• 10/07/2017

    Indígenas Guarani Mbya no Rio Grande do Sul divulgam documento final após encontro de lideranças


    Foto:Ruy Sposati

    Lideranças Guarani Mbya reunidos em encontro na Terra Indígena Jatai’ Ty, Canta Galo, município de Viamão, Rio Grande do Sul, analisaram a conjuntura das políticas indigenistas no país. No final da reunião, que ocorreu de 28 a 30 de junho, divulgaram documento onde repudiam as paralisações nas demarcações das Terras Indígenas e as indicações de políticos ruralistas para cargos nos órgãos indigenistas do governo no Sul do país.

    Representantes de 11 terras indígenas assinaram o texto que exige da Funai agilidade nas demarcações das Terras Indígenas. Referente ao direito originário das suas terras, as lideranças demonstram preocupação com os instrumentos jurídicos, como o Marco Temporal, que buscam reforçar a suspensão e legitimar a morosidade do Estado no serviço de homologação dos territórios tradicionais. “O Marco Temporal é mais uma estratégia de morte contra nossos povos e vai legitimar todo um passado de grilagem de nossas terras, vai legitimar a expulsão e a violência praticada contra nós, no passado e no presente”, declaram no documento.

    Sem-terra, em acampamentos indignos, indígenas Guarani Mbya estão expostos as violações dos seus direitos básicos. “Em função dessa política de omissão quanto a esse direito que temos, nossas famílias são obrigadas a viverem em pequenas áreas de terras degradadas ou em acampamentos improvisados nas margens das rodovias”.

    A nota repudia ainda as interferências de parlamentares ruralistas em órgãos indigenistas do governo, como na Fundação Nacional do Índio e na Secretaria Especial de Saúde Indígena. “Repudiamos essa intervenção política e a denunciamos, pois é inaceitável que sejam loteados cargos públicos para atender aos interesses de setores que não escondem sua raiva e desprezo por nós”. Na última semana uma delegação dos povos Kaingang e Guarani protestou em Brasília contra as indicações políticas a Funai e Sesai do Interior Sul.

    Leia o documento final abaixo:

    Documento Final do Encontro de Lideranças Guarani Mbya no Rio Grande do Sul

    Nós, lideranças indígenas do Povo Guarani  Mbya, nos reunimos  na terra indígena  Jatai’ Ty, entre os dias 28 a 30 de junho  de 2017 para discutirmos sobre as grandes questões da conjuntura política e econômica que afetam nossos direitos, nossas terras e nossas vidas.

    Estamos muito preocupados com os rumos que estão sendo dados para a atual política indigenista. Percebemos que há muita interferência de políticos ruralistas em assuntos que afetam a nossa vida, inclusive com a indicação dessas pessoas para cargos e funções importantes dentro da FUNAI. Repudiamos essa intervenção política e a denunciamos, pois é inaceitável que sejam loteados cargos públicos para atender aos interesses de setores que não escondem sua raiva e desprezo por nós, e querem impedir que se demarquem nossas terras e que se respeitem os nossos direitos.
    Manifestamos nossa indignação com a paralisação das demarcações das terras indígenas, especialmente aquelas de nossas comunidades no Sul e Sudeste do país. Há muitos anos a Funai não vem cumprindo com suas obrigações de demarcar e fiscalizar as terras indígenas. Em função dessa política de omissão quanto a esse direito que temos, nossas famílias são obrigadas a viverem em pequenas áreas de terras degradadas ou em acampamentos improvisados nas margens das rodovias.

    Lamentavelmente a Funai, nos últimos tempos, tem atuado no sentido de impor limites aos procedimentos de demarcações de terras e, para isso, usa de estratégias perversas, por exemplo, de criar grupos de trabalho para realizar os estudos de identificação e delimitação das terras e depois os paralisa sem uma conclusão ou solução. Mantem, com isso, a incerteza e a insegurança para nosso povo, ao mesmo tempo em que desrespeita um preceito da Constituição Federal, no qual se afirma que as terras indígenas devem ser demarcadas (art 231). A Funai tem utilizado, nos últimos anos, uma postura no mínimo antiética, pois sugere que os laudos antropólogos, depois de concluídos, contenha uma carta conclusiva afirmando que as terras estudadas não são de ocupação tradicional indígena. Isso é grave porque, ao mesmo tempo, nega nossos direitos às terras e desperdiça recursos públicos, utilizando toda a estrutura do órgão indigenista não para resguardar nossos direitos, mas sim os interesses de grupos que invadiram ou saquearam as nossas terras.

    Nós estamos muito preocupados com o que vem sendo tratado, no campo jurídico, como marco temporal da Constituição Federal de 1988. Esse argumento jurídico foi criado para tentar anular o direito inalienável e imprescritível às nossas terras, conforme se estabelece na lei maior dos brancos. Solicitamos que nossos apoiadores e parceiros de luta nos ajudem a discutir com os juízes, desembargadores e ministros dos tribunais superiores essa questão, porque ela agride nossa história passada, agride nossa existência no presente e vai comprometer nosso futuro. O Marco Temporal é mais uma estratégia de morte contra nossos povos e vai legitimar todo um passado de grilagem de nossas terras, vai legitimar a expulsão e a violência praticada contra nós, no passado e no presente.

    Com bastante preocupação nós vemos que no campo da saúde, a política não vem sendo desenvolvida para atender as nossas necessidades. Também percebemos que há indicações de cargos e funções dentro da Secretaria Especial de Saúde Indígena que atendem exclusivamente aos interesses de políticos governistas. Isso é inaceitável porque compromete o desenvolvimento das atividades administrativas e de assistência em nossas comunidades. Ao invés de se priorizarem as ações em saúde para que possam melhorar nossa qualidade de vida e garantir condições adequadas de assistência aos guarani e a todos os povos indígenas há preocupação apenas com os cargos e os salários. Defendemos a permanência daqueles servidores comprometidos com a saúde indígena, e os que não são comprometidos devem ser dispensados.

