• 29/08/2017

    “Extinção da Renca vilipendia democracia brasileira”, afirmam bispos

    A Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM) e a Comissão Episcopal para a Amazônia, ligadas a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), divulgaram uma nota onde denunciam a perversidade do decreto presidencial publicado na última quarta-feira (23) que extingue a Reserva Nacional de Cobre e seus Associados (RENCA). No texto, o organismo pertencente ao Conselho Episcopal Latino-americano, que reúne colaboradores do Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Venezuela e Suriname, expõe as políticas desrespeitosas do governo de Michel Temer que, no decreto, "cede aos grandes empresários da mineração".

    O documento afirma que essas são medidas tomadas por "pressões da bancada de parlamentares vinculados às companhias extrativas que financiam suas campanhas". Afirma que essas iniciativas não consideram "nenhuma consulta aos povos indígenas e comunidades tradicionais foi realizada, como manda o Artigo 231 da Constituição Federal de 1988 e a Convenção 169, da Organização Internacional do Trabalho (OIT)".

    Ainda, o documento expõe o rastro de destruição que as mineradoras brasileiras e estrangeiras têm deixado na Amazônia nas últimas décadas. "Ao abrir a região para o setor da mineração, não haverá como garantir proteção da floresta, das unidades de conservação e muito menos das terras indígenas – que serão diretamente atingidas de forma violenta e irreversível", expõe o documento assinado pelo cardeal Dom Cláudio Hummes, presidente da REPAM, e por Dom Erwin Kräutler, presidente da REPAM-Brasil.

    A nota retoma as denúncias feitas pelo papa Francisco em sua encíclica Laudato Si, sobre a Casa Comum. "Há propostas de internacionalização da Amazônia que só servem aos interesses econômicos das corporações internacionais” (LS 38). E complementa com as afirmações do papa em sua visita a Bolívia, em 2015: “digamos não a uma economia de exclusão e desigualdade, onde o dinheiro reina em vez de servir. Esta economia mata. Esta economia exclui. Esta economia destrói a mãe terra”.

    O texto elenca uma série de devastações causadas por obras de mineração: desmatamento, poluição, comprometimento dos recursos hídricos pelo alto consumo de água para a mineração e sua contaminação com substâncias químicas, aumento de violência, droga e prostituição, acirramento dos conflitos pela terra, agressão descontrolada às culturas e modos de vida das comunidades indígenas e tradicionais, entre outros.

    A Repam é formada por bispos de 99 dioceses distribuídas nos nove países que têm áreas de floresta amazônica em seus territórios. Compõem também a rede o Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM), a Secretariado da América Latina e Caribe de Caritas e Confederação Latino-americana e Caribenha de Religiosos e Religiosas (CLAR).

    Eis a nota

    Nota de repúdio ao Decreto Presidencial que extingue a RENCA

    Ouvimos o grito da terra e o grito dos pobres

    A Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM), ligada ao Conselho Episcopal Latino-Americano e do Caribe (CELAM), e no Brasil organismo vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), juntamente com a Comissão Episcopal para a Amazônia, da CNBB, por meio de sua Presidência, unida à Igreja Católica da Pan-Amazônia e à sociedade brasileira, em especial aos povos das Terras Indígenas Waãpi e Rio Paru D’Este, vem a público repudiar o anúncio antidemocrático do Decreto Presidencial, altamente danoso, que extingue a Reserva Nacional de Cobre e seus Associados (RENCA) na última quarta-feira (23).

    A RENCA é uma área de reserva, na Amazônia, com 46.450 km2 – tamanho do território da Dinamarca. A região engloba nove áreas protegidas, sendo três delas de proteção integral: o Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque, as Florestas Estaduais do Paru e do Amapá; a Reserva Biológica de Maicuru, a Estação Ecológica do Jari, a Reserva Extrativista Rio Cajari, a Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Iratapuru e as Terras Indígenas Waiãpie Rio Paru d`Este. A abertura da área para a exploração mineral de cobre, ouro, diamante, ferro, nióbio, entre outros, aumentará o desmatamento, a perda irreparável da biodiversidade e os impactos negativos contra os povos de toda a região.

    O Decreto de extinção da RENCA vilipendia a democracia brasileira, pois com o objetivo de atrair novos investimentos ao país o Governo brasileiro consultou apenas empresas interessadas em explorar a região. Nenhuma consulta aos povos indígenas e comunidades tradicionais foi realizada, como manda o Artigo 231 da Constituição Federal de 1988 e a Convenção 169, da Organização Internacional do Trabalho (OIT). O Governo cede aos grandes empresários da mineração que solicitam há anos sua extinção e às pressões da bancada de parlamentares vinculados às companhias extrativas que financiam suas campanhas.

    Ao contrário do que afirma o Governo em nota, ao abrir a região para o setor da mineração, não haverá como garantir proteção da floresta, das unidades de conservação e muito menos das terras indígenas – que serão diretamente atingidas de forma violenta e irreversível. Basta observar o rastro de destruição que as mineradoras brasileiras e estrangeiras têm deixado na Amazônia nas últimas décadas: desmatamento, poluição, comprometimento dos recursos hídricos pelo alto consumo de água para a mineração e sua contaminação com substâncias químicas, aumento de violência, droga e prostituição, acirramento dos conflitos pela terra, agressão descontrolada às culturas e modos de vida das comunidades indígenas e tradicionais, com grandes isenções de impostos, mas mínimos benefícios para as populações da região.

    Riscos ambientais e sociais incalculáveis ameaçam o “pulmão do Planeta repleto de biodiversidade” que é a Amazônia, como nos lembra Papa Francisco na carta encíclica Laudato Si, alertando que “há propostas de internacionalização da Amazônia que só servem aos interesses econômicos das corporações internacionais” (LS 38). A política não deve submeter-se à economia e aos ditames e ao paradigma eficientista da tecnocracia, pois a prioridade deverá ser sempre a vida, a dignidade da pessoa e o cuidado com a Casa Comum, a Mãe Terra. Em Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, em 9 de julho de 2015, o papa Francisco não hesitou em proclamar: “digamos não a uma economia de exclusão e desigualdade, onde o dinheiro reina em vez de servir. Esta economia mata. Esta economia exclui. Esta economia destrói a mãe terra”.

