05/02/2025

“Nossa comunidade já tá cansada de esperar”: lideranças Krahô Takaywrá pedem celeridade em criação de reserva indígena

Desde de sua abertura em janeiro de 2024, o edital encontra-se parado na análise de documentos das áreas propostas para aquisição de terras e criação da reserva

Lideranças Krahô Takaywrá, em reunião com a Funai, pedem celeridade em criação de reserva indígena. Foto: Maiara Dourado/Cimi

Por Maiara Dourado, da Assessoria de Comunicação do Cimi

Na tarde de ontem (04), lideranças do povo Krahô Takaywrá se reuniram com a presidenta da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joenia Wapichana, em Brasília, para exigir, mais uma vez, celeridade no andamento do edital que deve criar a reserva indígena da comunidade da aldeia Takaywrá.

A lentidão com a qual o edital vem sendo encaminhado desde sua publicação, em janeiro de 2024, tem gerado enorme insatisfação na comunidade, que desde 2016 reivindica a criação de uma reserva indígena para sua posse e ocupação.

A comunidade ainda aguarda a análise técnica da documentação das três propostas de áreas inscritas no edital

Lideranças Krahô Takaywrá, em reunião com a Funai, pedem celeridade em criação de reserva indígena. Foto: Maiara Dourado/Cimi

Na época, a comunidade junto ao Ministério Público Federal (MPF) ingressou com uma ação civil pública (ACP) contra a União e a Funai, na busca de garantir o direito territorial de seu povo. Em resposta, em fevereiro de 2020, a Justiça Federal determinou a constituição da reserva, o que obrigou a Funai a cumprir a ordem judicial e abrir um edital para aquisição e destinação de terra à comunidade.

A abertura do edital, porém, não ocorreu de imediato, levando quase quatro anos para ser publicado após a decisão judicial. Desde então, o processo avançou pouco. A comunidade ainda aguarda a análise técnica da documentação das três propostas de áreas inscritas no edital, cuja inscrição de imóveis teve seu encerramento em abril de 2024.

“De lá para cá, a gente vem cobrando a Funai e eles sempre dizem que estão resolvendo as questões de documento”

Lideranças Krahô Takaywrá, em reunião com a Funai, pedem celeridade em criação de reserva indígena. Foto: Maiara Dourado/Cimi

“De lá para cá, a gente vem cobrando a Funai e eles sempre dizem que estão resolvendo as questões de documento. A gente teve várias reuniões e no ano passado, em 2024, eles afirmaram que estavam em processo de análise de documentos. E, agora, a gente veio aqui em Brasília para essa nova reunião com a presidente da Funai e ouviu deles que ainda estão no processo de análise de documentos. Então a gente acha que a Funai poderia agilizar mais, porque nossa comunidade já tá cansada de esperar”, explicou impaciente Davi Camõc, uma das lideranças Krahô Takaywá presentes em Brasília.

Com a reunião, um novo cronograma para conclusão do edital foi estabelecido, o que renovou as expectativas da comunidade. “A gente espera que essas datas sejam cumpridas e que logo a gente possa ter um resultado mais satisfatório”, relatou Renato Pypcrê Pityj Cruz Lima Krahô, uma das lideranças da comunidade presentes na reunião.

O edital

A elaboração do edital, iniciada em novembro de 2022, contou com a participação ativa da comunidade, lembrou Davi. No documento, constam os critérios para seleção dos imóveis que viriam a constituir a aldeia Takaywrá, definidos com o objetivo de garantir o modo de vida, a segurança alimentar e as atividades tradicionais do povo.

Além da comprovada regularidade documental do imóvel, foram considerados outros critérios determinantes para a área da comunidade. Dentre elas, a existência de bioma conservado de Cerrado de transição para Amazônia; a existência de solo fértil, agricultável e não alagadiço na maior parte do imóvel; cursos d’água, como rios, lagos e lagoas, propícios para a pesca; locais propícios para a caça, com acesso a locais de floresta densa; vegetação nativa, favorável à extração de plantas medicinais, madeira para a utilização em construções tradicionais e coleta de materiais para a confecção de artesanato, como buriti, bacaba, buritirana, taquari.

“Os idosos se preocupam porque não tem um território nem para sepultar quando morre alguém da comunidade”

Lideranças Krahô Takaywrá, em reunião com a Funai, pedem celeridade em criação de reserva indígena. Foto: Maiara Dourado/Cimi

Atualmente, a comunidade se encontra em uma terra provisória, de cerca de um hectare, que integra uma área de proteção ambiental (APP) de um assentamento rural da região. Além de diminuta, a área sofre com frequentes alagamentos decorrentes das fortes chuvas e das cheias dos rios no período de inverno na região. Em casos extremos, muitas famílias se deslocam por um período de suas casas e se abrigam de forma improvisada em áreas vizinhas.

“Os idosos se preocupam porque não tem um território nem para sepultar quando morre alguém da comunidade. A gente espera que isso possa se resolver e ouvir algo mais positivo, mas infelizmente a gente sabe que hoje a questão de demarcação de terra por parte da Funai é muito lenta”, protestou Davi.

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