    Para enfrentar todos esses desafios, nossos líderes religiosos, os Karaí, as Kunhã Karaí nos animam com as palavras de sabedoria e de luta. Eles repetem que não podemos deixar de nos unir e lutar por nossos direitos e que, com a presença forte de Ñhanderu nas nossas vidas e com a força dos Guarani, dos outros povos indígenas e de nossos aliados, vamos conseguir enfrentar todos os inimigos. Seguiremos caminhando para proteger as nossas terras, as nossas matas, as nossas águas e todos os bens que a natureza nos oferece.
    Canta Galo, 30 de junho de 2017.

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  • 07/07/2017

    Delegação indígena da Bahia denuncia violações de direitos ao ministro da Saúde e assessor da Casa Civil


     Pataxó, Tupinambá e Tumbalalá trazem a Brasília exigências na saúde e demarcações de terras. Fotos: Guilherme Cavalli / Cimi

    Por Guilherme Cavalli, da assessoria de comunicação

    Na tarde de ontem, quinta-feira (06), delegação de indígenas Pataxó, Tupinambá e Tumbalalá, povos do estado da Bahia, reuniu-se com o ministro da Saúde, Ricardo Barros, em incidência que denuncia a precariedade do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) de Salvador. O grupo de 50 lideranças havia se reunido na terça-feira (04) com Marco Antônio Toccolini, responsável pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai). Descontente com os encaminhamentos do secretário, um grupo de 10 representantes reapresentou as pautas no ministério responsável pela Secretaria Especial.

    As solicitações trazidas pelas lideranças exigem o fortalecimento e estruturação da gestão do DSEI Bahia. Para Aruã Pataxó, presidente da Federação Indígena das Nações Pataxó e Tupinambá do Extremo Sul da Bahia, indicações políticas para os cargos que prestam serviço a saúde indígena não devem anular a eficiência técnicas. “Precisamos de gestores que tenham conhecimento necessário para gerir a saúde indígena, que na Bahia está um caos. Enfrentamos sérios problemas, que vão desde necessidades básicas até questões estruturais”, salientou o cacique. “Não tivemos os resultados esperados na Sesai. Viemos aqui para encontrarmos soluções aos nossos problemas. São dificuldades que levam a morte. Vidas estão sendo perdidas enquanto privilegiamos indicações políticas”, ressaltou.


    Ministro da Saúde garantiu aos indígenas investimentos no DSEI Bahia

    A falta de veículos a serviço do órgão de saúde indígena é outro problema recorrente apresentado por Aruã. Segundo a liderança, a escassa quantidade de carros disponíveis dificulta a visitação das equipes responsáveis pelo atendimento básico nas aldeias. “Os grupos médicos dos polos básicos não estão indo para as aldeias. Inclusive, a cobertura vacinal está comprometida em várias comunidades indígenas”. 

    Em resposta às reivindicações da delegação, o ministro saúde apontou a liberação de investimentos que fortalecerão o DSEI Bahia. “Nós temos todo o interesse de resolver o problema dos DSEIs e fortalecer a saúde indígena. Buscaremos investimentos que deem atenção integral a colocações de vocês”, afirmou Ricardo Barros. O secretário da Sesai, Marco Antônio Toccolini, recuperou o compromisso assumido na reunião da terça-feira de enviar um grupo de trabalho para sindicância na administração do DSEI Bahia. Segundo Toccolini, a equipe visitará o estado na próxima semana.

    Reunião na Casa Civil

    Na manhã de hoje, sexta-feira (07), representantes da delegação se encontraram com Renato Rodrigues Vieira, assessor especial da Casa Civil. A reunião, que encerra a agenda dos indígenas em Brasília, buscou alternativas para o progresso jurídico sobre demarcações das terras indígenas. Para Aruã Pataxó, dar prioridade as demarcações dos territórios tradicionais é encontrar soluções, inclusive, para a crescente violência no campo. “Quando pensamos alternativas para a morosidade do governo em demarcar as terras indígenas buscamos amenizar os conflitos que ocorrem na região. Nas terras próximas a Ilhéus foram 30 lideranças indígenas que já tombaram devido as terras não estarem demarcadas”.


    Na Casa Civil, indígenas debateram a situação das terras indígenas na exigência de demarcação

    Na ocasião, que contou com a presença de funcionários da Funai responsáveis por identificar e sinalizar os limites do território tradicionalmente, analisou-se os processos que envolvem a Terra Indígena Tupinambá de Olivença, identificada, sem impedimento jurídico, mas que aguarda declaração dos limites pelo Ministério da Justiça (MJ); a Terra Indígena Barra Velha, regularizada, mas que passa por um processo de revisão de limites; e a Terra Indígena do povo Tumbalala, delimitada, mas pedido verificação pelo MJ. “Trazemos essas situações para a Casa Civil por acreditar ser importante o monitoramento de vocês. As vezes temos a sensação que nada é feito junto a Funai. Parece que não temos defensores para as demarcações das Terras Indígenas”, lamentou Aruã Pataxó

    As lideranças protocolaram nas reuniões durante a semana documentações que denunciam tráfico de influência, assédio moral, ameaça, negligência e omissão, fraude em documentações, coerção de funcionários, injúria racial e peculato. “Viemos com esses documentos dar suporte jurídico ao nosso desejo de atenção para a saúde indígena do estado”, reforçou Aruã Pataxó ao representante da Casa Civil.


    Estiveram na reunião representantes da Casa Civil, da Funai, da Sesai e do Cimi

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  • 06/07/2017

    Direitos negados: Kaingang ainda lutam por tradução e intérpretes em processo penal


    Julgamento envolve assassinatos ocorridos na região da Terra Indígena Kandoia, em Faxinalzinho (RS). foto: Renato Santana/Cimi

    Com decisões que remontam à época da Ditadura Militar, a Justiça Federal do Rio Grande do Sul e o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) negaram a 19 indígenas do povo Kaingang a tradução de um processo judicial no qual são réus. Depois da negativa a um Habeas Corpus, em junho, novo recurso foi submetido ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), buscando garantir aos indígenas a efetivação de direitos que, há quase 30 anos, a Constituição Federal lhes assegurou.

