. Foi a informação que conseguimos. Quero saber das autoridades agora”, denuncia.

     

    De acordo com ele, esta tragédia e as outras, como a morte e o desaparecimento de Nísio Gomes e do professor Rolindo Vera, acontecem porque o governo não defende os indígenas, nem os direitos que eles têm. “Estamos só por nós mesmos. Por isso que os fazendeiros fazem o que querem. Por isso que aconteceu este problema. Fico muito emocionado porque eles querem ver morrer todo indígena para poder pegar todas as terras das nossas aldeias”, desabafa Kunumi, abalado. O cacique do tekoha de Kunumi, Lourival Kaiowá, garante que agora é mais fácil todos os Kaiowá e Guarani saírem mortos da terra do que correndo dos fazendeiros e seus capangas. “Não nos vingamos, mesmo depois de nos terem matado tanto. O que a gente quer é a terra que os pais e avôs viveram e morreram. Querem nosso sangue, mas não queremos o sangue de ninguém. Apenas nossa terra, onde o pó dos antepassados esta misturado”, salienta Lourival.      

     

    A paralisação das demarcações de terras indígenas em todo o país tem tido efeitos cada vez mais trágicos nos territórios. As mesas de diálogo impostas pelo Ministério da Justiça, em detrimento da aplicação das leis, tampouco funcionam. Desta vez, o ataque aconteceu no Tekoha Tey’Juçu, onde cerca de 300 indígenas retomaram uma parte da sua terra tradicional, no último domingo, 7, motivados pelo desmatamento realizado pela usina sucroalcooleira Nova América. O próximo tem data e hora marcada. Até quando?

    Leia mais: Contra derrubada de árvores, grupo Kaiowá retoma área de território tradicional no MS

     

     

     

     

  • 09/12/2014

    Nota do Cimi em apoio à paralisação dos trabalhadores da EBC

    O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) manifesta apoio à paralisação de 24 horas dos trabalhadores da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), nesta terça-feira, 9, nas cidades de São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro e São Luís.

    A pauta dos trabalhadores e trabalhadoras é a aprovação de um novo plano de carreiras. Segundo os servidores da EBC, os empregados precisam trabalhar mais de 100 anos para alcançar um plano de carreira e os pisos salariais estão entre um dos piores do serviço público, a avaliação de desempenho não tem método justo nem critérios claros e os mecanismos de gratificação são arbitrários.

    Entendemos que comunicação pública só é possível com autonomia e trabalhadores valorizados, uma comunicação que seja capaz de levar informação de interesse público e de forma contextualizada.

    A Rádio Nacional da Amazônia dá voz para os povos indígenas da Amazônia brasileira, povos que sofrem constantes ataques de mineradoras, madeireiros e dos projetos desenvolvimentista do governo federal. O programa Amazônia Brasileira talvez seja a única forma de levar comunicação para comunidades indígenas e quilombolas espalhados pelo norte do país.

    A TV Brasil oferece uma ampla programação de artística e cultural, também valorizando a diversidade cultural do país promovendo a cidadania. Os jornalistas da Agência Brasil estão presentes nas pautas dos povos originários, tradicionais e comunidades ribeirinhas, nas suas reivindicações e resistências.

    A paralisação dos trabalhadores da EBC visa sensibilizar a diretoria da empresa, o governo federal e a sociedade para a importância do processo e para a pauta dos empregados. Entendemos que o fortalecimento da comunicação pública passa necessariamente pela promoção da sua autonomia e pela valorização dos seus trabalhadores.

