• 10/10/2017

    Operação combate extração ilegal de madeira na Terra Indígena mais desmatada do Brasil



    Por Assessoria de Comunicação MPF PA

    Na área de influência de Belo Monte (PA), a Terra Indígena Cachoeira Seca, dos índios Arara, foi considerada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) a mais desmatada do Brasil no período de 2011 a 2015. Desde então, Polícia Federal, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), Ministério Público Federal e Justiça Federal atuam em investigação conjunta para apurar a existência de quadrilha que agia retirando ilegalmente madeiras nobres como ipê, jatobá e angelim. A investigação começou em 2015 com participação do Ibama, PF, MPF e Justiça Federal e concluiu que os danos ambientais podem chegar a R$ 900 milhões.

    Em mais de dois anos de investigação, foram computados pelo menos R$ 900 milhões em danos ambientais provocados pelos integrantes do esquema dentro da terra indígena, e na última quarta-feira (4) o esquema foi desmontado com operação que bloqueou bens e promoveu interrogatórios dos investigados.

    Na deflagração da operação, foram expedidos pela Justiça Federal de Altamira dez mandados de condução coercitiva, 11 mandados de sequestro de bens e valores, seis mandados de busca e apreensão em empresas/casas pertencentes aos investigados, além da suspensão das atividades empresariais das empresas envolvidas no esquema criminoso. Os nomes dos envolvidos ainda não foram divulgados porque a investigação permanece sob segredo de Justiça até o cumprimento integral dos mandados expedidos.

    A investigação começou após relatório da Operação Cachoeira Seca, realizada pelo Ibama em outubro de 2015. Após a ação do Ibama, a Polícia Federal identificou um grupo empresarial composto por familiares, que, de maneira organizada, burlava a fiscalização para dar teor legal à madeira extraída da Terra Indígena Cachoeira Seca. O grupo fraudava créditos florestais inserindo dados falsos no sistema de controle do comércio de produtos florestais, além de utilizar Planos de Manejo Florestal de fachada. Em seguida, a madeira era transmitida entre empresas do grupo até ser exportada para vários países na Europa, Ásia e América do Norte.

    Justiça

    Quando a investigação for concluída, o MPF será responsável por denunciar os acusados à Justiça Federal, de acordo com os crimes cometidos. Não há prazo para apresentação da denúncia. Além da ação penal, os responsáveis também devem responder na esfera civil para indenizar os danos provocados.

    Em 1972, a construção de um trecho da Transamazônica cortou ao meio o território dos Arara, que até então viviam em isolamento voluntário, fazendo com que a região fosse invadida por colonos, garimpeiros e madeireiros ilegais. Além de terem seu território drasticamente reduzido, os Arara sofreram com conflitos, mortes, desagregação social dos subgrupos e desestabilização da sua vida produtiva – caso que foi registrado como grave violação de direito humano pelo Relatório da Comissão Nacional da Verdade, em 2014.

    Em 2016, a Terra Indígena foi homologada pela presidência da República, mas já enfrentava então a segunda grande invasão por não-indígenas, atraídos pelas obras da usina hidrelétrica de Belo Monte. Uma condicionante crucial para a proteção das terras indígenas no entorno do empreendimento não foi obedecida até hoje, o que explica em grande parte a atuação das quadrilhas de madeireiros ilegais nos territórios indígenas.

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  • 09/10/2017

    AGU: de boa vontade o inferno está cheio


    Foto: Guilherme Cavalli / Cimi

    Por Egon Heck, do secretariado nacional, e Guilherme Cavalli, da assessoria de comunicação / Cimi

    Na última semana, de 02 a 07, uma delegação de oito povos cumpriu uma série de agendas em Brasília (DF). Nos órgãos federais, aproximadamente 70 indígenas vindos do Maranhão (povos Apanikrã Kanela, Krepun, Memortumré Kanela, Krenyê e Gavião), de Roraima (Macuxi e Wapixana) e da Bahia (Tupinambá de Olivença) ressoaram o grito que repudia medidas assumidas pelo atual governo. A principal agenda ocorreu na Advocacia Geral da União (AGU), terça-feira (03), onde os indígenas exigiram a revogação do parecer 001/2017, chamado de anti-demarcação.

    Na reunião com a ministra Grace Mendonça (AGU), enquanto um grupo conversava com os representantes do órgão, 50 indígenas dançavam em rituais contra o documento assinado por Michel Temer. “Quanto mais a senhora fala, mais nos deixa preocupados”. A sentença abrevia o “diálogo”. Mesmo que a ministra da AGU utilizasse de um discurso diplomático para, em curtas explicações, demonstrar “amiga dos índios”, a delegação indígena não se deixou encantar.

    Dona de uma retórica que advoga em sintonia com o atual governo, a ministra defendeu “boa vontade” de Michel Temer em tomar providência nas terras em processo de demarcação. “Posso garantir a vocês que em conversa com o presidente Temer, ele externou seu desejo de demarcar as terras indígenas”. Óbvio que não seria outro o discurso da advogada da “União”.


    Foto: Laila Mendes

    Os indígenas não acreditaram. A respeito à pretensa boa vontade de Temer em dar andamento as demarcações, os indígenas foram imperativos: “O governo não tem interesse em demarcar as terras indígenas. Caso tivesse, já teria feito. O que vemos são avanços contra nossos direitos”. No Brasil, são 836 territórios não demarcados que esperam pela “boa vontade” do poder público. Durante o governo Temer, não houve nenhuma homologação de terra indígena.

    Enquanto Grace Mendonça defendia a solicitude de Temer em demarcar os territórios tradicionais, Ramon Tupinambá, cacique, registrava sua preocupação em relação a não demarcação. A liderança foi incisiva em reafirmar: “Os procedimentos administrativos para a homologação já foram realizados, inclusive o levantamento fundiário. O que falta? Aguardamos a urgente assinatura para demarcar nossos territórios”.

    Retorno da portaria 303

    “A ministra tenta uma manobra para trazer novamente a portaria 303/2012, que também queria trazer o marco temporal para os processos de demarcações”. Antonio Kracrose, liderança indígena do povo Kanela, é claro em sua leitura. “O parecer afeta diretamente nossa organização social, que depende de nosso território. Não acreditamos nessa conversa da Grace Mendonça”.

    Enquanto os indígenas são categóricos no que desejam, a ministra se contradiz. “Nenhuma decisão será tomada sem prévio debate com os povos indígenas”, afirma. Em contraponto, indígenas sustentam o desejo de revogação do instrumento que paralisa as demarcações. ““Ministra, não aceitamos esse parecer”, dissemos. Ela continuou insistindo que o parecer é bom. A gente se pergunta: bom para quem?””, questiona Antonio Kanela.

    A advogada de carreira, primeira mulher empossada por Temer como ministra, insistiu que desejava ouvir os povos indígenas. Contudo, quando as 12 lideranças colocaram na mesa o insistente anseio de revogação do Parecer 001/2017, Grace Mendonça se contradizia na veleidade de diálogo. Se mantinha intransigente sobre o documento que paralisa os processos de homologações. O acordo de publicação deste foi acertado com figuras da linha de frente da bancada ruralista. Lembrete: quatro dias antes de publicar o parecer, Luis Carlos Heinze (PP-RS) divulgou um vídeo que explicitava os acertos feitos por ele e Osmar Serraglio, à época ministro da Justiça, com Grace Mendonça. O deputado gaúcho afirma que as negociações com a AGU iniciaram em abril.

    A ministra assistiu ao vídeo? Parece que subestima a memória dos indígenas. Diz que o parecer defende a vida dos povos tradicionais. Descolada da realidade, conjuga seu discurso a partir da cartilha dos fazendeiros, donos dos bois. Assume a mesma homilia proferido pelo atual ministro da Justiça, Torquato Jardim, quando se reuniu em Brasília com uma delegação indígena vinda do Mato Grosso do Sul. Muda ministro, permanece o discurso. Insistem na política assimilacionista e de mercado, intenção do atual governo em implementar a exploração de recursos naturais e de projetos de produção do agronegócio nas terras indígenas já demarcadas. A delegação, instantaneamente, assinalou que não concorda com qualquer medida que explore a Mãe Terra.

    “Não queremos transformar nossas terras em capital de giro, como diz a senhora ministra. Não queremos crescimento individual, como ela defendeu na reunião.  Não aceitaremos essas propostas de lotear nossos territórios. Quem explora a mãe? Esse projeto quer o viver bem para alguns, e não o bem viver para os povos”, insiste a indígena do povo Kanela.

    Derrubaremos o parecer anti-demarcação

    A ministra permaneceu nos possíveis benefícios do Parecer 001/2017, editado pela AGU a partir de solicitação da Casa Civil da Presidência da República. Afirmou que a medida pretendia trazer segurança jurídica aos processos de demarcação. Reiterou: a intenção do mesmo seria defender os direitos indígenas. Segundo Grace, ao contrário do que alguns procuram difundir, o parecer não faz nenhuma referência ao Marco Temporal.


    Foto: Guilherme Cavalli / Cimi


    “O atual governo monta um quebra cabeça para retirar nossos direitos conquistados na Constituição Federal. Querem que nós, povos indígenas, sejamos instrumento de lucro. Não aceitaremos e combateremos ideias como essas. Não concordamos com o argumento que esse tipo de economia vai favorecer os povos indígenas”, garante Adriano Guileto Gavião.

    Diga ao povo que avance. “Continuaremos resistindo ao Parecer da AGU por entender que ele é maléfico para os povos indígenas. Estamos sendo afrontados a todo momento, lá na ponta, nas comunidades”, assegurou Ramon Tupinambá.

    Boa vontade? Não basta!

