• 28/10/2015

    Nota sobre as declarações do delegado da Polícia Federal Alcídio de Souza Araújo na “CPI do Cimi”

    “Felizes os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino de Deus” (MT 5, 10)


    O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) refuta as declarações do delegado Alcídio de Souza Araújo proferidas durante oitiva da “CPI do Cimi” nesta terça-feira, 27, na Assembleia Legislativa do Mato Grosso do Sul (MS).

    Consideramos que um delegado da Polícia Federal deve basear suas declarações em provas irrefutáveis e não no “ouvi dizer” desta ou daquela pessoa, ou ainda na base do “me disseram, mas não é possível provar”.  

    No Mato Grosso do Sul, por motivos político-ideológicos, assentados nos poderosos interesses econômicos do agronegócio, “diz-se” muita bobagem contra o Cimi e os povos indígenas. Um delegado da Polícia Federal, pago com dinheiro público, tem a obrigação de ir além de suas posições político-ideológicas pessoais. 

    Manifestamos solidariedade e apoio à missionária Irmã Joana Ortiz, religiosa da Congregação das Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora Aparecida, tratada desrespeitosamente pelo delegado Alcídio como “suposta freira”. Por certo, o delegado Alcídio não gostaria de ser tratado publicamente como “suposto” delegado. Então, por que ele, tendo todas as condições fornecidas pelo Estado brasileiro de comprovar a identidade religiosa de Ir. Joana, continua se referindo a ela de modo pejorativo, tentando desqualificá-la? A manifestação do delegado demonstra uma profunda falta de respeito com a pessoa da religiosa.

    Reafirmamos nosso compromisso missionário com a Vida e o respeito às normas legais vigentes no Brasil.

    A opção eclesial missionário-evangélica de estar ao lado dos povos indígenas em momentos difíceis de suas vidas não é motivo legítimo para acusações infundadas, ilações político-ideológicas e mentiras como as que estão ocorrendo na condução dessa “CPI do Cimi” na Assembleia Legislativa do Mato Grosso do Sul.

     Brasília, DF, 28 de outubro de 2015

    Conselho Indigenista Missionário – Cimi

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  • 28/10/2015

    “A força do grande capital e do agronegócio encaminha os povos indígenas para o extermínio”, afirma Dom Roque Paloschi

    Entre os “desafios fundamentais” da atuação do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), que há mais de 40 anos intervém em defesa dos povos indígenas, um deles “é o de contribuir para que a articulação e a mobilização dos povos em defesa de suas vidas sejam fortalecidas e que a solidariedade da sociedade brasileira a estes povos seja ampliada. Enfrentar as perseguições decorrentes dessa opção em defesa da vida dos povos indígenas também se tornou um importante desafio, especialmente a partir da ‘CPI do Cimi’ criada pela Assembleia Legislativa e conduzida por fazendeiros e deputados do estado de Mato Grosso do Sul”, diz Dom Roque Paloschi, novo presidente do Cimi, à IHU On-Line.

    Na entrevista a seguir, concedida por e-mail e publicada no último dia 23, Dom Roque Paloschi enfatiza que é preciso “ampliar as denúncias, nacional e internacionalmente, deste conjunto de violências e violações que estão sendo cometidas contra os povos indígenas no Brasil, demonstrando quem são e quais os objetivos dos responsáveis por este processo”.

    Depois de dez anos à frente da Igreja de Roraima, Dom Roque Paloschi foi nomeado pelo Vaticano como novo arcebispo de Porto Velho. “Vou para a nova missão na Igreja de Porto Velho com a consciência de que preciso ser um irmão entre irmãos e irmãs. Estamos no mês missionário e fomos acalentando em nossa Igreja essa consciência de que missão é servir. Peço a graça de Deus de poder abraçar os caminhos da Igreja que está em Porto Velho com muita humildade e docilidade”, conclui.

    Dom Roque Paloschi, gaúcho de Lajeado, foi bispo de Boa Vista, Roraima e, recentemente, foi nomeado arcebispo de Porto Velho, Rondônia, e também neste ano foi eleito presidente do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), e acompanhou de perto a demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol.

    Confira a entrevista:

    IHU On-Line – Como foi sua experiência como bispo de Roraima? Quais questões centrais marcaram a sua atuação à frente da Igreja em Roraima?

    Dom Roque Paloschi – Foram dez anos marcados pela rica experiência de uma Igreja marcada pela perseguição, difamação e calúnias, mas que contou sempre com a solidariedade das demais Igrejas Particulares do Brasil, através do Regional Norte I da CNBB e de modo muito especial pela presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Uma igreja que passou pela grande tribulação, mas foi também uma Igreja marcada pelo testemunho heroico e profético de muitos missionários(as), mas também catequistas, animadores e jovens que não se apequenaram diante da cruz. A Diocese de Roraima procurou ficar ao lado dos povos indígenas, na busca de seus direitos. Podemos destacar também a generosidade de muitas famílias, religiosos e dioceses do Brasil ou de outros países, que acolheram o convite e abraçaram a missão aqui entre nós. Certamente motivados pela Campanha da Fraternidade de 2007 com o lema: “Vida e emissão neste chão”. Creio também que outra questão importante foi o empenho de todos os cristãos católicos na busca da autossustentação, numa bela caminhada da Pastoral do Dízimo, além da Fundação da Fazenda Esperança como uma porta aberta para acolher tantas pessoas marcadas pela dependência química. A Escola de Teologia Pastoral com o curso regular em Boa Vista todos os sábados pela manhã e dois seminários por semestre à noite, e desenvolvendo em dois polos no interior com um fim de semana intensivo por mês, tem ajudado nossos agentes de Pastoral a viver com mais paixão a missão e o ser católico. Outro passo que estamos dando em âmbito de Diocese é a criação da Cáritas Diocesana.

    IHU On-Line – Como será sua transição de Roraima para Porto Velho, agora como arcebispo? Quais questões imagina que serão mais urgentes para serem tratadas em Porto Velho?

