I Encontro dos Povos do Cerrado Maranhense reuniu pela primeira vez comunidades indígenas e sertanejas no território do povo Krenjê
A atividade, ocorrida entre os dias 9 e 11 e outubro, foi realizada pelo Cimi Regional Maranhão em parceria com a Comissão Pastoral da Terra e apoio do Fundo Casa
Entre os dias 9 e 11 de outubro, foi realizada a primeira edição do Encontro dos Povos do Cerrado Maranhense. O evento, realizado na aldeia Mangueira, território Krenjê, no município de Tuntum, no estado do Maranhão, reuniu lideranças de comunidades sertanejas, dos povos Apanjêkra-Canela, Krenjê e Krepym Catije, missionários do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Maranhão, representantes da Comissão Pastoral da Terra (CPT/MA), do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Questões Agrárias (NERA/UFMA), da Escola de Ativismo, e da Campanha Agro é Fogo.
A atividade, organizada pelo Cimi Regional Maranhão junto com a CPT/MA e apoio do Fundo Casa, teve base nas vivências dos povos que vivem na região e lutam pelo Bem Viver no território. Além dos povos indígenas, participaram as comunidades sertanejas Pau Amarelo, Boa Esperança, São Pedro, Imburuçu, Vila São Pedro, comunidades da Travessia do Mirador, Brejo do Escuro, Brejo dos Tiros e Tiririca.
É a primeira vez que as comunidades sertanejas e os povos indígenas da região se reuniram para dialogar sobre suas realidades
É a primeira vez que as comunidades sertanejas e os povos indígenas da região se reuniram para dialogar sobre suas realidades. Ambos os povos tem sido afetados por projetos desenvolvimentistas como MATOPIBA – acrônimo para Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, estados onde o projeto da Embrapa está em atividade -, que tem desmatado grandes áreas para o plantio em larga escala de soja. A região também sido alvo de queimadas e da caça ilegal, fatores que centralizam as violências sofridas pelos moradores e pelo território na região.
Segundo dados do Relatório Anual de Desmatamento (RAD) do Mapa Biomas, é no Cerrado que está o maior alerta de desmatamento do Brasil, onde foi desmatada uma área de 6.691 hectares no município do Alto Parnaíba (MA). No bioma também está localizada a terra indígena com maior área desmatada no país em 2023: a Terra Indígena (TI) Porquinhos, do povo Apãnjekra-Canela, com cerca de 2.750 hectares. Ao todo, foram perdidos 7.048 hectares de vegetação nativa em TIs no Cerrado, um aumento de 188% em relação a 2022.
Gilderlan Rodrigues, da coordenação do Cimi Regional Maranhão, conta que o Encontro foi baseado na necessidade da articulação de uma luta coletiva no enfrentamento a essas violências. “Havia a necessidade de articular a luta conjunta dos povos e comunidades tradicionais impactadas pela violência provocada pelo projeto Matopiba, que tem destruído uma grande área do cerrado que é de vivência desses grupos.”
A comunidade instituiu um guarda florestal para colaborar com a segurança na terra após constantes invasões de caçadores e pistoleiros
Entre os relatos compartilhados durante o Encontro estão o impedimento do acesso às roças, a invasão de caçadores aos territórios e ameaças de despejo. Na TI Geralda Toco Preto, do povo Krepym Catije, a comunidade instituiu um guarda florestal para colaborar com a segurança na terra após constantes invasões de caçadores e pistoleiros. Segundo lideranças, após as ações contra os invasores, os indígenas foram ameaçados por moradores da cidade.
Nas comunidades sertanejas, restrições colocam em risco os meios de sobrevivência dos residentes. Nos relatos, a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Naturais (Sema) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) têm impedido membros da comunidade de fazer roças, construir pontes e criar gado nas comunidades Brejo Escuro e Tiririca. Em Pau Amarelo, moradores relataram que jagunços tem invadido suas terras e os ameaçado de despejo à mando de figuras políticas da região.
Durante o evento, também foi abordada a proposta apresentada na Assembleia Legislativa do Maranhão (Alema) pelo deputado Eric Costa (PSD), que pede a redução do Parque Estadual do Mirador. O parque abriga espécies ameaçadas e tem sofrido com a caça ilegal de animais silvestres, invasões e queimadas. O Encontro pautou a necessidade de unir forças contra a entrega de parte do território do parque para iniciativas mercantilistas que buscam explorar e destruir a terra.
“Temos contribuído com as comunidades, estando junto a eles, lutando pela demarcação dos territórios e na articulação dos indígenas com outros povos em busca do Bem Viver”
O Cimi Regional Maranhão tem apoiado as mobilizações e colaborado com as denúncias aos órgãos competentes sobre as violações de leis ambientais. “Temos contribuído com as comunidades, estando junto a eles, lutando pela demarcação dos territórios e na articulação dos indígenas com outros povos em busca do Bem Viver”, conta Gilderlan Rodrigues.
O segundo encontro também já foi programado. Prevista para acontecer em fevereiro de 2025 na comunidade Boa Esperança, a articulação e tecimento dos próximos passos na luta ficará por conta de um coletivo criado durante a formação, composto por representantes das comunidades presentes.