• 25/01/2016

    Funai vai passar o chapéu

    Funai (Fundação Nacional do Índio) vai recorrer a países como Estados Unidos, Alemanha e Noruega para reforçar o seu caixa em 2016. A decisão, confirmada pelo presidente da instituição, João Pedro Gonçalves, acontece após cortes no orçamento reduzirem os recursos da Funai ao menor nível em quatro anos” (UOL, 13/01/16).


    Por ocasião da criação da Funai, no final de 1967, uma questão central debatida foi que caráter teria o órgão indigenista. Seria um órgão de Estado, que nesse caso garantiria os recursos para funcionamento, ou seria uma fundação, com possibilidade de captação de recursos de diversas fontes, privadas ou públicas, nacionais ou internacionais? Prevaleceu a segunda hipótese, sendo por isso denominada de Fundação Nacional do Índio.

    Na prática, os governos da ditadura faziam questão de bancar a fundação, pois ela precisava estar sob controle. A Funai, por sua vez, buscaria controlar os índios. E com o máximo de rigor. Foi o que aconteceu. A Funai, que herdara 700 funcionários do Serviço de Proteção ao Índio (SPI), depois de sete anos estava com sete mil.

    Nos primeiros anos os recursos provinham em grande parte da exploração “empresarial” dos recursos naturais em terras indígenas, especialmente a madeira e do arrendamento de terras, que na verdade foi também um dos principais mecanismos para invadir os territórios dos povos nativos. O famigerado Departamento Geral de Patrimônio Indígena (DGPI) da Funai funcionou com a mesma filosofia de uma empresa. Os índios tiveram sorte de não prosperar a “mineradora Funai”, como propôs na década de 1970 o delegado regional de Manaus, “Cazuto Kavamoto”.

    Funai: começo ou fim

    O Estado brasileiro, desde que definiu sua política de integração e extinção dos índios, no início do século passado, sempre submeteu sua política com relação aos povos nativos e seus direitos aos interesses das classes e elites dominantes. Portanto, não é de estranhar que o SPI tenha se transformado num antro de corrupção e violência nesse país. É só consultar o Relatório Figueiredo e o relatório da Comissão Nacional da Verdade para confirmar isso.

    A Funai, com seus quase 50 anos de existência, com mais de 30 presidentes, foi alvo de severas críticas por parte dos povos e movimento indígena, que muitas vezes a qualificaram como “Funerária Nacional do Índio”. O deputado Mario Juruna, do povo Xavante, num de seus arroubos de indignação, declarou que a Funai deveria se chamar “Fundação Nacional dos Coronéis”.

    Hoje a Funai encontra-se esquelética e sucateada, sob o fogo cruzado de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), na Câmara dos Deputados, vendo seus orçamentos sendo reduzidos numa inequívoca prova de que  para o  governo nem de  longe a questão indígena é prioridade.

    É também notório que a escolha de um político do PT, o ex-senador João Pedro, enquadrou a Funai no estreito corredor de aprovadora de projetos de interesse do atual governo e normalmente contrários aos  direitos dos povos indígenas.  A recente e apressada aprovação pelo presidente da Funai, da passagem do linhão de Tucuruí até Boa Vista, em pleno território Waimiri Atroari e contra a decisão dos mesmos, é mais um exemplo da nociva função política da Funai.

    Ministério dos Povos Indígenas

    No Chile, a presidente Bachelet, ao criar o Ministério dos Povos Indígenas afirmou que o ministério “colaborará com a criação e a coordenação de políticas e programas para fortalecer os povos indígenas, sua cultura, seus interesses, sua participação em debates importantes, como o da reforma constitucional, e assim evitar toda forma de discriminação arbitrária”. Criou também o Conselho Nacional dos Povos Indígenas, que deverá trabalhar junto com o ministério, e contará com participação de representantes das nove etnias indígenas reconhecidas pelo Estado – aymara, quechua, atacameña, diaguita, kolla, rapa nui, kawésqar, yagán e mapuche. Cada uma terá também seus conselhos específicos que trabalharão como instâncias regionais do Conselho Nacional.

    É claro que criar estruturas que teoricamente são um gesto de valorização dos povos nativos, não necessariamente significa um passo incisivo para a autonomia e autodeterminação dos povos indígenas. Por essa razão os Mapuche, por exemplo, veem com certo ceticismo a criação do ministério. Caso a lei antiterrorismo seja acionada mais uma vez contra esses povos, haverá ministério que se contraponha a essas iniciativas de criminalização por parte do estado chileno?

