• 08/09/2015

    Resistência Guarani e Kaiowá e as novas ofensivas contra os direitos indígenas no MS

    As conquistas sociais e humanas que obtivemos nas últimas décadas, e das quais nos orgulhamos hoje, resultaram de processos intensos de luta e de resistência. Não foi a espera passiva e acomodada que nos levou, por exemplo, ao fim da ditadura. Ao contrário, foi o ato de contestar e de reclamar justiça que contribuiu para que ruíssem os alicerces do regime militar. Não foi a aceitação da violência e da injustiça contra mulheres que nos conduziu às normativas que resguardam os direitos femininos, e sim a luta corajosa e aguerrida de mulheres, que enfrentaram a ira implacável de quem detinha o poder.

    Em especial, não foi o sentimento de subserviência que assegurou conquistas estabelecidas na Constituição Federal de 1988, que ficou conhecida como constituição cidadã. O capítulo “Dos Índios”, no qual se definem as regras do relacionamento do Estado Brasileiro com os povos indígenas, resultou de uma intensa luta e de um desejo coletivo de promover a justiça e estabelecer as bases de uma democracia que se pretendia duradoura e regida pela ética.

    Mas o reconhecimento do direito indígena às culturas, às terras tradicionalmente ocupadas e aos modos próprios de organização social, embora estabelecidos em nossa lei maior, não se efetivam compulsoriamente. Cada território ancestral tem sido conquistado palmo a palmo e através de muita luta. Estas terras são disputadas, contestadas, reclamadas por particulares ou pelo poder público para a construção de empreendimentos considerados urgentes para promover o desenvolvimento nacional e regional.

    A coragem e a resistência indígena tem assegurado, em parte, a implementação da lei. Mas o preço para quem protagoniza estas lutas tem sido alto – nas últimas décadas, muito sangue indígena banhou o chão, muito sofrimento dobrou seus corpos, muito preconceito ganhou expressão em canais midiáticos, sustentando-se na arrogância e na intolerância de setores do agronegócio. Tem sido assim em diversos estados do Brasil. Em Mato Grosso do Sul, especialmente, a violência é marca registrada.

    Desde da década de 1980 o Conselho Indigenista Missionário –Cimi divulga o relatório da violência contra os povos indígenas no Brasil. Em todos esses anos, Mato Grosso do Sul está no topo da lista de agressões contra indígenas, de assassinatos e de suicídios. Nos últimos 12 anos, os relatórios do Cimi registram 585 suicídios e 390 assassinatos em Mato Grosso do Sul.

    Informações como estas provocavam, há alguns anos, grande comoção e repercutiram fortemente em diferentes esferas sociais, oficiais e em meios de comunicação. Paradoxalmente, mesmo quando os números demostram aumentarem as ocorrências, estes dados não repercutem, o que indica a naturalização desta absurda realidade. 

    Os terríveis acontecimentos dos últimos dias envolvendo terras Guarani e Kaiowá, cujos procedimentos de demarcação estão avançados, trazem à tona um conflito intenso e silencioso que se estende há mais de uma década, pois sobre estas terras estão ainda instaladas fazendas.

    A coragem dos Guarani e Kaiowá para lutar pela vida (que para eles só se realiza plenamente no território) motivou retomadas de terra realizadas em 28 de agosto, no município de Antônio João, e em 2 de setembro no município de Douradina, Mato Grosso do Sul. Estas retomadas têm sido desqualificadas, e tratadas como atos de invasão por parlamentares e ruralistas da região, que ignoram o fato de serem eles os ocupantes (de boa ou de má fé) das terras tradicionais dos Guarani e Kaiowá.

    No município de Antônio João, a reação dos fazendeiros contra os Guarani e Kaiowá do tekoha Ñanderú Marangatú resultou no assassinato de Semião Vilhalva, um indígena de apenas 24 anos.  No município de Douradina, a violência dos produtores rurais se expressa veementemente: “Fotografias de projeteis e cartuchos de armas de fogo de diversos calibres, evidenciam os ataques desferidos contra os Guarani-Kaiowá na noite de quinta-feira, 03” além disso, mensagens veiculadas em redes sociais demonstram o planejamento de ações contra os índios (conforme nota divulgada pelo Cimi, no dia 5 de setembro).

    As famílias Guarani e Kaiowá retornaram, depois das investidas dos ruralistas, para o tekoha Guyra Kambi’y, a 35 km de Dourados, onde residem há mais de quatro anos. E mesmo estando em seu tekoha, durante todo o dia de sábado eles foram vítimas de ataques de milícias rurais. Os indígenas têm relatado as agressões sofridas e solicitado que os órgãos públicos – Funai, Ministério Público Federal – tomem as providências cabíveis. Eles informam que há um intenso movimento de caminhonetes a cerca de 250 metros da aldeia, que os homens que os ameaçam estão armados e que, na manhã de sábado, foram efetuados mais de 200 disparos para amedrontá-los. Relatam, inclusive, que uma retroescavadeira foi deslocada até as proximidades da aldeia, possivelmente para destruir suas casas e pertences, caso as famílias recuassem amedrontadas.

    Apesar da intensidade da violência (protagonizada por grandes fazendeiros e por seus jagunços), e dos insistentes contatos dos indígenas para relatar as agressões que se estenderam por todo o dia, foram tímidas as ações oficiais para coibir a ação criminosa e a ameaça à vida de homens, mulheres, crianças e anciãos que se encontram no tekoha.