    Com relação aos reais interesses políticos, as lideranças deixaram claro que, além de não demarcar, o governo Temer tem sinalizado a possibilidade de abrir as terras já demarcadas para a exploração pelas mineradoras, madeireiras e o agronegócio. Quem não sabe que esse é o governo sustentado pela bancara ruralista?

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  • 09/10/2017

    Carta do Encontro de Diálogo da Repam/Igrejas Locais com os povos indígenas e ribeirinhos da bacia do Rio Tapajós



    Nós, Povos indígenas da Bacia do Tapajós Munduruku, Munduruku Cara Preta, Arapiun, Tupinambá, Sateré-Mawé, Manoki, Myky, Apiaka, Rikibaktsa, Kayabi, Arara Vermelha, Tupaiú, Borari, Juruna, Comunidade de São Luiz do Tapajós, Comunidade de São Francisco-Periquito, Movimento Tapajós Vivo, Franciscanos OFM, Membros da Rede Eclesial Panamazônica (REPAM)-Prelazia de Itaituba, Conselho Indigenista Missionário (CIMI), Comissão Pastoral da Terra/Prelazia de Itaituba (CPT) e Membros do Comitê Ampliado da REPAM, reunidos nos dias 06 a 08 de outubro no Centro de Formação São José Laranjal, município de Itaituba, Estado do Pará, para discutir estratégias e resistência na Bacia do Tapajós e ampliar as alianças na Panamazônia.

    Reunidos neste encontro sentimos a importância da liberdade dos Rios porque nós como um todo precisamos ser livres, pois o Rio é vida e parte de nós. O Rio é a nossa dispensa porque é de lá que tiramos nosso alimento, água e a nossa sobrevivência, ele não pode ser motivo de exploração para os lucros de uma minoria de empresas e do capital, entendemos que os Rios é um bem comum da humanidade.

    O governo não sabe o que e o significa Tapajós, a floresta e a natureza, o governo acha que floresta não faz nada, mas ela dá a vida para a humanidade. O Rio é como nosso corpo, ele tem nervos por todo canto, mas se desmatam nossas nascentes matam nosso Rio, e nos matam.

    Nesse sentindo, nós Povos da Bacia do Tapajós entendemos que somos raízes que formam o Tapajós e unidos seremos mais fortes para continuar a nossa resistência pelo Tapajós. Somos partes do Rio Tapajós; ele nos interliga com outros rios e povos da Bacia Amazônica na esperança de luta e resistência em defesa da vida.

    Atualmente, com o processo de licenciamento ambiental sem consulta prévia, livre e informada conforme diz a convenção 169 da OIT, nós nos sentimos ameaçados com a invasão sobre nossos territórios tradicionais, Unidades de Conservação, Projetos de Assentamento da Reforma Agrária e Comunidades Tradicionais com grandes empreendimentos como 43 Hidrelétricas e mais de 160 Pequenas Centrais Hidrelétricas na Bacia do Tapajós; 24 Estações de Transbordo e Cargas (ETC) nos municípios de Aveiro, Itaituba e Rurópolis; Ferrovia Ferrogrão; Hidrovias; Mineração; Madeireiras; Duplicação da Rodovia Santarém Cuiabá; Redução das Unidades de Conservação; Agrotóxicos; Contaminação dos Rios e peixes no Tapajós pelo Mercúrio e Soja.

    Embora nossos direitos sejam reconhecidos constitucionalmente, os mesmos não são respeitados pelos órgãos do Estado brasileiro, entregando nossos territórios e nossos rios a empresas multinacionais, agronegócio, mineradoras, madeireiras, empreiteiras. Além disso, no atual cenário político brasileiro circula iniciativas legislativas como a PEC 215, a Tese do Marco Temporal, o Parecer 001/17 da AGU entre outros, que impedem e violam nossos direitos originários de viver conforme nossos costumes tradicionais retirando da natureza apenas o necessário para o bem viver de nossos povos, pois acreditamos que tirando só que precisamos da natureza para nosso bem viver pode existir o equilíbrio entre a natureza e o ser humano.

    Diante desse cenário de retrocessos dos nossos direitos, entendemos que apenas com a união e a coletividade dos Povos da Bacia do Tapajós e toda a Amazônia e com a presença solidária da Igreja como aliada vamos continuar impedindo a destruição de nossos rios, matas e de toda vida existente no planeta terra. Por isso somos contra qualquer tipo de negociações que colocam em risco todos os direitos conquistados durante anos de lutas por aqueles que entregaram suas vidas para que a nossa pudesse existir. A mãe terra não se negocia, o direito a vida não se vende.
    Portanto, exigimos para toda a Bacia do Tapajós a demarcação imediata dos Territórios Indígenas; a titulação e demarcação dos Projetos de Assentamentos da Reforma Agrária das comunidades ribeirinhas e tradicionais e a imediata paralisação dos grandes empreendimentos na Bacia do Tapajós;


    Nossa luta é uma Luta só, e a nossa palavra é uma palavra só.
    Juntos continuaremos na defesa da vida dos Povos na Bacia do Tapajós!

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  • 09/10/2017

    Disputas pelo poder político causam aumento da violência contra os povos indígenas


    Lançamento do relatório ocorreu dia 5 de outubro, na sede da CNBB, em Brasília. Foto: Tiago Miotto/Cimi


    Por Lucia Helena Rangel e Roberto Antonio Liebgott

    O Relatório Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil relativo ao ano de 2016 abordará, com ênfase, os impactos de dois momentos da política indigenista, tendo em vista que o Estado foi administrado por governantes com perspectivas diferentes no que tange aos direitos constitucionais das comunidades. O governo da presidenta Dilma priorizava, em sua política, o que foi sendo denominado ao longo dos anos de “mesa de diálogos”, onde se discutia as demandas mas elas não eram atendidas, período de uma gestão focada na omissão. Com a governança de Michel Temer houve uma mudança de propositura, em que um discurso frontalmente anti-indígena foi assumido em oposição aos direitos constitucionalmente consagrados. Incentivou-se, neste novo momento, a política do cinismo, centralizada na necessidade de promover a integração dos indígenas como alternativa de sobrevivência, paralelamente, intensificou-se o processo de criminalização das lutas pela terra e a legitimação das invasões e depredações dos territórios, mesmo daqueles demarcados.

    Percebeu-se ao longo de 2016 que o poder Judiciário, em primeira instância e nos tribunais regionais federais, tratou de seguir a lógica da governança em curso, tomando para si a centralidade das discussões relativas aos direitos indígenas e descaracterizando procedimentos demarcatórios, alegando-se para sua legitimação a tese do “marco temporal” da Constituição de 1988. O “marco temporal” visa impor a necessidade da presença dos povos e das comunidades na posse da terra à data de 5 de outubro de 1988 ou, caso nelas não estivessem, impor a regra de que deveriam estar postulando-as judicialmente ou disputando-as fisicamente – o chamado renitente esbulho. Os povos que não atendem a estas condições perderiam o direito à demarcação da área reivindicada.

    No que concerne à política fundiária, a tendência, pelo que se consegue observar pelos dados oficiais e pelos dados do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), é de que haverá mudanças ainda mais severas. A lógica, segundo se anuncia, é que sejam realizadas mudanças drásticas na Constituição Federal, especialmente no que tange às demarcações de terras. Para tanto, há proposições que tramitam no âmbito do poder Legislativo – sistematizadas todas na Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215/2000 e na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Fundação Nacional do Índio (Funai) e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), instrumentos nos quais são forjados argumentos de que as demarcações são fraudulentas e os que as apoiam e lutam por elas são criminosos.

    Pode-se afirmar que houve, neste período, graves retrocessos no que tange à perspectiva de consolidação de políticas que atendam às necessidades e aos direitos indígenas, especialmente no tocante às especificidades étnicas e culturais. Gerou-se profundas incertezas quanto ao futuro. As demarcações de terras, caracterizadas como direitos fundamentais e sobre os quais estão alicerçados os demais direitos, continuam paralisadas, em função da pressão dos ruralistas. A Funai tem sido, ao longo da última década, sucateada e desqualificada. O governo federal tem imposto restrições orçamentárias tão severas a este órgão a ponto das coordenações locais e regionais não terem dinheiro sequer para comprar combustível. Nos últimos cinco anos os cortes orçamentários chegam a mais de 60% do montante destinado à Funai entre os anos de 2006 e 2009. Em 2016 foram liberados menos de R$ 110 milhões para todas as atividades do órgão, incluindo demarcações de terras, indenizações de benfeitorias, fiscalização das terras e proteção aos povos em situação de isolamento e risco.

    Mas, enquanto estas medidas não são implementadas de modo definitivo, a Funai, através de sua coordenação de assuntos fundiários, tenta consolidar uma tendência interna de não mais demarcar terras conforme as normas constitucionais, utilizando-se, para tanto, de regras propostas no Estatuto do Índio – Lei 6.001/1973 –, o qual também prevê, além da demarcação, a criação de reservas indígenas. As reservas são, na prática, resquícios das políticas autoritárias e integracionistas que tinham o objetivo de confinar os povos em pequenas porções de terras, liberando as áreas tradicionais para a exploração e expansão econômica. A criação de reservas como opção à demarcação é justificada por evitar desgastes políticos e a judicialização dos procedimentos demarcatórios. No entanto, esta nova sistemática aniquila os direitos constitucionais e se ela for efetivamente imposta sequer será necessário alterar a Constituição Federal.

