• 10/09/2015

    Ação requer destinação de área para índios e indenização para fazendeiros

    União contrariou a Constituição ao expulsar índios de terras tradicionais e doá-las para colonos

    O Ministério Público Federal em Mato Grosso do Sul (MPF/MS) ajuizou ação requerendo a nulidade de títulos de propriedade que incidam sobre a Terra Indígena Panambi-Lagoa Rica, localizada na região de Dourados, a 230 km de Campo Grande. O MPF pede que a União indenize os proprietários rurais que tiverem seus títulos declarados nulos e garanta a posse da área para os indígenas Guarani-Kaiowá. Caso a medida seja descumprida, o MPF pede multa diária de mil reais.

    Para o MPF, os títulos das propriedades devem ser considerados nulos porque foram concedidos contrariando a Constituição da época (1934), que vedava transferência de terras ocupadas por comunidades indígenas.

    No caso de Panambi-Lagoa Rica, essa titulação ocorreu principalmente por força do Decreto nº 5.941, de 28 de outubro de 1943, que criou a Colônia Agrícola Nacional de Dourados. O decreto tornou disponível uma área de 300 mil hectares, ao sul do atual Mato Grosso do Sul. Após a distribuição dos títulos aos colonos, houve a expulsão dos indígenas de suas áreas tradicionais e o consequente confinamento em uma área de 240 hectares.

    Hoje, os Guarani-Kaiowá de Panambi-Lagoa Rica ocupam três pequenas parcelas do seu território tradicional, cerca de 300 hectares, todas inseridas na área de 12.196 hectares que foi reconhecida como de ocupação tradicional indígena pela Funai (Portaria nº 524 de 12/12/2011).

    Embora a indenização dos proprietários pelo valor da "terra nua" seja proibida pela Constituição, o MPF argumenta que a indenização "não decorre da nulidade dos títulos de terra mas do dano que a União causou a terceiros de boa-fé, em virtude da emissão de títulos nulos".

    A responsabilização civil do Estado baseia-se no artigo nº 37 da Constituição Federal de 1988: "As pessoas jurídicas de direito público (…) responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros". No mesmo sentido é o enunciado nº 11 da 6ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal: "É possível o pagamento de indenização aos ocupantes de terras indígenas (possuidores ou não de títulos) com base no princípio da proteção à confiança legítima. O cabimento e os limites de aplicação desse princípio serão analisados casuisticamente".

    Assessoria de Comunicação Social

    Ministério Público Federal em Mato Grosso do Sul

    (67) 3312-7265/ 7283

    www.prms.mpf.mp.br

    PRMS-ascom@mpf.mp.br

    www.twitter.com/mpf_ms

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  • 10/09/2015

    Índios Munduruku discutem os rumos da resistência a barragens em grande evento

    A Organização das Nações Unidas, a mídia nacional e internacional e movimentos sociais em todo o mundo estão com os olhos voltados para a batalha dos índios Munduruku e de seus aliados contra o complexo hidrelétrico da bacia Tapajós/Teles Pires (ver clipping em anexo). Um novo episódio dessa luta acontecerá nos dias 24 e 25 de setembro, quando os Munduruku receberão, em sua assembleia, lideranças indígenas, beiradeiros, quilombolas e outros povos tradicionais da Amazônia, além de organizações nacionais e internacionais, pesquisadores indígenas e não-indígenas e representantes do Governo Federal e do governo do Pará.

    A assembleia, que acontecerá em uma das 3 aldeias da Terra Indígena Sawré Muybu, traçará os rumos da ação desses povos no complexo cenário político e econômico atual do país. Essa terra é, hoje, foco das tensões entre Governo Federal e indígenas, e esteve no centro da recente polêmica que culminou com a saída de Maria Augusta Assirati da Fundação Nacional do Índio. Quando ainda era presidente, Assirati admitiu aos Munduruku que os interesses do governo no potencial energético da sua região estavam impedindo a oficialização da área de Sawré Muybu como terra indígena.