    Na LS, o papa Francisco alerta ainda que “o drama de uma política focalizada nos resultados imediatos (…) torna necessário produzir crescimento a curto prazo" (LS 178). Ao contrário, para ele “no debate, devem ter lugar privilegiado os moradores locais, aqueles mesmos que se interrogam sobre o que desejam para si e para os seus filhos e podem ter em consideração as finalidades que transcendem o interesse econômico imediato” (LS 183).

    A extinção da Renca representa uma ameaça política para o Brasil inteiro, impondo mais pressão sobre as terras indígenas e Unidades de Conservação, e abrindo espaço para que outras pautas sejam flexibilizadas, como a autorização para exploração mineral em terras indígenas, proibida pelo atual Código Mineral.

    Por todos esses motivos, nos unimos às Dioceses locais do Amapá e de Santarém, aos ambientalistas e à parcela da sociedade que, por meio de manifestações nas redes sociais e de abaixo-assinados, pedem a imediata sustação do Decreto Presidencial que extingue a Reserva.

    Convocamos as senhoras e os senhores parlamentares a defenderem a Amazônia, impedindo que mais mineradoras destruam um dos nossos maiores patrimônios naturais. Não nos resignemos à degradação humana e ambiental! Unamos esforços em favor da vida dos povos que vivem no bioma amazônico. O futuro das gerações vindouras está em nossas mãos!

    Que Deus nos anime no mais fundo de nossos corações e nos ilumine e confirme na busca da tão sonhada Terra Sem Males.

    Dom Cláudio Cardeal Hummes

    Presidente da REPAM e da Comissão Episcopal para a Amazônia

    Dom Erwin Kräutler

    Presidente da REPAM-Brasil e Secretário da Comissão Episcopal para a Amazônia


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  • 29/08/2017

    CNDH denuncia a criminalização de defensores e defensoras de direitos humanos no Rio Grande do Sul



    O Conselho Nacional dos Direitos Humanos (CNDH) divulgou uma nota nesta segunda-feira, 28, denunciando "a tentativa de criminalização dos defensores e defensoras de direitos humanos" pela Polícia Federal de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, por conta da presença destes agentes na defesa dos direitos humanos do povo Kaingang.

    Missionários e advogados do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e do Centro de Direitos Humanos de Passo Fundo (CDHPF) passaram a ser alvos de um inquérito policial e o CNDH "considera tal medida uma tentativa de retaliação e intimidação à atuação deste Conselho e das/os defensoras/es de direitos humanos de todo o país".

    Estes missionários e advogados fizeram denúncias que provocaram a elaboração do  “Relatório sobre os direitos dos povos indígenas e das comunidades quilombolas no Sul”, feito pela CNDH. Denúncias a ações da Polícia Federal envolvendo prisões ilegais de indígenas e camponeses foram comprovadas.

    Leia a nota na íntegra:

    NOTA DE SOLIDARIEDADE ÀS DEFENSORAS E AOS DEFENSORES DE DIREITOS HUMANOS DOS POVOS INDÍGENAS

    O Conselho Nacional dos Direitos Humanos – CNDH recebeu a comunicação de que a Polícia Federal de Passo Fundo/RS instaurou inquérito policial contra dez defensores e defensoras de direitos humanos, acusando-os de denunciação caluniosa e/ou comunicação falsa de crime (arts. 339 e 340, ambos do Código Penal).

    Vale destacar que alguns desses defensores e defensoras criminalizados/as participaram de missão do CNDH entre 28 e 31 de março de 2016, no estado do Rio Grande do Sul, para verificar denúncias de violações aos direitos dos povos indígenas. A missão constatou a ilegalidade de prisões de lideranças indígenas, dentre outras violações, registradas no “Relatório sobre os direitos dos povos indígenas e das comunidades quilombolas no Sul” aprovado pelo plenário deste Conselho em agosto de 2016 (1).

    A denúncia relacionada à ilegalidade dessas prisões e violações contra os povos indígenas foi encaminhada pelo Ministério Público Federal (MPF), que abriu um procedimento para investigar a conduta de um dos delegados da Polícia Federal de Passo Fundo.

    Recentemente o CNDH foi surpreendido com a abertura de um inquérito policial contra as/os defensoras/es de direitos humanos e advogadas/os do CIMI, do Centro de Direitos Humanos de Passo Fundo (CDHPF) e considera tal medida uma tentativa de retaliação e intimidação à atuação deste Conselho e das/os defensoras/es de direitos humanos de todo o país.

    Desta forma, está caracterizada mais uma vez a tentativa de criminalizar os defensores e defensoras de direitos humanos dos povos indígenas, criando ambiente propício para a manutenção das violações perpetradas e, assim, evitar a responsabilização dos agentes públicos envolvidos na violação de direitos. Este inquérito policial atenta, ainda, contra as prerrogativas profissionais da advocacia.

    Esse fato está relacionado ao posicionamento anterior do CNDH contra as proposições aprovadas no relatório final da CPI FUNAI/INCRA (2), uma vez que apresentam claro conteúdo de criminalização dos povos indígenas e quilombolas, bem como das organizações e instituições que atuam na promoção e defesa de seus direitos. Essas proposições buscam ainda a paralisação de demarcação de terras indígenas e territórios quilombolas necessárias à sobrevivência física e cultural desses povos, um direito constitucionalmente assegurado.

    Diante disso, o CNDH, órgão autônomo criado pela Lei nº 12.986/2014, reitera seu compromisso com a defesa e promoção dos direitos humanos, ao tempo em que denuncia a tentativa de criminalização dos defensores e defensoras de direitos humanos, que têm colaborado para que este Conselho persiga seus objetivos. Sendo assim, reitera suas recomendações:

    O Ministério Público Federal abra inquérito para investigar as denúncias de interferência da Policia Federal de Passo Fundo na autonomia da organização dos povos indígenas, na Terra Charrua, Nonoai e acampamentos.

    A Polícia Federal e o Ministério da Justiça adotem medidas imediatas para a investigação, abertura e conclusão de procedimentos visando punir e coibir a prática de crimes contra lideranças e membros das comunidades indígenas, inclusive aqueles praticados por agentes da Polícia Federal e especialmente os casos específicos indicados nesse relatório. (3)

    Brasília, 24 de agosto de 2017. CONSELHO NACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS – CNDH

    1http://www.sdh.gov.br/sobre/participacao-social/cndh/relatorios/relatorio-do-gt-sobre-direitos-dos-povosindigenas-da-regiao-sul-1

    2 http://www.sdh.gov.br/noticias/pdf/nota-publica-funai-incra

    3http://www.sdh.gov.br/sobre/participacao-social/cndh/relatorios/relatorio-do-gt-sobre-direitos-dospovos-indigenas-da-regiao-sul-1 (p.44-45).