    Dom Roque Paloschi – “Caminhando se abre caminho”. Vou para a nova missão na Igreja de Porto Velho com a consciência de que preciso ser um irmão entre irmãos e irmãs. Estamos no mês missionário e fomos acalentando em nossa Igreja essa consciência de que missão é servir. Peço a graça de Deus de poder abraçar os caminhos da Igreja que está em Porto Velho com muita humildade e docilidade. Peço a compaixão de Deus para não ser indiferente diante do grito de crianças machucadas já na sua tenra idade, o grito de jovens dizimados pela violência e pelas drogas, o grito de mulheres vítimas da violência muitas vezes dentro da própria família. Enfim, o grito dos crucificados de hoje. Não tenho respostas prontas aos desafios que a Igreja de Porto Velho precisa enfrentar, não carrego nenhuma varinha mágica, mas carrego o sonho de construirmos juntos caminhos de esperança e paz junto aos povos que vivem lá.

    IHU On-Line – Quais são suas principais preocupações e desafios à frente do Cimi hoje?

    Dom Roque Paloschi – Os povos originários do Brasil enfrentam ataques violentos por parte de setores político-econômicos ligados especialmente às grandes corporações, nacionais e multinacionais, do agronegócio, da mineração, da logística e da madeira, que buscam o controle das suas terras para explorá-las. Esses grupos político-econômicos não se preocupam com a Vida, com o cuidado com a terra comum. Buscam cegamente o lucro e o acúmulo privado. O Cimi, junto e como aliado dos povos indígenas, em defesa da vida destes povos, contrapõe-se a estes ataques. Muitos desafios decorrem deste contexto. Um deles diz respeito à importância de se ampliar as denúncias, nacional e internacionalmente, deste conjunto de violências e violações que estão sendo cometidas contra os povos indígenas no Brasil, demonstrando quem e quais são os objetivos dos responsáveis por este processo. Um desafio fundamental é o de contribuir para que a articulação e a mobilização dos povos em defesa de suas vidas sejam fortalecidas e que a solidariedade da sociedade brasileira a estes povos seja ampliada. Enfrentar as perseguições decorrentes dessa opção em defesa da vida dos povos indígenas também se tornou um importante desafio, especialmente a partir da “CPI do Cimi” criada pela Assembleia Legislativa e conduzida por fazendeiros e deputados do estado de Mato Grosso do Sul.

    IHU On-Line – Quais são os desafios atuais em relação à questão indígena no país hoje?

    Dom Roque Paloschi – Creio que a resposta anterior nos ajuda, mas os povos indígenas enfrentam uma luta desigual, a força das grandes corporações vem solapando os direitos conquistados com a Constituição Cidadã de 1988. Podemos dizer que em todo o país os povos indígenas estão rodeados pelo latifúndio e pelas Propostas de Emendas à Constituição (PEC), que são subterfúgios para desmontar as conquistas. Sentimos que falta uma posição mais decidida do governo central. A força do grande capital e do agronegócio procura encaminhar os povos indígenas para o extermínio.

    IHU On-Line – Qual é a atual situação dos índios Yanomami que vivem em Roraima? Quais são as principais dificuldades que eles enfrentam?

    Dom Roque Paloschi – O povo Yanomami não está fora do contexto dos demais povos originários do Brasil, mas de modo particular eles enfrentam um avanço cada vez mais acentuado do garimpo clandestino, com a consequência de que muitas das doenças que chegam são fatais à saúde deste povo. A saúde indígena está deixando muito a desejar. Não se faz saúde indígena só removendo os doentes até a capital, é fundamental as ações básicas nas malocas. Também a questão da educação indígena passa por um grande processo de discussão.

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  • 27/10/2015

    Porque pedimos o embargo/boicote aos produtos do agronegócio de Mato Grosso do Sul

    Não ao Genocídio dos Povos Indígenas.

    Porque pedimos o embargo/boicote aos produtos do agronegócio de Mato Grosso do Sul

    – Mato Grosso do Sul tem a segunda maior população indígena do Brasil, cerca de 77 mil pessoas, e é palco das maiores e mais graves violações de Direitos Humanos do Brasil e do mundo: casos de tortura, estupros, espancamentos, ataques armados e  assassinatos, praticados por milícias de jagunços e organizações paramilitares, contratadas por fazendeiros, além dos altos índices de desnutrição e suicídios. Está em curso um verdadeiro genocídio*, especialmente do povo Guarani-Kaiowá.

    – Nos últimos 12 anos, foram registrados mais de 400 homicídios. O Estado concentra mais de 60% dos casos de assassinatos de indígenas do país e mais de 700 suicídios. Em 2010, por exemplo, a taxa de homicídios na aldeia Guarani-kaiowá do município de Dourados, é maior do que a registrada no Iraque. Conforme já anunciou o antropólogo, Eduardo Viveiros de Castro, temos aqui uma verdadeira Faixa de Gaza.  Se no Iraque a proporção é de 93 assassinatos para cada 100 mil pessoas, na aldeia de Dourados é de 145 assassinatos, 495% maior do que a média nacional. Atualmente os dados comprovam que as estatísticas são: um homicídio a cada 12 dias e um suicídio a cada 7 dias.

    – Apenas em 2014 o Relatório Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil, publicado pelo Conselho Indigenista Missionário (CIMI), registrou 138 casos de assassinatos e 135 casos de suicídios no país, sendo que destes 41 assassinatos e 48 suicídios aconteceram no Mato Grosso do Sul. Os dados também revelam um severo aumento das mortes por desassistência à saúde, mortalidade na infância, invasões possessórias, exploração ilegal de recursos naturais, omissão e morosidade na regularização das terras indígenas.

    – Nos últimos 60 dias, foram registrados mais de quinze ataques contra cinco comunidades indígenas de Mato Grosso do Sul, promovidos por fazendeiros, suas milícias armadas e, de acordo com denúncias dos indígenas, sob proteção de aparato policial do Estado. Além da morte do líder indígena, Simeão Vilhalva, no Tekoha  Ñanderu Marangatu, no município de Antônio João, esses ataques deixaram três indígenas baleados por arma de fogo, dois jovens desaparecidos, que podem estar mortos, vários feridos por balas de borracha e dezenas de torturados e espancados, inclusive, crianças, mulheres e idosos. Chegamos ao ponto de, conforme denunciam os indígenas, um boi no pasto tem mais valor do que a vida de uma criança indígena.