    Egon Heck

    Cimi – Secretariado Nacional

    Fotos: Laila Menezes

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  • 25/01/2016

    “Nossa sobrevivência física e cultural está ameaçada”, afirmam povos indígenas no FST 2016

    Os povos indígenas presentes no Fórum Social Mundial Temático (FST) 2016, que ocorreu entre os dias 19 e 23 de janeiro em Porto Alegre, divulgaram um documento com um balanço da situação atual dos povos tradicionais no Brasil, denúncias e reivindicações para que seus direitos se concretizem e sejam capazes de garantir justiça, autonomia e dignidade.

    Analisando a situação que se desenrolou desde a primeira edição do FSM, em 2001, os indígenas afirmam que “o balanço que fazemos no FSM Temático 2016 é de que nossas demandas não foram atendidas e sofremos muitos retrocessos”.

    O documento divulgado pelos indígenas presentes no FST questiona o silêncio da mídia tradicional brasileira a respeito da morte de Vítor Kaingang, criança de dois anos assassinada em Imbituba (SC) no penúltimo dia de 2015.

    “No Brasil do século XXI bebês indígenas são degolados por racismo, em local público no sul do país e o que a sociedade e a grande mídia brasileira fizeram? Fizeram silêncio! São coniventes não só pela omissão: alimentam o ódio racial contra os antigos donos dessa terra”, afirma o documento, no qual os indígenas também solidarizam-se com o povo Krenak “pela morte do Rio Doce”.


    O documento denuncia a hidrelétrica de Belo Monte, afirmando que “sua energia é banhada em sangue indígena”, e o massacre do povo Guarani e Kaiowá no Mato Grosso do Sul (MS), onde os indígenas sofrem com a omissão do governo em demarcar as terras indígenas e a violência constante.

    Em função dessas situações que, segundo os indígenas, ameaçam a sua sobrevivência física e cultural no Brasil, e da falta de consulta aos povos em questões que lhes dizem respeito, o documento também afirma que o Brasil desrespeita os tratados internacionais dos quais é signatário.


    “Defendemos direitos territoriais reconhecidos constitucionalmente: que a Constituição seja cumprida e que nossos Povos possam ter de volta a dignidade que nos foi tirada”, afirmam os povos indígenas presentes no Fórum.

    O FST 2016 ocorreu entre os dias 19 e 23 de janeiro, em Porto Alegre, com o tema “Paz, Democracia, Direito dos Povos e do Planeta”, celebrando os 15 anos de Fórum Social Mundial. O evento foi, também, preparatório para a edição mundial do FSM que ocorrerá em Montreal, no Canadá, entre os dias 9 e 14 de agosto – o primeiro a ser realizado no Hemisfério Norte.

    Clique aqui para ler o documento na íntegra.

    Fotos: Marcelo Camargo/Agência Brasil

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  • 22/01/2016

    Povos indígenas do Vale do Javari divulgam carta com condições para dar fim à ocupação da Funai em Atalaia do Norte

    Na última quarta-feira (20), os povos Matis, Mayuruna, Kanamary e Marubo divulgaram uma carta em que fazem reivindicações e pedem a exoneração do coordenador regional da Funai em Atalaia do Norte (AM). No dia 19, mais de cem indígenas destes povos ocuparam a sede da Coordenação Técnica (CR) da Funai – Vale do Javari, localizada na cidade de Atalaia do Norte, a 1.100 quilômetros em linha reta  de Manaus, no extremo oeste do Amazonas e na fronteira com o Peru.

    As reivindicações apresentadas na carta divulgada pelos indígenas e direcionada ao presidente da Funai, João Pedro Gonçalves, são colocadas como condições para que a sede da CR de Atalaia do Norte seja desocupada.

    Entre os pontos que os indígenas do Vale do Javari abordam no documento estão a insegurança que os indígenas enfrentam, especialmente por se localizarem em uma região de tríplice fronteira que está na rota do tráfico internacional de drogas, e a falta de providências para garantir o fim da presença de indígenas Korubo isolados no território dos Matis, o que impede as atividades rotineiras do povo.

    Os indígenas também denunciam "o desrespeito do Coordenador ao povo Matis", denunciando que o coordenador regional da Funai de Atalaia do Norte "intimidou o povo Matis com ameaça de usar a força policial e exército brasileiro de forma desnecessário para cessar conflitos interétnicos".

    No início de dezembro de 2014, dois indígenas Matis foram assassinadas durante conflito com índios isolados do povo korubo, na aldeia Todowak, às margens do rio Coari. Esse fato teria desencadeado retaliação e provocado morte também de isolados.

    Os povos que ocupam a sede da CR denunciam ainda que "não há iniciativa do coordenador para apoiar o desenvolvimentos nas comunidades, com isso aumentando evasão de indígenas para cidades vizinhas em busca de emprego e educação".