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  • 28/08/2017

    Com 14% do corpo queimado, indígena se recupera após atentado; os Pitaguary denunciam motivação política no ataque


    Montagem de fotos da casa incendiada onde o indígena estava. Crédito: Clécia Pitaguary


    Por Renato Santana, da Assessoria de Comunicação – Cimi

    O estado de saúde de Maurício Alves Feitosa Pitaguary, mais conhecido como Mazin, é estável e sem risco de morte. Na madrugada de domingo, 27, o indígena dormia quando sofreu uma emboscada na vacaria onde trabalha, situada na aldeia Santo Antônio, Terra Indígena Pitaguary, município de Maracanaú (CE). Dois homens incendiaram com gasolina a casa onde Mazin estava. Ao tentar fugir, o indígena foi seguro, espancado e colocado de volta no local, que já ardia em chamas.   

    Mazin tem 42 anos e está internado no Instituto José Frota (IJF), em Fortaleza, com queimaduras de segundo e terceiro graus em 14% do corpo – concentradas nas costas e no abdômen. O hospital não divulgou um boletim médico, mas conforme os Pitaguary que o visitaram na tarde desta segunda-feira, 28, Mazin está consciente e conversando. "Está tomando banho anestésico, estão colocando curativos, ele está andando bem e se alimentando. Respirando normal. O pior já passou", relata uma indígena que prefere não se identificar. Este ano, em abril, se deu a memória dos 20 anos do martírio de Galdino Pataxó Hã-hã-hãe, que teve o corpo incendiado, em Brasília, por um bando criminoso.

    A insegurança resume o momento para as lideranças Pitaguary. Os indígenas estão convictos de que o atentado teve como intuito atingir os Pitaguary, sobretudo os oriundos da família de Mazin, que se opõem a especulações imobiliárias e empresariais no território tradicional – localizado a cerca de 24 km de Fortaleza. "Temos a terra retalhada por esses interesses. Infelizmente alguns indígenas apoiam esses empresários e políticos, a elite local, mas não representam o povo Pitaguary", explica outra indígena que também não será identificada por razões de segurança. A Terra Indígena Pitaguary foi declarada com 1735 hectares, onde vivem 3765 indígenas (IBGE, 2010).  

    "Retalhada" significa dizer que várias porções do território estão degradadas e invadidas, gerando resistência da parte dos Pitaguary e os mais variados ardis de quem tange os interesses privados nas terras. "Maurício é irmão de uma importante liderança indígena estadual e nacional, a Ceiça Pitaguary, que, em março de 2016, também sofreu um grave ataque (…) Foram desferidos contra ela, vários golpes de facão, que lhe causou muitas lesões nos braços e na cabeça e que por muito pouco não teria sido fatal", pontuou em nota o Observatório Socioambiental, que acompanha a situação dos povos indígenas do Ceará. A indígena Ceiça Pitaguary, que integrou a direção da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) entre 2012 e 2014, realizou inúmeras denúncias em Brasília sobre o assédio de políticos e empresários no território tradicional de seu povo.  

    Para uma outra importante liderança Pitaguary, não identificada por razões de segurança, o atentado contra Mazin se trata de uma represália. "Na última Assembleia Estadual (dos Povos Indígenas do Ceará, ocorrida no final de julho), uma nota foi feita afirmando essa luta contra os invasores da terra e dizendo que os indígenas que os defendem e estão com esses invasores não representam o povo Pitaguary. Agora esse grupo está perseguindo a Ceiça e a sua família por conta disso. Uma covardia", diz.   

    Em nota pública divulgada na tarde desta segunda, o movimento indígena do Ceará ressalta que "nos últimos anos, ações criminosas patrocinadas por grupos políticos da região de Maracanaú e Pacatuba, envolvendo inclusive indígenas, têm provocado terror e medo em grande parte das Comunidades Indígenas locais. Episódios de ameaças, cárcere privado, golpes de facão e agora essa brutal ação de incendiar uma casa com um parente dentro só reforça a nossa indignação pela total omissão das instituições". Na nota, o movimento enfatiza que "várias ocorrências" foram registradas em delegacias locais e levadas às autoridades competentes.  

    A Fundação Nacional do Índio (Funai) acompanha o caso e ontem esteve com a Polícia Federal na aldeia, onde agentes tomaram depoimentos de indígenas e iniciaram as investigações. Os autores do crime ainda não foram identificados e na manhã desta segunda, lideranças Pitaguary estiveram na Superintendência da Polícia Federal, na capital cearense.


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  • 28/08/2017

    Repam e Comissão Episcopal para a Amazônia divulgam nota de repúdio ao Decreto que extingue a RENCA

    A Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM) e a Comissão Episcopal para a Amazônia, ligadas a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), divulgaram uma nota onde denunciam a perversidade do decreto presidencial publicado na última quarta-feira (23) que extingue a Reserva Nacional de Cobre e seus Associados (RENCA). No texto, o organismo pertencente ao Conselho Episcopal Latino-americano, que reúne colaboradores do  Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Venezuela e Suriname, expõe as políticas desrespeitosas do governo de Michel Temer que, no decreto, "cede aos grandes empresários da mineração".

    O documento afirma que essas são medidas tomadas por "pressões da bancada de parlamentares vinculados às companhias extrativas que financiam suas campanhas". Afirma que essas iniciativas não consideram "nenhuma consulta aos povos indígenas e comunidades tradicionais foi realizada, como manda o Artigo 231 da Constituição Federal de 1988 e a Convenção 169, da Organização Internacional do Trabalho (OIT)".

    Ainda, o documento expõe o rastro de destruição que as mineradoras brasileiras e estrangeiras têm deixado na Amazônia nas últimas décadas. "Ao abrir a região para o setor da mineração, não haverá como garantir proteção da floresta, das unidades de conservação e muito menos das terras indígenas – que serão diretamente atingidas de forma violenta e irreversível", expõe o documento assinado pelo cardeal Dom Cláudio Hummes, presidente da REPAM,  e por Dom Erwin Kräutle, presidente da REPAM-Brasil. 