    – A violência contra os povos indígenas e o genocídio em curso está vinculada a três fatores que se relacionam:

    1. A violação dos direitos individuais e coletivos está intrinsecamente ligada ao processo histórico de colonização e ocupação do Mato Grosso do Sul e ao modelo econômico que foi escolhido pelo Estado brasileiro, o qual foi implantado à base da violência, do confinamento dos povos originários e  do desrespeito aos seus direitos fundamentais. Sem cumprir as determinações constitucionais e tratados internacionais dos quais é signatário, mantendo-se omisso na demarcação e homologação das terras indígenas, não assegurando direitos humanos e territoriais dos povos originários, o governo brasileiro se tornou o principal responsável por esta realidade de violência. Em Mato Grosso do Sul são mais de 50 áreas em situação de conflito, aguardando demarcação e homologação das terras, conforme determina a Constituição Federal. Enquanto o rebanho bovino de Mato Grosso do Sul ocupa 23 milhões de hectares de terra, a etnia Guarani-Kaiowá, é constituída por 45 mil pessoas e ocupa apenas 30 mil hectares de suas terras tradicionais. Se todas as áreas reivindicadas, por eles, como territórios indígenas, forem demarcadas, elas representarão cerca de apenas 2% da área total do estado.

    2. A atuação institucional e organizada dos ruralistas que, por meio das suas instituições classe, tem estimulado o enfrentamento aos povos indígenas. A gravidade da situação chegou ao ponto de, acintosamente, em 2013, a Acrisul e a Famasul anunciarem e realizarem o “Leilão da Resistência” para arrecadar recursos para este tipo de enfrentamento, o qual contou com a participação de fazendeiros e políticos. Ação que mereceu repúdio internacional e cujos recursos financeiros arrecadados foram embargados judicialmente, graças à luta dos movimentos sociais organizados.

    3. A impunidade é outro elemento central na perpetuação da violência e do genocídio. Executores de homicídios, de ataques, de casos de tortura, estupro e espancamentos, bem como os seus mandantes, raramente são identificados e, sequer, vão para os bancos dos réus, prevalecendo à impunidade. Se por um lado a impunidade reina para os que massacram os povos indígenas, por outro há uma tentativa de criminalizar as entidades indigenistas e as lideranças indígenas, por meio de uma Comissão Parlamentar de Inquérito, contra o Conselho Indigenista Missionário (CIMI).    

    A partir deste grave cenário de genocídio, da violência em série praticada pelos ruralistas, de omissão e descaso dos poderes públicos e impunidade; com base nas determinações da Carta Magna, Constituição Federal, em especial ao direito à vida, que é o mais fundamental de todos os direitos, já que se constitui em pré-requisito à existência e exercício de todos os demais direitos; com base na Convenção para a prevenção e a repressão do crime de genocídio (1948) e o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos das Nações Unidas e demais tratados, dos quais o Brasil é signatário; nós, entidades e organizações indígenas, sociais, religiosas, sindicais e culturais, inspirados nos movimentos da não violência indiano, liderando por Gandhi, de Antiapartheid, liderado por Nelson Mandela, e dos trabalhadores rurais nas plantações de uva nos Estados Unidos, liderado por  César Chavez, apoiamos a decisão do Conselho do Povo Terena e do  Conselho Aty Guassú do Povo Guarani-Kaiowá de convocar uma campanha legítima de boicote mundial à compra e consumo dos produtos do agronegócio sul-mato-grossense, que são produzidos em territórios marcados pelo genocídio dos povos indígenas.

    É uma campanha para que os organismos internacionais embarguem os produtos do agronegócio até que o governo brasileiro resolva definitivamente esta questão, demarcando e homologando as terras indígenas, indenizando os proprietários das áreas cujos títulos foram adquiridos de boa fé, cessando todos os ataques e atos de violência contra os povos indígenas. É uma campanha pela paz!

    ASSINAMOS:

     

    PAD – Processo de Articulação e Diálogo entre Agências Ecumênicas Européias e Parceiros Brasileiros

    MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

    Ibase – Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas

    CIMI – Conselho Indigenista Missionário

    CUT – Central Única dos Trabalhadores de Mato Grosso do Sul

    ABA – Associação Brasileira de Antropologia

    CDDH Marçal de Souza Tupã – i

    APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil)

    ANAI- Associação Nacional de Ação Indigenista

    Comunità di S. Francesco Saverio, Trento, Itália

    Cáritas Brasileira

    CONIC – Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil

    Movimento Nacional de Direitos Humanos – MNDH

    Central Brasileira de Associações e Jornalistas Sem Fronteira

    FLD – Fundação Luterana de Diaconia

    Marcha Mundial de Mulheres

    Plataforma de Direitos Humanos Dhesca Brasil

    Comitê Nacional em Defesa dos Territórios Frente à Mineração

    Vivat International

    Rede de Juventude Indígena/REJUIND

    Comissão Nacional de Juventude Indígena/CNJI

    Fórum Mudanças Climática e Justiça Social

    TPT – Tribunal Popular da Terra

    Articulação Internacional dos Atingidos e Atingidas pela Vale S.A.

    CEBI – Centro de Estudos Bíblicos

    O RUA – Juventude Anticapitalista

    MMC – Movimento de Mulheres Camponesas

    Coletivo Terra Vermelha

    Teatro Imaginário Maracangalha

    Coletivo Papo de Rua

    PSTU/MS

    CSP – Conlutas

    ANEL – Aliança Nacional dos Estudantes Livres

    Coletivo Detona

    Coletivo VDL

    Sintes/MS

    UMAM/CG

    FBOMS

    APOINME

    Alternativa Terrazul

    RBJA

    Iepé – Instituto de Pesquisa e Formação Indígena

    Centro de Trabalho Indigenista – CTI

    ACAÓ – Associação de Conservação Ambiental Orgânica

    Movimento de Apoio aos Povos Indígenas – MAPI

    Conselho de Gestão Ka’apor

    Associação Ka’apor Ta Hury do Rio Gurupi

    Conselho das Aldeias da TI Alto Turiaçu

    Instituto Internacional de Educação do Brasil

    Uma Gota no Oceano

    Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul – Arpinsul

    Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN)

    INESC – Instituto de Estudos Socioeconômicos

    MAM – Movimento pela Soberania Popular na Mineração.

    Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva – Cedefes

    Associação BEM TE VI Diversidade

    Serviços SVD de JUPIC

    Serviço SVD de JUPIC

    Serviço Interfranciscano de Justiça, paz e ecologia – Sinfrajupe

    RBJA

    Ação Franciscana de Ecologia e Solidariedade – AFES

    Arpinsul, Articulação dos Povos Indigenas  da Região Sul,

    Núcleo de Investigações em Justiça Ambiental (NINJA) da Universidade Federal de São João del-Rei

    Fórum dos Atingidos pela Indústria do Petróleo e Petroquímica nas Cercanias da Baía de Guanabara – FAPP-BG

    Associação Movimento Paulo Jackson – Ética, Justiça, Cidadania (Bahia)

    Articulação Antinuclear Brasileira (Brasil)

    AMPJ – Ética, Justiça, Cidadania

    IEAB – Igreja Episcopal Anglicana do Brasil

    Rede Jubileu Sul Brasil

    Comissão Pastoral da Terra Nacional

    COMIN- Conselho de Missão entre Povos Indígenas

    KOINONIA Presença Ecumênica e Serviço

    IPES – Incubadora Popular de Empreendimentos Solidários

    Centro de Defesa de Direitos Humanos Heróis do Jenipapo

    Centro de Defesa de Direitos Humanos Tomas Balduino de Atilio Vivacqua – Espírito Santo

    Centro de Defesa de Direitos Humanos Nenzinha Machado

    Centro de Defesa de Direitos Humanos Elda Regina

    Comitê Estadual de Prevenção e Combate à Tortura do Piauí – CEPCTPI

    Comitê Estadual de Educação em Direitos Humanos do Piauí – CEEDHPI

    Comissão de Direitos Humanos de Passo Fundo – CDHPF

    Fórum de Mulheres de Mercosul/PI

    Centro de Defesa dos Direitos Humanos e Educação Popular do Acre – CDDHEP

    Fundação instituto Nereu Ramos – Finer – Lages

    MNDH-SC

    MNDH – RS

    CPP – Conselho Pastoral de Pescadores

    PJR/ TB

    Pastoral da Juventude Rural (PJR)

    Serviço Pastoral dos Migrantes (SPM)

     

    *Lei do Genocídio-  LEI Nº 2.889, DE 1º DE OUTUBRO DE 1956.  Art. 1º Quem, com a intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, étnico, racial ou religioso, como tal: a) matar membros do grupo; b) causar lesão grave à integridade física ou mental de membros do grupo; c) submeter intencionalmente o grupo a condições de existência capazes de ocasionar-lhe a destruição física total ou parcial; d) adotar medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo; e) efetuar a transferência forçada de crianças do grupo para outro grupo.

  • 27/10/2015

    STF nega liminar em ação que pede nulidade de demarcação da TI Morro dos Cavalos

    O ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), negou no último dia 15, liminar na Ação Cível Originária (ACO) 2762, ajuizada por um cidadão do município de Palhoça (SC) com o objetivo de declarar a nulidade da demarcação de Terra Indígena Morro dos Cavalos (SC). O relator apontou que não estão presentes os requisitos para a concessão da medida cautelar: plausibilidade jurídica (fumus boni iuris) e risco de dano pela demora (periculum in mora). A decisão foi publicada ontem (26) no sítio eletrônico do STF.

     

    De acordo com o ministro Teori Zavaski, gozam de presunção de regularidade os atos praticados no curso do processo administrativo de demarcação de terra indígena, o qual inclui estudos antropológicos que atestam a presença de indígenas na área anteriormente à Constituição Federal de 1988, “daí porque não há falar, neste momento, na existência de provas inequívocas em sentido contrário”.

     

    Caso

     

    O cidadão de Palhoça ajuizou ação popular contra a União e a Fundação Nacional do Índio (Funai) a fim de declarar a nulidade do processo de demarcação por inexistência de tradicionalidade exigida pelo artigo 231 da Constituição Federal, por flagrante lesão ao direito à ampla defesa e ao contraditório, bem como lesão grave ao patrimônio público e ambiental.

     

    O juízo da 6ª Vara Federal de Florianópolis julgou improcedente o pedido. Após receber os recursos de apelação do autor e da Fundação do Meio Ambiente de Santa Catarina (Fatma), que ingressou na ação na qualidade de assistente litisconsorcial, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) reconheceu a incompetência absoluta da Justiça Federal para processar e julgar a causa, anulando a sentença e determinando a remessa dos autos ao STF.

     

    O TRF argumentou que, pelo artigo 102, inciso I, alínea “f”, da Constituição Federal, “compete originariamente ao Supremo Tribunal Federal processar e julgar as causas e os conflitos entre a União e os Estados, a União e o Distrito Federal, ou entre uns e outros, inclusive as respectivas entidades da administração indireta”. No caso, a Fundação integra o governo catarinense.

     

    Na ACO 2762, o autor reforça que há “provas inequívocas da inexistência da tradicionalidade das etnias Mbyá e Nhandéva na ocupação do Morro dos Cavalos”. Aponta ainda que o risco de dano irreparável funda-se na difícil situação na qual se encontram os 4 mil habitantes da Enseada do Brito, que correm o risco de ter seu fornecimento de água potável prejudicado.

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  • 26/10/2015

    Regional Noroeste da CNBB manifesta preocupação com entidades comprometidas com a dignidade, paz e justiça

    Bispos, leigos/as, religiosos/as e organismos do Regional Noroeste da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), reunidos na 9ª Assembleia Geral deste Regional (que abrange as dioceses de Rondônia, Acre e Sul do Amazonas), realizada entre os dias 16 e 18 de outubro de 2015, em Porto Velho, no estado de Rondônia, divulgaram documento final em que manifestam preocupação com as ameaças de violência à população do campo e aos agentes da Comissão Pastoral da Terra (CPT), aos indígenas e aos indigenistas e seus respectivos órgãos, como o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), às organizações dos povos indígenas da Amazônia e outras entidades comprometidas com a dignidade, a paz e a justiça.

     

    “Procuramos em muitos momentos buscar as razões para compreender esse contexto em que as políticas deveriam estar comprometidas com o bem-estar da população menos favorecida. Pois, a vida é um dom a ser vivido como único, e, o ambiente como ‘casa comum’ (Campanha da Fraternidade Ecumênica/2016), valores esses que devem ser defendidos por todos”, afirma a nota, que questiona ainda “É possível percorrer o caminho da paz? Podemos sair desta espiral de dor e de morte? Podemos aprender de novo a caminhar e percorrer o caminho da paz? … Sim, é possível para todos!”.