     

    Conselho Indigenista Missionário

    Brasília, 9 de dezembro de 2014

     

     

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  • 09/12/2014

    Munduruku, ribeirinhos e pescadores se unem contra Complexo Hidrelétrico do Tapajós

    “Me disseram que o leilão da primeira usina ficou para o ano que vem, mas não consultaram a gente”, diz cacique Juarez Saw Munduruku. O ribeirinho Francisco Firmino, mais conhecido como Chico Caititu, reage: “Onça não avisa não quando ataca. A gente sabe quando ela está por perto pela catinga forte da danada”. Convencidos das manobras do governo federal para erguer sete usinas no rio Tapajós e em um de seus afluentes, o Jamanxim, ribeirinhos e indígenas fortalecem a cada dia uma aliança contra o projeto, que compõe o complexo hidrelétrico. A eles se unem ainda trabalhadores e trabalhadoras, pastorais, organizações ambientais, coletivos e movimentos sociais de Belém, Altamira, Santarém, Itaituba e Jacareacanga. O Pará e a Amazônia estão mais uma vez na alça de mira de empreendimentos megalomaníacos, tão grandes quanto as violações aos direitos humanos e da natureza que proporcionam.

    Durante as últimas semanas, mobilizações contrárias ao complexo hidrelétrico se intensificaram. Os munduruku realizam a autodemarcação da Terra Indígena Sawré Muybu, que deverá ser inundada pelas usinas, e ocuparam ainda a sede da Funai de Itaituba. O Greenpeace, em parceria com os indígenas, divulgou ao mundo um protesto pedindo o Tapajós Livre.

    Leia mais: Povo Munduruku ocupa sede da Funai de Itaituba para exigir a demarcação da TI Sawré Muybu

    Nos programas televisivos e radiofônicos regionais, o assunto é alvo de matérias e comentários. “Muita gente me procura e pergunta se essas usinas realmente serão uma coisa boa. Quem tem parentes ou anda por Altamira sabe que não. Belo Monte foi um desastre para a cidade. Nos municípios do Tapajós não será diferente, num maior ou menor grau”, explica padre Edilberto Sena, integrante do movimento Tapajós Vivo. Morando em Santarém, o religioso está convicto de que com as usinas se intensificará a entrada de mais mineradoras, latifúndios e madeireiras na floresta afetando de forma contundente as populações tradicionais. Não se trata, portanto, apenas de gerar energia. “Existe uma luta história aqui, que vem desde a Cabanagem (1). Precisamos reviver estas alianças e resistir”, defende. 

    No final do mês de novembro, esta aliança promoveu uma caravana de barcos rumo à comunidade de São Luiz do Tapajós, às margens do rio e próxima a Itaituba. No local pediram um Tapajós Livre de barragens. O governo pretende erguer a primeira usina do complexo, de mesmo nome do povoado ribeirinho, pouco acima da comunidade. O leilão a que se referiu cacique Juarez será para tal usina. “A Amazônia está morrendo de inanição. Suas veias e vísceras estão abertas. Os povos estão sendo pisados. Deixaram o papel de sujeitos da história para dar lugar aos grandes empreendimentos. Não podemos ficar parados. Somos guardiões e não donos da floresta”, afirma o Bispo do Xingu e presidente do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Dom Erwin Kräutler durante ato político da caravana. Para o bispo, há quase meio século no Xingu, não resta alternativa: é preciso resistir.

    “Eu acuso o governo de desrespeitar e passar por cima da gente, tratando os povos da Amazônia como uma categoria rebaixada de pessoas. Aqui pretendem explorar à exaustão os recursos naturais como se fosse um quintal, uma província do próprio país. Primeiro foi a expansão da fronteira agrícola, depois de retirada da madeira, a extração de minérios e agora a questão energética. Nunca isso foi bom para o povo daqui”, ataca Kräutler. Companheira de lutas do bispo no Xingu, Antônia Melo, principal referência do movimento Xingu Vivo Para Sempre, lembrou, em carta endereçada ao encontro, que a UHE Belo Monte só levou desgraça à população de Altamira, nenhuma comunidade foi consultada e as promessas do governo federal não se concretizaram. A tendência da novela se repetir no Tapajós é grande.

    Antes do monstrengo começar a ser erguido no Xingu, o ministro da Presidência da República Gilberto Carvalho afirmou que o governo não abriria mão de Belo Monte, mas que não repetiria os mesmos erros apresentados nas construções das barragens de Jirau e Santo Antônio, no rio Madeira (RO). Conforme o ministro, o Estado chegaria antes.

