Guardiões da Floresta da TI Arariboia detalham ações para a proteção do território
Em nota, o grupo informa resultados da ação de monitoramento no território e denuncia a omissão do Estado
O grupo Guardiões da Floresta da Associação Ka’a Iwar lançou nota, no último domingo (4), sobre as ações realizadas para a proteção da Terra Indígena Arariboia e em defesa do povo Awa que vive em isolamento. Os guardiões solicitam atuação mais efetiva dos órgãos estatais para a preservação das florestas e da vida dos povos originários.
“A omissão de atuação dos órgãos de proteção do governo é clara e inadmissível. A região se encontra em situação de entrega total à exploração dos não indígenas e com o total desmantelamento dos órgãos de proteção”, detalha trecho do documento apresentado pelo grupo.
Confira a Nota na íntegra:
Guardiões da Floresta da TI Arariboia – Associação Ka’a Iwar
Guardiões da Floresta da TI Arariboia – Associação Ka’a Iwar realizam ação de monitoramento no limite norte do território e constatam o avanço da exploração diante da ineficiência e desrespeito dos órgãos do Estado no dever constitucional de proteção das áreas indígenas.
Continuando a missão deixada pelos Tamoiz Tentehar e exercendo seu direito de autonomia e autodeterminação no seu território, os Guardiões da Floresta da TI Arariboia – Associação Ka’a iwar realizaram importante ação de proteção territorial e constataram o avanço no território dos crimes ambientais. O local de realização da atividade foi no limite norte do território e o grupo acampou cerca de 8km de onde houve o assassinato do guardião Paulo Paulino Guajajara e tentativa de homicídio de Laércio Guajajara em novembro de 2019. A região é próxima de vários povoados, sendo o maior deles Brasilândia e os moradores desses povoados são os que geralmente atuam ilicitamente dentro do território Arariboia.
A atividade foi realizada nos dias 23 a 25 de novembro de 2022 pelo grupo dos Guardiões – Associação Ka’a Iwar com apoio da Survival Internacional, Fundo Brasil e Fundo Casa.
Em dois dias foram encontrados grupos de não indígenas dentro do território executando atividades ilícitas como extração de madeira e caça de animais silvestres.
As equipes de monitoramento encontraram um grande acampamento dentro do território com vários equipamentos (motosserra, espingardas de caça), um caminhão utilizado para extrair madeira do território e dois madeireiros. Por várias centenas de metros estacas estavam posicionadas para serem transportadas para fora do território. Questionados sobre a quantidade de gente que ainda estava dentro do território, os madeireiros informaram que na cerca de 15km da entrada do território estavam ainda duas pessoas realizando atividades ilegais (caça e extração de madeira) que saíram por outra estrada. Constatou-se que é uma região que sofre sistematicamente com a ação da exploração ilegal de madeira e da caça de animais silvestres, colocando a fauna e a flora da região amazônica em uma possível rota de extinção de espécies.
Diante do questionamento dos guardiões, a posição dos madeireiros era de afronta à atuação de proteção dos guardiões e da continuidade da ação criminosa pela população do entorno do território, além da clara intimidação e possibilidade de reação das pessoas que vivem desse crime nos povoados vizinhos.
Por cerca de 3 km que margeia o limite do território ao norte foi “aberta” uma estrada com devastação da área de propriedade privada que faz limite com o território, provavelmente para pasto. Constatou-se ainda que o fazendeiro adentrou vários metros na área do território.
O agravante maior que se constatou é que por ser em área de rota dos Awá, esses grupos se encontram em situação de extrema vulnerabilidade e risco de serem dizimados pelos criminosos que transitam livremente pelo território.
A omissão dos órgãos de proteção do governo é clara e inadmissível. A região se encontra em situação de entrega total à exploração dos não indígenas e com o total desmantelamento dos órgãos de proteção. A situação demonstra que não há preocupação da FUNAI em fazer a devida proteção do território e mais especificamente do povo Awá.
Em dois dias de atuação de monitoramento dos Guardiões da Floresta foi possível, então, constatar:
– Omissão dos órgãos de proteção como Polícia Federal, IBAMA e FUNAI, especificamente a Frente de Proteção;
– Forte atuação das ações criminosas na TI Arariboia no seu limite norte com exploração de madeira e caça ilegal. A região se encontra à mercê da exploração dos indígenas;
– Os não indígenas da região que exploram o território são audaciosos, destemidos e certos da impunidade e buscam intimidar a atuação dos guardiões quando há atividades de monitoramento e defesa territorial;
– Alta vulnerabilidade do Povo Awá;
– As ações pontuais dos órgãos de proteção se mostram insignificantes diante da dimensão do crime ambiental.
Após a ação na região norte do território o grupo dos guardiões se deslocou para a região oeste (região do Barreiro) para a realização de abertura de trilha e limpeza de limite onde se constatou a alteração dos marcos que limitam o território por fazendeiros do entorno, avançando para dentro da área demarcada e homologada. O deslocamento da região norte para a região oeste se deu em razão de possíveis represálias por parte dos não indígenas diante da ação de proteção realizada pelos guardiões na área do Aterrado.
A limpeza do limite e a abertura de trilha foram atividades necessárias para conter possíveis incêndios que geralmente acontecem no entorno do território e que adentram para a floresta causando intensa devastação.