    O recurso em Habeas Corpus produzido pela Assessoria Jurídica do Cimi, que atua na defesa dos indígenas no processo, pede novamente a tradução da denúncia para o Kaingang e a presença de intérpretes para que as testemunhas Kaingang possam se expressar na própria língua, além de auxiliar a compreensão do processo pelos 19 indígenas acusados do assassinato de dois agricultores. Também é solicitada a realização de laudo antropológico para averiguar o grau de entendimento do português e trazer aos autos a cosmovisão Kaingang dentro de sua condição indígena.

    Em 20 de março, o Juiz Federal da Vara de Erechim (RS), onde o processo de mérito tramita, negou o pedido de tradução do processo e de presença de intérpretes para os 19 réus Kaingang e as testemunhas. Sem nenhuma fundamentação especializada, o juiz decidiu que, embora os acusados tenham o domínio da língua nativa Kaingang, “ao que tudo indica comunicam-se e entendem a língua portuguesa e, por conseguinte, conhecem a acusação que pesa contra eles”.

    O juiz ainda afirma que o fato dos indígenas terem permanecido calados durante o depoimento na delegacia, fazendo uso do direito de silêncio, seria uma evidência de que conhecem perfeitamente o português.

    Na segunda instância, a situação se repetiu. Em junho, ao julgar o Habeas Corpus solicitando a tradução, a presença de intérpretes e perícia antropológica, o TRF-4 reforçou os argumentos integracionistas do juiz de primeira instância. O laudo antropológico seria dispensável, conforme nova decisão, “no caso de indígenas que estão integrados à sociedade não índia envolvente e que possuem conhecimento a respeito dos costumes a ela inerentes e compreensão a respeito de suas regras”.

    A perspectiva integracionista, que direcionou a atuação do Estado brasileiro durante o período da Ditadura Militar, pretendia a integração dos indígenas à “comunhão nacional” por meio do abandono de sua identidade. Essa visão foi superada pela Constituição Federal de 1988, que reconheceu aos povos indígenas sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições.

    “O poder Judiciário precisa abandonar de vez os equívocos das políticas de integração e estar pronto para receber o paradigma constitucional no que tange aos direitos indígenas consagrados em 1988, na interpretação e principalmente na aplicação da lei. Sobretudo num processo penal em que os acusados e as testemunhas de defesa são indígenas”, avalia a assessora jurídica do Cimi, Carol Hilgert, uma das autoras do recurso.

    A decisão do TRF-4 ainda afirma que existe “desnecessidade de perícia antropológica, pois a ilicitude do homicídio é reconhecida por qualquer comunidade indígena, não havendo dúvidas que a conduta de matar alguém não faz parte dos costumes e tradições do povo Kaingang”.

    No recurso, os advogados argumentam que essa afirmação induz a uma lógica equivocada. “Tal tipo de aferição só poderia ser feita para cada povo, em perícia técnica através de laudo antropológico e de maneira contextualizada. Vale lembrar que na nossa própria cultura há casos em que a conduta matar alguém é tida como não reprovável, como é o caso da legítima defesa”.

    Amigos da corte

    Após a nova negativa ao direito dos indígenas à tradução, dez organizações de defesa dos direitos humanos, entre instituições da Colômbia, México, Peru e Estados Unidos, e clínicas de direitos humanos de universidades do Brasil e do Canadá, ingressaram no processo com pedido de amicus curiae (amigos da corte) ao Superior Tribunal de Justiça (STJ).

    O amicus curiae é um instrumento pelo qual instituições com conhecimento e atuação reconhecidas no tema em discussão pela corte podem participar de processos, produzindo subsídios e contribuindo para a qualificação da decisão a ser tomada pelo tribunal.

    Segundo notícia da Fundação para o Devido Processo Legal, uma das organizações que ingressaram com pedido de amicus curiae, o Brasil “é um dos poucos países do continente no qual um juiz penal pode aferir, sem qualquer apoio em perícia antropológica ou linguística, o grau de compreensão do indígena sobre um determinado idioma”.

    Atentando aos parâmetros do Direito Comparado e do Direito Internacional dos Direitos Humanos, as organizações apontam que a tradução, a interpretação e a perícia antropológica devem ser observadas desde a primeira etapa do processo penal, para evitar que o devido processo legal e a ampla defesa sejam prejudicados. Tais direitos, ressaltam, são protegidos pela Convenção Americana sobre Direitos Humanos e pela Convenção 169 da OIT, ambas subscritas pelo Brasil.

    Decisão

    Após a negativa do Habeas Corpus no TRF-4, em 6 de junho, a defesa dos indígenas ingressou com o recurso no STJ. O relator do recurso é o ministro Rogerio Schietti, da Sexta Turma. Como o STJ está em recesso entre os dias 2 e 31 de julho e a violação de direitos dos indígenas segue em curso, a defesa interpôs um pedido de decisão liminar, que pode ser julgado a qualquer momento pela Presidente do tribunal, a ministra Laurita Vaz.


    Indígena Kaingang em manifestação. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

    Residentes das terras indígenas Votouro e Kandoia, os 19 Kaingang respondem pelas mortes de dois agricultores, ocorridas no dia 28 de abril de 2014 em Faxinalzinho (RS), enquanto os indígenas bloqueavam estradas da região. Os Kaingang reivindicavam a demarcação completa do seu território tradicional, que se arrasta há 17 anos. Na ocasião, cinco indígenas chegaram a ser presos sem qualquer evidência e seguem inscritos, junto a outros 14, nos crimes dos quais são acusados de forma genérica e sem individualização de condutas no processo penal.

    Recurso em Habeas Corpus (RHC) no STJ: 86305/RS
    Acesse aqui a peça de amicus curiae.

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  • 06/07/2017

    Universitários indígenas evidenciam protagonismo durante 3º Fórum de Direitos Humanos e Saúde Mental


    Foto: Gilberto Vieira / Cimi

    Por Gilberto Vieira, secretário adjunto Cimi

    Quando perguntei a Ana, Laura e Thairaa qual o principal desafio na Universidade, não titubearam: “é o preconceito! ”. As jovens Ana Patté cursa mestrado em Antropologia, enquanto Laura Parintintim e Thairaa cursam Ciências Sociais e Direito, respectivamente. Ana eThainaraa são indígenas do povo Laklãnõ/Xokleng, Laura do povo Parintintim. Durante o 3º Fórum Brasileiro de Direitos Humanos e Saúde Mental elas e outros indígenas que estudam na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em Florianópolis, expuseram artesanatos e os desafios que enfrentam no cotidiano de uma universidade pública. O evento aconteceu de 28 a 30 de junho.