    É, portanto, entre a pressão do setor elétrico (e seus investidores chineses), a saia justa política e econômica em que a Presidência se encontra e as múltiplas frentes do movimento indígena que a assembleia do próximo dia 24 se situa. Junto com outros povos que lutam contra barragens e pela proteção de seus territórios, os Munduruku – hoje referência para movimentos sociais no Brasil e no exterior, com a experiência recente da autodemarcação de Sawré Muybu – darão uma nova resposta ao momento adverso que vivem hoje os povos indígenas e as demais populações tradicionais do país.

    Serviço:

    O que: Assembleia do Médio Tapajós

    Quando: 24 e 25 de setembro de 2015

    Onde: Aldeia Dace Watpu (Itaituba-PA)

    Mais informações:

    aiparirip@gmail.com

    http://www.aipariri.org/

     

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  • 10/09/2015

    Em nota, Movimento de Mulheres Camponesas exige o fim da violência contra os povos indígenas

    Causa-nos revolta, dor e muita tristeza os acontecimentos sobre os atentados e mortes dos povos indígenas em Mato Grosso do Sul. De lá vem notícias de que mais uma vez esses povos estão sendo alvo de violência, que se expande dia após dia, vulnerabilizando e dizimando essas populações.

    O pano de fundo continua sendo a luta pela terra, dado que a população indígena vive confinada em diminutas parcelas e as ações contra as demarcações de territórios indígenas são constantes, uma vez que, em nosso país, o poder das forças dominantes e do próprio governo está a serviço dos mais ricos e, quem sofre as consequências dos conflitos são as comunidades indígenas e suas lideranças que acabam assassinadas, ameaçadas, espancadas, perseguidas e presas.

    O Movimento de Mulheres Camponesas, reunidas durante o Seminário de Saúde da Mulher, entre os dias 31/08 a 03/09 no Conselho Indigenista Missionário, em Luziânia (GO) vem a público manifestar a sua solidariedade e denunciar o genocídio sistemático praticado pelo agronegócio contra esses povos indígenas. Nas últimas décadas, essa população tem sofrido ataques contínuos dos fazendeiros, numa ação violenta dos governos estadual e Federal e, consequentemente a omissão do poder judiciário. A situação é insustentável: ou o governo brasileiro demarca, isto é, devolve aos povos indígenas seus territórios tradicionais (tekohas) ou protagonizará o maior genocídio da história contemporânea.

    Nós, mulheres camponesas que lutamos pela soberania alimentar e a garantia de uma vida plena de diversidade cultural, sem violências, abusos e mortes, reconhecemos que a terra pertence àqueles que nela vivem. Nesse sentido, reafirmamos ainda, a urgência de que o Estado reconheça os direitos dos indígenas, garantindo a sua integridade física, social, cultural e econômica, a proteção do seu território e de seus recursos naturais, aplicando para tal a legislação nacional e internacional. Movimento de Mulheres Camponesas.

    Setembro de 2015. Luziânia (GO)

    “FORTALECER A LUTA EM DEFESA DA VIDA”

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  • 09/09/2015

    Porantim 378: Barbárie e Resistência

    Duas imagens contrastantes. Expostos como animais em um zoológico e, quase 40 anos depois, desafiando autoridades governamentais. Vítimas de ações violentas e equivocadas do Estado brasileiro, os Avá-Canoeiro do Rio Araguaia além de, surpreendentemente, terem sobrevivido, se empoderam política e culturalmente e lutam por uma terra exclusiva para eles.

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  • 09/09/2015

    Encarte pedagógico 7: Direitos da Criança e do Adolescente

    Encarte pedagógico, voltado a professores e professoras, que acompanhou a edição 378 do jornal Porantim.

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  • 09/09/2015

    CDHM retorna ao Mato Grosso do Sul após conflitos se intensificarem

    A Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara Federal vai pela quinta vez, neste ano, ao Mato Grosso do Sul para buscar medidas que evitem novos conflitos entre indígenas e proprietários de terra no estado. Diante dos episódios ocorridos no último final de semana, mais uma vez, o Presidente da Comissão, deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS), foi chamado por lideranças indígenas para que seja restabelecido o diálogo e descartada qualquer ação pelo uso da força.  