    A nota retoma as denúncias feitas pelo papa Francisco em sua encíclica Laudato Si, sobre a Casa Comum. "Há propostas de internacionalização da Amazônia que só servem aos interesses econômicos das corporações internacionais” (LS 38). E complementa com as afirmações do papa em sua visita a Bolívia, em 2015: “digamos não a uma economia de exclusão e desigualdade, onde o dinheiro reina em vez de servir. Esta economia mata. Esta economia exclui. Esta economia destrói a mãe terra”.

    O texto elenca uma série de devastações causadas por obras de mineração: desmatamento, poluição, comprometimento dos recursos hídricos pelo alto consumo de água para a mineração e sua contaminação com substâncias químicas, aumento de violência, droga e prostituição, acirramento dos conflitos pela terra, agressão descontrolada às culturas e modos de vida das comunidades indígenas e tradicionais, entre outros.

    A Repam é formada por bispos de 99 dioceses distribuídas nos nove países que têm áreas de floresta amazônica em seus territórios. Compõem também a rede o Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM), a Secretariado da América Latina e Caribe de Caritas e Confederação Latino-americana e Caribenha de Religiosos e Religiosas (CLAR).

    Leia a nota:

    Nota de repúdio ao Decreto Presidencial que extingue a RENCA
    Ouvimos o grito da terra e o grito dos pobres

    A Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM), ligada ao Conselho Episcopal Latino-Americano e do Caribe (CELAM), e no Brasil organismo vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), juntamente com a Comissão Episcopal para a Amazônia, da CNBB, por meio de sua Presidência, unida à Igreja Católica da Pan-Amazônia e à sociedade brasileira, em especial aos povos das Terras Indígenas Waãpi e Rio Paru D’Este, vem a público repudiar o anúncio antidemocrático do Decreto Presidencial, altamente danoso, que extingue a Reserva Nacional de Cobre e seus Associados (RENCA) na última quarta-feira (23).

    A RENCA é uma área de reserva, na Amazônia, com 46.450 km2 – tamanho do território da Dinamarca. A região engloba nove áreas protegidas, sendo três delas de proteção integral: o Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque, as Florestas Estaduais do Paru e do Amapá; a Reserva Biológica de Maicuru, a Estação Ecológica do Jari, a Reserva Extrativista Rio Cajari, a Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Iratapuru e as Terras Indígenas Waiãpi e Rio Paru d`Este. A abertura da área para a exploração mineral de cobre, ouro, diamante, ferro, nióbio, entre outros, aumentará o desmatamento, a perda irreparável da biodiversidade e os impactos negativos contra os povos de toda a região.

    O Decreto de extinção da RENCA vilipendia a democracia brasileira, pois com o objetivo de atrair novos investimentos ao país o Governo brasileiro consultou apenas empresas interessadas em explorar a região. Nenhuma consulta aos povos indígenas e comunidades tradicionais foi realizada, como manda o Artigo 231 da Constituição Federal de 1988 e a Convenção 169, da Organização Internacional do Trabalho (OIT). O Governo cede aos grandes empresários da mineração que solicitam há anos sua extinção e às pressões da bancada de parlamentares vinculados às companhias extrativas que financiam suas campanhas. 

    Ao contrário do que afirma o Governo em nota, ao abrir a região para o setor da mineração, não haverá como garantir proteção da floresta, das unidades de conservação e muito menos das terras indígenas – que serão diretamente atingidas de forma violenta e irreversível. Basta observar o rastro de destruição que as mineradoras brasileiras e estrangeiras têm deixado na Amazônia nas últimas décadas: desmatamento, poluição, comprometimento dos recursos hídricos pelo alto consumo de água para a mineração e sua contaminação com substâncias químicas, aumento de violência, droga e prostituição, acirramento dos conflitos pela terra, agressão descontrolada às culturas e modos de vida das comunidades indígenas e tradicionais, com grandes isenções de impostos, mas mínimos benefícios para as populações da região.
    Riscos ambientais e sociais incalculáveis ameaçam o “pulmão do Planeta repleto de biodiversidade” que é a Amazônia, como nos lembra Papa Francisco na carta encíclica Laudato Si, alertando que “há propostas de internacionalização da Amazônia que só servem aos interesses econômicos das corporações internacionais” (LS 38). A política não deve submeter-se à economia e aos ditames e ao paradigma eficientista da tecnocracia, pois a prioridade deverá ser sempre a vida, a dignidade da pessoa e o cuidado com a Casa Comum, a Mãe Terra. Em Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, em 9 de julho de 2015, o papa Francisco não hesitou em proclamar: “digamos não a uma economia de exclusão e desigualdade, onde o dinheiro reina em vez de servir. Esta economia mata. Esta economia exclui. Esta economia destrói a mãe terra”.

    Na LS, o papa Francisco alerta ainda que “o drama de uma política focalizada nos resultados imediatos (…) torna necessário produzir crescimento a curto prazo" (LS 178). Ao contrário, para ele “no debate, devem ter lugar privilegiado os moradores locais, aqueles mesmos que se interrogam sobre o que desejam para si e para os seus filhos e podem ter em consideração as finalidades que transcendem o interesse econômico imediato” (LS 183).

    A extinção da Renca representa uma ameaça política para o Brasil inteiro, impondo mais pressão sobre as terras indígenas e Unidades de Conservação, e abrindo espaço para que outras pautas sejam flexibilizadas, como a autorização para exploração mineral em terras indígenas, proibida pelo atual Código Mineral.

    Por todos esses motivos, nos unimos às Dioceses locais do Amapá e de Santarém, aos ambientalistas e à parcela da sociedade que, por meio de manifestações nas redes sociais e de abaixo-assinados, pedem a imediata sustação do Decreto Presidencial que extingue a Reserva.

    Convocamos as senhoras e os senhores parlamentares a defenderem a Amazônia, impedindo que mais mineradoras destruam um dos nossos maiores patrimônios naturais. Não nos resignemos à degradação humana e ambiental! Unamos esforços em favor da vida dos povos que vivem no bioma amazônico. O futuro das gerações vindouras está em nossas mãos!

    Que Deus nos anime no mais fundo de nossos corações e nos ilumine e confirme na busca da tão sonhada Terra Sem Males.