    O que foi comum na pronta resposta das jovens indígenas ganhou visibilidade na fala do médico Walter Ferreira, presidente da Associação Brasileira de Saúde Mental (Abrasme). Durante a mesa de abertura do Fórum o pesquisador destacou os ataques aos direitos dos povos e a luta dos indígenas de Santa Catarina. Lembrou, em especial, da situação do Morro dos Cavalos, terra tradicional que os Guarani reivindicam há anos e que, contudo, ainda aguarda homologação.

    Darci Frigo, presidente do Conselho Nacional de Direitos Humanos, e doutora Deborah Duprat, da Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC), compuseram a mesa e também destacaram a situação de violações de direitos enfrentada pelos povos indígenas no país.

    A situação destes povos ganhou maior destaque quando Joziléia Daniza Jagso Kaingang, doutoranda em antropologia, leu o Abaixo Assinado escrito pelos indígenas universitários da UFSC. No texto Joziléia, também coordenadora pedagógica do curso de licenciatura Intercultura Indígena, escancarou a dura realidade enfrentada pelos povos indígenas do sul brasileiro. Se evidenciou que, mesmo dentro de espaços onde a democracia e o direito a diferença deveriam se fazer valer, enfrentam-se preconceitos e discriminações.

     “A luta e, especialmente, o direito à terra e sua devida regularização, são simplesmente desconsideradas por diversas instâncias de poder. As pressões econômicas e políticas vão além, contudo, de ataques e expulsões: geram formas de preconceito embasadas na ignorância e no desconhecimento das trajetórias históricas destas comunidades e de indivíduos”, denunciou em um dos trechos do documento. “Muitas formas de violências são verificadas dentro das próprias terras indígenas, sejam elas demarcadas, homologadas, ou apenas identificadas”.
     
    Na luta por seus territórios ou por outros espaços que lhe são por direito, os jovens indígenas vão abrindo horizontes.


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  • 06/07/2017

    Indígenas Kaingang, Guarani e Xokleng protestam em SC e RS contra má gestão na saúde indígena


    Foto: Divulgação

    Com informações Cimi Sul

    Duas rodovias foram trancadas no norte do Rio Grande do Sul por indígenas Kaingang e Guaraní na tarde de ontem, quarta-feira (05). Os protestos ocorrem simultaneamente a presença de lideranças Kaingang na Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal e na Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), em Brasília. A delegação traz as esferas federais reivindicações de melhoria na saúde no sul do país e denunciavam assédio moral e sexual por funcionários dos órgãos governamentais. Outras ações ocorrem também em Florianópolis, onde indígenas Xokleng ocupam o Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Interior Sul.


    Foto: Divulgação

    Ontem, aproximadamente 800 indígenas interromperam a passagem da RSC-480, em São Valentim, que liga a cidade de Erechim (RS) a Chapecó (SC). “Nossos protestos são para mostrar para o poder público que se continuar do jeito que está os nossos povos serão extintos”. Para Deoclides de Paula, liderança Kaingang da aldeia Votouro Kaindóia, a paralização das estradas é para chamar atenção do Estado para a melhoria das políticas de saúde para povos indígenas. “O movimento que acontece é uma luta do nosso povo por direitos presentes na Constituição Federal. A situação da saúde prestada pela Secretaria Especial de Saúde Indígena no Sul é precária”, lamentou. “Estamos sofrendo com os cortes dos orçamentos na área da saúde que leva a óbito muitos parentes, principalmente nossas crianças e idosos”. Outra rodovia ocupada é a ERS-324, na localidade de Alto Recreio, que liga os municípios de Passo Fundo (RS) e Chapecó (SC) e passa pela Terra Indígena Serrinha, em Ronda Alta (RS).

    Em Brasília, mulheres indígenas relataram assédios moral e sexual sofridas por funcionárias indígenas. As acusações são contra dirigentesresponsáveis pelo DSEI Interior Sul. “Queremos uma investigação para verificar essa situação de assédio dentro da Sesai”, exige Deoclides ao repetir as cobranças da delegação que encontra-se na capital do país. “Tem pessoas que desejam trabalhar pela vida dos povos e estão sendo coagidas por seus superiores. Existe um sério abuso de poder dentro das instituições”, denunciou o cacique.


    Foto: Ivan Cesar Cima / Cimi Sul

    As lideranças indígenas cobram ainda a saída de indicações políticas para cargos que prestam serviço as populações tradicionais nos estados do Sul. “Sabemos que tem pessoas dentro da Fundação Nacional do Índio que são indicações de Alceu Moreira e Osmar Terra”. Ambos são políticos do PMDB, gaúchos eleitos deputados federais. Moreira é presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Funai/Incra. “Essas nomeações são de pessoas que nunca tiveram conhecimento sobre a organização dos povos indígenas. Não iremos ficar esperando que esses políticos acabem com as instituições que prestam serviço aos indígenas”.

    Os protestos, que acontecem há uma semana, somam 9 rodovias paralisadas, ocupação do Distrito Sanitário Especial Indígena Interior Sul, em Florianópolis, e do polo base de Passo Fundo.

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  • 05/07/2017

    Delegação Terena em Brasília: “Queremos repostas concretas”


    Foto: Egon Heck / Cimi

    Por Egon Heck, do secretariado nacional Cimi

    Como encaminhamento da 10ª Assembleia do Povo Terena, que aconteceu de 31 de maio a 03 de junho na Aldeia Buriti, em Dois Irmãos do Buriti (MS), decidiu-se que uma delegação de lideranças viria até Brasília para agenda de reinvindicações. A assembleia ressaltou a necessidade de acompanhar e fortalecer a cobrança sobre os processos de demarcação das Terras Indígenas junto a Fundação Nacional do Índio (Funai), ao Ministério da Justiça, no Supremo Tribunal Federal e demais instâncias governamentais responsáveis por criarem políticas específicas aos povos indígenas. A delegação composta por lideranças dos povos Terena, Kinikinawa, Kadiwéu e Atikum esteve em Brasília na última semana, de 25 a 30 junho.