    Por fim, os indígenas solicitam que o presidente da Funai cumpra a agenda de visita ao Vale do Javari para construir um plano participativo que atenda às demandas dos povos do Vale, solicitando também celeridade na nomeação de um novo coordenador regional.

    Clique aqui para ler a carta na íntegra.

    Foto: Associação Indígena Matis

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  • 22/01/2016

    Cimi protocola denúncias contra ataques químicos em Tey’i Jusu e intimidações aos Kanela do Araguaia

    Nesta semana, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) realizou, por meio de sua assessoria jurídica, denúncias em diversos órgãos federais a respeito de ataques químicos contra o povo Guarani e Kaiowá da Terra Indígena (TI) Tey’i Juçu, no Mato Grosso do Sul (MS), e de intimidações e ameaças contra o povo Kanela do Araguaia, no Mato Grosso (MT).

    As denúncias foram protocoladas a pedido das comunidades indígenas e dirigidas ao Presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), João Pedro Goncalves da Costa, à Subprocuradora-Geral da República e coordenadora da Sexta Câmara do Ministério Público Federal (MPF), Deborah Duprat, ao Ministro da Justiça, Eduardo Cardozo, e à Corregedoria Geral da Polícia Federal.

    Kanela do Araguaia: invasão de acampamento indígena, intimidações e ameaças de morte

    No caso do povo Kanela do Araguaia, o ofício enviado às autoridades solicita urgência no procedimento de demarcação da Terra Indígena Pukañu, no município de Luciara (MT). Em ata enviada ao Cimi pela Associação da Comunidade Indígena Kanela do Araguaia Núcleo de Canabrava do Norte – MT (Acikan), os indígenas denunciam a ocorrência de ameaças de morte, perseguição a lideranças e tentativas de intimidação.


    Em julho de 2015, um mês após realizarem a retomada de uma área tradicional reivindicada sobre a qual estão sobrepostas fazendas, cerca de 120 indígenas do povo Kanela do Araguaia foram despejados por uma reintegração de posse ilegal e que sequer era direcionada a eles – na ocasião, o juiz estadual que determinou a reintegração de posse afirmou não saber que se tratava de comunidade indígena, situação sobre a qual apenas a Justiça Federal tem competência para decidir. Os indígenas, expulsos pela Polícia Militar, foram levados para fora da retomada em um caminhão de transporte de gado.

    Desde então, os Kanela do Araguaia que foram despejados estão acampados no quintal de uma anciã, no município de Canabrava do Norte (MT).

    Segundo o relato da Acikan, em dezembro, pistoleiros contratados pelos donos das fazendas Londrina e Lago Bonito – esta última, local da retomada da TI Pukañu – invadiram o acampamento indígena procurando pelas lideranças e realizaram ameaças de morte aos indígenas.

    “Estamos confinados em um acampamento […] em situação de vulnerabilidade social e correndo risco de vida, uma vez que estamos constantemente sofrendo ameaças”, afirma o documento da Acikan. “Todos nós estamos apreensivos e decidimos em reunião que só teremos o mínimo de segurança dentro da nossa aldeia de onde fomos despejados em 07 de Julho de 2015”.

     

    Tey’i Jusu: sete ataques químicos registrados em menos de um ano

    No caso do tekoha – lugar onde se é – Tey’i Jusu, as famílias Guarani e Kaiowá que vivem no território denunciam os ataques químicos realizados contra a comunidade ao longo de 2015, e que se intensificaram entre dezembro de 2015 e janeiro de 2016.

    Os ataques têm sido realizados com aviões, que despejam agrotóxicos sobre a comunidade e as nascentes de onde os indígenas coletam água para beber. E, junho de 2015, três ataques com veneno já haviam sido notificados pela comunidade que resiste em Tey’i Jusu.

    Entre os dias 20 de dezembro de 2015 e 12 de janeiro de 2016, pelo menos outros quatro ataques são denunciados pelos Guarani e Kaiowá, sendo que em diversas ocasiões os ataques com veneno são acompanhados pela presença de pistoleiro e outras formas de violência contra os indígenas. Segundo as famílias da tekohá, muitas crianças têm passado mal e adultos e idosos têm apresentado sintomas de intoxicação.

    Atualmente, 25 famílias (entre várias outras que transitam pela área) resistem na tekoha Tey’i Jusu, terra indígena reconhecida pela Funai e cujo estudo para demarcação iniciou em 2008. O Relatório de Identificação e Delimitação (RCID) com os resultados deste estudo, depois de sete anos, já está em condições de publicação e depende apenas da ação da Funai, que tem agido com morosidade e negligência.