    Leia mais:Governo não abre mão de Belo Monte, diz ministro  

    Recentemente, também em entrevista à imprensa, Carvalho disse que o governo não abrirá mão do complexo de usinas no Tapajós, mas que não será cometido os mesmos erros de Belo Monte, repetindo o discurso: o Estado chegará antes.

    Leia mais: Não abriremos mão de construir Tapajós, diz ministro 

    “Dizer que isso é fato consumado viola o direito dessas populações tradicionais e viola o próprio processo de consulta prévia. É também um desrespeito à própria Justiça, pois a decisão judicial determina a consulta prévia, e queremos que ela seja feita de forma verdadeira”, afirma o Procurador da República no Pará, Felício Pontes. O procurador lembrou ainda do assassinato de Adenilson Kirixi Munduruku, em 2012, durante operação da Polícia Federal. Um delegado atirou nas pernas do indígena e depois na nuca, de acordo com exame cadavérico realizado a pedido do Ministério Público Federal (MPF): “Adenilson foi executado e execução é assassinato”, diz Pontes.  

    Conforme trecho do manifesto da caravana (leia na íntegra abaixo), “(…) Para essas absurdas obras o governo federal falsifica diálogos, violenta a constituição nacional (como foi a dita desafetação de 10 mil hectares de floresta do Parque Nacional da Amazônia, feita por medida provisória), a ausência de consultas prévias e audiências púbicas de faz de conta. Nos momentos em que o povo Munduruku manifestou resistência, o governo enviou 200 militares da Força Nacional, armados de metralhadoras e helicópteros numa demonstração, sem rodeios, da ditadura do governo dito democrático”.  

     Assista ao vídeo da ação em São Luiz do Tapajós


    MANIFESTO CONTRA AS HIDRELÉTRICAS NA AMAZÔNIA: ESTE RIO É NOSSA VIDA NINGUÉM TEM DIREITO DE VIOLENTÁ-LO

    Movimento Tapajós Vivo e Pastoral Social da Diocese de Santarém

    A bacia hidrográfica da Amazônia (do Rio Tapajós) é um dom de Deus e da mãe natureza. É patrimônio do povo. Nossos antepassados cuidaram dela, usufruíram dela e sempre a preservaram. A mãe natureza tem sido generosa com todos que dela precisam. O Rio Tapajós, por exemplo, é estrada, cozinha, banheiro e beleza para todos que o procuram com bons modos.

    Infelizmente nos últimos 70 anos começou uma onda de violências tanto aos Grandes Rios, como às florestas de seu entorno e a seus povos tradicionais. Aqui na bacia do Tapajós primeiro foram os garimpos de ouro, com os desmanches de barrancos, suas corruptelas e derrame de mercúrio venenoso; em seguida vieram as balsas com seus mergulhadores e, mais recente, chegaram as dragas, verdadeiros dragões que violentam intensamente o belo Tapajós, prejudicam os ribeirinhos e também o povo Munduruku. O Tapajós que já foi azul e transparente hoje está barrento e sujo. Poluído e envenenado.

    Mais grave do que as violências dos garimpos, chega o chamado, pelo governo federal, Complexo Tapajós. Um conjunto destruidor de sete mega barragens, sendo a primeira com 36 metros de altura e sete quilômetros de extensão a barragem de São Luiz do Tapajós. Mas não só, o tal complexo Tapajós inclui 12 barragens no Rio Juruena e quatro barragens no Rio Teles Pires, ambos no Mato Grosso, mas estes formam as nascentes do rio Tapajós.

