Ainda na luta pela terra, família Kaiowá produz e vende agrião há cerca de 20 anos
Três famílias indígenas Kaiowá, que moram juntas num pequeno pedaço de terra na chamada reserva Bororo, município de Dourados/MS, vêm produzindo agrião há 20 anos. A erva comestível é rica em minerais, e brota no quintal de sua casa, convertida em verdadeiro centro de produção de alimentos para o sustento e geração de renda familiar. As atividades desenvolvidas por eles no reduzido espaço jogam por terra qualquer referência preconceituosa que ate hoje carimbam a sorte dos kaiowá-Guarani com o pretexto de tirar-lhes suas terras.
O estado brasileiro, com sua política colonialista agrícola aplicada contra esse povo, tinha um preceito ideológico racista que dizia que os indígenas estariam melhor se confinados numa reserva; que suas presenças em terras férteis atrapalhariam o desenvolvimento, pois eles seriam incapazes de produzir. E existem ainda os conceitos estereotipados do latifundiário “bandeirante da produtividade” como, por exemplo, que “o índio não quer trabalhar”.
Contradizendo tudo isso, as famílias Ortiz, Oliveira e Benitez querem sim a restituição de suas terras por meio da demarcação que também aguardam com muita esperança como as milhares de famílias Kaiowa-Guarani no Estado de Mato Grosso do Sul. Mas eles não estão de braços cruzados, como podemos perceber na fala do Sr. Adilson. “Acordo todos os dias às 4h30 da manhã para cortar o agrião e levar fresquinho para os mercados da cidade”. A luta dessa família é solitária como de muitos agricultores familiares, sem apoio da Fundação Nacional do Índio (Funai), do governo do estado e da prefeitura, enfrentam a luta diária para sustentar a família.
O grande exemplo é que produzem o agrião numa fonte de recurso natural, que preservam com grande carinho enquanto, por outro lado, os grandes do agronegócio estão poluindo em grande escala e de forma acelerada toda a região da Grande Dourados. As três famílias também têm criações de animais como galinha, porco, vacas leiteiras, peru, ganso, angola, cabra e ovelha.
Sem terra, cansados de serem explorados numa fazenda, há 20 anos a família Ortiz Benitez buscou refúgio na reserva Bororo. Alguém deu para seu Adilson uma raiz de agrião que ele levou para casa, colocou na mina de água que brota no pedaço de terra que escolheram e ali começou a história da família com o verde produto. Acomodaram a água e a terra de forme que o agrião cresça bem e encheram o espaço, convertendo a plantação em principal fonte de renda da família.
Desde o momento do plantio, cuidado, coleta, transporte ao centro da cidade de Dourados e comercialização, participam vários membros da família. Embora, se a família tivesse apoio para a venda direta de agrião ao consumidor a atividade poderia ser mais lucrativa, pois, o produto é vendido a noventa centavos no supermercado e na feira é revendido a dois reais.
Assistência
A visita da família foi a convite da ONG Pulsar, entidade de defesa do meio ambiente e que promove projetos e ações para a geração de trabalho e renda, capacitação e assistência técnica, formação e qualificação de mão-de-obra especializada na perspectiva do desenvolvimento socioambiental. A ONG, com sede em Dourados/MS, apóia as famílias indígenas que estão desenvolvendo com muito sacrifício atividade produtiva nas reservas. Segundo a coordenadora, Arlete P. de Souza, a entidade vai apoiar com assistência técnica as famílias indígenas que já estão produzindo para que possam melhorar a qualidade de seus produtos. Também devem promover a produção agroecológica e a busca de melhores perspectivas de venda e geração de renda para os indígenas.