    As pérolas do Ministro da Justiça

    Na quinta feira (29) a comissão de indígenas vinda do Mato Grosso do Sul foi recebida pelo ministro da Justiça, Torquato Jardim, e pelo presidente interino da Funai, Franklimberg Ribeiro de Freitas. As autoridades ouviram em alto e bom tom as lideranças dos povos presentes. Na reunião o grupo de aproximadamente 50 indígenas expos suas indignações e exigiram seus direitos, especialmente o de suas terras tradicionais. Em vários momentos externaram que só lhes resta o caminho da volta aos seus territórios, por isso serão persistentes nas retomadas e autodemarcações. Diante as reinvindicações, o presidente da Funai repetiu as afirmações evasivas expostas na reunião do dia 26.

    Após as exigências das lideranças o ministro da Justiça deixou claro a que e em nome de quem veio. Quando o assunto era o Marco Temporal (imoral e inconstitucional), enfaticamente rejeitado pelas lideranças, Torquato Jardim não propôs sua revogação. Disse ser necessário reformular, dentro de mecanismos legais disponíveis, mas em momento algum ouviu o desejo dos indígenas de anular a proposta. Esta tese jurídica propõe uma interpretação restritiva dos direitos indígenas, ao definir que só poderiam ser consideradas terras tradicionais aquelas que estivessem sob posse dos indígenas na data de 5 de outubro de 1988, data de promulgação da Constituição.

    Contudo, durante toda a reunião a defesa mais enfática (e nada casual, já que se repete) defendida pelo ministro da Justiça foi a proposta de explorar economicamente as terras indígenas já demarcadas. Jardim fez a pergunt em nome do agronegócio: “Será que é mais terra que os índios querem e precisam?”, e respondeu: “ou é a instalação de escolas de primeiro mundo, técnicas, uma escola do século 21?  Com essas escolas e a produção mecanizada vamos reforçar o DNA indígena”. Tais afirmações são muito semelhantes às levantadas na década de 1970, pela ditadura militar.
     
    Ao ser contestado por lideranças que deixaram claro suas necessidades –  territórios demarcados e respeitados, sem a mercantilização da terra –  se apressou em dizer que não havia falado em mercantilização. Foi então a vez de uma das lideranças se levantar e, aproximando-se do ministro e presidente da Funai, afirmar que não quer ficar rico, não quer riqueza, mas apenas deseja a terra para viver a sua cultura e em paz.

    A doente saúde indígena

    “Se não houver previdências por parte da coordenação nacional da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) nos próximos três dias, nós mesmos vamos tomar nossas providências. Vamos fechar a Administração Regional da Sesai em Campo Grande”. Foi o aviso dos caciques da delegação com 50 lideranças do povo Terena, Kinikinawa, Kadiwéu e Atikum para o secretário do órgão vinculado ao Ministério da Saúde. A reação do atual secretário da Sesai, Marco Antônio Toccolini, há quatro meses no cargo, foi imediata: “Assim vocês me deixam em saia justa. A decisão de demissão do atual administrador regional depende da Casa Civil e não de mim”.


    Foto: Guilherme Cavalli / Cimi

    Durante mais de duas horas as lideranças fizeram relatos indignados de omissões, má gestão, descaso, falta de remédios e funcionários.  No final da reunião ficou evidente a gritante realidade do descaso com a vida da população indígena e a impossibilidade de uma política coerente e ações eficazes de política de saúde. Em resposta, o presidente do órgão se limitou a informar que está construindo uma nova Sesai.  Ao lembrar as frequentes solicitações de caixões para enterrar as vítimas desse descalabro e engessamento do órgão não se conteve e foi às lágrimas.

    Funai: nossa terra sagrada foi roubada.

    Na segunda-feira (29) a delegação se reuniu com o presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai). “Queremos nossas terras. Caso os processos continuem paralisados, nós voltaremos às nossas terras. Não aceitaremos retrocessos, como no caso de Limão Verde”, foi a mensagem que ressoou durante todo o encontro.


    Foto: Guilherme Cavalli / Cimi

    O presidente interino da Funai, general Franklimberg Ribeiro Freitas, apesar de se identificar como índio Mura, não demonstrou ter maiores conhecimentos e informações sobre a realidade indígena. No final de aproximadamente duas horas de conversas, cobranças e informações, a delegação pediu informações por escrito sobre cada uma das situações das terras indígenas na região do pantanal sul mato-grossense e região. Franklimberg não soube dar informação. A Funai se comprometeu a entregar esses relatórios aos representantes das terras indígenas.

    STF e a promessa de agilidade

    Em diferentes circunstâncias e com diferentes interlocutores, a atual presidente do STF, ministra Carmen Lúcia, manifestou intensão de dar agilidade ao julgamento a mais de uma centena de processos envolvendo o reconhecimento de territórios indígenas. Infelizmente parece que a falta de análise de tais processos interessa aos ruralistas. Enquanto nada se decide eles mantêm ocupadas inúmeras terras indígenas. Estas, enquanto judicializadas, estão efetivamente na posse e produção do agronegócio.

    A delegação dos povos Terena, Kadiwéu, Kinikinawa e Atikum, que passou a semana em Brasília lutando pelos direitos de todos os povos indígenas do Brasil. Novamente fizeram chegar aos ministros do Supremo Tribunal Federal o veemente pedido de julgamento das ações e garantia das terras indígenas. São exigências que fazem a partir da Constituição Federal de 1988.

    Representantes da terra indígena Limão Verde, município de Aquidauana (MS), que está demarcada, mas sob a ameaça de retrocesso, externaram a decisão de seus parentes. “Nossa comunidade mandou dizer que jamais sairão da terra já totalmente regularizada. Só sairemos se formos mortos”. Limão Verde já foi homologada e registrada, contudo encontra-se enquadrada em processo da segunda turma do STF sob orientação do Marco Temporal, que consolidar como terra indígena a ser demarcada apenas as ocupadas pelos indígenas na ocasião da promulgação da Constituição Federal, em 5 de outubro de 1988.