    Dom Cláudio Cardeal Hummes
    Presidente da REPAM e da Comissão Episcopal para a Amazônia

    Dom Erwin Kräutler
    Presidente da REPAM-Brasil e Secretário da Comissão Episcopal para a Amazônia

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  • 25/08/2017

    Cerca de 400 indígenas estarão em Brasília para debater desafios e buscar estratégias na educação escolar


    Foto: Patrícia Bonilha

    Cerca de 400 indígenas de 100 povos são esperados em Brasília (DF) para participarem III Fórum Nacional de Educação Escolar Indígena (FNEEI). A atividade acontece na Universidade de Brasília entre os dias 15 a 19 de outubro. A terceira edição do Fórum terá como tema: direitos humanos e educação indígena. Entre os assuntos que serão abordados no III FNEEI estão: direitos humanos e educação, Ensino Médio Indígena e Educação Infantil.

    O Fórum Nacional de Educação Escolar Indígena é uma atividade permanente de educadores indígenas e indigenistas. Os debates buscam refletir sobre o processo de concepção, implementação e avaliação da política nacional de educação para os povos indígenas. Assim, acompanha-se, junto ao Congresso Nacional, a tramitação de projetos legislativos referentes à política nacional de educação para os povos indígenas e se avalia as implementações dos Planos Nacionais, Estaduais e Municipais de Educação.

    O III FNEEI incentiva a participação de educadores indígenas no processo de concepção, de definição das metodologias, da organização, da realização e da avaliação das políticas de educação. A mobilização reunirá caciques, lideranças, mulheres, jovens, professores, estudantes, que vão expor os desafios enfrentados pelos povos indígenas relacionados à educação, saúde e denunciarão às autoridades governamentais e internacionais o descaso com a educação indígena no Brasil e o preconceito institucional.

    Amostra Cultural
    Durante o evento também será realizada uma mostra da diversidade cultural indígena, que terá caráter informativo, educativo e de campanha para fortalecer e difundir o conhecimento das culturas indígenas e sua relevância para a diversidade cultural brasileira. As ações da mostra pretendem dar visibilidade à cultural indígena, combater o preconceito e racismo, chamar atenção das instituições governamentais e da opinião pública para a necessidade da valorização da diversidade como vantagem pedagógica e construção de uma cultura de paz e tolerância.
     
    Além das discussões, reuniões políticas e apresentações culturais, está prevista uma marcha pela educação indígena e uma audiência pública no Congresso com o mesmo tema do Fórum.

    O evento é uma organização dos fóruns estaduais de Educação Escolar Indígena, movimento de professores indígenas e representação de entidades parceiras da educação indígena, entre elas a DKA, CIMI, APIB, FAIND/UFGD, UnB e UFAM.
     
    A programação completa e as inscrições podem ser feitas no site do Fórum: www.fneei.org

    Serviço:
    O que: Fórum Nacional de Educação Escolar Indígena (FNEEI)
    Quando/Onde: 15 a 19 de outubro, Universidade de Brasília, Brasília DF
    Mais informações pelo e-mail:  fneeibr@gmail.com

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  • 25/08/2017

    Movimento indigenista divulga nota e questiona o MPF sobre postura da Procuradoria de Eunápolis no caso Joel Braz

    A Procuradoria da República de Eunápolis (BA) recorreu da decisão do Júri Popular, ocorrido no último dia 17, que absolveu o indígena Joel Braz Pataxó do crime de homicídio de um pistoleiro, ocorrido em dezembro de 2002. O movimento indígena, organizações indigenistas e programas acadêmicos voltados aos povos indígenas divulgaram nesta sexta-feira, 25, uma nota demonstrando "estranhamento" e "contrariedade" diante da posição da Procuradoria.

     

    "(…) Essa Procuradoria (tem sido) objeto de insistentes e justas queixas da parte do povo Pataxó, face à sua reiterada atuação em oposição e em contrário a legítima defesa dos direitos desse povo, como no caso da acusação de homicídio que pesa sobre os indígenas Lourisvaldo da Conceição Braz e Valtenor Silva do Nascimento e em outros feitos", diz trecho da nota.

     

    Para os movimentos e organizações, "as características do caso e de suas circunstâncias nos parecem claras o suficiente para que tivesse esse Ministério Público Federal atuado judicialmente em defesa de Joel Braz, em conformidade com sua missão constitucional de "defender judicialmente os direitos e interesses das populações indígenas" – conforme disposto no artigo 129º, inciso V, da Constituição Federal".

     

    Leia na íntegra:

     

    NOTA PÚBLICA AO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL SOBRE O CASO DO CACIQUE PATAXÓ JOEL BRAZ

    Vimos, muito respeitosamente, manifestar à 6ª Câmara do MPF, à Ouvidoria do Ministério Público Federal e ao Conselho Nacional do Ministério Público o nosso estranhamento e nossa contrariedade diante da conduta da Procuradoria da República em Eunápolis em processo judicial em que foi réu o indígena Joel Braz dos Santos.

    Como é sabido, de 1998 a 2002 Joel vinha exercendo a liderança de várias comunidades pataxós situadas em terras de ocupação tradicional desse povo – e ora já devidamente identificadas pela Funai como Terra Indígena Barra Velha do Monte Pascoal – até então ocupadas por fazendas improdutivas, retomadas nesse período pelos Pataxó, mas ainda questionadas pelos pretensos proprietários dessas áreas.

    Residindo em uma dessas retomadas, Joel foi, a 08 de dezembro de 2002, aí abordado por um pistoleiro que, apontando-lhe um rifle, tinha o claro intento de matá-lo, tendo entretanto tombado antes com um tiro em legítima defesa disparado por Joel.

    O fato teve grande repercussão na região e na luta dos povos indígenas, tendo sido transferido para a Justiça Federal em 2006, quando Joel passou a estar submetido a prisão domiciliar, sob responsabilidade da Funai, na Aldeia de Barra Velha.

    As características do caso e de suas circunstâncias nos parecem claras o suficiente para que tivesse esse Ministério Público Federal atuado judicialmente em defesa de Joel Braz, em conformidade com sua missão constitucional de "defender judicialmente os direitos e interesses das populações indígenas" – conforme disposto no artigo 129º, inciso V, da Constituição Federal – uma vez que o feito guarda inequívoca relação direta com a defesa de direitos territoriais e coletivos do povo Pataxó, flagrantemente ameaçados no caso por ações de pistoleiros. Entretanto, não só não atuou o MPF em defesa do povo Pataxó como assumiu a denúncia e acusação a Joel; malgrado o que, em tribunal do júri havido em 16 de agosto de 2017 na cidade de Eunápolis, restou cabalmente comprovada a tese da legítima defesa e as consequentes inocência e absolvição de Joel.

