Cimi Regional Maranhão realiza III Oficina de Comunicação para Jovens Indígenas em São Luís (MA)
A formação reuniu cerca de 18 comunicadores indígenas dos povos Apanjêkra Canela, Memõrtumré Canela, Gavião, Akroá-Gamella, Krikati, Guajajara e Tremembé da Raposa
O Cimi Regional Maranhão realizou dos dias 14 a 17 de novembro a III Oficina de Comunicação para Jovens Indígenas em São Luís (MA). A formação reuniu cerca de 18 comunicadores dos povos Apanjêkra Canela, Memõrtumré Canela, Gavião, Akroá-Gamella, Krikati, Guajajara e Tremembé da Raposa para quatro dias de atividades divididas entre oficinas, palestras, rodas de conversa, intercâmbio com comunicadores populares e momentos de lazer e interação.
Durante a formação, os jovens participaram de oficinas de produção de cards para redes, edição de fotografias, manuseio de novos aplicativos, plataformas digitais, produção de legendas e dinâmicas com troca de experiências. Os indígenas também participaram da palestra sobre comunicação popular e gestão de coletivos de comunicação com o jornalista Emílio Azevedo, co-fundador da Agência Tambor, veículo de comunicação popular em defesa dos direitos humanos no Maranhão.
No evento, também foi apresentado o manual básico de comunicação para jovens indígenas produzido pelo Cimi Regional Maranhão.
“A comunicação popular é aliada nas articulações por terra e território, e com essas capacitações apostamos que estes jovens se tornem comunicadores e produtores de notícias em suas próprias comunidades”
As oficinas fazem parte de um plano de atividades desempenhado pela Regional desde 2022, direcionada para o desenvolvimento das habilidades em comunicação de jovens indígenas. Os comunicadores Awá-Guajá e Krepym Catije também participaram de edições anteriores. Nesta edição, as temáticas abordadas foram a comunicação indígena e popular, a produção audiovisual, a produção de notícias para redes sociais dos coletivos indígenas, o intercâmbio dos comunicadores indígenas com comunicadores populares e o fortalecimento da comunicação popular na disputa de narrativas e das redes dos comunicadores indígenas.
Madalena Borges, da coordenação do Cimi Regional Maranhão, conta que o objetivo geral foi o fortalecimento da comunicação indígena com base em seus próprios territórios. “Um dos propósitos da oficina foi para que esses povos possam avançar com a visibilidade de suas pautas nesse cenário desafiador de perda de direitos. A comunicação popular é aliada nas articulações por terra e território, e com essas capacitações apostamos que estes jovens se tornem comunicadores e produtores de notícias em suas próprias comunidades.”
“A oficina possibilita a troca de experiências e de conhecimentos entre nós, jovens comunicadores indígenas”
Os comunicadores também apresentaram o trabalho que já desenvolvem em seus territórios e compartilharam sobre as oportunidades e desafios em suas produções. Entre os desafios relatados estão a conexão de internet, a dificuldade no acesso a equipamentos para produção e a segurança contra ameaças e invasores do território.
Lara Rayssa Guajajara, uma das jovens participantes da oficina, contou que o conhecimento foi enriquecedor: “Essa iniciativa tem extrema relevância. Não apenas enriquece nosso aprendizado, mas também contribui para o fortalecimento da comunicação indígena para a sociedade. A oficina possibilita a troca de experiências e de conhecimentos entre nós, jovens comunicadores indígenas.”
“Os povos originários e os outros agentes sociais que fazem parte do campo popular precisam desenvolver um processo permanente de construção e reconstrução da nossa comunicação”
A comunicação popular foi tema central da palestra do jornalista Emílio Azevedo. A conversa passou por debates que tratavam do jornalismo hegemônico no estado do Maranhão, a importância de uma comunicação de base política e o papel do comunicador indígena na defesa de seu território.
“A elite promove diferentes formas de violência, invadindo nossas terras, destruindo o meio ambiente, atacando nossos direitos fundamentais. Essa mesma elite tem uma comunicação poderosa, bilionária, que serve aos interesses dela”, explicou Emílio. “Os povos originários e os outros agentes sociais que fazem parte do campo popular precisam desenvolver um processo permanente de construção e reconstrução da nossa comunicação. E a oficina é parte desse processo.”
“Aprendemos melhor a divulgar nossa cultura, e isso é muito importante para nós, povos indígenas. A capacitação para aprender a mexer melhor na tecnologia”
Durante a palestra, os jovens compartilharam as dificuldades na produção e na divulgação de pautas indígenas. Entre os relatos está a falta de acompanhamento da imprensa nas atividades divulgadas pelos territórios, um dos fatores determinantes para o apagamento da luta indígena no Maranhão.
A produção de parte do material de divulgação da oficina foi feita por Taniel Gavião, do povo Pyhcopcatiji Gavião. Taniel já participou de três edições da formação e contou como a atividade capacita novos comunicadores. “Essa já é a terceira oficina que participo. Aprendemos a manusear as plataformas e tirar fotos, aprendemos a editar imagens e vídeos, e conhecemos plataformas novas. Aprendemos melhor a divulgar nossa cultura, e isso é muito importante para nós, povos indígenas. A capacitação para aprender a mexer melhor na tecnologia.”