    O povo Terena

    O povo Terena trata-se de um povo bastante conhecido pela etnografia brasileira, especialmente a partir da guerra contra o Paraguai. No combate, indígenas Terena tiveram função importante no suprimento de alimentação dos combatentes.


    Foto: Hegon Heck

    Por serem exímios agricultores, conseguiram uma produção agrícola importante no abastecimento da população regional. Através do estabelecimento de famílias nas cidades desenvolveram uma estratégia para a comercialização de sua plantação. Montaram uma rede de produção e comercialização direto da aldeia para a cidade, evitando assim os atravessadores.

    Esse movimento de ida para a cidade levou a especialização em várias áreas do conhecimento. Permitiu-se então uma estratégia de ocupação de espaços dos não índios. Com muita agilidade foram migrando para vários ambientes da região, em especial para a cidade de Campo Grande, capital do estado de Mato Grosso do Sul.

    Os Terena e suas estratégias de resistência e afirmação de suas identidades surpreendem. No início de 2002 iniciaram um promissor processo de retomada de suas terras. Com a retomada de Buriti, no município de Miranda (MS), seguiram a buscando o seu lugar junto a Mãe Terra. Atualmente são mais de uma dezena de terras retomadas e outras tantas reivindicada. Hoje a população Terena é de quase 30 mil pessoas.

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  • 05/07/2017

    MPF/MT recomenda à Funai realização de estudos para identificação de demandas da etnia Bororo


    Foto: Paulo Suess / Cimi

    O Ministério Público Federal em Mato Grosso (MPF/MT), por meio da sua unidade em Barra do Garças, expediu recomendação à Fundação Nacional do Índio (Funai) em Cuiabá para que realize um diagnóstico econômico e social da Terra Indígena (TI) Merure, da etnia Bororo.

    Para o diagnóstico, a Funai deverá promover um estudo antropológico, social, econômico e outros com o fim de identificar as principais demandas, atividades de produção e necessidades para o desenvolvimento sustentável da TI Merure. Esse estudo deverá fazer correlação com a história, a cultura e a dinâmica social da comunidade, inclusive com análise da monetarização da terra indígena e substituição de hábitos produtivos por aquisição de bens.

    Um inquérito civil público já havia sido instaurado com o objetivo de apurar a situação social da TI Merure e os problemas de alcoolismo entre membros da etnia Bororo.

    De acordo com o procurador da República Rafael Guimarães Nogueira, responsável pela recomendação, a população indígena Bororo da TI Merure necessita de atenção especial, uma vez que há indícios fortes de que a comunidade enfrenta problemas de alcoolismo e de sustento, o que acarreta outros problemas.

    “Entre os vários problemas, há recentes registros de protestos e trancamentos da rodovia BR-070, motivados em grande parte – segundo os indígenas – pelas condições precárias em que se encontram parte da população Bororo da TI Merure”, explica a procurador Rafael.

    O procurador afirma também que esse estado de miserabilidade, que não deve se relacionar com o modo de vida das populações indígenas, mas sim com as necessidades básicas que a convivência com o homem branco acaba por demandar, contribui para que os indígenas sejam vítimas do alcoolismo e outros males sociais.

    “O combate ao alcoolismo e a esses males sociais passam necessariamente pela adoção de uma política que possibilite o desenvolvimento autossustentável pela população indígena Bororo, garantindo assim uma melhor qualidade de vida aos indígenas sem, no entanto, agredirem seus costumes e tradições”, conclui Rafael.

    Dessa forma, a Funai, que possuiu em seu quadro profissional servidores experientes na área de antropologia, deverá realizar o levantamento de dados em benefício dos Bororos da TI Merure.

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  • 04/07/2017

    Em Brasília, delegação dos povos Pataxó, Tupinambá e Kaingang cobra melhorias nas políticas indígenas

     


    Fotos: Guilherme Cavalli / Cimi

    Por Guilherme Cavalli, da assessoria de comunicação

    Nesta terça-feira (04), durante o segundo dia de agenda das delegações dos povos Pataxó, Tupinambá e Kaingang, em Brasília, lideranças apresentaram suas reivindicações no Ministério da Justiça, na Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal e na Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai). O grupo de 50 caciques e lideranças trazem as instâncias federais reivindicações sobre a demarcação das terras tradicionais, o assédio moral e sexual de funcionárias nos órgãos responsáveis pela saúde indígena no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina e a exigência de sindicância nos serviços de saúde indígena na Bahia.

    Na secretaria da Sesai, os indígenas Pataxó e Tupinambá, do sul da Bahia, apresentaram documentações que comprovam o descaso do serviço de saúde no estado ao secretário, Marco Antônio  Toccolini. “A saúde indígena da Bahia está um caos e precisamos de uma intervenção dos responsáveis. Os problemas são no transporte das equipes que prestam serviço nas comunidades como naqueles que transportam doentes até os hospitais e na gestão dos recursos”, expos o cacique Aruã Pataxó. O presidente da Federação Indígena das Nações Pataxó e Tupinambá do Extremo Sul da Bahia (Finpat) exigiu sindicância dos recursos disponíveis para a saúde indígena. “O que a gente quer é que nossos indígenas não continuem a sofrer pela má gestão de órgãos governamentais que deveriam prestar serviço ao povo. É preciso fazer uma sindicância para saber onde está o dinheiro”. As reivindicações trazidas por Aruã Pataxó foram sistematizadas em reunindo com lideranças dos 22 povos da Bahia, em assembleia que reuniu 650 indígenas.

    Além das inexistências de políticas de saúde que atendam às necessidades das comunidades indígenas na Bahia, a falta de diálogo para as nomeações de cargos nos organismos desrespeita a organização dos conselhos indígenas. “A gestão hoje não respeita as lideranças indígenas. Não considera o conselho das localidades. Isso acaba gerando conflitos nas comunidades por não ouvirem as lideranças. Toma-se partido, criasse conflito e coloca-se indígena contra indígena”, comentou a liderança Maria Pataxó. “O massacre é desde 1500. Hoje continuamos sendo exterminado e sentimos isso pela falta de manutenção da saúde”, apontou na reunião com o secretário da Sesai.