    No final da tarde deste sábado, 05, com a mediação do vice-prefeito de Douradina, José Ailton Nunes, do cacique Ezequiel e do presidente do sindicato rural da região, estabeleceu-se um acordo de trégua e os ruralistas deixaram temporariamente as imediações do tekoha.

    É importante dizer que as recentes ações de violência decorrem da omissão do governo, uma vez que este não finaliza os procedimentos de demarcação e não assegura a posse e usufruto exclusivo dos povos indígenas. Com isso, o governo assume o risco do conflito, assume o risco de morte dos indígenas, assume a responsabilidade pelas agressões. A omissão, neste caso, é o mesmo que conivência com as ilegalidades que se praticam e que envolvem interesses sobre as terras.

    As retomadas feitas pelos Guarani e Kaiowá são uma forma de dizer um basta à paralização nos procedimentos demarcatórios e à violência silenciosa e cotidiana. Retomar a terra é atitude cidadã daqueles que, sustentados por um direito legítimo, dão um passo na direção de sua efetiva garantia, uma vez que o governo se mostra omisso.

    Alguns poucos têm criticado as ações dos Guarani e Kaiowá. Esses não entendem que as retomadas são também uma forma de escancarar a situação em que vivem, a beira de rodovias, sob o risco de serem atropelados, com suas crianças sofrendo de desnutrição, muitos sendo assassinados. As retomadas expressam o desejo de mudança, e para reverter esta situação precisam de seus tekoha.

    Na história brasileira, usualmente se reconhece a coragem de personagens e a legitimidade de movimentos sociais que ergueram seu brado contra a opressão – homens e mulheres que lutaram contra o regime escravocrata, que ousaram imaginar um Brasil sem autoritarismo, que construíram as bases cidadãs e democráticas que nos regem hoje, e que, hoje, lutam para que a pluralidade de formas de pensar e de viver seja reconhecida.

    Saudemos, pois, os Kaiowá e Guarani que, em sua incansável resistência, atestam que a democracia é fruto de conquista e que a lei existe para ser cumprida e não para permanecer como princípio abstrato, ou para ser flexionada a partir dos interesses de quem dispõe de maior poder econômico.

    Apoiemos, neste momento, as lutas destes corajosos homens e mulheres! Não nos cabe, em momentos como este, a indiferença. Não cabe ao governo federal a omissão que, no contexto de conflito instaurado em Mato Grosso do Sul, significa conivência com aqueles que sentenciam os indígenas à morte. Que se promova a justiça através da imediata desintrusão das terras Guarani e Kaiowá.

    1. Iara Tatiana Bonin é professora do Programa de Pós-graduação em Educação da Ulbra

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  • 05/09/2015

    Depois de acordo, fazendeiros e capangas encerram o cerco à comunidade de Guyra Kamby’i

    No final da tarde deste sábado, 05, o vice-prefeito de Douradina, José Ailton Nunes, intermediou um acordo entre os Guarani e Kaiowá e os fazendeiros, que desde a última quinta-feira, 3, atacam a comunidade do tekoha Guyra Kamby’i. Na conversa, ficou acertado que as 20 famílias indígenas permanecerão na área de dois hectares, ocupada há quatro anos, e que os capangas, pistoleiros e fazendeiros encerrariam o cerco às imediações da aldeia.

    Lideranças indígenas confirmaram, no final da noite, que o bando subiu nas dezenas de camionetes, usadas nas ações violentas contra os Guarani e Kaiowá, e evadiu-se. A comunidade, porém, segue em estado de atenção.  

    Um novo ataque de fazendeiros ocorreu na manhã deste sábado, 5, contra a comunidade Guarani e Kaiowá do tekoha – lugar onde se é – Guyra Kamby’i, Distrito de Bacajá, cidade de Douradina,a 30 km de Dourados (MS). Os indígenas não apresentaram resistência e recuaram para esta área de dois hectares, retomada há quatro anos e onde organizaram uma aldeia: até o pouco espaço deixar a vida insustentável e confinada. O ataque aconteceu uma semana depois do assassinato de Semião Vilhalva, durante investida de fazendeiros contra o tekoha Ñanderú Marangatú.  

    Leia mais: Ruralistas ignoram abertura de inquérito e voltam a atacar famílias Guarani e Kaiowá no Mato Grosso do Sul

    Desde a noite de sexta-feira, 4, conforme a imprensa do Mato Grosso do Sul, a área em que os Guarani e Kaiowá de Guyra Kamby’i estavam vinha sendo alvo de atentados. Para o local os indígenas recuaram depois de ataques a tiros e incêndio provocados pelos fazendeiros na quinta-feira, 3, destruindo de forma completa o acampamento erguido pelos Guarani e Kaiowá durante retomada no meio da semana. Os ruralistas queriam os indígenas fora daquilo que eles afirmam ser propriedades rurais produtivas, empurrando-os ainda mais para fora da terra indígena.

    Guyra Kamby’i é uma terra indígena identificada pela Funai, mas o procedimento demarcatório encontra-se paralisado. Confinados em dois hectares, e sem nenhum sinal de finalização da demarcação pelo governo federal, os Guarani e Kaiowá de Guyra Kamby’i optaram pelas retomadas de porções da terra indígena, ocorridas durante esta semana. Exatamente em tais retomadas a violência ruralista se concentrou nesses últimos três dias.