     

    Leia aqui o documento final na íntegra

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  • 26/10/2015

    Indígenas divulgam mais três manifestações de repúdio às declarações de Valdir Colatto

    A fala do deputado federal Valdir Colatto (PMDB-SC) na reunião da Comissão Especial da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215, realizada na última quarta-feira (21) continua causando reações entre os povos indígenas. Além de afirmar que povos indígenas do seu estado são favoráveis à PEC 215, ele teria utilizado a expressão “índio genérico” para se referir aos indígenas. No dia seguinte (22), os povos Xokleng Laklãnõ, Kaingang e Guarani, as três etnias que ainda resistem em Santa Catarina, divulgaram uma Carta Aberta à População em que explicitaram repúdio à declaração do parlamentar.

     

    Na sexta-feira, a Comissão Guarani Nhemonguetá, os acadêmicos do Curso de Licenciatura Intercultural Indígena – composto por indígenas Kaingang, oriundos das Terras Indígenas Xapecó, Toldo Chimbangue, Toldo Pinhal, Aldeia Conda e Toldo Imbu – e os estudantes universitários indígenas da Universidade Estadual de Londrina do Norte do Paraná, dos povos Guarani, Kaingang e Fulni-ô, manifestaram também enorme contrariedade com as declarações de Colatto.  

     

    “Os caciques e lideranças do povo indígena Guarani são contra a PEC 215 e denunciamos que os ruralistas mais uma vez estão usando espaço na Câmara dos deputados para incentivar o racismo e genocídio contra nós, povos indígenas, e angariar votos dos agricultores familiares que, por não compreenderem o mercado de roubo de terras que financia as campanhas eleitorais dos ruralistas, acabam os apoiando”, afirma a Comissão Guarani Nhemonguetá em sua nota pública.

     

    Leia aqui a carta da Comissão Guarani Nhemonguetá

     

    Leia aqui a Carta de Repúdio dos acadêmicos do Curso de Licenciatura Intercultural Indígena – composto por indígenas Kaingang

     

    Leia aqui a carta dos estudantes universitários indígenas da Universidade Estadual de Londrina do Norte do Paraná, dos povos Guarani, Kaingang e Fulni-ô

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  • 26/10/2015

    Jogos Mundiais: protestos, silêncios e invisibilidade indígena

    O desabamento do teto do refeitório no local de alojamento das delegações brasileiras que participam do I Jogos Mundiais dos Povos Indígenas (JMPI) é realmente lamentável. Ocorrido neste sábado (24) pela manhã, resultou em três funcionários feridos. Como consequência, as refeições foram preparadas e servidas de modo precário em locais improvisados.

    Também é inadmissível que, na semana passada, o sistema de aclimatação da cozinha tenha entrado em pane, elevando a temperatura do local a 65 graus, como confirmou o Ministério Público Federal (MPF), e levando oito trabalhadores/as do local a serem atendidos em unidades de emergência, com sinais de desidratação, devido à exposição ao calor excessivo. E por falar em cozinha, fomos informados de que as cozinheiras trabalham das 4 horas da manhã até às 22 horas, sem que haja rodízio, sendo submetidas a uma jornada de trabalho extremamente exaustiva.

    Essas são apenas algumas amostras da forma irresponsável com que foi implantada às pressas uma precária e sofrível infraestrutura para estes jogos mundiais dos povos indígenas, que acontece até o próximo dia 31, em Palmas, no Tocantins.

    Para tentar evitar que aconteçam outros incidentes graves e comprometedores, o MPF se encontra no local dos jogos. Queixas e alertas foram dados mas, infelizmente, a atitude autoritária e pouco transparente na condução do processo não permitiu que se realizasse uma construção participativa do trabalho, com mais tempo e segurança.

    Tendo em vista essa precariedade, por um lado, e uma postura que contraria o espírito de integração e celebração, por outro, com barreiras arbitrárias e “cercas da vergonha”, que impedem e limitam a comunicação e integração entre os próprios indígenas presentes em Palmas, é que foram realizados diversos atos de protesto dentro e fora da Arena na abertura do evento, realizada na última sexta-feira (23).

    Dentro e fora da arena, protestos

    Indignações e protestos, especialmente dos povos indígenas, foram registrados desde o início da chegada das delegações, na semana passada, seja pela impossibilidade de credenciamento para assistir a abertura dos jogos, seja pela falta de estrutura para alojar as delegações que não estivessem credenciadas. Eles aumentaram de intensidade na medida em que foram acontecendo os desmandos, a falta de diálogo, o descaso e a falta de transparência.

    Os protestos tiveram maior intensidade por ocasião da abertura dos jogos. Barrados na entrada da arena, centenas de indígenas fizeram o seu protesto do lado de fora, procurando obstruir a entrada das delegações e ameaçando derrubar as grades. Os gritos e as palavras de ordem eram contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215 – chamada pelos povos de “PEC do Genocídio” –, a paralisação das demarcações das terras indígenas e pelo “Fora Kátia Abreu”. Faixas com estes dizeres foram abertas dentro da arena.

    Próximo ao local do evento também protestaram representantes dos movimentos sociais e aliados da causa indígena. Com inúmeras faixas e mais de uma centena de cruzes fincadas ao longo da avenida de acesso ao local dos jogos, procuraram dar visibilidade às demandas dos povos indígenas, seus direitos, suas lutas e sua resistência: “Jogos sim, mas com terra demarcada, respeito e dignidade”.

    Outras faixas demandavam o “Fim do Genocídio Indígena” e “Não a Matopiba” (a nova fronteira agrícola do agronegócio que o Estado pretende instituir no Nordeste, com extensão de 73 milhões de hectares, que irá atingir 28 terras indígenas, 42 unidades de conservação ambiental, 865 assentamentos e 34 quilombos). O fim de projetos legislativos que ofendem os direitos constitucionais dos indígenas, como a PEC 215 e o Projeto de Lei (PL) 1610, que libera a exploração da mineração em terras indígenas, dentre outros, também foi pauta dos protestos realizados em Palmas.

    Quando a noite veio nos envolver com seu manto, acendemos velas que simbolizam a esperança e a força dos povos indígenas, embalados com canções de luta, resistência e transformação.

    O silêncio eloquente da presidente

    Quando o mestre de cerimonial chamou a presidente Dilma, os participantes se dividiram entre vaias e aplausos. Era, então, esperada uma fala da presidente. Diante do total silêncio dela, um representante da coordenação do evento desandou falação dizendo que “vaia não é do povo indígena, isso aqui não é comício. Podem vaiar nas eleições do ano que vem”.