    Em dezembro de 2014, cansados de esperar pelo andamento do processo de de demarcação e preocupados com a destruição cada vez mais rápida das matas e recursos naturais de seu território tradicional, em função da monocultura de cana-de-açúcar e soja praticada em fazendas sobrepostas à área, cerca de 100 famílias Guarani e Kaiowá retomaram 70 hectares de seu território tradicional, sobre o qual estão sobrepostas diversas fazendas.

    No dia 8 daquele mês, um brutal ataque feito por pistoleiros resultou na morte da jovem indígena Julia Venezuela, de 17 anos, cujo corpo baleado foi levado pelos pistoleiros em uma caminhonete e nunca mais foi encontrado.

    Em 15 de janeiro de 2016, o Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu uma decisão de reintegração de posse movida por fazendeiros contra os Guarani e Kaiowá de Tey’i Juçu e determinada para acontecer dali a cinco dias. Em represália, fazendeiros e jagunços bloquearam a estrada que liga Tey’i Jusu à reserva Tey Kue, onde vivem cerca de 7000 Guarani e Kaiowá.

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  • 22/01/2016

    Tribunal anula sentença e demarcação da Terra Indígena Maró pode prosseguir

    Reunida em sessão hoje (20/1) a 5ª Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região anulou a controversa sentença do juiz Airton Portela, de Santarém, que em 2014 declarou duas etnias indígenas como inexistentes. A turma, por unanimidade, deu ganho ao recurso do Ministério Público Federal e extinguiu, sem examinar o mérito, ação judicial que contestava a existência dos índios Borari e Arapium. Com a decisão a demarcação da Terra Indígena Maró poderá prosseguir normalmente.

    A ação contra os Borari e Arapium foi iniciada por associações comunitárias, mas ficou provado durante o processo que as terras de todas as associações ficam fora da demarcação. A sentença de Portela ignorou o fato de que as próprias associações pediram desistência da ação judicial e foi publicada algumas semanas depois de uma operação de fiscalização realizada pelo MPF/PA, Fudação Nacional do Índio (Funai) e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), que embargou todas as permissões para exploração madeireira que incidiam sobre a terra indígena.

    Há vários relatórios que comprovam a presença e o interesse de madeireiros na terra indígena, inclusive oferecendo máquinas e combustível para lideranças comunitárias em troca de apoio no processo contra os Borari e os Arapium. Durante os trabalhos de demarcação, a equipe da Funai chegou até a ser ameaçada de morte. A sentença anulada negava o reconhecimento da identidade étnica das comunidades que vivem na região do Arapiuns, em Santarém, com base em impropriedades científicas e distorção dos métodos antropológicos. Contra ela, o MPF apresentou pareceres e notas técnicas assinadas por antropólogos reconhecidos.

    Além de extinguir o processo das associações, o TRF1 mandou de volta para a primeira instância, na Justiça Federal de Santarém, o outro processo que trata da terra indígena Maró, movido pelo MPF, para pedir agilidade no procedimento demarcatório. Nesse processo, a Funai é ré pela demora em publicar o Relatório Circunstanciado de Identificação e Delimitação (RCID), que aponta os limites do território dos Borari e Arapium. Mesmo com o reinício do processo, não há agora nenhum obstáculo legal para que a própria Funai dê prosseguimento à demarcação.

    Processos nº 2010.3902.000249-0 / 2091-80.2010.4.01.3902

    Foto: Ana Aranha/Repórter Brasil

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  • 21/01/2016

    Comissão de Direitos Humanos alerta sobre violência contra índios no Mato Grosso do Sul

    Paulo Pimenta: demora do poder público em homologar as terras indígenas acirra os ânimos na região. Foto: Gustavo Lima/Câmara dos Deputados

    O presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, deputado Paulo Pimenta (PT-RS), foi ao Mato Grosso do Sul para denunciar casos de violência contra os índios Guarani-Kaiowá e cobrar homologação de terras indígenas.

    Junto com representantes da Fundação Nacional do Índio (Funai) e do Ministério Público e com o apoio da Polícia Rodoviária Federal, Pimenta visitou nesta semana a Terra Indígena Taquara, no município de Juti, sudoeste do estado.

    A área já havia sido palco do assassinato do cacique Marcos Veron, em 2003, e ainda enfrenta frequentes e graves conflitos fundiários envolvendo os Guarani-Kaiowá e seguranças de fazendeiros que também reivindicam a propriedade das terras.