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  • 05/09/2015

    Ruralistas ignoram abertura de inquérito e determinações da Justiça e voltam a atacar famílias Guarani e Kaiowá no Mato Grosso do Sul

    Durante a última noite, dia 04, e ao longo manhã deste sábado, 05, os ataques promovidos por milícias rurais contra famílias Guarani e Kaiowá do tekoha (lugar onde se é) Guyra Kambi’y, localizado entre os municípios de Douradina e Itaporã, a 35 km de Dourados, no Mato Grosso do Sul, continuaram fortes e intensos. Apesar disso, não há sinalização de deslocamento de forças de segurança para a região até o presente momento.

    Os indícios de que haveria continuidade das ações paramilitares, levadas a cabo por grandes fazendeiros, seus jagunços e sindicalistas rurais, foram amplamente evidenciados desde a manhã desta sexta-feira, 04. Enquanto fotografias de projeteis e cartuchos de armas de fogo de diversos calibres, evidenciam os ataques desferidos contra os Guarani-Kaiowá na noite de quinta-feira, 03, mensagens trocadas em redes sociais, advindas, sobretudo de dirigentes de sindicatos rurais, demonstram o planejamento de ações contra os índios. O fato gerou a instauração de um inquérito por parte do Ministério Público Federal (MPF), anunciado na tarde desta sexta-feira, com finalidade de investigar a formação de milícia privada por parte de produtores rurais.

    As ações milicianas desrespeitam o pacto estabelecido com o Ministério da Justiça, na quarta-feira, dia 02. Desrespeito que parece ser intencional e deliberado uma vez que, segundo os indígenas, alguns fazendeiros foram enfáticos em afirmar que para “a ação contra os índios não seriam constituídos advogados”, uma vez que “os produtores não creditam mais na justiça”. 

    Por volta das 19 horas desta sexta-feira, 04, diligências da Polícia Federal e da força tática da Brigada Militar foram até o local. Ao encontrarem um grupo amplo de produtores organizados, os policiais realizaram a qualificação dos produtores rurais no inquérito instaurado. Mesmo assim, logo após o retorno das diligências policiais para a cidade de Dourados, os ataques armados recomeçaram contra os Guarani e Kaiowá.

    Foram mais de duas horas de muitos disparos e investidas de fazendeiros que avançaram contra os indígenas com um grande número de caminhonetes, decretando novamente, às margens da lei, uma noite de terror para as famílias de Guyra Kambi’y. Com muita dor e medo, avaliando a situação de alto risco e sem nenhuma perspectiva de segurança, os indígenas abalados tiveram de deixar a pequena área retomada há quatro dias, que fica localizada dentro de seu próprio território tradicional. Os Guarani e Kaiowá regressaram para a aldeia de apenas dois hectares onde vivem há mais de quatro anos.

    Mesmo com o recuo dos indígenas, os ataques paramilitares ruralistas não cessaram ficando ainda mais perigosos, visto estarem sendo praticados contra a pequena sede do tekoha onde os indígenas encontram-se agora confinados. Os indígenas denunciam que fazendeiros, assim como nas duas noites anteriores, estão novamente organizados, armados e já voltaram a efetuar disparos contra as famílias indígenas neste sábado, 05. Denunciam também que a força tática esteve, no início da tarde de hoje, noutro tekoha bastante próximo, porém, bateram em retirada negando-se em realizar a segurança das famílias de Guyra Kambi’y que está novamente sobre ataques.            

    Há três dias, o Cimi e muitas outras organizações da sociedade civil brasileira cobram, junto ao Ministério da Justiça, o envio e a permanência de força de segurança no local dos ataques paramilitares. No entanto, até a tarde deste sábado, 05, as milícias rurais continuam agindo, com liberdade, inclusive à luz do dia, à revelia do Estado democrático e de direito.

    Brasília, DF, 05 de setembro de 2015.

    Cimi – Conselho Indigenista Missionário

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  • 05/09/2015

    Uma semana depois do assassinato de Semião Vilhalva, fazendeiros voltam a atacar Guyra Kamby’i

    Um novo ataque de fazendeiros na manhã deste sábado, 5, contra a comunidade Guarani e Kaiowá do tekoha – lugar onde se é – Guyra Kamby’i, Distrito de Bacajá, a 30 km de Dourados (MS), foi informado pelas lideranças indígenas. As cerca de 20 famílias não apresentaram resistência e recuaram para uma área de dois hectares, retomada há quatro anos e onde organizaram uma aldeia: até o pouco espaço deixar a vida insustentável e confinada. O ataque acontece uma semana depois do assassinato de Semião Vilhalva, durante investida de fazendeiros contra o tekoha Ñanderú Marangatú.  

    Desde a noite de ontem, conforme a imprensa do Mato Grosso do Sul, a área em que os Guarani e Kaiowá de Guyra Kamby’i estavam vinha sendo alvo de atentados. Para o local os indígenas recuaram depois de ataques a tiros e incêndio provocados pelos fazendeiros na quinta-feira, 3, destruindo de forma completa o acampamento erguido pelos Guarani e Kaiowá. Na foto, cápsulas recolhidas pelos indígenas. Não foi o suficiente. Os ruralistas queriam os querem fora daquilo que eles afirmam ser propriedades rurais produtivas, empurrando-os cada vez mais para fora da terra indígena.

    O presidente do Sindicato Rural de Itaporã, Otávio Vieira de Mello, passou a sexta-feira convocando fazendeiros de toda a região e ameaçando os Guarani e Kaiowá, inclusive mandando mensagens para os servidores da Fundação Nacional do Índio (Funai) afirmando que o conflito seria inevitável. A situação chegou ao ponto do Ministério Público Federal (MPF) pedir a abertura de inquérito policial para apurar a convocação de fazendeiros de toda a região de Dourados para fazer a remoção forçada dos indígenas de Guyra Kamby’i.