    “Toda vez que sentamos com o secretário, sempre rezamos a mesma ladainha. Vocês escrevem papeis, prometem e não tomam nenhuma providencia”, exige o cacique Xaerru Pataxó, da aldeia Caciana, Porto Seguro (BA). “Queremos saber qual é a providencia que o secretário vai tomar. Estamos passando por uma dificuldade grande. Nosso povo esta morrendo por falta de assistência, por falta de responsabilidade da Sesai”.


    “Toda vez que sentamos com o secretário, sempre rezamos a mesma ladainha"

    Em resposta aos questionamentos, Marco Antonio Toccolini considerou as pautas de urgência mas afirmou não poder tomar decisão sobre os responsáveis pelo Distrito Sanitário Especial Indígena da Bahia. “As pautas que estão sendo trazidas são pesadas, são pautas que demonstram a falta de serviço para a saúde indígena. Não demonstram a atenção diferenciada que deve se ter na saúde indígena. Contudo, o que podemos fazer é mandar um grupo para avaliação e monitoramento interno do órgão local”. Como encaminhamento da reunião as lideranças indígenas exigiram um o grupo seja enviado para auditoria na próxima quinzena. Será responsabilidade da equipe a investigação e sindicância das denúncias apresentadas, como dos contratos dos funcionários e aplicação do orçamento.

    Pataxó no Ministério da Justiça

    Na manhã de hoje (4) a delegação de lideranças indígenas Pataxo e Tupinambá foi recebida pelo o ministro da Justiça, Torquato Jardim, na entrada do ministério. Cacique Aruã Pataxó apresentou a Torquato Jardim as demandas do povo: demarcação das terras, investimento na saúde indígena e aumento do orçamento da Fundação Nacional do Índio (Funai).

    Em resposta às demandas do cacique, Torquato Jardim falou dos cortes de orçamento que o ministério da Justiça vem sofrendo sistematicamente nos últimos meses. O ministro disse existirem problemas jurídicos envolvendo demarcações de terras indígenas, mesmo sob a constatação das lideranças de que a Constituição Federal de 1988 promulgou o tempo de cinco anos para que as demarcações fossem concluídas. "Precisamos encontrar um mecanismo financeiro para indenizar as terras de vocês, para os estudos antropológicos serem implementados", comentou.
    Ao repetir o discurso apresentado a delegação Terena na semana passada, o ministro da Justiça propôs que as terras indígenas sejam "economicamente produtivas". "Precisamos pensar juntos como explorar economicamente as terras que são de vocês. Para que vocês tenham retorno de saúde, de educação, de cultura. Essa é minha proposta de trabalho", propôs.


    "Nós estamos lutando, principalmente na Bahia, pelo primeiro direto, que é direito a terra. Não queremos debater a exploração mineral de nossos territórios"

    Em resposta ao discurso de atribuir valor de mercado às terras indígena, cacique Aruã reafirmou o valor ancestral dos seus territórios. "Nós estamos lutando, principalmente na Bahia, pelo primeiro direto, que é direito a terra. Não queremos debater a exploração mineral de nossos territórios. Se não temos nem a terra garantida, como iremos explorar as riquezas? Nossa primeira reivindicação é o direito as terras. Com ela vamos ter saúde, educação, é uma qualidade melhor de vida. Queremos a nossa própria agricultura tradicional, nossa economia de subsistência. Nem todo mundo vai nessa linha da riqueza e exploração da terra. O que precisamos é que o governo garanta a demarcação de nossas terras. Isso é o mais importante".

    As lideranças Kaingang, que ontem reuniram-se com o secretário da Sesai, hoje estiveram na Comissão de Direitos Humanos do Senado para denunciar o assédio moral e sexual de profissionais indígenas na Sesai Sul.

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  • 04/07/2017

    Kaingang protestam em Brasília contra assédios e má gestão na saúde indígena

    Por Guilherme Cavalli, da Assessoria de Comunicação

    Indígenas Kaingang de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul protestaram na tarde de segunda (3) em frente à sede da Secretaria Especial da Saúde Indígena (Sesai), em Brasília. As lideranças reivindicam que o governo federal investigue as denúncias de assédio moral e sexual e má gestão de recursos do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) da Região Sul, que atende os estados do RS e SC.

    As denúncias foram entregues em documentos ao secretário responsável pela Sesai, Marco Antônio Toccolini. "Como mulheres indígenas, temos sofridos assédios moral e sexual. Profissionais indígenas e não indígenas vêm sofrendo essas violações e denunciamos há um mês e nada foi feito", comenta Fernanda Kaingáng.

    As lideranças vêm a Brasília uma semana depois de ocuparem as sedes do DSEI e da Sesai, em Santa Catarina e Rio Grande do Sul como pedindo de afastamento de servidores acusados de assédio moral e sexual. Na reunião, Marco Antônio Toccolini se comprometeu em enviar uma equipe para auditoria nas contas do DSEI Sul e para ouvir as mulheres que sofreram violações. "A denúncia foi protocolada. Mandarei uma equipe para averiguar a situação ainda essa semana. Para realizar o afastamento dos servidores preciso encontrar indícios de irregularidades que sejam postas como provas", defendeu o secretário.

    Diante a posição oficial de Marco Antônio, os caciques afirmaram que continuarão ocupando os escritórios responsáveis pela gestão da saúde indígena, ligados ao Ministério da Saúde, como forma de pressionar por investigações e respostas da União.


    Foto: Fernanda Kaingang

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  • 30/06/2017

    Para ministro da Justiça, demarcações de terras indígenas precisam cumprir requisitos de “custo benefício” ao Estado brasileiro


    Torquato Jardim cumprimenta indígenas do MS em reunião na tarde de quinta-feira (29). Fotos: Guilherme Cavalli / Cimi

    Por Guilherme Cavalli, da assessoria de comunicação – Cimi

    Em reunião com lideranças indígenas do Mato Grosso do Sul (MS), na quinta-feira (29), o ministro da Justiça Torquato Jardim deixou claro o motivo porque foi escolhido para substituir o ruralista Osmar Serraglio. Na tarde de ontem, após ouvir as demandas das lideranças dos povos Terena, Kinikinau e Kadiweu, o jurista que assumiu o ministério responsável pela Fundação Nacional do Índio (Funai), quando questionado sobre as demandas de demarcação das terras indígenas, disse ser necessário encontrar “soluções não ortodoxas e tradicionais” para esses espaços. “Precisamos encontrar uma viabilidade técnica para as terras. Necessitamos tornar a terra útil”, defendeu Torquato.