    Segundo Paulo Pimenta, os índios denunciaram ameaças de pistoleiros e há risco de agravamento dos casos de violência na região. "Os indígenas denunciam a presença de pistoleiros armados, durante a madrugada e à noite, ameaçando: atiram e assustam as pessoas”, disse o deputado.

    “Estamos aqui para denunciar isso, pedir a presença das autoridades e evitar que a violência se repita e que os casos de assassinato, que têm sido tão comuns no Mato Grosso do Sul, continuem ocorrendo impunemente. A presença da comissão tem a finalidade de garantir que não voltarão a ocorrer episódios de violência física e psicológica contra os indígenas", afirmou Pimenta.

    Ranking de assassinatos

    Segundo relatório do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), o Mato Grosso do Sul lidera o número de assassinatos de índios no País: foram 25 em 2014. A disputa fundiária está na base dessa violência: o estado tem mais de 30 áreas em conflito.

    No caso da Terra Indígena Taquara, Pimenta lembrou que a área já havia sido reconhecida pela Funai e pelo Ministério da Justiça, mas fazendeiros recorreram ao Supremo Tribunal Federal (STF), que, posteriormente, remeteu o caso para a Justiça estadual. Novos laudos antropológicos e perícias foram solicitados.

    Para o deputado, a demora do poder público em homologar as terras indígenas acirra os ânimos na região. "Todos perdem com a demora nas demarcações. A situação atual traz instabilidade para os investimentos e para a segurança das pessoas", disse Pimenta. "É importante que as pessoas entendam que não é uma fazenda, onde está lá o proprietário. É tudo terra arrendada, com grandes plantações de cana-de-açúcar, grandes plantações de soja. Os proprietários dessas áreas sequer moram no Mato Grosso do Sul”, declarou.

    “Há lavouras enormes até de propriedade de multinacionais. E isso leva ao conflito. Tudo isso precisa de uma solução, e essa solução só vai ocorrer na medida que o poder público fizer a sua parte e o processo de homologação das áreas [indígenas] efetivamente acontecer."

    Paulo Pimenta calcula que, com apenas 2% da área agricultável do Mato Grosso do Sul, seria possível resolver a demarcação de terras indígenas no estado. Segundo dados citados pelo deputado, cerca 100 mil indígenas de 11 etnias vivem no estado, sendo 45 mil Guarani-Kaiowá.

    O deputado continua no Mato Grosso do Sul e pretende visitar outras áreas indígenas em que há conflito com proprietários de terras. Esta é a sexta visita de representantes da Comissão de Direitos Humanos da Câmara ao Mato Grosso do Sul, desde que aumentaram as denúncias de violência contra os Guarani-Kaiowá. No auge dos conflitos, até mesmo a Força Nacional de Segurança chegou a ser acionada.

    Audiências públicas também já debateram o tema na Câmara. Por outro lado, a bancada do agronegócio tem denunciado fraudes em laudos antropológicos e investiga supostas irregularidades em demarcações de terras indígenas e quilombolas por meio da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Funai e do Incra.

    Reportagem – José Carlos Oliveira

    Edição – Pierre Triboli

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  • 20/01/2016

    Povo Kreepyn-Katejê teme ficar sem acesso a água potável na Terra Indígena Geralda/Toco Preto, no Maranhão

    Pela terceira vez em cinco meses, os indígenas do povo Kreepyn-Katejê foram à cidade de Itaipava do Grajaú, no Maranhão, manifestarem-se pela melhoria das estradas que dão acesso à Terra Indígena (TI) Geralda/Toco Preto. Atualmente, os indígenas são abastecidos de água potável por caminhões-pipa e, caso as estradas não sejam recuperadas, os indígenas temem ficar sem acesso à água, justamente no período de chuvas da região. O povo Kreepym-Katejê – mais conhecido como povo Timbira – também manifestou-se contra a discriminação que os indígenas têm sofrido no sistema de saúde do município.

    A TI Geralda/Toco Preto vivem cerca de 350 pessoas do povo Kreepym-Katejê em três aldeias distintas. Na aldeia Sibirino, localizada a 30 Km da cidade de Itaipava do Grajaú, existe um único poço artesiano, perfurado pela Secretaria Especial de Atenção à Saúde Indígena (Sesai) em 2004. O problema é que desde que o poço foi colocado em funcionamento, a água que sai dele é salgada e imprópria para o consumo. Por isso, o abastecimento por caminhões-pipa é tão importante e, no momento, a única solução para que os indígenas não fiquem sem acesso à água potável.

    "Estamos aqui enfrentando chuva e discriminação e nos manifestando porque a situação é complicada de verdade. Se não arrumarem as estradas de acesso à aldeia, o caminhão-pipa que nos abastece de água não vai poder passar e vamos ficar sem água", afirma Fábio Timbira, uma das lideranças da aldeia Sibirino.