    No que tange à saúde, mantiveram-se as ações através de convênios entre a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) e organizações prestadoras de serviços. Há que se considerar que ocorreram, ao longo do ano, tentativas de mudanças nas regras relativas ao controle dos recursos financeiros, pois se pretendia romper com a autonomia e administração dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (Dsei) no tocante à gestão dos seus recursos, transferindo tudo ao Ministério da Saúde e retirando, com isso, a possibilidade de previsão e utilização do dinheiro mediante um plano distrital anual. Há, além disso, graves omissões no tocante às ações e aos serviços voltados à prevenção em saúde, à formação de profissionais e agentes, ao controle social e ao saneamento básico. O resultado desta política é o aumento de doenças e endemias que poderiam ser erradicadas, mas, na prática, ainda afetam importantes segmentos da população e geram sofrimento e morte. Vale ressaltar que os recursos previstos para 2016 foram de R$ 1,4 bilhão, sendo que 68% foram executados.

    Na rubrica “saneamento básico”, um dos fatores principais para a garantia da saúde, foram executados menos de 50% dos recursos previstos (conforme informações prestadas pela Sesai durante reunião da Comissão Intersetorial de Saúde Indígena, em dezembro de 2016).

    São impactantes, embora bastante precários, os dados sobre a mortalidade infantil. Com base na Lei de Acesso à Informação, o Cimi obteve da Sesai dados relativos à mortalidade indígena na infância. Mesmo parciais, eles revelam que houve um crescimento do número de óbitos de crianças menores de 5 anos. Enquanto em 2015 foram registrados 599 óbitos, em 2016 a Sesai informa a ocorrência de 735 óbitos entre menores de 5 anos. As principais causas prováveis das mortes foram: pneumonia; gastroenterite de origem infecciosa presumível; pneumonia não especificada; septicemia não especificada; morte sem assistência; desnutrição proteico-calórica grave não especificada; e outras causas mal definidas e não especificadas de mortalidade. Apesar da falta de maiores informações sobre os óbitos das crianças, o próprio órgão oficial reconhece mortes por falta de assistência e desnutrição grave.


    A política de educação escolar indígena manteve sua frágil estruturação. Embora tenham sido criados os Territórios Etnoeducacionais, base e referência para a política, estes têm como executores as secretarias estaduais ou municipais de educação, que desenvolvem, cada qual a seu modo, os serviços que melhor convêm aos interesses localizados. Há uma precarização nas estruturas das escolas, e não se investem recursos para a construção e manutenção das instalações escolares. Mas, pior que isso, pouco se investe na formação e preparação dos professores indígenas, que seriam, a rigor, os principais responsáveis, junto com as comunidades, pelo planejamento, pela gestão e execução das ações na educação escolar.

    A brutalidade da política indigenista se fez notar mais drasticamente no estado do Maranhão, onde madeireiros promovem verdadeiras caçadas aos indígenas que se opõem ao desmatamento e à exploração madeireira ilegal. Foram assassinadas oito pessoas do povo Guajajara. Algumas das vítimas tiveram partes de seus corpos arrancados e expostos pelos assassinos.


    Na Bahia, lideranças do povo Tupinambá são criminalizadas, perseguidas, agredidas, ameaçadas e assassinadas. Em Minas Gerais, o povo Xakriabá enfrenta situação semelhante. No Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e no Paraná, os ataques aos direitos indígenas ocorrem paralelamente à perseguição, criminalização e ao aprisionamento de lideranças que lutam pela terra.

    No Mato Grosso do Sul, os ataques aos Guarani-Kaiowá e aos Terena têm sido recorrentes, mas, especialmente em 2016, registrou-se a interdição, por parte de juízes federais, aos direitos territoriais em áreas já demarcadas ou naquelas cujos processos deveriam estar em andamento, mas acabaram obstruídos. Concomitantemente, eles determinaram o despejo de comunidades com uso de força policial.

    Nos estados do Maranhão, de Rondônia, Mato Grosso, Pará e Acre, o desmatamento e a exploração dos rios e lagos foram devastadores. Segundo o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), o desmatamento na Amazônia cresceu quase 30% em 2016, apresentando o pior resultado desde 2008. Centenas de milhares de hectares de matas dentro de terras indígenas foram tombadas ou incendiadas criminosamente.

    Cabe ressaltar que o poder Legislativo se tornou, através da bancada ruralista, o principal articulador e mobilizador das teses anti-indígenas no país. Eles promovem diversas campanhas, via parlamento e através das redes sociais, dentre outras, contra os direitos dos povos indígenas e das comunidades quilombolas. Em essência, o que se pretende é legitimar todas as formas de violência, tendo em vista a exploração das terras, de modo predatório. Diante deste quadro, os projetos, as leis e emendas à Constituição Federal elaborados por parlamentares para aniquilar com a possibilidade das demarcações de terras serem realizadas, em regra, devem ser caracterizados como ilegais. Para se ter uma ideia da articulação e da força que se volta contra os povos indígenas, tramitam hoje, no Congresso Nacional, mais de 100 proposições que alteram artigos concernentes aos direitos indígenas e quilombolas. Não é possível dissociar os altos índices de assassinatos e suicídios ocorridos no Brasil ao longo do ano deste contexto. A falta de perspectiva de se viver em paz nas terras demarcadas e a insegurança quanto à garantia ou manutenção dos direitos estabelecidos pelas normas constitucionais desencadearam conflitos internos e externos que resultaram em um alastramento das violências.

    No município de Caarapó, em Mato Grosso do Sul, o assassinato de Clodiodi Aquileu Rodrigues de Souza ocorreu em meio a um massacre perpetrado contra a comunidade Tey i Kue, do povo Guarani-Kaiowá, em uma retomada da Fazenda Yvu, incidente sobre a terra indígena e em processo de demarcação no Ministério da Justiça (MJ). O acampamento foi barbaramente atacado por uma centena de agressores armados que chegaram, em caminhonetes, atirando, queimaram motos e diversos pertences dos indígenas. Além do assassinato de Clodiodi, outras seis pessoas ficaram feridas, entre elas uma criança de 12 anos. Episódios como este tornaram-se frequentes no Mato Grosso do Sul, marcando com horror as tentativas desesperadas e inevitáveis de retomar as terras que, por direito, pertencem aos indígenas.

    Quanto ao número de indígenas assassinados em 2016, a Sesai encaminhou as informações que correspondem a “agressões, negligências e a maus tratos”, chegando a 118 óbitos distribuídos em 19 Distritos Sanitários Especiais Indígenas (Dsei). Segundo a Sesai,”os dados ainda estão e processo de alimentação pelos Distritos”. Chama atenção o número de óbitos registrados junto ao povo Yanomami. A Sesai informa a ocorrência de 44 óbitos por agressões na área de abrangência do Dsei Yanomami. Como em anos anteriores, o Mato Grosso do Sul continua com um elevado número de mortes por agressões. Foram registrados 18 óbitos no estado pela Sesai.

    Assim como os dados de assassinato, também são impactantes os 106 casos de suicídio, sendo que, destes, 30 ocorreram no Mato Grosso do Sul. São preocupantes as informações sobre casos de suicídios em outras regiões, como a Amazônia, de acordo com os registros feitos nos Dsei Alto Rio Negro (6), Alto Rio Solimões (30), Médio Rio Purus (6), Médio Rio Solimões e Afluentes (6) e Vale do Javari (2).

    Como os dados obtidos não são conclusivos, avaliamos que a situação pode ser bem mais grave do que a apresentada neste relatório, já bastante preocupante e inaceitável. A realidade evidencia que está em curso no Brasil, em função de todo o contexto de adversidades e de perseguição aos povos indígenas, uma política de desconstrução de direitos e deterioração da vida e dos recursos existentes dentro dos territórios de comunidades e povos tradicionais e originários.

    Em relação aos procedimentos demarcatórios, as pressões feitas pelo movimento indígena para que Dilma, antes de ser submetida ao processo de impeachment, acelerasse a regularização das terras indígenas, resultaram no seguinte: a identificação pela Funai de 17 terras indígenas; na declaração pelo Ministério da Justiça de 10 territórios; e na homologação de três terras indígenas pela Presidência da República; além da criação de dois Grupos de Trabalho e da publicação de uma portaria de restrição. Mesmo assim, Dilma deixou o governo apresentando a menor média anual (5,25) de homologações de terras indígenas realizadas pelos presidentes da República desde o fim da ditadura militar.

    Especialmente a partir da atualização de informações feita pela Funai em 2016, o banco de dados do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) evidencia que o total de terras indígenas no Brasil passou de 1.113, em 2015, para 1.296, em 2016. Destas 1.296, apenas 401 terras, o que representa 30,9% do total, tinham seus processos administrativos finalizados, ou seja, já foram registradas pela União.

    Os dados apresentados neste relatório, atualizados em 19 de setembro de 2017, apontam a preocupante existência de 836 terras indígenas, o que corresponde a 64,5% do total, com alguma providência a ser tomada pelo Estado brasileiro. Destas, 530 terras, o equivalente a 63,3%, não tiveram quaisquer providências administrativas tomadas pelos órgãos do Estado brasileiro. Apenas no estado do Amazonas 199 terras estão nesta situação. Em seguida, vem o Mato Grosso do Sul (74), Rio Grande do Sul (37), Pará (29) e Rondônia (24).

    Novamente, neste relatório, o Cimi traz um resumo da situação geral das terras indígenas no Brasil e uma extensa tabela que apresenta as 836 terras indígenas com pendências administrativas, divididas por estado e de acordo com a situação de cada uma delas no procedimento demarcatório.

    É importante salientar que esta análise foi construída a partir das informações e dos dados coletados pelas equipes do Cimi, aquelas fornecidas por povos, comunidades e organizações indígenas, as disponíveis nas mídias jornalísticas, especialmente de órgãos como o Ministério Público Federal, bem como de dados oficiais solicitados aos órgãos de assistência, prioritariamente a Sesai e a Funai.