    Na sequência do ataque anunciado, iniciado na noite de ontem com desfecho parcial na manhã deste sábado, fazendeiros, capangas e pistoleiros foram flagrados pelos indígenas bebendo e comemorando. Por isso, os Guarani e Kaiowá temem novos atentados, na medida em que os dois hectares onde se encontram agora estão em área onde uma fazenda incide. Guyra Kamby’i é uma terra indígena identificada pela Funai, mas o procedimento demarcatório encontra-se paralisado.  

    Confinados em dois hectares, e sem nenhum sinal de finalização da demarcação pelo governo federal, os Guarani e Kaiowá de Guyra Kamby’i optaram pelas retomadas desta semana de porções da terra indígena, das quais a violência ruralista os expulsou nesses últimos três dias. O Departamento de Operações de Fronteira (DOF) esteve na área, mas como em Ñanderú Marangatú sem evitar a violência dos ruralistas.  

    Para os Guarani e Kaiowá é urgente a presença das autoridades públicas em Guyra Kamby’i para garantir a segurança da comunidade. Os indígenas pedem o apoio da sociedade para enviar mensagens, telefonar ou deixar recados nas redes sociais para os seguintes órgãos públicos:

    Ministério da Casa Civil – Aos cuidados do ministro Aloizio Mercadante: imprensaccivil@presidencia.gov.br, (61) 3411-1410, twitter: @casacivilbr.  

    Ministério da Justiça – Ao ministro José Eduardo Cardozo: agenda.ministro@mj.gov.br, (61) 2025-3135, twitter: @JE_Cardozo, @JusticaGovBR, facebook: Ministério da Justiça;

    Corregedoria-Geral de Polícia Federal – Aos cuidados de Roberto Mário da Cunha Cordeiro: (61) 2024-8222, ou denuncie aqui em genocídio ou crime de ódio: http://denuncia.pf.gov.br/

    Secretaria-Geral da Presidência da República – Ao ministro Miguel Rossetto: sg@presidencia.gov.br (61) 3411.1224, twitter: @secgeralpr, facebook: Secretaria-Geral da Presidência da República.

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  • 04/09/2015

    Ruralista convoca fazendeiros para novo ataque e comunidade Guarani e Kaiowá solicita proteção às autoridades federais

    O dia seguinte ao ataque de fazendeiros contra o tekoha – lugar onde se é – Guyra Kamby’i, ocorrido na noite desta quinta-feira, 3, pode reservar mais violência contra a comunidade Guarani e Kaiowá. Sobretudo com um feriado pela frente. Conforme determinação de abertura de inquérito policial do Ministério Público Federal (MPF) do Mato Grosso do Sul, o presidente do Sindicato Rural de Itaporã, Otávio Vieira de Mello, tem convocado fazendeiros de toda a região de Dourados a fazer a remoção forçada dos indígenas de Guyra Kamby’i, localizada entre as cidades de Douradina e Itaporã. Na foto, é possível ver cápsulas recolhidas pelos indígenas.  

    De acordo com os procuradores do MPF, Mello estaria desde ontem, através de redes sociais, organizando o grupo para a ação. Pela manhã, o ruralista enviou uma mensagem aos servidores da Fundação Nacional Índio (Funai) afirmando que haveria novo “conflito” envolvendo produtores “de toda região”, não apenas de Douradina, repetindo a dose do ataque ocorrido na noite passada. Depois do ataque a tiros, capangas e pistoleiros atearam fogo ao acampamento dos indígenas, que recuaram, mas não saíram da terra indígena e por conta disso o ruralista anunciou a iminente nova investida.

    Nesse momento, centenas de famílias Guarani e Kaiowá, entre elas ao menos 50 crianças, estão acampadas em outra porção de Guyra Kamby’i, já identificada pela Funai como de posse tradicional dos índios. Conforme o apurado junto às lideranças, a decisão dos indígenas é de que não vão sair do local porque descartam a hipótese de regresso às margens da rodovia, pois há uma terra reivindicada e identificada para se viver com mais dignidade.

    Um servidor da Funai se dirigiu ao local do conflito, mas sem o acompanhamento de agentes da Polícia Federal. Como uma grande operação de combate ao tráfico de drogas foi desencadeada na manhã de hoje, envolvendo inclusive uma aldeia Guarani e Kaiowá dentro da cidade de Dourados, não havia homens suficientes para atender órgão indigenista estatal e proteger as famílias indígenas vilipendiadas na noite anterior.   

    A violência empregada pelos fazendeiros acontece menos de 48 horas depois da visita do ministro da Justiça José Eduardo Cardozo ao estado, onde um pacto de paz foi selado. Para os servidores da Funai, um risco de novo ataque é bastante elevado. Um dia antes dos fazendeiros barbarizarem a comunidade Guarani e Kaiowá de Ñanderú Marangatú, no último dia 29 de agosto, os servidores da Funai de Ponta Porã insistiam que algo grave poderia acontecer a qualquer momento. As autoridades federais não deram ouvidos e Semião Vilhalva terminou assassinado com um tiro no rosto e hoje o Exército está na região.

    Portanto, os Guarani e Kaiowá de Guyra Kamby’i solicitam que todos e todas peçam às autoridades o envio de forças policiais para que a comunidade não sofra novo ataque.