    Segundo ele, o povo Kreepym-Katejê sofre bastante discriminação quando vai à cidade e quando manifesta-se por seus direitos. Na última vez, em novembro, quando os indígenas ocuparam a sede da prefeitura de Itaipava do Grajaú, o prefeito pediu oito dias de prazo para arrumar as estradas. "Esses oito viraram dezoito, que viraram trinta, e até hoje nada foi feito e a estrada só piora. O rio Grajaú, que agora está cheio, é muito poluído, passa por quatro cidades antes de chegar aqui. A água dele não é potável. Então, no momento, dependementos das estradas para termos água para beber".

    Na manifestação de novembro, os indígenas também exigiram da Sesai a construção de dois postos de saúde nas aldeias da TI Geralda/Toco Preto, a construção de um novo poço artesiano na aldeia Sibirino, a disponibilização de uma equipe multidisciplinar de saúde indígena numa base mais próxima e de um carro para que a comunidade tenha autonomia para se deslocar quando precisar de atendimento urgente. De todas as reivindicações, apenas o carro foi disponibilizado, segundo Fábio Timbira.

    Os indígenas também relatam a constante ocorrência de situações de preconceito e discriminação quando buscam atendimento de urgência ou emergência no hospital da cidade. Jainara Kreepym conta que, em dezembro, o fogo que consumiu parte da TI Geralda/Toco Preto queimou a única ponte de ligação entre a aldeia e a cidade. Na ocasião, uma mulher indígena entrou em trabalho de parto e teve que ser levada de moto até o hospital.

    Depois da viagem precária, segundo o relato da indígena, foi descoberto que o bebê estava numa posição que é contraindicada para a realização de parto normal, mas que, mesmo assim, os médicos teriam se negado a realizar a cesareana, submetendo a mãe a riscos desnecessários. "Depois do parto, os parentes quiseram visitar a mãe e o bebê, mas foram impedidos porque ‘não estavam usando calças’. Por que um indígena é obrigado a usar calças, se não se sente confortável assim?", questiona Jainara. "Isso é comum, e nos sentimos discrminados e lesados em nossos direitos".

    Segundo Fábio Timbira, essa questão já foi discutida com o prefeito no primeiro dia de ocupação e o administrador municipal garantiu que a situação mudaria. Em relação às estradas, porém, os indígenas afirmam que não aceitam mais promessas. "Só vamos sair daqui depois que ele mandar descer as máquinas lá na estrada, quando vermos que as obras já começaram", afirma a liderança.

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  • 20/01/2016

    DOF atua como segurança privada em terra indígena, diz deputado Paulo Pimenta

    Em visita a terras indígenas nas regiões de Juti e Caarapó, interior do estado, o deputado federal e presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara de Deputados (CDHM), Paulo Pimenta (PT), afirmou que a DOF (Departamento de Operações de Fronteira), polícia estadual, “atua como segurança privada de maneira ostensiva, pra intimidar lideranças com fazendeiros”.

    Paulo Pimenta esteve pela manhã no tekoha, lugar onde se é, Taquara, na região de Juti, onde a comunidade denuncia diariamente ataques de pistoleiros e ações da DOF. Essa semana, uma das lideranças, Valdelice Veron, afirmou que havia encaminhado denúncia à CDHM. A comissão já tinha realizado visita a comunidade no final de 2015.

    “Tivemos uma reunião com as lideranças, com o Ministério Público Federal e com a Funai (Fundação nacional do índio). Em primeiro lugar, temos que deixar claro que todo esse processo é resultado da morosidade dos processos judiciais, uma área que vem enfrentando um processo demarcatório ao longo de muito tempo e é fundamental que haja uma priorização por parte da justiça. A área foi declarada e reconhecida”, afirmou o deputado. Segundo ele, novos laudos periciais antropológicos serão requeridos.

    Paulo Pimenta explicou que a reunião será formalizada em um relatório oficial. “Nós vamos formalizar uma serie de documentos, todas as ações desses órgãos do Estado, em especial da DOF, e vamos encaminhar para o Ministério da Justiça, Funai e Poder Judiciário e é evidente que vamos acompanhar para que não haja violações e violências”, esclareceu, questionado sobre ações concretas em relação à casos de violência como estupros coletivos e ataques de pistoleiros.

    O presidente também comentou a ausência de segurança no local, já que uma das reclamações dos Guaranis e Kaiowás é a falta de auxílio da polícia federal quando solicitada. Isso tudo recebi denúncias e também vou dar ciência na justiça, também pela atuação da própria polícia federal”, afirmou.