    Lucia Helena Rangel  é Assessora antropológica do Cimi e professora de Antropologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)

    Roberto Antonio Liebgott é   Missionário e coordenador do Regional Cimi Sul, graduado em Filosofia na Faculdade de Filosofia Nossa Senhora da Imaculada Conceição (Fafimc) e em Direito na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS)

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  • 07/10/2017

    Lideranças da Terra Indígena Raposa Serra do Sol entregam ao STF dossiê sobre avanços e conquistas após homologação



    Na última semana uma comitiva de lideranças indígenas da Terra Indígena (TI) Raposa Serra do Sol e do Conselho Indígena de Roraima (CIR) estiveram em Brasília para cumprir uma agenda de apresentação dos avanços e conquistas após a homologação de sua terra. O território foi demarcado pela Presidência da República em 2005 e reafirmada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2009.

    Para as audiências junto ao STF, as lideranças indígenas elaboraram um dossiê titulado “Raposa Serra do Sol um projeto de vida para os povos indígenas da Amazônia e do Brasil” que apresenta os avanços e conquistas após a homologação de um dos casos de demarcação e homologação mais simbólico e histórico já visto no Brasil.

    O documento foi entregue a nove dos onze ministros da Suprema Corte: Dias Toffoli, Celso de Melo, Marco Aurélio, Ricardo Lewandowski, Rosa Webber, Luís Roberto Barroso e Edson Fachin, Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes.

    Durante a visita, a Comissão composta pelas lideranças indígenas da Raposa Serra do Sol, Jacir José de Souza, Eldina Gabriel, Pedro de Souza Silva e Irani Barbosa dos Santos, acompanhados pelo vice-coordenador do CIR, Edinho Batista de Souza, pelo Assessor Jurídico da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), Luis Henrique Eloy e Assessora de Comunicação do CIR, Mayra Wapichana, prestaram agradecimento pelo reconhecimento dos direitos territoriais dos povos indígenas do Brasil, conforme reafirmado no ato histórico de homologação da terra indígena Raposa Serra do Sol.

    Gilmar Mendes e a real situação de Raposa Serra do Sol

    Edinho Batista de Souza, um dos porta-vozes da Comitiva, na recepção do Ministro Gilmar Mendes, manifestou a importância de apresentar aos ministros os resultados após a homologação. “É importante a nossa comitiva de lideranças indígenas da Raposa Serra do Sol estar em diálogo com o senhor e entregar um documento que mostra a nossa real situação. Depois de dez anos que a terra indígena Raposa Serra do Sol foi confirmada em área contínua pelos senhores neste Supremo”, destacou Edinho.

    Os dados apontados no dossiê trazem à tona informações sobre a produção sustentável das comunidades indígenas da terra indígena Raposa Serra do Sol, bastante criticada nos últimos tempos em manifestações políticas e até de Ministros, como o caso do Ministro Gilmar Mendes durante o julgamento no dia 16 de agosto no Supremo Tribunal Federal (STF). Na ocasião, afirmou-se que Raposa Serra do Sol tinha sido um erro de demarcação e que os índios estariam passando fome, no lixão de Boa Vista, prática antiga de ataque contra os direitos dos povos indígenas da Raposa Serra do Sol.

    “Por isso senhor Ministro, em nome dos povos indígenas da terra indígena Raposa Serra do Sol queremos agradecer o seu voto que deu a favor dos povos indígenas e dizer que a decisão da terra indígena foi uma decisão importante para os povos indígenas que diante de tantos sofrimentos e massacres, nos garantiu o direito de vivermos bem dentro do nosso próprio território” acrescentou o vice coordenador do CIR ao ministro Gilmar Mendes.

    Conquistas após demarcação

    Edinho também apresentou ao ministro as principais conquistas alcanças nos últimos anos na área da educação, saúde e principalmente, no contexto de gestão territorial e ambiental, conforme também apontado no dossiê. “Atualmente, senhor Ministro, com a garantia da TI Raposa Serra do Sol, estamos vivendo bem, graças as nossas comunidades indígenas que estão conseguindo se organizar cada vez mais. Temos bastantes escolas indígenas, indígenas com mestrado e doutorado, alunos, agentes indígenas de saúde, técnicos indígenas, postos de saúde”.

    A liderança apresentou os avanços na sustentabilidade das comunidades. “Temos sete projetos de Plano de Gestão Territorial e Ambiental (PGTAs) e produção, que além de nos alimentar bem, também é comercializada em toneladas de produtos para a à Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), órgão do Governo Federal”. Desde 2010 a companhia vem comprando alimentação para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).

    O dossiê mostra que, segundo dados da CONAB, em 2010 a agricultura familiar do município do Uiramutã e Normandia, formadas por famílias indígenas, vendeu um total de 98 toneladas de alimentos para o PAA. Em 2015, somente a associação de pais e mestres da escola do Maturuca comercializou para CONAB quatro toneladas de alimentos, entre abóbora, mandioca, feijão, milho. Em 2010, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os municípios de Normandia e Uiramutã somavam 26.400 cabeças de bovinos.

    Com o cenário atual de avanços e conquistas, Edinho reafirmou ao Ministro que a decisão do Supremo de reconhecer a demarcação e homologação da TI Raposa Serra do Sol não foi um erro, e sim, uma decisão certa. “Com isso, senhor Ministro, queremos mostrar que a decisão que o Supremo tomou em reconhecer a demarcação da terra indígena Raposa Serra do Sol em área contínua foi uma decisão certa. Portanto, é preciso que o Poder judiciário reforce essas argumentações de que foi uma decisão correta e que está beneficiando os povos indígenas do Brasil” pontou a liderança.

    Raposa Serra do Sol contra o Marco Temporal

    Atualmente, uma das maiores preocupações do movimento indígena no Brasil tem sido em relação ao Marco Temporal, uma tese jurídica que começou com o voto do Ministro Carlos Ayres Brito dentro do processo da Raposa Serra do Sol. À época, discutia-se a constitucionalidade da demarcação em área contínua. Um dos levantamentos, estudos apresentados pelo Ministro, foi de que Marco dos direitos começaria a partir da Constituição Federal, promulgada no dia 5 de outubro de 1988. Entre as suas definições, está o marco de reconhecimento de demarcação das terras indígenas a partir de 1988.

    A delegação firmou posição contra a tese. Argumentando a inconstitucionalidade caso aplicada em outras decisões do STF, as lideranças, no final do encontro com o ministro Gilmar Mendes, reforçaram a não aplicação do Marco Temporal e as 19 Condicionantes do caso Raposa Serra do Sol aos demais processos de demarcação. “Por fim, senhor ministro, em nome dos povos indígenas do Brasil, de modo especial da TI Raposa Serra do Sol,  queremos agradecer o senhor e pedir o seu apoio para sensibilizar os demais ministros para que não apliquem a tese do Marco Temporal que ainda estão em processo de demarcação”.

    Na quarta-feira (4), a Comitiva foi recebida pelo Ministro Alexandre de Moraes, onde também foi entregue o dossiê que apresenta a realidade da TI Raposa Serra do Sol. Como gesto de gratidão pela reafirmação dos direitos indígenas reafirmados pelos Ministros no último julgamento, dia 16 de agosto, da Ação Civil Ordinária 362 e 366, que resultou na soma de 8×0 a favor dos direitos originários, as lideranças cantaram no gabinete.

    Conjuntura Nacional

    Diante do cenário de ameaças aos direitos dos povos indígenas do Brasil por medidas executivas, legislativas e até judiciarias, a peregrinação nos corredores do Supremo Tribunal Federal (STF) serve para reforçar a luta, a união e resistência dos povos indígenas diante a conjuntura de retirada de direitos. A delegação vinda de Roraima soma forças na defesa dos direitos originários garantidos na Constituição Federal Brasileira de 1988, promulgada em 5 de outubro.

    Para o líder tradicional Jacir José de Souza, 65 anos, a ocasião foi de apresentar a realidade e a forma de vida dos povos indígenas. “Sempre falam para nós que somos preguiçosos, mas nós entregamos as fotos da nossa produção, e isso é verdade. Então, acredito que isso também vai fortalecer a luta dos nossos companheiros de outras terras indígenas que não tem terra demarcada. A luta é exatamente para fortalecer todos os povos do Brasil” reforçou Jacir ao lembrar das outras terras indígenas em processo de demarcação. A liderança, ao retornar nos ambientes governamentais recordou as incansáveis vindas a Brasília, em uma luta que durou mais de 30 anos até que a TI Raposa Serra do Sol fosse demarcada.

    Jacir ainda fez um chamado aos povos indígenas do Brasil. “Quero união de todos os indígenas do Brasil, para nós conversamos com as autoridades, porque se não unirmos, nós vamos perder a nossa terra”.

    O Advogado indígena Luís Henrique Eloy, do povo indígena Terena, acompanhou a Comissão de lideranças indígenas da Raposa Serra do Sol nas audiências no STF. “Avalio ser muito válido a presença da delegação indígena, especialmente, por ser da Raposa Serra do Sol, que é um caso paradigmático que chegou ao Supremo Tribunal Federal e que até hoje repercute em todas as terras indígenas do Brasil. Ao trazer um dossiê de como está a situação das terras indígenas hoje, após o processo de demarcação é sem dúvida mais um marco no processo de luta pela terra. Ouvimos muito nos últimos anos pessoas falarem pela Raposa Serra do Sol, inclusive, pessoas que nunca foram à Raposa Serra do Sol. Hoje as lideranças vem trazer esse dossiê e entregaram para cada ministro, mostrando a realidade dessas comunidades indígenas” destacou Eloy.