    Nomeado em meio ao avanço das denúncias de corrupção contra o presidente Michel Temer (PMDB), Torquato Jardim garantiu conhecer os “dois lados da cultura brasileira”, referindo-se a indígena e não indígena. “Já fui várias vezes a várias aldeias indígenas”. Contudo, ao atribuir valor comercial a terra, o herdeiro de uma das oligarquias mais antigas do estado de Goiás irritou caciques e lideranças que vieram até Brasília para agendas com representantes do governo.  Incansavelmente afirmou que as terras demarcadas precisam corresponder a perspectiva de “custo benefício”. “É preciso estabelecer uma relação econômica de custo benefício com a terra que justifique vocês indígenas permanecerem nelas”, ressaltou ao defender a lógica mercantil de propriedade privada.
     
    O professor de direito constitucional, que antes respondia pelo Ministério da Transparência  Fiscalização e Controladoria-Geral da União, ocupa o atual cargo há três semanas e assume fielmente a pauta do governo Temer. Sua postura durante as duas horas de reunião correspondeu a lógica também assumida pelo agronegócio. Indígenas e Torquato eram antagónico inclusive na linguagem. Enquanto o grupo era direto sobre a necessidade de rever processos envolvendo demarcação das terras, o ministro da Justiça, um dos cargos mais prestigiados do governo, falava em repensar as demandas. Porém, mesmo com vocabulário recheado, ele não foi aprovado na arte do convencimento. “Será que é só mais terras que vocês precisam?”, questionou sem obter reação dos 50 índio que o observavam silenciosamente. Ao avançar na defesa dos princípios da principal bancada da câmara – a ruralista – Torquato respondeu: “A solução pode ser não mais terra no sentido físico. Pode ser bolsa de estudos em escolas técnicas, inseri-los no mercado de trabalho para serem parte do século 21”.
     


    “A solução pode ser não mais terra no sentido físico. Pode ser bolsa de estudos em escolas técnicas […] para serem parte do século 21”.

    A visão integracionista adotada pelo ministro da Justiça repetiu-se durante toda a reunião. Jardim insistiu na ideia que os povos indígenas devem ser "assimilados pela sociedade civil" através da mudança do modo de produção, das práticas educacionais e da revisão das demandas por terra. Além de desqualificar o modo de relação com a terra adotada pelos indígenas, ele desrespeitou aqueles que tombaram pelo chão de seus ancestrais. “Ele não entende o que é a terra pra gente”, comentou Gilson Terena. Diante do questionamento da liderança da aldeia Burity sobre a ameaça de reintegração de posse de uma fazenda incidente em sua Terra Indígena do mesmo nome, no município de Sindrolândia (MS), o substituto de Serraglio repetiu a visão utilitarista que atribui a terra. “Precisamos parar de pensar a terra pela terra. A negociação de vocês com o Congresso Nacional e com o orçamento sempre muito apertado do Ministério da Justiça pode não estar mais baseado em terra física, mas em um grãos para uma produção agriculto de grande escala, em em implementos agrícolas, em agroindústrias”.
     
    O ministro da Justiça desconsiderou o questionamento das lideranças sobre a morte de Oziel Gabriel Terena, ocorrido na aldeia Burity. A Polícia Federal (PF) matou Oziel Terena, concluiu o Ministério Público Federal (MPF); a investigação, entretanto, foi arquivada na Corregedoria da PF por delegada que é esposa de comandante da operação.  As lideranças cobraram justiça. “Ninguém foi preso. Isso  ainda sangra no nosso coração e ainda não tivemos justiça”, cobra Eder Terena, representante do Conselho Terena. “Quantas vidas serão tombadas para as terras indígenas serem demarcadas? Oziel foi morto. Quantos outros precisarão ser?”, questionou Arildo Alcantara.
     
    Indígenas reafirmam o porquê de suas lutas
     
    Diante aos projetos de tecnificação da produção familiar indígena, da modernização das escolas para que correspondam a educação “molde século 21” e da utilização da terra como fonte produção de riquezas, as lideranças reafirmaram ao ministro as demandas que levaram a marcar o encontro. “Por mais que digam para repensar nossas demandas, nós avançaremos. Tudo o que o senhor colocou para nós não será possível se os povos indígenas não tiverem seus territórios demarcados”, sustentou Eder Terena. “Não queremos mercantilizar nossas terras, como o senhor nos propõem”.

     
    Eder Terena: “Não queremos mercantilizar nossas terras, como o senhor nos propõem”.

    As lideranças indígenas, no final da reunião, sustentaram suas reivindicações também apresentadas para o presidente da Funai em reunindo na última segunda-feira (26).  “Desde 2000 a estamos lutando por nosso território. Oziel tombou lá. Ali plantamos, tiramos nossos sustento e dali só sairemos se formos mortos naquele território”, sustentou Arildo Alcantara. “Estamos aqui para defender nosso território e ele não é lote para produção do agronegócio como o senhor quis nos convencer. Se hoje a justiça brasileira falha no direito indígena, iremos demarcar com as próprias mãos”.
     
    Gilsom Pinheiro Terena, da Terra Indígena LaLima, município de Miranda (MS), que encontra-se em estudo para demarcação, afirmou ao ministro no findar da reunião que seus projetos desejam a morte dos povos indígenas. “As propostas que o senhor traz aponta a faca para o que é mais sagrado para o povo indígena. Nós índios não queremos riquezas. Não precisamos produzir em grande escala, como propõe. Isso é coisa para ruralistas”, argumentou irritado. “Esse ministro representa o governo e a bancada ruralista. As propostas dele pra gente são cheias de preconceito”, declarou em entrevista após a reunião.

     
    Gilsom Pinheiro recusa propostas do Ministro da Justiça. "Esse ministro representa o governo e a bancada ruralista".


     

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