    “É muito importante estar in loco, conversar com lideranças, estar em território para fazer o relatório, para encontrar soluções, para que a demarcação ocorra de maneira ágil. Essa situação é ruim pra Mato Grosso do Sul, traz instabilidade e insegurança jurídica. Dificulta investimentos, porque vende-se soja, cana, de terras com conflitos. E estamos falando de uma coisa absolutamente possível de ser resolvida, são cerca 2% de área agricultável. Todo mundo deve ter interesse de falar sobre isso, de ter boa vontade, acho que não resolver isso é ruim para o país”, concluiu.

    Paulo Pimenta segue durante a tarde para o tekoha Tey’i Jusu, na região de Caarapó, onde irá se reunir com lideranças Guaranis e Kaiowás e colher mais informações que farão parte do relatório oficial.

    Fonte: Top Mídia News

    Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil

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  • 20/01/2016

    Violenta reintegração de posse retira indígenas Pataxó de área tradicional já delimitada na Bahia

    Uma truculenta ação de reintegração de posse ocorrida na aldeia Cahy, localizada na Terra Indígena (TI) Comexatibá, na Bahia, pegou de surpresa dezenas de famílias do povo Pataxó do extremo Sul da Bahia na manhã desta terça-feira (19). Casas foram destruídas, muitas delas com os pertences dos indígenas em seu interior, além do posto de saúde e da escola, cujos materiais local foram jogados em uma área a quase um quilômetro da aldeia.

    Conforme o relato dos indígenas, cerca de 100 policiais federais, militares e civis, acompanhados de agentes da Companhia Independente de Policiamento Especializado/Mata Atlântica (CAEMA), chegaram à aldeia às sete horas da manhã anunciando a reintegração de posse. “Eles deram um prazo para a gente retirar as coisas das casas, mas o prazo não foi suficiente. Mesmo assim, eles tocaram as patrolas por cima, com as coisas dentro mesmo”, afirma Xawã Pataxó, liderança da aldeia Cahy.

    “A reintegração aconteceu de surpresa, no dia em que a comunidade estava se organizando para a festa de São Sebastião. A escola estava sendo organizada para o início do ano letivo, e eles tiraram tudo de dentro e jogaram numa área quase um quilômetro longe da aldeia, de fogão a giz de cera. Agora estamos na rua, não sabemos para onde ir”, relata a liderança.

    Outros relatos publicados nas redes sociais dão conta de que as estradas que davam acesso à área indígena haviam sido bloqueadas durante a ação de despejo, de maneira que os indígenas ficaram isolados enquanto sofriam a truculenta ação dos policiais. Um vídeo publicado no facebook mostra uma senhora indígena em frente aos escombros do que era sua casa, indignada e confusa com a situação. “"Eu queria que a Funai o mais rápido tomasse providência. […] Eu tenho também sete filhos, um deles é deficiente, tem outra pequena de sete meses. Como faço, vou ir pra onde, se não tenho pra onde ir? Estou com meu coração doendo”.


    Em 2013, os Pataxó da aldeia Cahy retomaram uma parte de seu território tradicional, que já estava sob estudo da Fundação Nacional do Índio (Funai) desde 2006. A partir da retomada do território, os indígenas passaram a sofrer uma série de ações de reintegração de posse movidas pelo Incra, pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), por fazendeiros e por pousadeiros (donos de pousada que exploram o turismo na região).

    A aldeia Cahy é uma das nove que compõem a TI Comexatibá, que fica no distrito de Cumuruxatiba, município de Prado (BA) e cujo Relatório Circunstanciado foi publicado pela Funai no dia 27 de julho de 2015. Nesta data, 28 mil hectares foram identificados e delimitados como pertencentes ao território tradicional dos Pataxó, e o passo seguinte – ainda aguardado – deve ser a publicação da Portaria Declaratória do Ministério da Justiça.

    Há muitos interesses privados na área da TI Comexatibá e, segundo os Pataxó, há diversas ocupações de má-fé – que não poderiam, portanto, ser indenizadas – incidindo sobre a área tradicional. “Tem muitos interesses na nossa terra, tem gente que quer fazer resorts, fechando até as praias para fazer áreas privadas para exploração”, afirma a liderança Pataxó.


    Em agosto de 2015, homens armados invadiram a aldeia Cahy e queimaram uma maloca que continha artesatos e objetos de uso tradicional e religioso. Em seguida, ocorreram uma série de ataques de pistoleiros e os indígenas chegaram ao ponto de esconder seus filhos em caixas d’água à noite, com medo dos tiros.