    Como parte da agenda, a delegação participou do seminário “Raposa Serra do Sol e os direitos dos povos indígenas, realizado na Universidade de Brasília (UnB); Na quinta-feira (05), as lideranças participaram participaram da abertura do Seminário Nacional dos 5 anos da Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas(PNGATI) e do lançamento do Relatório de Violência Contra os Povos Indígenas do Brasil, promovido pelo Conselho Indigenista Missionário (CIMI).

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  • 07/10/2017

    Nas lutas, conquistas e perspectivas, povo Deni resiste e celebra sua história


    Indígenas da região de Tefé têm realizado encontros de formação, entre eles a Assembleia Deni. Crédito: Lygia Kloster Apel/Cimi

    Por Fábio Pereira, Agente de Pastoral do CIMI

    Nos dias 20 a 23 de setembro, a aldeia Itaúba, no Rio Xeruã, em Itamarati, Amazonas, recebeu a XII Assembleia da Associação dos Povo Deni do Rio Xeruã, (ASPODEX). Estavam presentes mais de 200 indígenas das aldeias Deni (04) e Kanamari (03), e seus convidados, a Operação Amazônia Nativa (OPAN) e o Conselho Indigenista Missionário (CIMI).

    Com o tema “Nas lutas, conquistas e perspectivas, o Povo Deni na resistência celebra sua história”, a Assembleia se caracterizou como um momento de celebrar a vida e construir a memória da sua história para fortalecer e unificar o movimento indígena local e a organização interna do povo. Também para fortalecer as lideranças e as parcerias com instituições governamentais e da sociedade civil, dialogando e propondo ações efetivas para a implementação de políticas públicas, que concretizem seu plano de vida, com autonomia e valorização do seu modelo tradicional de organização.

    Dentre as temáticas discutidas nos dias de atividades destacam-se a conjuntura da política indigenista assumida no país. Não é mais suportável os ataques aos direitos indígenas que as políticas nacionais têm empreendido sobre os povos originários. “É preciso unir forças e saberes indígenas e indigenistas para enfrentar esses ataques”, dizem as lideranças indígenas e os assessores do CIMI, presentes na assembleia.

    Construindo a memória da história

    O processo de construção da memória da história dos povos Deni se estruturou em três temáticas, nas quais as lideranças indígenas destacaram os desafios que enfrentam, as conquistas que alcançaram e as perspectivas que têm pelo seu projeto de vida: 1ª Memória. Nossa luta pela Terra, que procurou reviver a luta pela demarcação e pela homologação da terra indígena Deni; 2ª Memória. Educação. É preciso fortalecer o jeito próprio dos Deni educar suas crianças, pois ela é um instrumento de transformação que garante a continuidade da cultura e da vida Deni; 3ª Memória. Saúde. Nesse momento foi feito um relato dos desafios enfrentados pelo povo para a efetivação do direito à saúde indígena.

    Mineração: a ameaça chega para os Deni

    Uma das ameaças sobre os territórios indígenas da região do médio rio Juruá, nas proximidades da Terra Indígena Deni, é a mineração. Durante a assembleia, notícia de que já existem dois requerimentos de exploração de minérios nesta região junto ao Departamento Nacional de Produção Mineral (DNMP), levantou a indignação dos indígenas que se manifestaram com fervor. O líder Misiha Bukure Deni, procurou aliviar a tensão gerada pela surpresa da notícia dizendo que “é preciso proteger nossa terra, precisamos ter calma para fazer algo para defender nossa terra. Tamaku Kira está conosco, Ele nos protege”.

    Da mesma forma, o presidente da ASPODEX, Marizanu  Makhuvi Deni, enalteceu a sabedoria indígena: “Juntos vamos trabalhar para que possamos lutar por nosso território. Vamos dar continuidade no diálogo com aqueles que ‘apoiam nós’. Hoje estamos tendo respeito, temos força com os indigenistas parceiros. Sem medo, vamos trabalhar em parceria e unidos”, ressaltando a importância do povo Deni assinar a Nota de Repúdio lançada por organizações indigenistas. “Vamos somar nosso nome nesse Documento que foi assinado por outras organizações contra a mineração”, conclamou Marizanu.

    A força das mulheres e dos jovens Deni

    Com suas pinturas, colares e com discursos fervorosos, as mulheres indígenas Deni tiveram uma expressiva participação na assembleia. Mostraram que o dinamismo da cultura proporciona às mulheres um espaço cativo de participação nas discussões, proposições e decisões sobre as melhorias da vida do Povo Deni.

    Também a juventude Deni tem seu espaço de participação visto como um dos mais importantes. Seu envolvimento, organização e o despertar na formação de novas lideranças para a continuidade da luta, são demonstrados durante as discussões e na própria composição da diretoria da associação. A maioria dos diretores da ASPODEX são jovens, decididos e atuantes. Em três aldeias Deni existem grupos de jovens organizados, motivando e integrando outros jovens no espírito de liderança. A assembleia elegeu a nova diretoria da associação para o mandato dos próximos dois anos e a presidência ficou com o jovem Pha’avi Hava Deni.

    Poder público: ausente!!

    Secretarias de políticas públicas do município de Itamarati e o poder legislativo foram convidados, mas nenhum compareceu. Essa ausência provocou revolta e discursos inflamados de lideranças indígenas durante as plenárias. O líder Umada Kuniva Deni disse que “muitas questões relacionadas à saúde precisam também da participação do poder público e cadê a responsabilidade pública? A prefeitura nunca contrata ninguém, só contrata durante período de campanha”. Com essa constatação, Umada ressalta a importância de eleger representantes indígenas para compor a bancada de vereadores. “É importante ter representantes indígenas no poder público municipal para propor e cobrar a efetivação das melhorias para o povo”, reforça Umada, entendendo que os gestores públicos têm sua importância para a construção de políticas que tragam e efetivem melhorias para o povo, a partir das suas demanda e necessidades.

    Documentos reivindicando ações e respeito foram elaborados

    As produtivas discussões das plenárias resultaram na elaboração de documentos para serem encaminhados para os órgãos competentes. A tarefa de escrever e organizar os documentos ficou para a nova diretoria da ASPODEX e os professores e estudantes indígenas, que encaminharão aos órgãos competentes. Para a Secretaria Municipal de Educação (SEMED), o documento a ser encaminhado é o pedido de informações sobre o valor do recurso destinado à compra de merenda escolar para as aldeias Deni e Kanamari. Também para a SEMED e para a Secretaria de Educação do Estado do Amazonas será solicitado que se abram cursos de formação para professores indígenas. Para a FUNAI, Prefeitura Municipal de Itamarati e Ministério Público Federal será encaminhado documentos que digam NÃO à exploração de minérios na região. Para a FUNAI será solicitada a limpeza da picada que demarca a terra indígena e a instalação de uma Coordenação Técnica Local em Itamarati. E as melhorias na saúde indígena serão solicitadas em documento que reivindica para o Conselho Distrital de Saúde Indígena, CONDISI, e para o Distrito Sanitário Especial Indígena, o DSEI.

    Recontar a história é resistir com a força da cultura

    A memória de um passado de exploração e de incertezas, mas também de conquistas e de perspectiva de vida de um povo que resistiu com a força da cultura e de seus antepassados, foi construída na assembleia do povo Deni, do Rio Xeruã. Mostraram o poder da união e na fé de que é possível vencer os banzeiros da vida. Hoje, uma nova história é contada e construída sendo eles os protagonistas. A esperança que despertam quando estão unidos é reconhecida por todos e todas presentes.

    As discussões e os posicionamentos do Povo Deni, que receberam o apoio do povo Kanamari, mostra o poder de articulação e a busca pelo empoderamento de outras forças e conhecimentos. Assim conseguem defender e cobrar a efetivação de seus direitos que ainda são negados por um Estado que oprime e violenta aqueles que ousam lutar pelo direito a vida.

    Contudo, num contexto desafiador, de ataques aos seus direitos, mas organizados em suas bases, os povos indígenas seguem fortalecendo suas redes de aliados, se contrapondo a um sistema político corrupto e falido, que mercantiliza o sagrado, a mãe natureza, e põe em risco sua integridade física e cultural. Ousam em dizer SIM à VIDA, à TERRA e ao BEM VIVER DOS POVOS (FORA TEMER!!).

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  • 05/10/2017

    Violência contra indígenas no Brasil aumenta nos gabinetes e nas aldeias

    Os retrocessos políticos que vêm açoitando os direitos da maioria da população brasileira têm como um de seus principais focos a apropriação das terras ancestrais dos povos indígenas e das comunidades tradicionais. E, obviamente, dos bens comuns nelas existentes, como a madeira, a água e os minérios, dentre tantos outros. Esta ofensiva anti-indígena, comandada pela bancada ruralista com apoio contundente dos poderes Executivo e Judiciário, extravasa os gabinetes oficiais e se concretiza “no chão”, tanto em ataques diretos às comunidades como no não cumprimento dos direitos constitucionais destes povos à demarcação de seus territórios, inviabilizando seu modo de vida tradicional.

    Esta é uma das análises retratadas no Relatório Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil – dados de 2016, que evidencia que houve um aumento de alguns dos mais significativos tipos de violência e violação de direitos, como mortalidade na infância, suicídio, assassinato e omissão e morosidade na regularização das terras tradicionais, quando comparados aos dados do ano anterior, 2015.

    Importante instrumento utilizado na defesa dos povos e de seus direitos, a publicação ressalta que, mesmo sendo parciais, os registros da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) apontam a alarmante ocorrência de 735 casos de óbito de crianças indígenas menores de 5 anos em 2016. No ano anterior, haviam sido registradas 599 mortes. O maior número de mortes ocorreu na área de abrangência do Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) Yanomami, com 103 óbitos, seguido pelo Dsei Xavante, onde foram registradas 87 mortes de crianças menores de 5 anos. É bastante preocupante também o elevado número de mortes de crianças nestas idades nas áreas de abrangência dos Dsei Maranhão (54), Médio Rio Solimões e Afluentes (53), Leste de Roraima (37) e Mato Grosso do Sul (30). Apesar da falta de mais informações sobre os óbitos das crianças, a própria Sesai reconhece que mortes ocorrem por falta de assistência e desnutrição grave.