    Qual terá sido a razão do silêncio? É notório que a presidente tem evitado se encontrar com os povos indígenas. Não seria este um gesto de desconsideração para com os povos indígenas de todo mundo, por parte das autoridades brasileiras?

    Deprimente

    Destaco a seguir o desabafo de uma indígena, feito a partir da realização do ritual de abertura do Jogos:

    “Deprimente, este é o sentimento que me corta a alma. Deprimida é como me sinto ao estar presenciando o que aconteceu aqui na vila olímpica. Vejo e me recuso a olhar a Corrida de Tora, Ritual Sagrado para nós, povos indígenas, sendo apresentado em uma arena e narrado como se fosse rodeio.

    A corrida de tora é praticada em momentos especiais de vidas, buscando sempre o equilíbrio do povo com o Todo. Demonstra a igualdade e a importância que todos têm dentro da comunidade, duas partes que correm sempre buscando estar juntas, caminhar em equilíbrio e respeitar uns aos outros. Não é rodeio, não é e nunca foi competitivo. Não são animais correndo, carregando toras que jamais podem cair. Não existe ninguém querendo chegar antes que o outro. Não há competição.

    É deprimente estar na feira de artesanato indígena, coordenado pelo Sebrae, e me deparar com uma jovem que está vestida com uma roupa diferente que não caracteriza nenhum povo indígena. Usava um cocar indígena e estava de prontidão frente a um painel simplesmente para posar para fotos com visitantes. Me aproximei dela e perguntei de que povo era. Ela respondeu: “não sou indígena, sou modelo”. Fiquei estarrecida com tamanho desrespeito. Quantas mulheres indígenas lindas ocupam aquele espaço e não são vistas, muito menos consideradas pelos organizadores do evento. Contrataram uma modelo para posar de índia!!!.”

    Assim, o I Jogos Mundiais dos Povos Indígenas é um evento onde os indígenas continuam invisíveis para aqueles que organizaram o evento. E do lado de fora da arena mais de 200 indígenas são proibidos de adentrarem. Sendo somente eles o público que teria a compreensão do significado de todos os rituais e atividades que ali aconteceram.

     

    Fotos Egon Heck e Laila Menezes

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  • 25/10/2015

    Enawenê-Nawê é baleado no peito durante ataque de caminhoneiros e fazendeiros em Brasnorte (MT)

    Daliameali Enawenê-Nawê acabou baleado no peito esquerdo depois de ação violenta de caminhoneiros e fazendeiros em Brasnorte, noroeste do Mato Grosso, na tarde deste sábado, 24. Daliameali foi encaminhado para o hospital do município pelo Samu, conforme vídeos divulgados nas redes sociais (é possível ouvir os disparos – assista aqui), e seguiu direto para a mesa de cirurgia. O estado de saúde do indígena é considerado grave e na porta do hospital fazendeiros chegaram a organizar um tumulto.  

    O indígena Daliameali estava com um grupo Enewenê que tentava se dirigir à cidade de Juína. Tanto em Brasnorte quanto em Juína estão os serviços públicos essenciais – saúde e territorial – oferecidos aos indígenas da região. No caminho, os Enawenê encontraram e foram atacados por caminhoneiros e fazendeiros que trancavam trecho da rodovia MT-170, que liga Brasnorte à vizinha Juína, na altura da ponte que passa sobre o rio Juruena, em protesto de retaliação contra os próprios Enawenê.

    Durante este sábado, os Enawenê cobravam pedágio no lado de Juína da ponte. A ação visava angariar fundos para melhorias na estrada que dá acesso à aldeia do povo (na foto). Há mais de um ano os indígenas reivindicam junto ao Poder Público o restauro da via com cascalhos, sem qualquer providência – os Enawenê mantêm apenas uma aldeia, com grandes malocas tradicionais, e por necessidades da comunidade se deslocam com frequência pela terra indígena, tanto pelos rios quanto pela estrada. O pedágio foi também uma forma de protesto encontrada pelos Enawenê para chamar a atenção da sociedade ao descaso das autoridades públicas. 

    A violência dos caminhoneiros e fazendeiros, ligados ao plantio de soja, entre outros monocultivos, e à retirada de madeira das terras indígenas locais, despertou a revolta entre os Enawenê. Informações apuradas junto aos indígenas dão conta de que 400 deles saíram da aldeia em direção à cidade de Brasnorte. Por conta disso, forças policiais civis e militares de toda a região já estão no município.

    Brasnorte concentra um grande número de madeireiras, cartórios e demais pontos de interesses do agronegócio, do setor madeireiro e latifundiário. Em Juína não é diferente. As prefeituras das cidades, os sindicatos rurais, madeireiras e toda sorte de grupos interessados nas terras indígenas dos Enawenê e Myky se opõem aos procedimentos demarcatórios em curso dos territórios tradicionais destes povos. Com panfletos e pronunciamentos de rádio, costumam lançar a população contra os indígenas e seus apoiadores.   

    Constantemente os indígenas são vítimas de ofensas racistas nas duas cidades e amiúde são obrigados a passar semanas sem ir ao centro de Brasnorte, onde se encontra os serviços da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai). Em Juína, os Enawenê e servidores públicos chegaram a ficar acuados na sede da Fundação Nacional do Índio (Funai), em 2013, durante uma manifestação de conteúdo ofensivo contra os indígenas organizada por fazendeiros e madeireiros.

    Histórico

    A violência é parte da estrutura latifundiária da região e remonta a década de 1970, quando massacres contra indígenas em situação de isolamento voluntário – Myky, Iranxê, Rikbaktsá, entre outros – são hoje horripilantes narrativas históricas. Em 1987, o missionário Vicente Cañas, do Conselho indigenista Missionário (Cimi), foi brutalmente assassinado por capangas sob ordens de fazendeiros de Juína. No primeiro semestre desse ano, o júri que inocentou o delegado de Polícia Civil acusado de arregimentar os capangas foi anulado pela Justiça depois de ser considerado manipulado pela falta de análise de provas concretas que incriminavam o delegado. Um novo deverá ser marcado.

    Atualizada em 25 de outubro às 17 horas.