    Envie e-mail ou telefone para:

    Ministério da Casa Civil – Aos cuidados do ministro Aloizio Mercadante: imprensaccivil@presidencia.gov.br, (61) 3411-1410, twitter: @casacivilbr.  

    Ministério da Justiça – Ao ministro José Eduardo Cardozo: agenda.ministro@mj.gov.br, (61) 2025-3135, twitter: @JE_Cardozo, @JusticaGovBR, facebook: Ministério da Justiça;

    Corregedoria-Geral de Polícia Federal – Aos cuidados de Roberto Mário da Cunha Cordeiro: (61) 2024-8222, ou denuncie aqui em genocídio ou crime de ódio: http://denuncia.pf.gov.br/

    Secretaria-Geral da Presidência da República – Ao ministro Miguel Rossetto: sg@presidencia.gov.br (61) 3411.1224, twitter: @secgeralpr, facebook: Secretaria-Geral da Presidência da República;

      

              

     

     

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  • 04/09/2015

    Bancada do latifúndio insiste em aprovar a PEC 215

    Como se fosse um ato de provocação, apenas alguns dias depois do assassinato de Simião Vilhalba, um indígena Guarani-Kaiowá, no Mato Grosso do Sul, os deputados que atuam na Comissão Especial da PEC 215 realizaram uma reunião para discussão do substitutivo do deputado Osmar Serraglio (PMDB). Essa PEC é um desejo dos ruralistas que querem levar para o Congresso Nacional a decisão sobre a demarcação das terras indígenas, tirando do executivo esse poder. Todo o movimento indígena é contra essa proposta, pois é sabido o poder que a bancada da bala (dos latifundiários) tem no legislativo.

    Não bastasse tirar do executivo a prerrogativa de determinar a demarcação das terras indígenas, a lei que os ruralistas querem aprovar também possibilita a revisão de todas  as Terras Indígenas já demarcadas ao longo da história do país, o que já dá para imaginar a “farra” que está sendo preparada pelos fazendeiros. A nova PEC também garante ao congresso a possibilidade de decidir sobre a exploração de terras indígenas e seu arrendamento. Ou seja, a tal PEC 2015 abre as porteiras para que os territórios indígenas sejam utilizados ao bel prazer dos interesses dos fazendeiros, mineradores e outros tipos de exploradores de riquezas naturais. Aos índios seria tirado tudo, inclusive o direito à consulta.

    O parecer do deputado peemedebista se baseia num voto proferido pelo ministro do Superior Tribunal Federal, Gilmar Mendes, em 16 de dezembro de 2014, no qual ele nega aos Guarani-Kaiowá os direitos sobre a terra indígena Guyraroká. O deputado também faz referência a demarcação da terra Raposa Serra do Sol, que precisou de um violento embate para ser concretizado e que até hoje não é engolido pelos ruralistas.  

    Diz o deputado no seu relatório: Ninguém nega tenham sido os indígenas vítimas históricos das hordas pretensamente civilizatórias ou de colonização e até mesmo de pregadores religiosos. Todavia, sacrificados foram por diversas gerações, como outros povos também o foram, sob o influxo de circunstâncias em relação às quais nada se pode imputar aos nossos coetâneos. Querer que pequeno agricultor perca os recursos que, suada e legitimamente, ele e seus antepassados amealharam, ao longo de anos, a título de reparação de injustiças das quais não participaram, será , perpetrar-se contra ele nova injustiça.

    A pergunta que não quer se calar é: esses que bradam aos céus contra a opressão indígena estariam dispostos a abrir mão de todos seus pertences em prol da causa indígena? Que argumento moral tem essas pessoas para exigir que os que titularizam imóveis, centenariamente, na mais absoluta boa-fé, de tudo sejam privados, sem direito a qualquer centavo, se não demonstram o mesmo desprendimento? Não é possível que quem está a legislar não se subsuma à condição de atingido pela lei que prega, para então aquilatar o alcance das consequências de sua proposição.

    Há um princípio jurídico hodiernamente remarcado, que é o da razoabilidade. Pergunta-se, será razoável exigir-se de um cidadão que concorde, como um cordeiro, resignadamente, com que tudo o que tem lhe seja retirado? Somos uma Pátria laica, mas de maioria cristã. Questionamos: será cristão abordar-se famílias de agricultores e lhes determinar que desalojem suas moradias, adquiridas segundo as regras de direito, sob o manto do princípio da aparência de legalidade, e caminhem para o olho da rua?

    O deputado argumenta sobre as terras como se elas fossem mesmo ocupadas pelos pequenos produtores, pobres coitados enganados ao longo dos anos. Isso é um argumento falso. O número de pequenos proprietários que estão em terras indígenas é ínfimo e, no mais das vezes, eles são bastante propensos à negociação. O verdadeiro interesse está na defesa das terras griladas pelos hoje “fazendeiros”, os grandes proprietários que insistem em se apropriar das ricas terras indígenas, argumentando que os índios não precisam de tanta terra, e que eles sim são os que produzem a comida que alimenta a mesa da nação. Dupla mentira. Nem as terras indígenas são suficientes para os povos originários, nem os grandes fazendeiros produzem comida.

    O relatório do deputado Serraglio ainda fala de construção de conflitos, colocando na conta dos indígenas a culpa sobre a violência que eles mesmos sofrem. As vítimas sendo colocadas como as responsáveis pela sua dor. É um documento aviltante.