    Para essas absurdas obras o governo federal falsifica diálogos, violenta a constituição nacional (como foi a dita desafetação de 10 mil hectares de floresta do Parque Nacional da Amazônia, feito por medida provisória), a ausência de consultas prévias e audiências púbicas de faz de conta. Nos momentos em que o povo Munduruku manifestou resistência, o governo enviou 200 militares da Força Nacional, armados de metralhadoras e helicópteros numa demonstração, sem rodeios, da ditadura do governo dito democrático. Como a presidente já afirmou uma vez – “o que tem que ser feito será feito, doa a quem doer”. Na Amazônia, os que se dizem “representantes do povo” ignoram os 30 milhões de habitantes que aqui vivem: ribeirinhos, indígenas, quilombolas, migrantes, moradores de periferias das cidades. Estes são tidos apenas obstáculos ao crescimento do Brasil. Para eles interessa a Amazônia dos minérios, das madeiras, do agronegócio e dos rios com potência para gerar energia hidroelétrica. Isto não ético, não é lícito e é imoral.

    Por tudo isso, nós participantes desta ação político-religiosa realizada exatamente na região onde o governo pretende levantar a barragem São Luiz, trazemos as vozes de todos os habitantes que poderão ser altamente prejudicados e que não puderam estar aqui neste momento. Em nome de todos e todas, denunciamos ao Supremo Tribunal Federal, ao Congresso Nacional, denunciamos à Organização das Nações Unidas, (ONU) à Organização dos Estados Americanos, (OEA) à União das Nações da América do Sul, (UNASUL) à Organização Internacional do trabalho (OIT) esses crimes hediondos programados contra os povos da Amazônia e em especial aos povos tradicionais da bacia do rio Tapajós.

    Exigimos do governo brasileiro, respeito aos nossos direitos humanos, respeito à Mãe Natureza, respeito à Constituição Nacional e respeito ao nosso Rio Tapajós. Pare com essas hidroelétricas destruidoras de nossas vidas.

    Não aceitamos tais violências e vamos resistir unidos: Povo Munduruku, Ribeirinhos, pescadores, Moradores das comunidades ameaçadas e moradores das cidades servidas pelo belo rio Tapajós. Conosco vários aliados que mesmo não vivendo aqui na região, são solidários e defensores dos direitos humanos de todos os povos.

    Subscrevem este manifesto o Movimento Tapajós Vivo e a Pastoral Social da Diocese de Santarém

    (1)   Cabanagem: revolta social ocorrida entre 1835 e 1840, durante o Império, quando indígenas e negro tomaram o poder do então chamado Grão-Pará

     

      

           

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  • 08/12/2014

    Indigenas Memortunré Canela morrem por falta de assistência à saúde

    Seis pessoas do povo Memortunré Canela, no Maranhão, morreram em novembro com o vírus Influenza A, H1N1. Destas, quatro eram crianças. A epidemia apresenta sinais desde julho deste ano, mas não foi realizado nenhum trabalho preventivo ou de tratamento entre a comunidade.

    Outras duas pessoas apresentam sintomas de tuberculose. É necessário realizar exames de busca ativa para constatar a suspeita ou identificar outros casos de doenças que podem contribuir no agravamento da situação.

    Os indígenas Memortunré Canela estiveram reunidos em meados de novembro em Brasília com Daniel, chefe do gabinete de Antônio Alves, atual secretário da Secretaria Especial de Saúde indígena (Sesai). Na ocasião eles já denunciavam a situação de descaso no atendimento à saúde junto aos Memortunré Canela.

    Já foram realizadas várias reuniões para tentar solucionar o problema que atinge o povo, mas sem sucesso. Portanto, para que o Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) no Maranhão possa realizar um trabalho com mais consistência faz-se necessário perder vidas.

    Memortunré Canela

    Os mais de dois mil indígenas Memortunré vivem em uma área de 125.212 hectares, transição entre floresta amazônica e o cerrado, a 8 km do município de Fernando Falcão, centro-sul e centro-oeste Maranhense. Sua aldeia tem o formato circular e tudo que eles conseguem é partilhado entre a comunidade. Pertencem à família linguística Jê, vinculada ao Tronco Macro-Jê.

    O povo Memortunré Canela é hospitaleiro, amigo e muito cuidadoso com os membros de sua comunidade. Essas características têm impulsionado os indígenas a lutar contra a precariedade na assistência à saúde, realidade que há tempo o povo denuncia.

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

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