    O parlamentar embarca para o Mato Grosso do Sul na noite desta terça-feira (8). De acordo com Pimenta, o retorno ao estado faz parte de uma “sequência de esforços que estão sendo tomados para promover a paz nas áreas de conflito”.

    Na semana passada, o deputado Pimenta esteve em Campo Grande com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, para estabelecer um acordo entre indígenas e ruralistas para o fim dos ataques, como condição para que os processos de demarcação e indenizações territoriais fossem acelerados no Poder Executivo. Em nova agenda no Mato Grosso do Sul, o deputado Pimenta se reúne com membros da Funai, Ministério Público Federal e lideranças indígenas dos Tekohás Ñande Ru Marangatu, na cidade de Antônio João – a 300 quilômetros da capital Campo Grande – e Guyra Kamby´i, no Distrito de Bacajá – que fica a cerca de 30 quilômetros do município de Dourados. Essas localidades foram alvo de novos conflitos nos últimos dias, onde Semião Vilhalva, liderança indígena dos Ñande Ru Marangatu, foi assassinada.

    Em 2005, o ex-presidente Lula homologou a demarcação das terras Ñande Ru Marangatu, mas o então ministro do Supremo Tribunal Federal Nelson Jobim suspendeu os efeitos do decreto presidencial. Passados mais de 10 anos, até agora o STF não decidiu sobre o caso. Os indígenas criticam a lentidão do STF, que, segundo eles, agrava a situação de conflito, e tem como saldo inúmeras mortes de lideranças indígenas.

    Dados do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) mostram que, nos últimos 11 anos, mais da metade dos assassinatos de indígenas no país ocorreram no Mato Grosso do Sul. O levantamento aponta também que somente em 2013 houve 73 casos de suicídios de indígenas no estado. Esse índice é o maior em 28 anos.  Dos 73 mortos, 72 eram do povo Guarani e Kaiowá.

  • 09/09/2015

    Menino Aylan e os povos indígenas no MS

    Estamos acompanhando as chocantes realidades com os imigrantes refugiados na Europa e o conflito no Mato Grosso do Sul envolvendo os povos indígenas e fazendeiros.

    Até os mais indiferentes ficaram chocados com rostos de homens, mulheres e crianças no grito de desespero à procura de vida mais digna, longe das atrocidades da guerra e da intolerância religiosa.

    A imagem do menino Aylan Kurdi deitado, sem vida, na praia, clama os céus. “A morte da criança é o símbolo mais perverso do desespero de milhões de imigrantes e refugiados que fogem da violência e da miséria na África e no Oriente Médio. É a desumanidade humana, fruto de sistemas políticos e econômicos errados”.

    Assistimos, também, o sofrimento dos povos indígenas no Mato Grosso do Sul. Cenas de violência, mortes, ocupação militar. Tanto lá no Oriente Médio e na Europa como em Mato Grosso do Sul, o sofrimento maior é dos pequenos, dos pobres, das crianças.

    Como igreja católica, fiel à missão de Jesus, não podemos ficar indiferentes diante da dor, injustiça, violência, atrocidade.

    A diocese de Rondonópolis – Guiratinga conclama todos os católicos e, também, homens e mulheres de boa vontade, para neste final de semana, dias 5 e 6 de setembro viverem “um dia de solidariedade, de compromisso e de orações em favor dos imigrantes no Oriente Médio, Europa e em favor dos povos indígenas no Mato Grosso do Sul”.

    O sofrimento dos irmãos é o nosso sofrimento. “Eu estava com fome, era peregrino, estava na prisão, e tu me acolheste”. Sintamos a dor. Sejamos solidários, onde um irmão está sofrendo é Jesus quem sofre.

    Menino Aylan Kurdi, não morreste em vão! Tua vida, teu sonho de criança ceifado vai ser semente de um mundo renovado. Que tua vida converta meu coração!