    Leia o documento na íntegra:

    (http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;jsessionid=208DD21966A4AF5A6BED55F133440408.proposicoesWeb2?codteor=1288819&filename=Tramitacao-PEC+215/2000)

    Na reunião de ontem os deputados acordaram que o relatório será discutido numa reunião que contará com a presença de um representante do STF, do Poder Executivo, e de um grupo de parlamentares de ambos os lados, os que são favoráveis e os que são contra. De qualquer sorte, o substitutivo segue caminhando e com a pressão dos fazendeiros há grandes possibilidades de ser votado na Comissão.

    Nesse sentido, é fundamental que o movimento social se aproprie do conteúdo dessa PEC, que conheça também o relatório do deputado peemedebista e que assuma uma posição firme na defesa dos povos indígenas, lutando contra a aprovação dessa proposta de emenda constitucional.

    Se a bancada ruralista aprovar essa nova lei vai ter início um levante violento no campo brasileiro. Os povos indígenas vivem há 500 anos no duro processo de resistência ao genocídio, à violência do estado, aos assassinatos provocados pela jagunçagem. Têm lutado pacificamente pelo seu território, realizando manifestações, marchas, reuniões. Mas estão com a paciência se esgotando. Os assassinatos sistemáticos de lideranças e o clima de guerra que tem sido criado pelos fazendeiros estão unificando os parentes de todas as etnias. Não haverá aceitação dessa PEC. Não haverá paz enquanto os grandes insistirem em se apropriar das terras indígenas.

    A luta está acesa e precisa da presença de todos os lutadores sociais. A causa indígena não é só dos índios. Todos são responsáveis pelo bem viver daqueles que são os verdadeiros donos dessa terra.

    Já basta de mentiras sobre o território. Não há necessidade de as famílias não índias abrirem mão de suas terras, nem há ameaça aos pequenos. Há terra demais no Brasil. E o que há é o interesse dos grandes em explorar as terras indígenas. O que os indígenas querem é a demarcação do seu território, da terra sobre a qual eles têm direito, que sequer chega a 12% do espaço nacional. Os fazendeiros – grandes proprietários  – detém mais de 60% das terras. Então que é que tem terra demais?

    Conheça o conteúdo: SUBSTITUTIVO A PROPOSTA DE EMENDA À CONSTITUIÇÃO Nº 215-A, DE 2000.

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  • 04/09/2015

    MPF/MS determina instauração de inquérito para investigar milícia privada de produtores contra índios

    Requisição de abertura de inquérito foi efetivada após convocação de produtores rurais para promover remoção forçada de indígenas de área ocupada. Ao lado: imagem de mensagem enviada hoje por rede social incita à violência contra índios.

    O Ministério Público Federal em Mato Grosso do Sul determinou instauração de inquérito policial para apurar possível prática de formação de milícia privada por fazendeiros. A determinação ocorreu após troca de mensagens em rede social do presidente do Sindicato Rural de Rio Brilhante, Luís Otávio Britto Fernandes, convocando produtores a promover remoção forçada de indígenas que ocupam área no Distrito de Bocajá, a 30 km de Dourados (MS), desde ontem (3). Os indígenas da etnia guarani-kaiowá reivindicam a área, que eles chamam de Guyrakamby’i.

    A investigação terá por base o artigo 288-a do Código Penal:

    – Artigo 288-a. Constituir, organizar, integrar, manter ou custear organização paramilitar, milícia particular, grupo ou esquadrão com a finalidade de praticar qualquer dos crimes previstos neste Código. Pena – reclusão, de 4 a 8 anos.

    Assessoria de Comunicação Social

    Ministério Público Federal em Mato Grosso do Sul

    (67) 3312-7265/ 7283

    www.prms.mpf.mp.br

    PRMS-ascom@mpf.mp.br

    www.twitter.com/mpf_ms

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  • 03/09/2015

    Guarani-Kaiowá são novamente atacados a tiros por fazendeiros no Mato Grosso do Sul

    Indígenas do tekoha Guyra Kambi’y. Fotos: Egon Heck.

    Ataque paramilitar ruralista desrespeita pacto pela paz firmado com ministro da Justiça, na tarde de quarta-feira

    Fazendeiros desferem novo ataque paramilitar na noite desta quinta-feira, 03, no estado do Mato Grosso do Sul, contra outro grupo Guarani-Kaiowá. O ataque dá-se contra o tekoha Guyra Kambi’y, localizado entre os municípios de Douradina e Itaporã, distante cerca de 30 km de Dourados. O fato ocorre apenas cinco dias após a investida criminosa organizada por fazendeiros, parlamentares e sindicalistas rurais contra a terra indígena de Nanderu Marangatu, no município de Antônio João, que culminou com o assassinato de Simião Vilhalva, 24 anos.

    Sob chuva de tiros advindos de uma milícia rural, os indígenas se esconderam como puderam em pequenas picadas de mato, estando até o momento impossibilitados de retornar até suas casas, onde teriam maiores possibilidades de proteção contra o fogo aberto pelos fazendeiros e jagunços.

    A pedido das famílias indígenas de Guyra Kambi’y, a Funai informou, em tempo hábil, a Polícia Federal de Dourados sobre o aglomeramento de caminhonetes e de um grupo armado nas imediações de onde se encontravam os indígenas. A Polícia Federal, porém, negou-se a prestar atendimento e garantir destacamento para realização de diligências e proteção dos indígenas.

    Para entender:

    Guyra Kambi’y é um tekoha (lugar onde se é) localizado dentro do território indígena de Lagoa Rica/Panambi, com extensão de 12.169 hectares, devidamente identificado, delimitado e reconhecido pelo Estado brasileiro, através da portaria nº 524, da Funai, de 12 de dezembro de 2012.