    Diante do exposto, reiteramos nosso estranhamento e nossa contrariedade diante da informação, lavrada em ata do dito tribunal do júri, de que terá o MPF, através de sua Procuradoria no Município de Eunápolis, recorrido da decisão.

    A propósito, vale referir que tem sido essa Procuradoria objeto de insistentes e justas queixas da parte do povo Pataxó, face à sua reiterada atuação em oposição e em contrário a legítima defesa dos direitos desse povo, como no caso da acusação de homicídio que pesa sobre os indígenas Lourisvaldo da Conceição Braz e Valtenor Silva do Nascimento e em outros feitos em que, em uma região em que predomina o poderio econômico do agronegócio e da indústria do turismo predatório, que sabidamente não convivem com os direitos dos povos indígenas, parece estar essa Procuradoria mais afeita à proteção de interesses desses grupos que à do povo Pataxó, cujos direitos lhe caberia defender.

    Assinam:

    Associação Nacional de Ação Indigenista – ANAI

    Programa de Pesquisa Povos Indígenas do Nordeste Brasileiro-PINEB -FFCH/UFBA

    Conselho Indigenista Missionário – CIMI

    Memória, processos identitários e territorialidades no Recôncavo da Bahia- MITO-UFRB

    Centro de Estudos e Pesquisas Interculturais e da Temática Indígena da UNEB -CEPITI

    Licenciatura Intercultural em Educação Escolar Indígena – Liceei/UNEB

    Movimento Indígena dos Povos e Organizações Indígenas da Bahia – MUPOÍBA

    Movimento Indígena da Bahia – MIBA


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  • 25/08/2017

    Mapa do território Guarani será lançado em São Paulo


    Com lançamento marcado para a próxima terça-feira (29), mapa levantou dados de 1.416 áreas de ocupação em quatro países e aponta população de 280.000 Guarani na América Latina

    Na próxima terça-feira (29), a partir das 18h, o Mapa Guarani Continental 2016 será apresentado no Auditório da Ação Educativa em São Paulo. No mesmo evento será lançado o Mapa Guarani Digital (guarani.map.as) plataforma interativa, que reúne informações sobre a ocupação e a situação fundiária das terras guarani no Brasil.

    Resultado do trabalho de uma rede com mais de 200 colaboradores, entre comunidades guarani, indigenistas e acadêmicos, o Mapa Guarani Continental apresenta toda a área de ocupação atual do povo Guarani na América do Sul. São mais de 280.000 pessoas unidas por uma língua e cultura comuns, vivendo na Argentina, Bolívia, Brasil e Paraguai.

    A partir desta sexta-feira (25), o Mapa Guarani Continental 2016 está disponível no site campanhaguarani.org. O download do PDF da publicação também pode ser feito nos sites do Centro de Trabalho Indigenista (CTI), Conselho Indigenista Missionário (CIMI), Instituto Socioambiental (ISA) e da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), organizações que participaram do projeto. O Mapa é apresentado em três idiomas – português, espanhol e guarani – e é acompanhado por um livro com informações sobre a situação atual do povo Guarani nos quatro países por onde se estende seu território de ocupação.

    Distribuídos por 1.416 comunidades, aldeias, bairros urbanos ou núcleos familiares, desde o litoral do Atlântico até a região pré-andina, os Guarani constituem um dos povos indígenas de maior presença territorial no continente americano. A maior parte da população Guarani – 85 mil pessoas – vive no Brasil, seguidos de 83 mil na Bolívia, 61 mil no Paraguai e 54 mil na Argentina e, assim como outros povos na América Latina, está em um franco processo de crescimento, com altos níveis de fecundidade aliados à queda dos níveis de mortalidade, mantidos há pelo menos 20 anos.

    Um mapa feito pelos guarani

    Para a rede de colaboradores envolvida na elaboração do mapa, trata-se de um instrumento de apoio para as demandas das comunidades guarani pelo reconhecimento de seus territórios e por políticas públicas que respeitem sua autonomia como povos que vivem em diferentes países.

    Segundo Bartolomeu Meliá, antropólogo e editor da publicação que acompanha o mapa, o resultado é fruto do envolvimento das próprias comunidades indígenas. “A importância da iniciativa é justamente o protagonismo indígena apoiado com dados das várias outras fontes que colaboraram. De certo modo, o mapa é efetivamente um mapa guarani. É feito pelos Guarani para que eles mesmos se reconheçam enquanto grande comunidade”, diz o pesquisador.

    A partir de fontes das próprias comunidades indígenas e de pesquisadores, a publicação introduz o leitor à realidade atual dos povos Guarani. A invasão e destruição de suas terras; as ameaças contra seu modo de ser; e a expulsão, a discriminação e o desprezo que vieram com a chegada de colonos, fazendeiros, sojicultores, usineiros e petroleiros, estão entre os principais problemas comuns enfrentados nos quatro países.

    A violência também é ocasionada pelo avanço de várias frentes de expansão das sociedades nacionais, desde pequenos agricultores até latifundiários, regidas por sistemas econômicos e culturais contrários ao dos Guarani. “O Estado faz todo o possível para desfazer o que é precisamente o tekoha desses povos. O Estado quer que os indígenas sejam também uma sociedade de mercado onde as terras entrem também nesse mercado. Nos países com presença Guarani essa ação do Estado colonial é pior no Paraguai, depois provavelmente no Brasil”, comenta Meliá.

    Mapa digital

    O Mapa Guarani Digital será lançado na próxima terça-feira (29), no auditório da Ação Educativa, no centro de São Paulo (saiba mais sobre o evento aqui).

    Na versão digital, que você acessa aqui, além dos 278 pontos atuais de localização das aldeias Guarani, o visitante pode consultar informações detalhadas sobre a situação fundiária de cada área. Do total de 198 Terras Indígenas de uso exclusivo do povo Guarani, apenas 33 estão regularizadas.

    Também estão registradas no Mapa Digital, a localização de 255 antigas aldeias guarani, das quais os indígenas foram expulsos à força ao longo do século XX, além da localização de cerca de 1100 sítios arqueológicos guarani, distribuídos pelas mesmas regiões ocupadas pelos povo guarani na atualidade.

    No Brasil, a população Guarani está em Terras Indígenas, reservas, áreas dominiais, acampamentos e situações urbanas, espalhada por onze estados nas cinco regiões brasileiras. Estima-se que sejam 64.455 pessoas na região Centro-Oeste, no estado de Mato Grosso do Sul (MS); 300 nos estados de Mato Grosso (MT), Tocantins (TO), Pará (PA), Maranhão (MA); e 20.500 nas regiões Sul e Sudeste, nos estados do Rio Grande do Sul (RS), Santa Catarina (SC), Paraná (PR), São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ) e Espírito Santo (ES).

