21/05/2009

Carta da IX Assembléia do Povo Xukuru

Nós,
povo Xukuru do Ororubá, protegidos pelas forças dos Encantos de Luz e da
Natureza Sagrada, nos reunimos na nossa IX Assembléia, que teve como tema “FORTALECER A ORGANIZAÇÃO PARA ENFRENTAR A
CRIMINALIZAÇÃO”
, realizada na aldeia Capim de Planta, entre os dias
17 a 20 de
maio de 2009, com a participação de representantes das 23 aldeias do nosso povo;
dos parentes indígenas Truká, Kambiwá, Kapinawá, Pankararu de Pernambuco;
Potiguara da Paraíba, e Anacé do Ceará; 
das entidades aliadas e apoiadores da causa: Conselho Indigenista
Missionário – CIMI, Centro de Cultura Luiz Freire – CCLF, Centro Josué de
Castro, Fio Cruz, Pastoral do Menor da CNBB/ Regional Nordeste II, Biblioteca
Multicultural de Olinda, Diocese de Pesqueira, professores/as e estudantes da
Universidade Federal de Pernambuco – UFPE e da Universidade de Pernambuco – UPE
e de pessoas simpatizantes da nossa luta.


 


Apesar
de grande parte do nosso território tradicional já se encontrar em nossas mãos e
da nossa vontade e disposição para garantir a qualidade de vida das famílias
Xukuru, a perseguição ao nosso povo continua.


 


Como
se não bastassem os diversos assassinatos de nossas lideranças, agora sofremos
com a ofensiva da criminalização. Atualmente, há 43 pessoas sendo processadas.
Desse total, 26 já foram condenadas, duas cumprem prisão preventiva e outras
aguardam julgamento. São homens honestos, pais de famílias e filhos que junto às
suas comunidades tem dado exemplos de vida digna. Esta honestidade é
testemunhada tanto pelos membros das comunidades Xukuru, como por pessoas e
autoridades respeitadas da sociedade regional, a exemplo do nosso pastor, D.
Francisco Biasin, bispo da Diocese de Pesqueira. Esses homens cometeram um único
crime: o de lutar para garantir os nossos direitos, especialmente o direito a
terra e à sobrevivência física e cultural do nosso povo.


 


Sabemos
que essa situação é vivenciada também por outros povos indígenas no Brasil, e
que faz parte de uma estratégia das elites brasileiras que querem continuar a
exploração de nossa gente, não aceitando que os explorados se organizem e
garantam os direitos fundamentais para uma vida digna.


 


Estamos
indignados e queremos dar um basta a essa situação! Exigimos que deixem nosso
povo em paz! Queremos que todos saibam que não ficaremos calados. Estamos
denunciando essa trama cruel e absurda contra nosso povo em Pernambuco, no
Brasil e em âmbito internacional.


 


Mesmo
sabendo que aqueles que estão contra nosso povo detêm o poder político e
econômico no nosso país, nós não temos medo e não estamos sós. Contamos com a
força de Tamain e Tupã, os encantos e a natureza sagrada, temos também o apoio
de aliados, que conhecem profundamente essa trama diabólica e cruel arquitetada
contra o povo Xukuru.


 


Assumimos
como nossa, a fala de Zenilda, nossa conselheira espiritual e mãe do povo
Xukuru: Vamos continuar lutando, “porque a maioria daqueles que não abraçam a
causa dos pobres acham que somos marginais, mas nós somos cidadãos. Nós
discutimos nossas lutas com alegria, porque as forças encantadas nos ajudam. Nós
somos persistentes. Não é uma minoria que vai nos fazer desistir. Nós não vamos
desistir de dar continuidade porque nossas crianças e jovens precisam viver
nessa terra, com seus usos e costumes, pois quem nasceu para viver lutando não
vai morrer de braços cruzados”. Na
certeza da vitória, seguiremos sempre adiante, pois nossa luta é
constante
.


 


Aldeia
Capim de Planta, 19 de maio de 2009.


 


 


 

Fonte: Cimi
Share this: