05/05/2022

Semana de vivências de rituais na TI Taquaritiua resgata a cultura e relembra a resistência dos povos indígenas no Maranhão

Os rituais ocorreram entre os dias 25 de abril e 1º de maio, tendo como anfitrião o povo Akroá Gamella

Na ocasião, estiveram presentes crianças, jovens, adultos e idosos de oito povos: Akroá-Gamella, Krenyê, Krikati, Tremembé da Raposa e do Engenho, Krepym, Kariú Kariri, Gavião e Memortumré. Foto: Fábio Costa/Cimi MA

Por Jesica Carvalho, da Assessoria de Comunicação do Cimi Regional Maranhão

Cantos, danças, brincadeiras, caminhadas e outras atividades fizeram parte da semana de vivências dos rituais Poohyh Pry Jõ´amjõh Quin, da Peteca de Milho, e Bilibeu, no Território Taquaritiua, na Baixada Maranhense. Os rituais ocorreram entre os dias 25 de abril e 1º de maio, tendo como anfitrião o povo Akroá-Gamella. Na ocasião, estiveram presentes crianças, jovens, adultos e idosos de outros sete povos: Krenyê, Krikati, Tremembé da Raposa e do Engenho, Krepym, Kariú-Kariri, Gavião e Memortumré.

Entre os objetivos do Ritual da Peteca de Milho está o fortalecimento da Teia Indígena entre os povos, pois se insere dentro das atividades do intercâmbio linguístico e cultural fomentado pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi) – Regional Maranhão. Segundo Meire Diniz, missionária do Cimi-MA, este processo de intercâmbio acontece desde 2018 entre os povos Akroá-Gamella, Krenyê e Krikati.

“Nesta etapa do projeto, o povo Krikati veio fazer o ritual no Território Taquaritiua por conta dos nomes que os Akroá-Gamella estão recebendo de famílias do povo Krikati, então, esse é um ritual de instituição do parentesco”, declara Meire Diniz.

“Esse é um ritual de instituição do parentesco”

O seguimento da vida e o fortalecimento da cultura estão presentes no Ritual da Peteca de Milho. Foto: Fábio Costa/Cimi MA

Meire Diniz acrescenta, ainda, que com a realização do Ritual da Peteca e a troca de nomes, os indígenas se tornam parentes. Um parentesco que não é sanguíneo, mas que é social e estabelece uma série de funções e responsabilidades. Nesse processo, são resgatados aspectos da cultura que vai sendo transmitida de geração em geração.

Para Rosa Tremembé, a realização dos rituais com a participação de outros povos fortalece a Teia Indígena no Maranhão, principalmente os povos que estão em retomada. “A gente está aqui aprendendo, se fortalecendo com os parentes. Isso é necessário para o nosso fortalecimento de povo em retomada, pois quiseram tirar de nós a nossa espiritualidade, os nossos saberes, e a gente está aqui vivenciando isso com muita alegria, com muita força, muita energia e espiritualidade”, evidencia.

O seguimento da vida e o fortalecimento da cultura estão presentes no Ritual da Peteca de Milho. De acordo com o povo Akroá-Gamella, “é um grito de esperança diante de todas as tentativas de censurar existências indígenas, pois são mais de mil pessoas que vivem e lutam na Baixada Maranhense”.

“É um grito de esperança diante de todas as tentativas de censurar existências indígenas”

A realização dos rituais com a participação de outros povos fortalece a Teia Indígena no Maranhão. Foto: Fábio Costa/Cimi MA

Já o Ritual do Bilibeu, que ocorreu, também, durante a semana de vivências, relembra a resistência do povo Akroá-Gamella. “O ritual de Bilibeu acontece desde tempos imemoriais. No ritual Bilibeu, morre e renasce. Na vida os Akroá-Gamella resistem (renascem todos os dias) ao racismo que deforma seus corpos”, esclarece o povo Akroá-Gamella.

O nome “Bilibeu” dado ao ritual é uma homenagem a São Bilibeu, santo cultuado pelo povo Gamella. A história conta que Bilibeu foi encontrado durante a queima de uma lavoura no território dos Akroá-Gamella. A São Bilibeu são atribuídos diversos milagres de cura e também a fertilidade das mulheres. O ritual ocorre como agradecimento aos milagres concedidos pelo santo. Por ocasião do Ritual do Bilibeu, os indígenas realizam o pagamento de suas promessas com a caça de animais que são ofertados ao santo.

O Ritual do Bilibeu, que tradicionalmente era realizado durante as festas de Carnaval, foi transferido para o mês de abril, como tempo de memória da luta do povo Akroá-Gamella pelo seu direito de viver e existir em paz no território. A escolha do mês de abril é simbólica, pois relembra um dos episódios mais violentos vivido na história recente do povo Akroá-Gamella, em 30 de abril de 2017.

Nesta data, mais de 150 pessoas invadiram o território dos Akroá-Gamella atirando, além do uso de outras armas, e deixaram mais de 13 indígenas feridos. Dentre eles, dois tiveram as mãos decepadas. O ataque foi premeditado e divulgado até pelas rádios locais. A motivação para o massacre reforça o racismo e o descaso do poder público em relação aos direitos dos povos indígenas, em especial o direito à demarcação de suas terras.

“Na vida os Akroá-Gamella resistem (renascem todos os dias) ao racismo que deforma seus corpos”

Segundo Dilma Akroá-Gamella, os rituais da Peteca de Milho e do Bilibeu tratam das raízes do povo Akroá-Gamella e relembram os seus ancestrais, pois trazem a importância de permanecer no território que foi demarcado pelos antigos. “Muitas das vezes os nossos ancestrais deram a sua vida para nós permanecermos aqui. Esse também é um momento espiritual muito forte, porque renova o reconhecimento e a demarcação que é uma afirmação do nosso povo Gamella”.

O Ritual do Bilibeu é sinônimo de resistência na luta do povo Akroá-Gamela, que está em retomada do seu lugar de origem. A decisão de avançar no território demonstra a coragem para enfrentar as barreiras impostas pelos poderes públicos que barram os direitos dos povos originários.

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