    Povos indígenas do Mato Grosso do Sul, povos nativos, com nosso apoio e solidariedade teus filhos vão ver dias melhores e condições de vida digna.

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  • 09/09/2015

    Indenização a proprietários rurais por Terra Indígena é aprovada no Senado

    O plenário do Senado aprovou, na noite de ontem (8/9), a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 71/2011, que prevê a indenização pela terra nua a proprietários rurais com áreas incidentes em Terras Indígenas (TIs). O projeto foi aprovado por unanimidade, em dois turnos, um logo após do outro e, de forma incomum, com apenas alguns minutos de diferença. A proposta segue agora para a Câmara.

    Somente serão alvo da indenização áreas sobrepostas a TIs homologadas após 5 de outubro de 2013. Segundo o texto aprovado, poderá receber a compensação quem tiver títulos válidos obtidos de “boa-fé”. Hoje, a Constituição determina a indenização apenas pelas benfeitorias. O pagamento deverá ser feito antes de o produtor rural deixar a terra.

    Na última hora, já em plenário, o relator Blairo Maggi (PR-MT) acatou a sugestão de Roberto Requião (PMDB-PR) para incluir no projeto a possibilidade de indenização também por Títulos da Dívida Agrária (TDA), se for de interesse do beneficiado, além do pagamento em dinheiro (veja abaixo texto completo aprovado). A aposta de Requião é que o mecanismo poderá viabilizar as indenizações. O senador listou as vantagens do uso do TDA, como sua aceitação pelo mercado e dispensa de cobrança de imposto de renda.

    “Na grande maioria dos casos, não haverá oposição, desde que consigamos chegar a um preço justo pela terra. Os produtores relutam a sair porque não podem deixar para trás 20, 30, 40 anos de trabalho sem um centavo, sem seu patrimônio”, afirmou Maggi.

    A proposta havia sido aprovada na CCJ em março, mas recebeu quatro emendas de plenário e voltou à comissão na última semana. Maggi (PR-MT) apresentou então um novo texto, incluindo trechos das emendas.

    A maioria dos senadores concordou que a aprovação da PEC pode ser um passo importante para a pacificação dos conflitos de terra. O projeto foi aprovado na CCJ, na semana passada, depois que o indígena Simião Vilhalva Guarani Kaiowa foi assassinado por fazendeiros, no município de Antônio João, no sul do Mato Grosso do Sul, no sábado retrasado (29/8) – leia mais. A aprovação da PEC foi articulada diretamente pelos três senadores do estado: Delcídio Amaral (PT), Waldemir Moka (PMDB) e Simone Tebet (PMDB).

    Câmara

    O desafio, agora, será aprovar o projeto na Câmara. Lá, os ruralistas seguem pressionando o governo a alterar os procedimentos de demarcação das TIs com o objetivo de pará-los. O principal cavalo-de-batalha é a PEC 215, que tramita na casa e pretende transferir do Executivo ao Congresso a atribuição de aprovar a demarcação de TIs, além de permitir a realização de empreendimentos de impacto socioambiental, como hidrelétricas e agricultura de escala. Se aprovada, significará na prática a paralisação definitiva da oficialização de TIs, Unidades de Conservação e Quilombos.

    “Acho que a PEC 71 deveria servir de cláusula de contenção à PEC 215, esta, sim, uma ameaça aos direitos dos povos indígenas”, afirmou Randolfe Rodrigues (PSOL). Outros parlamentares, como Lindbergh Farias (PT-RJ), João Capiberibe (PSB-AP), Delcídio Amaral e Telmário Mota (PDT-RR) também afirmaram que a tendência é que a PEC 215 perca força. Há algumas semanas, 48 senadores divulgaram um manifesto contrário à proposta, o que já havia reduzido bastante suas chances de aprovação (leia mais).

    “O presidente da CNA [Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil], João Martins, entende que a medida traz segurança jurídica ao produtor rural e, também, às comunidades indígenas, facilitando o fim dos conflitos e estabelecendo o diálogo entre as partes”, publicou o site da CNA.