    A reintegração de posse executada na manhã desta terça-feira (19) foi determinada pelo juiz Guilherme Bacelar, da Subseção da Justiça Federal de Teixeira De Freitas (BA), e surpreendeu os Pataxó por tratar-se de uma área já identificada e delimitada e porque, nos últimos meses, os indígenas vinham fazendo várias reuniões com representantes do poder público para garantir a permanência da comunidade na área que está com o processo de demarcação avançado, aguardando a publicação da Portaria Declaratória pelo Ministério da Justiça.

    Na decisão proferida pelo juiz em favor de uma fazendeira da região, contudo, o relatório já publicado pela Funai não seria critério suficiente para impedir a reintegração de posse, e a situação de insegurança e vulnerabilidade em que os indígenas agora se encontram também não foi considerada um problema. “A gente tinha horta lá, é uma parte importante da nossa subsistência o plantio de mandioca, melancia que a gente vende pro pessoal da cidade. Não sabemos como vamos fazer agora”, afirma a liderança Xawã Pataxó.

    Em setembro de 2015, o mesmo juiz decidiu não conceder uma liminar requerida pelo Ministério Público Federal (MPF) em ação civil pública. Na ação, o MPF caracterizava o caso como de “grave omissão” do poder público, em função da insegurança física e jurídica decorrente da demora na demarcação, e solicitava que o juiz Guilherme Bacelar estabelecesse um prazo de 180 dias para o Ministério da Justiça publicar ou manifestar-se sobre a Portaria Declaratória da TI Comexatibá.

    Os Pataxó despejados da área já identificada e delimitada como sua realizaram hoje uma manifestação na cidade de Prado, denunciando a brutalidade da reintegração de posse e buscando solução para a situação de vulnerabilidade a que agora estão submetidos.

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  • 20/01/2016

    Indígenas ocupam sede da Funai em Atalaia do Norte

    Por volta das nove horas de ontem (19), um grupo de aproximadamente 40 indígenas do povo Matis ocupou a sede da Coordenação Técnica da Fundação Nacional do Índio – Funai, na cidade de Atalaia do Norte, localizada a 1.100 quilômetros em linha reta  de Manaus, no extremo oeste do Amazonas, na fronteira com o Peru. Os oito funcionários do órgão e o coordenador local, Bruno Pereira de Araújo, foram levados a deixar o prédio.

    A forma desrespeitosa com que funcionários da Funai teriam tratado os Matis e o não atendimento da reivindicação de proteção para evitar conflitos com grupos sem contato teriam motivado a ocupação. 

    Em novembro do ano passado, durante reunião na sede da Funai em Atalaia do Norte, um dos funcionários da Funai teria agido de maneira brusca e quebrado a flecha de um dos líderes Matis. Na ocasião, estava presente o coordenador do Departamento de Índios isolados da Funai, Carlos Travassos.

    Travassos também teria causado grande irritação aos Matis, tendo acusado esse povo de provocar conflito com os Korubo.

    De acordo com o presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena (Condisi), Jorge Duarth Comapa, os Matis vem pedindo há meses que a CTL da Funai em Atalaia do Norte adote medidas para impedir o avanço dos grupos isolados nas aldeias Matis. Recentemente, na aldeia Paraíso, localizada no rio Branco, afluente do rio Ituí, distante da sede municipal aproximadamente 900 quilômetros por via fluvial, um grupo isolado teria matado um cachorro e retirado parte da roça.

    “Os Matis estão com medo de serem atacados e de que ocorram mais mortes”, diz Jorge Marubo.

    Os indígenas dizem, ainda, terem informado o Coordenador da Frente de Proteção Etnoambiental sobre contato de dez indígenas Korubo, provocado por indivíduos Matis nos arredores da aldeia Tawaya, às margens do Rio Branco.

    Em outubro do ano passado aconteceu outro contato com grupo Korubo, de onze pessoas.

    No início de dezembro de 2014, dois indígenas Matis foram assassinadas durante conflito com índios isolados do povo korubo, na aldeia Todowak, às margens do rio Coari. Esse fato teria desencadeado retaliação e provocado morte também de isolados.

    A ocupação da Funai, inicialmente feita somente com um grupo de Matis, conta agora com cerca de 80 pessoas também dos Marubo, Kanamari, Kulina e Matsés. Os indígenas sustentam que só sairão do local quando o presidente da Funai, João Pedro Gonçalves, comparecer ao local para discutir a implantação de uma Coordenação Técnica na região onde os conflitos vem ocorrendo.

    Cimi Regional Norte I (AM/RR)

     Fotos: Portal Jambo Verde

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