    Em relação aos suicídios, os dados oficiais registram a ocorrência de 106 casos entre os povos indígenas no ano passado, 19 a mais que em 2015. Os registros evidenciam uma realidade inquietante no estado do Amazonas, onde foram listados 50 suicídios nas áreas de abrangência dos Dsei Alto Rio Negro (6), Alto Rio Solimões (30), Médio Rio Purus (6), Médio Rio Solimões e Afluentes (6) e Vale do Javari (2).

    Após a terceira solicitação enviada à Sesai, feitas através da Lei de Acesso à Informação, essa Secretaria, vinculada ao Ministério da Saúde, enviou ao Cimi dados, também preliminares, que apontam que em 2016 foram registrados 118 assassinatos de indígenas no país. Chama atenção o alto número de óbitos registrados na área de abrangência do Dsei Yanomami, um total de 44. O Mato Grosso do Sul foi o segundo estado com a maior quantidade de casos registrados em 2016, 18 assassinatos. Também se sobressaem os números de óbitos registrados pelos Dsei Ceará (11) e Maranhão (7). Os dados fornecidos pela Sesai, no entanto, não permitem, novamente, uma análise mais aprofundada, visto que não apresentam informações detalhadas das ocorrências, tais como faixa etária das vítimas, localidade e povo.

    Uma das tragédias mais sintomáticas de 2016 ocorreu no município de Caarapó, em Mato Grosso do Sul, e ficou conhecida como o “massacre de Caarapó”. O assassinato de Clodiodi Aquileu Rodrigues de Souza ocorreu em meio a um violento ataque perpetrado contra a comunidade Tey i Kue, do povo Guarani-Kaiowá, em uma retomada da Fazenda Yvu, incidente sobre a terra indígena que está em processo de demarcação no Ministério da Justiça (MJ). O acampamento foi barbaramente atacado por mais de uma centena de agressores armados que chegaram em caminhonetes, atirando, e queimaram motos e diversos pertences dos indígenas. Outras seis pessoas ficaram feridas, entre elas uma criança de 12 anos. Episódios como este são frequentes no Mato Grosso do Sul, e marcam com horror as tentativas desesperadas e inevitáveis de retomar as terras que, por direito, pertencem aos indígenas.

    Ainda em relação à violência contra a pessoa, houve o registro de 23 tentativas de assassinato; 11 casos de homicídio culposo; 10 registros de ameaça de morte; 7 casos de ameaças várias; 11 casos de lesões corporais dolosas; 8 de abuso de poder; 17 casos de racismo; e 13 de violência sexual.



    “É terra que eles querem”

    Especialmente a partir de uma atualização de informações feita pela Funai em 2016, o banco de dados do Cimi registra um aumento no total das terras indígenas no Brasil, que passou de 1.113, em 2015, para 1.296, em 2016, o que significa um acréscimo de 14%. Destas 1.296, apenas 401 terras, o que representa 30,9% do total, tiveram seus processos administrativos finalizados, ou seja, já foram registradas pela União como terras tradicionais indígenas.

    Cabe ressaltar que os dados apresentados neste relatório em relação à omissão e morosidade na regularização de terras foram atualizados em 19 de setembro de 2017. Eles indicam a reveladora existência de 836 terras indígenas, o que corresponde a 64,5% do total, com alguma providência a ser tomada pelo Estado brasileiro. Destas, 530 terras, o equivalente a 63,3%, não tiveram quaisquer providências administrativas tomadas pelos órgãos do Estado brasileiro. Apenas no estado do Amazonas 199 terras estão nesta situação. Em seguida, vem o Mato Grosso do Sul (74), Rio Grande do Sul (37), Pará (29) e Rondônia (24).

    O relatório apresenta um resumo da situação geral das terras indígenas no Brasil e uma extensa tabela que apresenta esses 836 territórios não demarcados, divididos por estado, e a situação de cada um deles no procedimento demarcatório. É sempre edificante lembrar que, de acordo com a Constituição Federal, todas as terras indígenas deveriam ter sido demarcadas até 1993, cinco anos após a sua promulgação, realizada no dia 5 de outubro de 1988. Ou seja, a dívida histórica recente do Estado brasileiro para com seus povos originários completa hoje 24 anos.  

    Em 2016, também permaneceu a situação de constante invasão e devastação das terras indígenas, mesmo das que já estão demarcadas. No total, foram registrados 59 casos de invasões possessórias, exploração ilegal de recursos naturais e danos diversos ao patrimônio. Maranhão e Rondônia, com o registro de 12 casos cada, foram os dois estados que mais registraram ocorrências deste tipo. Na maioria dos casos, a invasão é feita para a retirada ilegal de madeira.

    Um agravante desta situação que tem ocorrido com frequência é que, quando os indígenas, diante da falta de apoio dos órgãos oficiais, se organizam para eles mesmos garantirem a proteção de seus territórios ancestrais e resistem à exploração criminosa, madeireiros e jagunços apelam para a violência física e realizam ataques contra as comunidades.

    Ainda no que tange aos direitos à terra, o Relatório traz um artigo sobre a inconstitucionalidade do “marco temporal”, uma das principais atuais ameaças aos povos, mesmo aqueles que já têm suas terras registradas. Esta tese político-jurídica restringe o direito à demarcação apenas às terras sob posse física das comunidades na data da promulgação da Constituição Federal. “A existência dos índios já é suficiente para afastar a teoria do ‘marco temporal’, pois a permanência e o futuro de um povo indígena estão condicionados a um espaço fundiário, à terra em si. Caso contrário, o direito perde sua eficácia, sua finalidade e proeminência e a morte dos povos indígenas é a morte do próprio direito”, afirmam os autores do artigo.


    Ritual durante o lançamento do Relatório 2016, em Brasília


    Além do “marco temporal”, existem diversos instrumentos, como propostas de emenda à Constituição, projetos de lei, medidas provisórias, condicionantes, portarias, estrangulamento orçamentário, desmonte do órgão indigenista, criminalização de lideranças e de seus apoiadores, dentre outros, que vão no sentido de fortalecer a empreitada dos ruralistas rumo à apropriação definitiva das terras dos povos indígenas.

    “Não é à toa que os ruralistas têm esta ânsia voraz. Segundo dados do próprio Estado brasileiro, as terras indígenas são as mais preservadas e, portanto, estão repletas de bens comuns, como solo fértil, madeira, água boa, minérios. Tudo o que eles já depenaram dos territórios em que implantaram suas monoculturas para exportação, desertas de vida e empesteadas de veneno. Estas terras, é tudo o que eles querem. E farão qualquer coisa para por as suas sujas mãos nelas”, afirma Roberto Liebgott, coordenador do Cimi Regional Sul e um dos responsáveis pela elaboração do relatório. O Cimi registrou 12 casos de conflitos relativos a direitos territoriais, alguns deles bastante graves e violentos.

    Em relação aos procedimentos demarcatórios realizados em 2016, as pressões feitas pelo movimento indígena para que Dilma, antes de ser submetida ao processo de impeachment, acelerasse a regularização das terras indígenas, resultaram na identificação pela Funai de 9 terras indígenas; na declaração pelo Ministério da Justiça de 10 territórios; e na homologação de três terras indígenas pela Presidência da República; além da criação de dois Grupos de Trabalho e da publicação de uma portaria de restrição. Mesmo assim, Dilma deixou o governo apresentando a menor média anual (5,25) de homologações de terras indígenas realizadas pelos presidentes da República desde o fim da ditadura militar.

    O Cimi aborda também dados da omissão do poder público em relação à desassistência nas áreas de saúde e educação, desassistência geral, disseminação de bebida alcoólica e outras drogas e violência sexual. Em 2016 foram registrados um total de 128 casos destes tipos de ocorrências.



    Irani Macuxi durante fala no lançamento do Relatório de Violência

    Análises e revelações

    Além de artigos que aprofundam temas como a dotação orçamentária para as políticas indigenistas; a violência contra a mulher indígena; a difícil subexistência nos acampamentos das beiras de estradas; as violações da mineradora Vale na duplicação da Estrada de Ferro Carajás (EFC); e sobre a não implementação das recomendações feitas pela Comissão Nacional da Verdade, em relação aos povos vítimas da ditadura militar, o relatório também apresenta uma análise sobre os principais desafios dos povos indígenas isolados e de pouco contato no Brasil.

    Uma relação atualizada destes povos, que conta com diversas fontes e informações, inclusive sobre os principais riscos a cada um deles, revela que existem 112 povos/grupos de indígenas em isolamento voluntário no Brasil. Garantir a continuidade da existência destes povos diante do vertiginoso aumento do desmatamento, do avanço do agronegócio, da exploração madeireira, mineral e petrolífera, dos megaprojetos de infraestrutura e da desconstrução dos direitos indígenas, portanto, é uma das pautas mais urgentes e desafiadoras na realidade dos povos indígenas do Brasil e de todos que os apoiam.

    Cartografia dos Ataques a Indígenas

    A partir de 2017, o Cimi passou a alimentar com os dados de assassinatos de indígenas a plataforma Caci, palavra que, em Guarani, significa “dor”, e que serve também como sigla para Cartografia de Ataques Contra Indígenas. Desenvolvida pela Fundação Rosa Luxemburgo, em parceria com o Armazém Memória e InfoAmazonia, a Caci georreferencia dados de assassinatos de indígenas sistematizados a partir dos relatórios do Cimi e da Comissão Pastoral da Terra (CPT). Desse modo permite a visualização das ocorrências deste tipo em um mapa digital e interativo. Os casos podem ser pesquisados por ano, estado ou povo e visualizados no mapa sobre diversas camadas de informações geográficas, inclusive terras indígenas.

    A plataforma também evidencia a carência de qualificação dos dados oferecidos pelos órgãos públicos, que se resumem a números de assassinatos divididos por Dsei, sem apresentar o nome das vítimas, povo indígena, localidade ou causa da morte. A plataforma Caci pode ser acessada no endereço caci.cimi.org.br.


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  • 04/10/2017

    Nota Cimi Rondônia: A omissão do Estado incentiva o esbulho possessório.



    O processo colonizatório em Rondônia continua de forma brutal com o avanço agressivo da exploração madeireira e grilagem das terras públicas. A realidade de exploração de recursos naturais em TI e de esbulho possessório foi denunciada ao Ministério da Justiça, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e Fundação Nacional do Índio (Funai). Após as denúncias realizadas nos órgãos em Brasília (DF), a resposta dos invasores foi avançar em seu projeto de morte desmatando outra área perto do posto de vigilância e fiscalização da Funai, a menos de 15 quilômetros da aldeia Panorama.

    Roubam madeiras e loteiam a área. Esta realidade é favorecida pelo Plano de Manejo no entorno das Terras Indígenas (TI), prática que tem intensificado pela total negligência e omissão dos órgãos de fiscalização. Os invasores – madeireiros e grileiros – agem a luz do dia, sem que nenhum órgão de controle e fiscalização tome providencias para coibir tais ilegalidades. Exigimos que os invasores sejam autuados. A omissão faz com que o Estado de Rondônia se caracterize como terra de ninguém, um campo aberto para a expansão de grupos econômicos inescrupulosos. Promove-se o esbulho possessório dentro das TI e Unidades de Conservação Ambiental.

    Os órgãos de fiscalização estão totalmente omissos. Dia após dia crescem os desmatamentos no território Karipuna. Os indígenas ficam com sua liberdade cerceada dentro de seu próprio território. A realidade cria um clima de temor nas comunidades. “Tenho medo de um ataque para o extermínio do meu povo”, lamenta André Karipuna.

    Os invasores se mostram audaciosos, agem como se estivessem dentro de sua própria casa. O que faz o Estado Brasileiro e os órgãos de fiscalização? Diante disso, pedimos a ação dos órgãos responsáveis por coibir as invasões, para que atuem no compromisso de evitar as explorações.

    Convocamos toda a sociedade a lutar e a pressionar o Governo para fazer cumprir o que preconiza a Constituição Federal de 1988 e a Convenção 169 da OIT. Pedimos que os responsáveis façam a imediata retirada dos invasores da Terra Indígena Karipuna, defendam a integridade física, cultural e territorial do povo e o seu direito de ir e vir em seu próprio território.

    04 de outubro de 2017
    Conselho Indigenista Missionário – Rondônia

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  • 04/10/2017

    Lideranças Pankararu sofrem ameaças e atentados na terra indígena; posseiros reafirmam que não sairão

     

     

    Por Renato Santana, da Assessoria de Comunicação – Cimi

     

    Depois que o segundo prazo, apenas em 2017, concedido pela Justiça Federal para a saída definitiva de 156 famílias de posseiros da Terra Indígena Pankararu se encerrou, no dia 28 de setembro, o uso de força policial se tornou uma possibilidade concreta. Não é coincidência que a temperatura tenha aumentado na região desde a semana passada. Se por um lado ameaças e atentados contra os indígenas passaram a ocorrer com mais frequência, por outro as lideranças dos posseiros dão notícias pouco animadoras para quem deseja uma saída pacífica para a situação. Na foto ao lado, ocupações consideradas de má-fé são desmontadas no interior da terra indígena.

     

    Na sessão da Câmara dos Vereadores de Jatobá desta terça-feira, 4, uma das lideranças dos posseiros e presidente do Sindicato Rural, Eraldo de Souza, declarou que eles não saem da terra e que se a Polícia Federal retirar em um dia, os posseiros voltam no outro. Souza fez tal afirmação baseando-se no recurso impetrado contra a decisão da 38ª Vara Justiça Federal de Serra Talhada pela transferência dos posseiros para o reassentamento. Enquanto não houver uma definição sobre esta matéria, Souza garantiu que a decisão é por não sair. Outras 190 famílias já residem fora do território tradicional, mas mantêm propriedades nos 20% de área que os posseiros ocupam da terra indígena.

     

    Enquanto isso as principais referências do povo Pankararu são alvos constantes de ameaças e atentados, vivendo sob a orientação de não saírem de suas residências. Três casos foram registrados na última semana; entre os episódios existe até a sabotagem de encanamentos públicos de água. O diálogo parece ter se esgotado, e resta uma decisão judicial a ser cumprida. No último dia 26 de setembro, uma nova audiência conciliatória foi convocada pela 38ª Vara Justiça Federal de Serra Talhada. Nela estavam lideranças indígenas e dos posseiros.

     

    De acordo com os indígenas, o juiz Felipe Mota Pimentel de Oliveira reiterou que não voltará atrás nas decisões que tomou em fevereiro e agosto deste ano: os posseiros devem sair da terra Pankararu. No entanto, não definiu um novo prazo – o último estabelecido, em fevereiro, se encerrou justamente no mês de agosto, onde foi estendido até o final do mês passado. O juiz também se referiu a uma moção enviada pela Câmara de Jatobá. Segundo o juiz, o Legislativo não pode interferir no Judiciário. Para os Pankararu, a moção atiça os posseiros a não cumprir com a decisão judicial.

     

    O vereador Jailton Pereira (PHS), mais conhecido como Neném do Hospital, autor do documento enviado à Justiça Federal, afirma que se tratou de uma Moção de Apelo e que ainda não obteve respostas do juiz. “Não estamos deixando de olhar pro direito indígena, cedo ou tarde os posseiros vão ter que desocupar. A terra é indígena, não resta dúvidas. A moção é pra gente ver se consegue sensibilizar a Justiça a utilizar de algum um instrumento para fazer o Incra realizar novo levantamento, atualizado no valor de mercado, para o projeto de reassentamento”, explica o vereador.

     

    Neném demonstrou uma preocupação inerente a outros vereadores quanto ao reassentamento dos posseiros: as eleições e o voto. Na última semana, ele esteve em Recife com o deputado estadual Rodrigo Novaes (PSD) e ambos participaram de audiência no Incra para solicitar que o reassentamento ocorra em Jatobá, não em outra cidade. “Falamos da importância de permanecer na cidade. Como vai ficar a situação eleitoral do município sem essas pessoas?”. O vereador frisou que não pretende ferir os direitos indígenas, mas que a forma como os posseiros estão saindo é injusta. Negou ainda que vereadores Pankararu tenham sido hostilizados na audiência pública com posseiros, que culminou na Moção de Apelo, reafirmando que o clima foi de tranquilidade.     

     

    O Incra reservou 93 lotes para o Reassentamento Abreu e Lima, destinado a estas famílias. Conforme o órgão federal, os posseiros negaram em se transferir para o local, inclusive atrasando o cadastro das famílias que só ocorreu por determinação judicial. No total, a área possui 18.500 hectares – a TI Pankararu possui 8.100 – e fica no município de Tacaratu, vizinho do território indígena. A Funai, por sua vez, contabiliza em dados atualizados que está depositado em juízo, a título de indenização, R$ 6 milhões – mesmo nesta modalidade, o montante é beneficiado por juros. Tais garantias são frutos de um processo que corre desde 1993, tendo as avaliações de valores atualizadas, conforme a Funai, em 2013.

     

    Ameaças, atentado e sabotagem

     

    Um retrato do tamanho clima de tensão foi a ordem do juiz para que os Pankararu voltassem da Audiência Conciliatória para a terra indígena escoltados. Já era noite e logo a notícia correu: na aldeia Bem Querer de Baixo, um dos locais com mais concentração de posseiros, quatro homens sobre duas motos efetuaram disparos contra a casa de uma conhecida liderança – um dos projéteis atingiu a vidraça de uma janela. Dias antes, homens não identificados destruíram os canos da adutora que leva água para as aldeias. No dia 27 de setembro, uma liderança da aldeia Saco dos Barros foi ameaçada publicamente. A Polícia Federal tem ido aos locais e lavrado boletins de ocorrência. Algumas escolas indígenas e postos de saúde estão sem funcionar por precaução.  

     

    Tudo faz parecer que os posseiros não tiveram direitos garantidos e conforme os indígenas é isso que costumam espalhar pelos municípios do entorno. Para o procurador da Advocacia-Geral da União (AGU) Ricardo Ramos, que acompanha questões indígenas, e fica sediado em Recife, além do reassentamento e indenização, a tramitação do processo levou 24 anos. “Houve tempo hábil, os Pankararu nunca os expulsaram, a indenização atualizada está depositada e beneficiada por juros, o reassentamento é até maior que a área atual deles. É preciso observar que os direitos dos posseiros foram garantidos, chegou a vez dos indígenas terem os seus direitos preservados”.

     

    Ramos explica que poucas foram as avaliações de má-fé com relação ao caráter da ocupação de não-índios – reservadas apenas aos que se instalaram depois de 1994, data da primeira avaliação para se definir o valor das indenizações. “Dez ou 12 pegaram a indenização. Os demais se negaram porque suas lideranças passaram a defender que era insuficiente. Indenizamos até as fruteiras, o trabalho foi correto. Na minha avaliação poderia definir R$ 10 milhões que eles não sairiam”, afirma Ramos.  