    Serviço

    Lançamento do Mapa Guarani Continental e do Mapa Guarani Digital
    Terça-feira (29), à partir das 18h, no Auditório da Ação Educativa
    Rua General Jardim, 660, Vila Buarque. São Paulo-SP


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  • 25/08/2017

    NOTA PÚBLICA CPT: Tortura e cárcere privado praticado por família de fazendeiro em Nova Guarita (MT)

    O Fórum de Direitos Humanos e da Terra de Mato Grosso e a Comissão Pastoral da Terra – CPT-MT, vem a público, mais uma vez, denunciar as graves violências sofridas pelas famílias do Assentamento Raimundo Viera III (Lote 10) – Gleba Gama, situado no município de Nova Guarita- MT.

    Tememos muito pela vida dessas famílias que, desde o ano de 2005, quando foram assentadas pelo INCRA, por força de uma decisão da Justiça Federal de MT, vivem sob ameaças constantes e uma violência que não está tendo limites, cometidas pela família Braga (Izairo Batista Braga, Carlos Raposo Braga e esposa, netos, cunhados, genros, sobrinhos), que vão desde ameaças de morte, tortura, cárcere privado, queima de casas, cortes de cercas, envenenamento por pulverização aérea de agrotóxicos, disparos de armas de fogo nas casas e veículos, entre outros, como comprova diversos relatos e Boletins de Ocorrências lavrados na Polícia Militar e Civil do Estado de MT.

    A impunidade torna a vida dessas famílias uma maldição. Denúncias foram feitas em praticamente todos os órgãos e instâncias no Estado de Mato Grosso. Somente na Polícia Militar e Civil foram registrados dezenas de Boletins de Ocorrências, para os Ministérios Públicos Estadual e Federal foram feitas diversas denúncias. Várias outras denúncias foram encaminhas ao INCRA MT, IBAMA, SESP – Secretaria de Segurança do Estado, SEJUDH – Secretaria de Justiça e Direitos Humanos, Casa Militar, Casa Civil, e ao próprio Governador do Estado. Vários dos crimes praticados contra essas famílias estão registrados em fotos e vídeos. Mas nada e nem ninguém consegue cessar essas violências.

    Vale lembrar ainda que o referido fazendeiro (Izairo Braga) entrou com Ação de Reintegração de Posse na Justiça Estadual – Vara Agrária de Cuiabá – Processo nº. 22401-72.2009.811.0041 – código nº. 386361, contudo NÃO conseguiu liminar de reintegração de posse. Diante das inúmeras violências sofridas as 12 famílias assentadas entraram, através da Defensoria Pública, com uma Cautelar ATENTADO – Vara Agrária, processo nº. 1985483.2014.811.0041 – código nº. 885006, onde conseguiram uma liminar que determina que o fazendeiro “se abstenha de praticar qualquer ato de alteração do estado de fato da área em litígio, sob pena de multa diária que fixo no valor de R$ 1.000,00…”.

    A quem mais essas famílias precisam apelar para que faça valer seus direitos? O que fazer diante das injustiças cometidas? Como conter a violência constante? A quem mais denunciar?

    No dia 19 de agosto de 2017 outra violência bárbara foi cometida contra as famílias, cárcere privado e tortura contra um casal de assentados em seu lote, na frente da filha de 3 anos de idade. Além de atirarem nos assentados e assentadas que tentaram socorrer as vítimas. Diante dessa cena, a PM de Nova Guarita ao chegar no local, detém o casal que sofria a violência, enquanto os agressores foram liberados para irem sem acompanhamento até a PM e não sendo conduzidos ou ouvidos no dia do crime. As armas de fogo não foram apreendidas.

    Qual será a resposta do Estado de MT frente a isso? A Impunidade irá se perpetuar até que haja mais uma chacina em MT, como a ocorrida em Colniza? As polícias e órgãos públicos foram comunicados. No entanto, o fazendeiro continua ameaçando os assentados e assentadas.

    Apelamos ao Estado de MT (Executivo, Legislativo e Judiciário) e aos órgãos Federais que façam valer a justiça e o direito dessas famílias. Tal situação leva à perda de sentido da vida, a traumas inumeráveis e, pior, à crença de que o crime compensa.

    Cuiabá-MT, 24 de agosto de 2017
    Fórum de Direitos Humanos e da Terra de Mato Grosso
    Comissão Pastoral da Terra – Mato Grosso

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  • 24/08/2017

    MPF pede explicações ao ministro da Justiça sobre anulação de reserva indígena do Pico do Jaraguá


    Foto: Comissão Guarani Yvirupa

    O Ministério Público Federal (MPF) encaminhou ao ministro da Justiça, Torquato Jardim, um ofício cobrando informações sobre a revogação da Portaria 581, de 2015, que criou uma reserva indígena de 512 hectares no Pico do Jaraguá, na zona oeste da capital paulista. Ainda foi solicitada uma reunião para tratar do assunto pessoalmente com o ministro.

    Nessa quarta-feira (23), foi realizada reunião entre a Câmara de Populações Indígenas e Comunidades Tradicionais (6CCR/MPF) e a procuradora da República responsável pela matéria em São Paulo, Suzana Fairbanks, para tratar do caso. Foram discutidas as possíveis estratégias para a revogação do ato.

    Para a 6CCR, o Ministério da Justiça não poderia ter anulado uma portaria que declara tradicionalidade de terra indígena sem que houvesse esgotamento dos recursos cabíveis (trânsito em julgado), tendo em vista a indisponibilidade do interesse público e a sua natureza de bem público da União (imprescritível e inalienável).

    O subprocurador-geral da República Luciano Mariz Maia, coordenador da 6CCR, alerta que “a anulação da portaria está em confronto com a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e do Supremo Tribunal Federal (STF)”, que entendem que o Mandado de Segurança não é via cabível para discussão de terras indígenas, bem como a natureza meramente declaratória do ato estatal de reconhecimento de tais áreas. Segundo o MPF, o Ministério da Justiça não pode se basear em liminares do STJ proferidas em julgamentos de mandados de segurança para revogar criação de terra indígena.