    “A proposta é muito mais alinhada com o que a Constituição estabeleceu e com a realidade de alguns estados que não têm terras devolutas, mas tituladas. O projeto avança, distensiona o campo”, argumentou Delcídio.

    “Ao invés de expropriação, será desapropriação. Estamos falando de gente que tem o título da terra. Não estamos falando de grileiro nem de invasor. Que fique claro. Num primeiro momento, tenho certeza que a Câmara vai receber e sentir que pela primeira vez o governo tem uma ferramenta para indenização. Tenho certeza que essa PEC caminha para resolver de forma real o problema, uma ferramenta para promover a justiça entre povos indígenas e produtores rurais”, finalizou Waldemir Moka.

    Veja como ficou o texto final da PEC 71

    As Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, nos termos do § 3º do art. 60 da Constituição Federal, promulgam a seguinte Emenda ao texto constitucional:

    Art. 1º O § 6º do art. 231 da Constituição Federal passa a vigorar com a seguinte redação:

    “Art. 231. ……………………………………………………

    …………………………………………………………………..

    § 6º São nulos e extintos, não produzindo efeitos jurídicos, os atos que tenham por objeto a ocupação, o domínio e a posse das terras a que se refere este artigo, ou a exploração das riquezas naturais do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes, ressalvado relevante interesse público da União, segundo o que dispuser lei complementar, não gerando a nulidade e a extinção direito a indenização ou a ações contra a União, salvo quanto às benfeitorias derivadas da ocupação de boa-fé e o valor da terra nua e as benfeitorias nas hipóteses ressalvadas expressamente nesta Constituição.

    Art. 2º O Ato das Disposições Constitucionais Transitórias passa a vigorar acrescido do seguinte art. 67-A:

    “Art. 67-A. A União responderá, nos termos da lei civil, pelos danos causados aos detentores de boa-fé de títulos de domínio regularmente expedidos pelo Poder Público relativos a áreas declaradas, a qualquer tempo, como tradicionalmente ocupadas pelos índios e homologadas a partir de 5 de outubro de 2013.

    Parágrafo único. Serão indenizados previamente em dinheiro, ou em Títulos da Dívida Agrária, se for do interesse do beneficiário da indenização, e de forma justa os danos decorrentes da responsabilidade a que se refere o caput deste artigo, cujos cálculos serão realizados com base no valor da terra nua e das benfeitorias necessárias e úteis realizadas, mas não serão reparados se a posse atual for injusta e de má-fé.’”

    Art. 3º Esta Emenda à Constituição entra em vigor na data de sua publicação.

     

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  • 09/09/2015

    Belo Monte: o pesadelo da perda lenta do lar de Antônia Melo

    Entre os cadastrados para remoção pela Norte Energia, a família de Antônia Melo, coordenadora do Movimento Xingu Vivo Para Sempre, está se preparando para deixar sua casa na rua Sete de Setembro, bairro Centro, em Altamira (PA). Notificada diversas vezes de que teria que se retirar para que sua casa possa ser demolida, Antônia Melo recebeu um aviso definitivo de que terá que sair até esta terça, dia 08 de setembro. Ela, no entanto, ainda não definiu seu lugar de destino e informou hoje à Norte Energia que precisa de mais três dias para fazer a mudança. Entre casas distantes de onde mora atualmente, Melo procura uma nova moradia que possua quintal para que ela possa plantar. Até agora, nada.

    Quem conhece a casa dela, sabe que ela cultiva um enorme jardim com diversas árvores frutíferas, que foram cultivadas por toda sua vida naquele quintal. Carinho e dor se misturam no olhar da Melo quando ela fala de seu terreno e de sua casa. Sobre a mudança, ela disse esses dias que não há uma casa dos seus sonhos que não aquela em que ela mora hoje e que está prestes a deixar.

    Terra arrasada

    Quase todas as construções na rua de Antônia já foram demolidas, só sobraram a casa dela e de dois vizinhos. A pressão é grande, a fiação elétrica foi destruída – e religada apenas uma semana depois -, e o muro de atrás também já foi derrubado, ainda que a família não tenha deixado a propriedade. Todo dia o pomar de Antônia é invadido e “assaltado” por estranhos que estão colhendo as frutas de suas árvores. O técnico que operava o trator no dia dessa demolição irresponsável disse que “estava apenas cumprindo ordens”.

