20/07/2009

Entre a Amazônia e o Sul – por Terezinha Weber

A dor da partida do Gunter é muito grande… As lembranças estão presentes em nossa casa, nas fotos, nos seus diários, na Comunidade onde celebrava quando vinha nos visitar. Éramos (e somos) sua família, porto para abastecer energias, como ele dizia, partilhar a alegria das viagens, dos levantamentos e alimentar conosco o sonho de um mundo melhor possível. Mas a dor não é só nossa… Gunter não nos pertencia, não vivia com amarras. Era o amigo e companheiro de tantos missionários do Cimi; era o irmão e tio missionário, tão querido e admirado além mar; era uma luz de esperança para os povos indígenas, principalmente os mais ameaçados. O choro é de todos nós…


 


Porém as lembranças devem nos trazer a certeza e a vontade de sermos melhores a cada dia, de não nos acomodarmos nunca. Gunter viveu com intensidade e alegria a sua Missão. Nos últimos meses realizou duas viagens, mais demoradas que nas outras vezes Parecia que tinha que aproveitar ao máximo o tempo que lhe restava para o trabalho do levantamento. Dizia para mim: “Tenho que aproveitar que temos água no Ituxi para subir bem ao alto dos igarapés…”. Quando chegou estava feliz e me falava com saudades dos tempos que trabalhávamos juntos nos Suruahá (ele, Chico e eu). “Como era bom viajar de canoa, acampar à noite, pescar um peixe, cozinhar e comer.. De certa forma revivi tudo isso na viagem pelo Ituxi. Como era bom chegar nas aldeias, aprender a língua, conviver com os índios…”. Olhando as fotos que trazia dessa última viagem dizia: “Como é linda e exuberante a natureza na Amazônia!” Quando vinha aqui em Lajeado sempre dava um jeito de visitar os Kaingang que moram aqui perto.


 


Nestes mais de 30 anos de caminhada com os povos indígenas, Gunter sempre escrevia o seu diário. Quando foi para a UTI pediu permissão para as enfermeiras para  levar a sua agenda para que pudesse escrever. Só que não pode mais. Dizia também no quarto, em meio aos acessos de tosse: “Quando eu sair daqui quero fazer uma reflexão (e escrever) sobre o mundo de doença, hospital… Será que há um mundo melhor, possível, para quem está aqui, doente?”.


 


Sabemos que agora ele está mais perto da gente, nos cuidando, protegendo e estimulando a nós todos para o compromisso com os povos indígenas ameaçados. Gunter lutou tanto por um mundo melhor para todos, principalmente para os povos indígenas. Nos trazia tanto carinho e alegria nas suas visitas, mas também fazia a sua itinerância pela Amazônia, nos igarapés, superando cachoeiras, nas estradas abrindo porteiras, com determinação, coragem e Fé, levando-nos no seu coração.


 


Teresinha Weber


Lajeado, 20 de julho de 2009

Fonte: Cimi
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