    No ofício, o Ministério Público Federal lembra que a Suprema Corte revisitou sua jurisprudência em julgamento no dia 16 de agosto. Na ocasião, o STF reconheceu que as terras tradicionalmente ocupadas pelos indígenas são identificadas e delimitadas pela metodologia propriamente antropológica.

    Jaraguá

    A área ocupada pelos índios em São Paulo tem menos de três hectares, e é a menor reserva indígena do país. A população é composta por 586 pessoas da etnia Guarani, segundo dados de 2013 da Funai. Em junho de 2015, a portaria 581 do Ministério da Justiça reconheceu a área como de ocupação tradicional e ampliou a reserva para 512 hectares, baseada em amplo estudo técnico realizado pela Funai. A decisão, no entanto, foi questionada na Justiça pelo Governo de São Paulo e revogada na segunda-feira (25) pelo Ministério da Justiça.

    Em decisão recentemente proferida no STF, o Ministro Dias Toffoli afirmou que “a dinâmica relacional desse grupo indígena com a terra indígena de Jaraguá não se dá apenas pela sua efetiva presença no local, mas sobretudo pela sua relação simbólica com a terra”. O magistrado lembrou ainda que o povo Jaraguá, mesmo afastado da terra pela presença de colonizadores, nunca perdeu o vínculo com o local que chamam de “mundo original”.

    Os índios guarani que ocupam a terra do Pico do Jaraguá convivem com dificuldades no acesso à saúde, educação e saneamento básico. Além da atuação em prol da preservação da reserva indígena, o MPF atua para que os índios recebam mais apoio do Estado, com a aplicação efetiva de políticas públicas na região.

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  • 24/08/2017

    Organizações manifestam repúdio à anulação da Portaria Declaratória da Terra Indígena Jaraguá e exigem revogação das medidas anti-indígenas do governo

    Na última segunda-feira (21/8), o Governo Temer, por meio do Ministro da Justiça Torquato Jardim, anulou a Portaria n° 581 de 2015, que declarava 532 hectares de ocupação tradicional guarani na Terra Indígena Jaraguá. Nós, organizações da sociedade civil abaixo-assinadas, manifestamos nosso repúdio à medida e endossamos as manifestações da Comissão Guarani Yvyrupa e da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil.

    Trata-se de uma medida inconstitucional que abre um grave precedente ao demonstrar a disposição do governo Temer em rever todos os processos de demarcação de Terras Indígenas para agradar a bancada ruralista, sua base no Congresso Nacional.

    O também inconstitucional parecer nº 001/2017 da Advocacia-Geral da União, assinado por Michel Temer, busca servir ao mesmo propósito de inviabilizar as demarcações. Para isso impõe o uso das condicionantes do processo da TI Raposa Serra do Sol e do Marco Temporal para toda administração pública. O parecer da AGU atende exatamente às reivindicações de setores do agronegócio aos quais Temer precisa agradar para seguir seu mandato ilegítimo.

    Da mesma forma, o governo Temer atende aos interesses do governo de Geraldo Alckmin em São Paulo, que é contra a demarcação da TI Jaraguá porque quer viabilizar seu projeto de concessões de Parques Estaduais para exploração da iniciativa privada.

    Em decisão ilegal, através da Portaria n° 683 publicada na última segunda-feira (21), o ministro Torquato Jardim assina o confinamento de uma população de mais de 700 indígenas, mais da metade deles crianças, vivendo em apenas 1,7 hectare de terra: a menor área demarcada do país.

    Para além da inconstitucionalidade e do autoritarismo do governo Temer, a medida escancara a total falta de sensibilidade humana com uma população que já vive em situação de extrema vulnerabilidade.

    Diante disso, a Comissão Guarani Yvyrupa (CGY), junto com a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e todo o fórum da Mobilização Nacional Indígena convocam a todos a participar de um ato público em defesa da Terra Indígena Jaraguá e em defesa de todas as demarcações de Terras Indígenas (veja aqui).

    O ato acontece na próxima quarta-feira (30/08), às 17h, no Vão do MASP, em São Paulo (SP). As organizações abaixo-assinadas reforçam esse chamado e estarão presentes para, junto às comunidades indígenas, exigir:

    – A imediata revogação do Parecer 01/2017 da AGU assinado por Michel Temer,

    – A imediata revogação da Portaria n° 683 e a continuidade do processo de demarcação da Terra Indígena Jaraguá.

    Assinam o presente manifesto:
    Articulação dos Povos Indígenas do Brasil – APIB
    Comissão Guarani Yvyrupa – CGY
    Centro de Trabalho Indigenista – CTI
    Conselho Indigenista Missionário – CIMI
    Instituto Socioambiental – ISA
    Instituto Internacional de Educação do Brasil – IEB
    Instituto de Pesquisa e Formação Indígena – IEPÉ
    Comissão Pró-Índio do Acre – CPI-AC
    Comissão Pró-Índio de São Paulo – CPI-SP
    Operação Amazônia Nativa – OPAN
    Associação Nacional de Ação Indigenista – ANAÍ
    Rede de Cooperação Amazônica – RCA
    Associação Terra Indígena Xingu – ATIX
    Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro – FOIRN
    Hutukara Associação Yanomami
    Conselho indígena de Roraima
    Organização Geral Mayuruna – OGM
    Associação Wyty Catë das Comunidades Timbira do Maranhão e Tocantins
    Conselho das Aldeias Wajãpi – APINA
    Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo – APOINME
    Conselho Terena
    Articulação dos Povos Indígenas do Sudeste – ARPINSUDESTE
    Articulação dos Povos Indígenas do Sul – ARPINSUL
    ATY GUASSU – Grande Assembleia do Povo Guarani
    Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira – COIAB
    União dos Povos Indígenas do Vale do Javari – UNIVAJA
    Associação Kanamari do Vale do Javari – AKAVAJA
    Associação dos Agentes Agroflorestais Indígenas do Acre – AMAAIAC
    Associação Ashaninka do Rio Amônia – APIWTXA
    Associação de Desenvolvimento Comunitário do Povo Marubo do Alto Rio Curuçá – ASDEC
    Associação Marubo de São Sebastião – AMAS
    Associação do Povo Indígena Jiahui – APIJ
    Federação das Organizações e Comunidades Indígenas do Médio Purus – FOCIMP
    Organização das Aldeias Marubo do Rio Ituí – OAMI
    Organização dos Povos Indígenas Apurinã e Jamamadi – OPIAJ
    Organização dos Professores Indígenas do Acre – OPIA

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