    Mas histórias como a da Melo tem se repetido por Altamira. O ritmo acelerado das máquinas tem arrastado experiências e lembranças e acumulado injustiças entre os escombros das casas demolidas. A área do açaizal, onde mora Antônia Melo, deve ser transformado num projeto de “requalificação urbana”, uma área de lazer e recreação com praça e outros equipamentos. Ela afirma que está em curso um violento processo de limpeza social, expulsando os indesejados de Altamira das áreas centrais para lugares cada vez mais distantes e para os reassentamentos da Norte Energia. Muitas dessas áreas não têm transporte público e a locomoção depende de táxis e mototaxis, que cobram entre 20 e 30 reais de acordo com o destino. Muitos dizem que os “pobres” da cidade só voltarão a frequentar as áreas da orla em datas como natal e réveillon.

    Esta é Altamira hoje, aquela que nasceu às margens do Xingu, sendo completamente privada de chegar perto de seu rio. O governo federal e a Norte Energia transformam, dia a dia, toda uma viva e grandiosa paisagem em morte e destruição.

     

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  • 08/09/2015

    Mobilização dos Povos Indígenas do Cerrado divulga nota em apoio aos Guarani e Kaiowá

    A Mobilização dos Povos Indígenas do Cerrado (MOPIC), composta de representantes indígenas dos Estados de MT, MS, GO, MG, MA e TO, vem a público externar indignação e repúdio ao brutal e covarde assassinato do líder indígena, Simão Vilhalva, ocorrido no último sábado, dia 29 de agosto de 2015, estas são demonstrações das mais selvagens e bárbaras violências contra os povos indígenas, que banaliza a vida e que horroriza o estado de Mato Grosso do Sul. A MOPIC através de seus coordenadores se consternam com a dor e o pesar dos familiares e amigos pela perda de um grande líder, que teve sua vida ceifada de forma injusta e violenta, rogando a Deus que abençoe a família e que os ampare e ajude a enfrentar essa imensa dor. Este é mais um ato de impunidade que persiste em nossa sociedade contra quem, aqueles que detêm os direitos originários de lutar para garantir seus territórios demarcados para manterem suas sobrevivências

    É visivelmente notável a negligência e morosidade do governo federal para resolver em tempo devido a regularização dos territórios dos povos indígenas que compõem aquele Estado, com isto, ao longo das últimas décadas, somente vem reforçar ainda mais a insegurança e acirramento de conflitos entre fazendeiro e indígenas dados pela retomada dos seus territórios. Por isso conclamamos a necessidade da intervenção federal, conforme prevê a Constituição Federal no artigo 34, VII – b, quando há violação de direitos da pessoa humana, respaldado no preâmbulo e no artigo 1º, que se justifica como sendo uma medida de caráter urgente e imprescindível.

    Diante da omissão por parte do Estado Brasileiro, do Poder Público, a MOPIC vem solicitar da FUNAI e de órgãos como o Ministério Público Federal, Ministério da Justiça, Secretaria Geral da Presidência da República e das Comissões de Direitos Humanos da Câmara e do Senado, apuração dos fatos e a punição dos autores que resultou o assassinato do líder Simião Vilhalva, e que o governo tome como prioridade de solucionar esse conflito que perpétua há muitos anos, no sentido de que sejam evitados novos confrontos sangrentos de ambos os lados naquela região, resguardando o direito constitucional dos povos indígenas na garantia da demarcação dos seus territórios. 

    Por fim, reafirmamos como povos originários desta terra que DESISTIR NUNCA, RESISTIR SEMPRE, e reiteramos aqui o nosso compromisso de que estamos unidos na luta pela defesa dos territórios e direitos dos povos indígenas do Brasil

    Somos todos Guarani-Kaiowá

    Palmas, 03 de setembro de 2015

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