  • 23/10/2015

    Jogos Indígenas: um mundo de contradições

    Na semana em que acontece a abertura do I Jogos Mundiais dos Povos Indígenas, lideranças denunciam na Comissão Interamericana de Direitos Humanos, da Organização dos Estados Americanos (OEA), o genocídio de seus povos em várias regiões do Brasil e, principalmente, no Mato Grosso do Sul. Neste mesmo estado, na Assembleia Legislativa, foi instalada a “CPI do Genocídio”.

    De última quarta-feira (21) para cá, os Guarani-Kaiowá tiveram duas decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) suspendendo a reintegração de posse nos tekohas (“lugar onde se é”) Ñhanderú Marangatú e Guaiviry, no Mato Grosso do Sul, fronteira com o Paraguai. Vitórias fundamentais dos povos indígenas e das lutas contundentes pelos seus direitos, especialmente suas terras. Neste contexto, têm sido decisivas as manifestações de repúdio, as declarações e gestos de solidariedade dos povos indígenas e seus aliados no Brasil e no mundo.

    E o presidente da Comissão Especial da Proposta de Emenda Constitucional (PEC 215), deputado Nilson Leitão, após a realização de três reuniões nesta semana – em que inúmeras manifestações de racismo e colonialismo foram feitas pelos membros ruralistas da comissão -, garantiu que da semana que vem a votação do Parecer da PEC não passa.

    Ou seja, a realidade indígena indica que a realização destes Jogos, e o seu caráter celebrativo, por si, são extremamente contraditórios.

    Dilma Rousseff e Kátia Abreu, juntas na abertura

    Juntamente com a ministra Kátia Abreu, a presidente da República, que se nega a receber representantes dos povos indígenas para tratar da paralisação das demarcações das terras indígenas, estará na abertura do I Jogos Mundiais dos Povos Indígenas. Para garantir a “segurança” da presidente, um forte esquema de segurança foi montado, envolvendo as polícias civil, militar e federal. Segundo um jornal local, até um esquadrão antibombas está à disposição.

    Testando esquemas de segurança e repressão

    Entre os movimentos sociais e povos indígenas vêm circulando informações sobre um sofisticado esquema de “inteligência” de segurança que estaria sendo testado nesses jogos com o intuito de ser utilizado nas Olimpíadas do Rio de Janeiro, no próximo ano. Além disso, estão sendo utilizados espécies de robôs para desarmar artefatos explosivos e bombas, além de cães treinados na identificação de explosivos.

    Na fila dos indignados

    Continua o clima de insatisfação de muitos indígenas, especialmente os que vieram com a intenção de vender seus artesanatos durante a realização do evento internacional. Tinham como referência os jogos indígenas nacionais, onde existia um acesso livre para essas atividades. O fato foi denunciado ao Ministério Público Federal (MPF) que intimou a organização dos jogos a liberar o acesso dos indígenas, caso contrário medidas judiciais poderão ser tomadas.

    Repórteres internacionais mostraram-se surpresos com a proibição imposta aos indígenas de darem entrevistas. Conforme informações colhidas no local, nem pessoas credenciadas puderam adentrar na arena dos jogos. Fotos, nem pensar.

    Quem ganha, quem perde

    Um folder sobre os jogos, produzido pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), tem sido distribuído e divulgado, em português, espanhol e inglês. Este material contém uma série de informações e questionamentos que procuram fazer um contraponto ao ufanismo que envolve os jogos e que tentam desviar o foco das lutas e realidades dos povos indígenas. Além disso, várias lideranças e povos indígenas questionam o fato de se estar gastando vultosas quantias de recursos públicos. Enquanto o governo alega falta de recursos para a demarcação de terras indígenas e políticas públicas para esses povos, a informação corrente por aqui é de que pelo menos R$ 163 milhões teriam sido disponibilizados para os jogos.

    Indígenas insatisfeitos

    “Não sou contra os jogos. Acho até que já deveriam se realizar há mais tempo, só que não concordo com a forma de como estão sendo conduzidos”, expressou uma liderança Guarani-Mbyá de São Paulo.

    Num depoimento emocionado, uma liderança Karajá relatou como se sentiram traídos com a condução dos jogos, falando que a presença de Kátia Abreu, será um horror, pois ela é declaradamente contrária aos povos indígenas: “Será um horror. Estarão zombando de nós. Estão cometendo um genocídio contra nossos povos”.

    “A construção da arena é um padrão não indígena. A gente quer fugir desse formato de ‘rodeio’, de campeonato de índios. Como são os primeiros jogos mundiais, todos esses ingredientes que a gente não conhecia fugiram do nosso controle. A ideia inicial era fazer uma coisa mais aberta, mas tem a questão de segurança, bombeiros. Todas essas situações fizeram com que houvesse um desenho essencialmente urbano” (Agencia Brasil, 21/10/15).

    Conforme desejo manifesto pelos organizadores, a intenção é de que seja dada continuidade aos jogos mundiais indígenas. Porém, a desorganização e as insatisfações demonstradas até o momento mostram que será necessária uma mudança radical nos procedimentos e na condução dos eventos futuros.

     

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  • 23/10/2015

    A luta contra a PEC 215

    No sistema capitalista de produção a humanidade só tem sentido se estiver a serviço das coisas. Da mesma forma, os trabalhadores em geral só são considerados como produtores de coisas que, por sua vez, farão a riqueza daqueles que são os donos dos meios de produção. A vida da pessoa que produz coisas para os donos das empresas ou das terras não tem a menor significação. Ela só vale enquanto estiver em condições de produzir e gerar lucro. Se não estiver girando essa roda, a pessoa em si não importa. Essa é uma verdade inquestionável dentro do sistema capitalista. E é por isso que pessoas como os índios, por exemplo, não tem a menor importância para quem defende esse sistema. Para essas pessoas, o índio é um inútil, não produz coisas, não garante lucro, logo, é passível de ser exterminado.

     

    Essa foi a síntese da argumentação dos deputados que compõem a Comissão Especial da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215 e que são favoráveis à mudanças na Constituição Federal. A PEC, se aprovada, permitirá que todas as decisões envolvendo demarcação de terras – no presente, no futuro e no passado – sejam tomadas, e revistas, pelos deputados. Ora, a maioria dos parlamentares na Câmara dos Deputados defende os interesses dos empresários e fazendeiros. Nesse sentido, é mais do que óbvia a decisão que será tomada.