     

    A indignação entre os Pankararu só aumenta. “Toda essa situação tem acontecido pela ausência do Estado e fragilidade da Justiça em ter demorado todo este tempo, em processo que tramita desde 1993. Nesse período todinho os posseiros tinham ciência que estavam numa terra que não era deles. Não expulsamos ninguém, esperamos tudo o que era de direito deles garantido. E agora estamos em nossas residências acuados pelos posseiros. A briga aqui vem desde a década 1940, teve a homologação de 1987. Eles sabiam dessa situação”, afirma uma liderança Pankararu.

     

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  • 04/10/2017

    Indígenas ocupam Coordenação Regional do Baixo São Francisco contra nomeação de indicado do PP à Funai


    Indígenas realizam assembleia em ocupação à sede da Funai. Crédito: Ishô Truká


    Por Renato Santana, da Assessoria de Comunicação – Cimi

    A ingerência partidária na Fundação Nacional do Índio (Funai) levou perto de 200 indígenas a ocupar nesta segunda-feira, 3, por tempo indeterminado, a sede da Coordenação Regional do Baixo São Francisco do órgão indigenista, em Paulo Afonso (BA). "Somos contra indicação do PP para o cargo de coordenador. Se trata de uma interferência prejudicial aos povos que esta coordenação atende", declara um dos porta-vozes da mobilização, Ishô Truká.

    De acordo com o manifesto divulgado pelos povos que ocupam a Coordenação Regional, "a consulta é um direito, e nós povos indígenas desta jurisdição não abrimos mão deste direito, haja vista, que em datas anteriores já havíamos entrado em acordo com a maioria dos povos indígenas dos dois (02) estados e com a direção central da Fundação Nacional do Índio – FUNAI e Ministério da Justiça/MJ, para que pudéssemos propor a indicação do coordenador da nossa jurisdição".

    O responsável pela indicação é o deputado federal Mário Negromonte Júnior, do PP baiano. O parlamentar indicou Edson Oliveira Maciel: quatro vezes vereador de Paulo Afonso, filiado ao PP e da base política de Negromonte Júnior. Ambos, deputado e ex-vereador, a não ser de maneira fortuita, por força de seus mandatos, nunca trataram da questão indígena. "Para completar, eles vêm com o Deus salvador deles para cima da gente. Sequer fomos consultados, não vamos aceitar", frisa Ishô Truká.

    "Ocupamos a coordenação do baixo São Francisco como forma de indignação e repúdio contra estas manobras nocivas, não temos a intenção de provocar nem um tipo de paralisia administrativa, orçamentária e financeira frente ao órgão que defendemos a todo custo, o que queremos é, sem sombra de dúvida, tentarmos junto com o estado moralizar o que de fato defende os nossos direitos", diz trecho do manifesto. Para os indígenas, a intervenção politica partidária vem provocando incalculáveis prejuízos, sobretudo em processos inerentes às regularizações fundiárias; tanto no Nordeste, quanto em demais regiões do país.

    Tudo se inicia, para estes povos que realizam a ocupação, com a reestruturação da Funai, ocorrida entre 2009 e 2010, que para eles "desestruturou o órgão, na verdade". No caso da Coordenação Regional de Paulo Afonso, poucos servidores atendem na Bahia as regiões do Médio e Submédio Rio São Francisco, Norte e Oeste. Já em Pernambuco, o Sertão de Itaparica e o Sertão do São Francisco. Antes não havia tamanha concentração de regiões em apenas uma coordenação, sendo que os povos de Pernambuco eram atendidos pela Coordenação Regional com sede na capital Recife. Para os povos da Bahia a situação ficou praticamente a mesma, pois antes já existia a Coordenação Regional de Paulo Afonso.

    Em números, a Coordenação do Baixo São Francisco tem em sua área de abrangência uma população indígena de quase 45 mil, distribuídos em 45 terras indígenas, com uma dispersão geográfica de até 1.500 quilômetros de distância. São atendidos os Kiriri, Tuxa, Tuxi, Tumbalalá, Kaimbé, Payayá, Pataxó, Xakriabá, Kantaruré, Kariri-Xocó de Paulo Afonso, Pankararé, Xukuru-Kariri, Truká, Truká-Tupã, Atikum, Pankararu, Entre Serras Pankararu e Kambiwá. São terras indígenas que demandam diferentes serviços da Funai, desde a demarcação até mesmo projetos de etnodesenvolvimento e entrega de cestas básicas.

    Para atender a todos estes povos, a Funai conta com menos de 90 servidores. "Aconteceu esse acúmulo e ao mesmo tempo não há recursos chegando na Coordenação. Como as distâncias são grandes, temos um problema de logística. Então os servidores não conseguem estar nas aldeias. Em Pernambuco, por exemplo, a Funai não atua mais. A sede em Cabrobó está fechada há anos. Não há condições técnicas, orçamentárias e administrativas. Nossos projetos estão descontinuados e isso tem nos causado problemas variados, dentro de uma cadeia de assistência social, inclusive", declara Ishô Truká.    

    Quem é Mário Negromonte Júnior

    O deputado federal, natural de Paulo Afonso e integrante da bancada evangélica, responde a dois processos no Supremo Tribunal Federal (STF). Em um deles, aberto em abril deste ano, Negromonte Júnior é acusado de usar recursos não declarados, oriundos de empresas privadas, na campanha eleitoral de 2014. No outro, iniciado em dezembro de 2015, será julgado o envolvimento do parlamentar com o recebimento de recursos desviados da Petrobrás.

    Negromonte Júnior é filho de Mário Negromonte, atualmente conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios da Bahia. Antes, foi líder do PP na Câmara dos Deputados, entre 2006 e 2010. De dezembro de 2010 a fevereiro de 2012 esteve à frente do Ministério das Cidades, de onde pediu demissão sob acusações de corrupção. No último mês de junho, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) abriu inquérito para apurar tais denúncias reforçadas em delações premiadas de doleiros e demais envolvidos em falcatruas.



    Fachada da sede da Coordenação Regional, em Paulo Afonso (BA). Crédito: Ishô Truká


    Leia o manifesto dos indígenas na íntegra:


    MANIFESTO – Ocupação da Coordenação do Baixo São Francisco

    Manifesto dos povos indígenas dos estados: Bahia e Pernambuco, participantes nas ações que resultou nas paralizações administrativas da coordenação a cima citada, cansados de sermos ignorados pelas decisões equivocadas do estado brasileiro, dos partidos políticos que estão a serviços servindo aos anseios dos políticos mal intencionados junto à politicas e órgãos públicos voltados para atender a sociedade nacional, os grupos étnicos e as classes menos abastadas em condições econômicas, nos manifestamos de forma repudiante frente a indicação politica partidária do Partido Progressista de pessoa estranha ao conhecimento do que é e como deve se dar a gestão frente as politicas publicas voltadas para atender os povos indígena da área de abrangência da coordenação acima citada, repudiamos ainda, as praticas nocivas deste partido, que em nem um momento nos procurou para exercer o que determina a Constituição Federal 1988, nos Art: 231 e 232, em concordância com a convenção 169 da OIT de 1987, que nos assegura o direito a consulta previa e informa frente a quaisquer decisão que possa nos impactar direto ou indiretamente de forma positiva ou negativa.

    Considerando que a consulta é um direito do cidadão, e nós povos indígenas desta jurisdição não abrimos mão deste direito, haja vista, que em datas anteriores já aviamos entrado em acordo com a maioria dos povos indígenas dos dois (02) estados e com a direção central da Fundação Nacional do Índio – FUNAI e Ministério da Justiça/MJ, para que pudéssemos propor a indicação do coordenador da nossa jurisdição.

    Como sempre, e em desacordo ao nosso pleito, o governo federal feriu de forma danosa o que é direito constitucional adquirido, frente ao problema posto, nós povos indígenas não retrocedemos e nem abrimos mão dos nossos direitos, portanto, queremos ser atendido de acordo o que entendemos ser mais correto.

    Ocupamos a coordenação do baixo São Francisco, como forma de indignação e repudio contra estas manobras nocivas, não temos a intenção de provocar nem um tipo de paralisia administrativa, orçamentaria e financeira frente ao órgão que defendemos a todo custo, o que queremos é sem sombra de duvida, tentarmos junto com o estado moralizar o que de fato defende os nossos direitos.

    Portanto, é indispensável dar conhecimento que estes tipos constantes de intervenção politica partidária vem nos provocando grandes e incalculáveis prejuízos, os processos inerentes das regularizações fundiárias, as politicas de assistência, os processos produtivos, as questões judiciais, os processos de seguranças territoriais e as incertezas dos rumos das politicas publicas estruturantes dos nossos territórios.

    Por esta razão, julgamos indispensável a presença do Presidente da Fundação Nacional do Índio para juntos darmos os encaminhamentos correto sobre o assunto em questão.

    Solicitamos ainda, a compreensão e colaboração de políticos comprometidos e bem intencionados que podem se juntarem a nós no intuito de encontrarmos uma saída democrática que atenda e respeite ao que propomos.

    Informamos ainda, que em quanto o nosso pleito não for atendido não desculpamos a coordenação acima citada.

    Certo de podermos contar com a compreensão de todos que possa nos ajudar, adiantamos os nossos votos de estima e confiança.

    Atenciosamente:

    Povos Indígenas da Bahia: Truká Tupã, Atikum Rodelas, Tuxa das Margens do Rio São Francisco – Rodelas, Nova Pankararé – Rodelas, Kambiwá Filha – Rodelas, Pankararé de Gloria, Kantaruré de Gloria e de Pernambuco: Truká de Cabrobó e Orocó, Atikum Salgueiro e Umã.

    Paulo Afonso/BA, 02 de outubro de 2017.


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