    Os Guarani-Kaiowá foram removidos, na década de 1940, da região onde está localizada hoje Guyra Kambi’y e deslocados para a reserva de Dourados. Em 2005, as famílias indígenas iniciaram um grande movimento de retorno e luta pela identificação de Lagoa Rica. Em 2008, após as retomadas de Guyra Kambi’y e Itay, terras indígenas que ficam dentro deste território maior, os estudos da Funai se iniciaram sendo conclusos em 2011 quando foi publicado o relatório antropológico que delimitou o território de Panambi/Lagoa Rica, com de 12.196 hectares.

    Após brigas judiciais travadas entre o órgão indigenista e o Sindicato Rural de Itaporã durante mais de três anos em que o procedimento demarcatório ficou suspenso, o Tribunal Regional Federal, 3ª. Região, decidiu, em 2014, por manter a determinação atual que garante os efeitos dos procedimentos demarcatórios de maneira plena. Desde 2008, mais de 15 famílias viviam enclausuradas em cerca de apenas dois hectares.

    Com a inércia do Governo em resolver a questão da demarcação, os indígenas retomaram, há dois dias, um pedaço mais amplo de seu tekoha Guyra Kambi’y. Ignorando as advertências e o acordo de paz firmado com o ministro da Justiça, nesta quarta-feira, 02, quando o mesmo esteve no MS, mais uma vez forças paramilitares ruralistas decidiram atacar as famílias Guarani-Kaiowá que buscam apenas sua sobrevivência. Não há notícias, no momento, sobre indígenas feridos.

    Brasília, 03 de setembro de 2015.

    Cimi – Conselho Indigenista Missionário

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  • 03/09/2015

    Ministro da Justiça tem 30 dias para decidir demarcação de terra indígena

    O Ministério Público Federal (MPF) em Mato Grosso do Sul obteve liminar na Justiça que obriga o ministro José Eduardo Cardozo a se posicionar, em no máximo 30 dias, sobre processo demarcatório da Terra Indígena Taunay-Ipegue, no pantanal sul-mato-grossense. O ministro deve analisar os estudos demarcatórios encaminhados pela Funai em 2009 e aprová-los ou rejeitá-los. Se Cardozo descumprir a ordem judicial, a União será multada em R$ 50 mil por dia.

    A Terra Indígena Taunay-Ipegue, com 6.461 hectares, fica em Aquidauana, a 150 km de Campo Grande, e é habitada por 5.500 indígenas da etnia Terena. Em média, são 6,8 hectares por família, quantidade de terra insuficiente, se ponderada a qualidade do solo da região, já localizada no Pantanal. Os estudos demarcatórios, iniciados em 1985, há mais de 30 anos, e finalizados em 2004, concluíram pela existência de um território tradicional indígena de 33.900 hectares.

     O decreto 1.175/96 determina que os estudos, encaminhados ao Ministério da Justiça, devem ser analisados em até 30 dias. O procedimento nº 08620.000289/85, referente à Terra Indígena Taunay-Ipegue, foi encaminhado pela Funai ao ministro em 25 de novembro de 2009. Desconsiderado o tempo em que liminar na Justiça suspendeu os estudos, de 13/08/2010 a 29/04/2014, o processo esteve à disposição do ministro Cardozo por pelo menos dois anos e dez meses, tempo 34 vezes superior ao prazo legal de 30 dias.

    A decisão judicial afirma que a omissão do ministro “reflete exatamente a necessidade da atuação do Poder Judiciário para fazer cumprir um direito constitucional espelhado na demarcação de terras indígenas, refletindo no direito de índios e não índios. São notórios os conflitos nas áreas rurais objeto de demarcação, inclusive com morte. Por outro lado, os não índios também sofrem consequências, diante das frequentes ocupações”.

    Conflito iminente

    O procurador da República Emerson Kalif Siqueira afirma que “um embate armado de grandes proporções é iminente e a tomada de posição pelo Ministério da Justiça, em cumprimento ao prazo legal para decidir, é indispensável e urgente”. Para o MPF, a lentidão na conclusão dos processos demarcatórios podem levar a conflitos como o ocorrido recentemente em Antônio João, no sul do estado, onde um indígena foi morto e dezenas ficaram feridos.

    Para o MPF, a demora na definição prejudica toda a sociedade. “Os produtores rurais ficam privados das indenizações devidas e dos reassentamentos de direito, que dependem dessa manifestação do ministro da Justiça. Os índios, por sua vez, continuam sem o pronunciamento conclusivo sobre os limites das terras, em reiterados embates com os agricultores e disputas internas em razão do espaço exíguo”.

     

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  • 03/09/2015

    Organizações exigem investigação da participação de parlamentares em reunião que resultou na morte de Guarani e Kaiowá

    Em nota pública, organizações indígenas e indigenistas pedem a investigação imediata da participação de fazendeiros e políticos ligados à bancada ruralista do Congresso Nacional na morte de Simião Vilhalva, liderança Guarani e Kaiowá assassinada no município de Antônio João, estado do Mato Grosso do Sul no último sábado (29/08). A presidente do Sindicato Rural do município, Sra. Roseli Maria Ruiz, os deputados federais Luiz Henrique Mandetta (DEM) e Tereza Cristina (PSB), além do senador Waldemir Moka (PMDB), estiveram presentes na reunião que incentivou produtores rurais a organizarem o ataque na comunidade indígena.