     

    Se não houver uma força gigantesca por parte da sociedade – e não apenas dos índios –, a PEC fatalmente passará. O que está em questão é a posse da terra. E a terra, para os que defendem o sistema capitalista, é considerada um equivalente do capital. Ela está aí para gerar lucro, não para ser ocupada por índios que não produzem. Importante diferenciar produção de produção capitalista. A terra, para os indígenas, está colocada numa totalidade que envolve a maneira de viver. Ela é espaço de moradia, de comunhão, de produção de alimentos, de coleta de alimentos, é espaço do sagrado, morada dos deuses. A terra não existe para gerar lucros. Ela existe para ser espaço de vida. O que se planta na terra é para usufruto das famílias, tem reprodução compartilhada.

     

    Já para a produção capitalista, a terra é um bem que se compra e vende. Ela tem um valor intrínseco como coisa produtora de lucro, seja para exploração mineral, para produção de monocultura de exportação ou apenas para ficar descansando, engordando o valor para futuras vendas. Não há qualquer relação com a terra, a não ser a de coisa que pode gerar lucro em alguma medida.

     

    Por isso os deputados querem fazer passar a PEC 215. Com essa mudança na Constituição, eles poderão – representando os interesses dos latifundiários – reverter demarcações já feitas e impedir que novas demarcações sejam efetuadas, expulsando os indígenas de seus territórios históricos ou não permitindo que eles se mantenham nas terras originárias. Para esses senhores e senhoras que representam os poderosos, no Brasil não existem mais índios, eles são pessoas “índios genéricos”, como disse um representante de Santa Catarina, Valdir Colatto (PMDB). E o que significa essa expressão? O que seria um “índio genérico”? Alguém que não é mais índio, ou alguém que só aparenta ser? Para o deputado, índio genérico seria aquele que fica usando celular e o verdadeiro é o que está escondido na mata. Ou seja: para ele, bem como para seus parceiros, qualquer um desses “índios” é um problema. Tanto o que está na mata, atrapalhando o progresso, como o que usa celular, porque está se apropriando de um equipamento de “branco” para fazer a luta.

     

    Alguém poderia dizer que Colatto é um ignorante. Mas, ele não é. Na verdade ele está trabalhando muito bem no campo do simbólico, levando a sociedade a crer que se um índio usa roupas, não faz som guturais e ainda usa celular, só pode não ser um índio. E se não é um índio, então suas reivindicações não devem ser levadas em conta. Pura lógica. No final, o que importa mesmo é semear a dúvida, que, depois, será divulgada à exaustão pelos meios de comunicação de massa. E o homem comum, sentado diante da TV acusará o índio e defenderá a ideia de que os deputados, gente de bem, é que estão certos. O fim de tudo isso é um só: desqualificar o índio para apoderar-se de suas terras.

     

    O projeto capitalista não tem espaço para o índio. Como já foi dito, ele não produz coisas. Não gera lucro. Mas, como eles existem, então, a única saída é exterminá-los. Por isso que os conflitos envolvendo a luta pela terra e os indígenas estão cada vez mais frequentes, envolvendo até forças de repressão nacionais, como se viu essa semana no Mato Grosso do Sul. Todos os instrumentos do Estado são colocados à disposição dos que se dizem “proprietários” das terras para despejo dos indígenas que se arvoram a reivindicar um espaço que é seu.

     

    O Estado existe para defender os interesses dos empresários e fazendeiros. O Legislativo está tomado por aqueles que defendem os mesmos interesses. Os meios de comunicação estão a serviço dos mesmos empresários e fazendeiros. Tudo está articulado. Não é sem razão que o senso comum vai assumindo a ideia de que os índios (os verdadeiros) são preguiçosos e os “genéricos” são falsos. Por isso, as pessoas “de bem” conseguem assistir na televisão o massacre de crianças, jovens e velhos nas estradas, nos acampamentos, nas aldeias, como uma coisa natural. “É preciso limpar o Brasil da escória”, dizem os ricos, e os empobrecidos que deveriam cerrar fileiras de solidariedade, assentem, sem perceber que a escória mesmo é outra.

     

    Hoje (22) segue o debate na Comissão Especial da PEC 215 e pela conformação da mesma é bem provável que seja aprovada. A maioria parlamentar é conservadora e defensora dos interesses da minoria que domina os meios de produção no país. Não há dúvidas quanto ao resultado. E, indo para discussão e votação no plenário também é certo de que passe. A correlação de forças na casa legislativa é brutal, sempre contra os de baixo. A representação majoritária é a da classe dominante. Logo, para os trabalhadores, os pobres, os índios, os negros, os desgraçados da história, não há esperanças ali naquele lugar.

     

    A única possibilidade para os que defendem a vida da maioria é a luta. E, essa, é sempre difícil, dura, desigual. No mais das vezes são corporativas, defendem interesses particularistas, não se misturam às grandes questões. Assim, resta aos grupos irem resistindo, usando brechas legais, ocupando espaços.

     

    O certo mesmo era que todos os trabalhadores e toda a gente empobrecida se juntassem na defesa das causas particulares para que dessa defesa nascesse a força para mudar o todo. Hoje são os índios que estão ameaçados, amanhã seremos nós, e cada um em particular. Quando a Câmara define que a universidade pública pode cobrar pela pós-graduação, ela está colocando à margem milhares de nós. Quando decide que mulher estuprada não pode abortar, coloca à margem outras milhares de pessoas. Quando insufla o ódio religioso, a mesma coisa e assim por diante. A lógica do poder é dividir aqueles que podem ser os potenciais inimigos. Eles que lutem entre si. Enquanto isso eles avançam.

     

    Na chamada “casa do povo” segue a discussão da nossa vida, e digo nossa porque o destino dos povos indígenas nos afetará a todos. E, enquanto isso, muitos ainda torcem o nariz para a política, permitindo que suas vidas sejam dirigidas pelos empresários e fazendeiros, acreditando serem defendidos por eles. Não são. Suas vidas só têm valor enquanto produzirem lucro. Se adoecerem, se ficarem velhos, se perderem o emprego, serão também massacrados e dizimados como se fossem coisas inúteis. Não há escapatória. Ou se entende isso e se luta em comunhão. Ou caminhamos todos para o abismo.

     

    21 de outubro de 2015

     

    Leia aqui a Carta Aberta à População dos povos de Santa Catarina, em repúdio à Colatto

     

    Fotos: Povos protestam em Belém (PA) contra a PEC 215

     

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