Presidente do Cimi, Dom Leonardo Steiner, cobra que governo garanta a desintrusão da Terra Indígena Apyterewa (PA)
A operação para retirar os invasores das Terras Indígenas Apyterewa e Trincheira Bacajá, no Pará, teve início no dia 2 de outubro deste ano
“Esse é um momento de tensão que deve ser enfrentado. Por isso, gostaríamos de manifestar apoio aos nossos irmãos e irmãs para que possam viver com tranquilidade, com suas terras de volta, e que possam viver em uma grande ‘Casa Comum’. Que haja Justiça, fraternidade e que o governo cumpra com aquilo que foi decidido”. No último final de semana, o atual presidente do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e arcebispo de Manaus, Dom Leonardo Ulrich Steiner, expressou sua solidariedade ao povo Parakanã, da Terra Indígena (TI) Apyterewa (PA).
O presidente do Cimi também exige que o poder público garanta a desintrusão do território e a proteção dos indígenas.
No dia 2 de outubro deste ano, o governo federal deu início à Operação de Desintrusão das Terras Indígenas (TIs) Apyterewa e Trincheira Bacajá – com prazo de duração previsto em 90 dias. A operação tem como objetivo retirar invasores dos dois territórios indígenas localizados no médio Xingu, no Pará.
As equipes já apreenderam armas, munições, motosserras, entre outros equipamentos utilizados no desmatamento das áreas. Além disso, foram avistadas, em sobrevoo, novas áreas de pastagem e, até mesmo, um garimpo abandonado. As informações foram divulgadas no boletim mais recente do governo federal, publicado no dia 13 de outubro.
No entanto, essa operação era para ter começado antes: no dia 14 de setembro, foi lançado um comunicado aos invasores para que desocupassem, voluntariamente, a área – sendo que, no dia 28 de setembro, duas semanas após o aviso, seria iniciada a operação de retirada. Mas, após pressão de políticos paraenses e do próprio governo do estado, as ações foram paralisadas até o dia 1º de outubro.
Na mesma data marcada para o início da operação – 28 de setembro –, o Cimi divulgou uma moção de apoio ao povo Parakanã, elaborada durante a XXV Assembleia Geral da organização. Em documento, missionários e missionárias falam sobre o dramático cenário da TI Apyterewa: há quatro anos, está na lista das terras indígenas mais desmatadas do Brasil, e foi a que acumulou a maior área desmatada nesse mesmo período.
“Há quatro anos, a TI Apyterewa está na lista das terras indígenas mais desmatadas do Brasil”
Dentre os principais causadores do desmatamento, estão o avanço do garimpo, da grilagem, com o estabelecimento e a ampliação de fazendas para agropecuária de corte, e a extração ilegal de madeira. A contaminação dos igarapés por mercúrio e a dificuldade dos indígenas de praticarem suas roças e a caça são apenas algumas das consequências geradas por essa escalada de destruição do território Parakanã, e que também tem atingido a vizinha TI Trincheira-Bacajá, onde vivem indígenas dos povos Xikrin e Kayapó.
Ex-presidente do Cimi
O ex-presidente do Cimi e arcebispo de Porto Velho (RO), Dom Roque Paloschi, também manifestou solidariedade aos Parakanã. Na ocasião, Dom Roque lembrou do histórico de violência que esse povo sofreu, durante a década de 1970, em decorrência da construção da Transamazônica e, posteriormente, a construção das hidrelétricas de Tucuruí e Belo Monte.
“A desintrusão da Terra Indígena Apyterewa, neste momento, é uma medida absolutamente fundamental para garantir que o povo Parakanã consiga, por fim, viver em paz dentro de seu território, conforme seus usos, costumes e tradições”, reforça o arcebispo de Porto Velho.
TI Apyterewa
A TI Apyterewa localiza-se na região do médio Xingu, no estado do Pará. Regularizada em 2007 e tradicionalmente ocupada pelo povo Parakanã, com uma população de 689 pessoas distribuídas em 28 aldeias, a estimativa é que hoje ela seja ocupada ilegalmente por 2 mil pessoas.
A desintrusão da era uma das condicionantes previstas ainda durante o licenciamento ambiental da hidrelétrica de Belo Monte; mais de uma década se passou, contudo, sem que a determinação fosse efetivada, o que só agravou a já crítica situação no território.
A equipe do Cimi segue acompanhando os desdobramentos da operação de desintrusão dos territórios do povo Parakanã e se mantém à disposição dos indígenas.