    Na hora do ataque, o deputado federal Luiz Henrique Mandetta chegou a postar nas redes sociais que “NA FRONTEIRA A CHAPA É QUENTE”, tendo apagado todos seus posts após cair por terra a versão que sustentava que Simião Vilhalva Guarani e Kaiowá já estivesse morto horas antes do ataque.

     

    NOTA PÚBLICA PELA INVESTIGAÇÃO DA MORTE DE SIMIÃO VILHALVA

    EXIGIMOS A INVESTIGAÇÃO IMEDIATA DA RESPONSABILIDADE DE TODOS OS PRESENTES NA REUNIÃO NO SINDICATO RURAL DO MUNICÍPIO DE ANTÔNIO JOÃO (MS) QUE ORGANIZOU ATAQUE AOS INDÍGENAS GUARANI E KAIOWÁ 

    Na manhã do dia 29 de agosto, um grupo de pessoas ligadas a produtores rurais, que disputam na justiça a propriedade da Terra Indígena Nhanderu Marangatu, esteve reunido na sede do Sindicado Rural do município de Antônio João para planejar um ataque à comunidade indígena que ocupa o local visando desalojá-los à força da área.  A área é reconhecida pelo Governo Federal como de ocupação tradicional do povo Guarani e Kaiowá, mas os efeitos da homologação foram suspensos por liminar concedida pelo STF há cerca de dez anos, gerando o impasse que adquire contornos cada vez mais dramáticos.

    Após a reunião na sede do Sindicato Rural, mais de 40 veículos chegaram na Terra Indígena   com pessoas armadas e equipadas com coletes à prova de bala. O resultado foi o assassinato do indígena Simião Fernandes Vilhalva, de 24 anos, com um tiro que atingiu seu crânio e saiu pela nuca, de acordo com as primeiras vistorias realizadas pela Polícia Federal.

    A reunião de proprietários rurais foi conduzida pela Sra. Roseli Maria Ruiz, presidente do Sindicato, e contou com a presença dos deputados federais Luiz Henrique Mandetta (DEM) e Tereza Cristina (PSB), além do senador Waldemir Moka (PMDB). O clima da reunião era de plena incitação à violência e foi dali que partiu a ordem de ataque, que foi precedido por uma onda de boatos plantados com a informação falsa de que os Guarani e Kaiowá haviam incendiado propriedades rurais e que invadiriam o município.

    Um dos mais ativos na campanha de difamação, o ruralista e ex-deputado federal Pedro Pedrossian Filho, usou premeditadamente imagens de um incêndio ocorrido no dia 24 deste mês na cidade de Capitán Meza, Paraguai, para reforçar a versão mentirosa de que os Guarani e Kaiowá estariam incendiando a região.

    No Facebook da advogada Luana Ruiz Silva, filha da presidente do Sindicato, lê-se a seguinte frase, postada às 13h do dia 29/08: “RETOMAMOS A FAZENDA. NO PEITO. NA RAÇA. NO GRITO. O CORPO DE ÍNDIO É CADÁVER DE 20 A 24 HORAS. É CADÁVER ANTIGO UTILIZADO COMO BANDEIRA”.

    As vistorias da PF no local, entretanto, encontram sangue no local exato do assassinato, descartando a hipótese de que Vilhalva já tivesse falecido horas antes.

    Os comentários dos seguidores da Sra. Ruiz Silva na mensagem acima mostram os efeitos da incitação ao ódio e a confiança na impunidade. Comentário do sr. Daniel Filipe Guiscem: “PELO MENOS MATOU O CABEÇA, O LÍDER, O ATIÇADOR. SE NÃO, FEZ MERDA!!”. Comentário do sr. Danilo Alves Correa Filho:“SENTA O DEDO! SE PRECISAR EM DUAS HORAS ESTOU AÍ. PRA MATAR E PRA MORRER”.

    O deputado Mandetta na hora do ataque chegou a postar nas redes sociais que “NA FRONTEIRA A CHAPA É QUENTE”, tendo apagado todos seus posts após cair por terra a versão que sustentava que Simião Vilhalva Guarani e Kaiowá já estivesse morto horas antes do ataque.

    As organizações abaixo assinadas exigem que todas as pessoas que participaram da reunião ocorrida no sindicato rural de preparação ao ataque à comunidade Guarani e Kaiowá tenham investigada a sua responsabilidade criminal na morte de Simião Fernandes Vilhalva.

    Qualquer um que tenha incitado o ataque armado aos indígenas é responsável pelo disparo que tirou a vida de Vilhalva e tanto as gravações da referida reunião quanto o histórico das manifestações dos presentes nas redes sociais precisam ser objeto de análise pericial.

    Não é aceitável que o Estado Democrático de Direito conviva com grupos paramilitares atuando livremente para perseguição de cidadãos brasileiros como se estivéssemos no período colonial e se pudesse declarar guerra aos indígenas, não só os primeiros habitantes desse continente, mas parte integrante da atual nação brasileira.

    ASSINAM:

    Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB)

    Associação Brasileira de Antropologia (ABA)

    Centro de Trabalho Indigenista (CTI)

    Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo (CJP-SP)

    Comissão Pró-Índio de São Paulo (CPI-SP)

    Conselho Indigenista Missionário (CIMI)

    Grupo Tortura Nunca Mais (GTNM-SP)

    Índio É Nós

    Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB)

    Instituto de Pesquisa e Formação Indígena (IEPE)

    Instituto Socioambiental (ISA)

    Rede de Cooperação Amazônica (RCA)

    Uma Gota no Oceano

     

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