15/04/2009

Governar contra índios

“O governador André Puccinelli (PMDB) vai protocolar ainda nesta tarde, no Ministério da Justiça, pedido de suspensão do processo de demarcação de terras indígenas em Mato Grosso do Sul”. A recomendação foi do próprio ministro Tarso Genro, durante reunião nesta tarde, em Brasília, da qual também participaram o ministro das Relações Institucionais, José Múcio, os senadores Valter Pereira (PMDB) e Marisa Serrano (PSDB) e os deputados federais Waldemir Moka (PMDB), Geraldo Resende (PMDB) e Nelson Trad (PMDB). (Campo Grande News, 14 de abril de 2009)



Pode parecer estranho, mas infelizmente é a realidade. O governador do Mato Grosso do Sul,  tem se esmerado desde o início de seu mandato, em ser fiel ao seu grupo do agronegócio e seus apadrinhados da elite política e econômica regional. Não teve dúvidas em dizer que este estado não será terra de índios, em propor levar os Kaiowá Guarani para outras regiões do estado e do país. Foram inúmeras as audiências em Brasília, com presidente da República, ministros e órgãos envolvidos com a questão indígena. Sua forma viril e autoritária se espalhou pelos corredores do poder em Brasília. Sua fama de persistência e intransigência antindigena se espalhou pelo mundo. Entre abrigar o capital nacional e internacional para a construção de mais 50 usinas de álcool e açúcar ou reconhecer os tekoha (terras tradicionais indígenas) não tem dúvidas em dar guarida aos primeiros. Entre distribuir politicamente cestas básicas a 15 mil famílias indígenas, ou garantir-lhes sua terra para poderem produzir seus alimentos, não tem dúvidas em ficar com   a primeira opção.



Mas nesta cruzada pelo desenvolvimento do agronegócio, da implantação das usinas de álcool, ele também é alertado de que foi eleito para governar para todos e não apenas para garantir a acumulação e privilégios de uma minoria. Pode até fazer ouvido mouco para essas lembranças, mas a história dá muitas voltas e a justiça, humana ou divina, pode tardar mas far-se-á prevalecer. Todos os genocídios e negação dos direitos humanos elementares a historia os cobrará. Os Kaiowá Guarani não esquecerão de seus algozes, de ontem e de hoje.



Nunca é demais lembrar que temos uma Constituição, e nela está determinado que até 1993 todas as terras indígenas deveriam estar demarcadas. Passados mais de 20 anos não seria mais lógico e racional lermos uma manchete na mídia sul mato-grossense, “Governador vai a Brasília cobrar agilização na identificação e regularização das terras indígenas no Estado”. Quem se responsabiliza pelas centenas de mortes Kaiowá Guarani ocorridas nestes 20 anos, e que estão prosseguindo com 40 assassinatos só no ano passado e mais de 300 só nesse início do século 21? Talvez seja mais fácil governar contra os direitos indígenas do que contrariar os interesses das elites e do agronegócio.


Egon Heck


Cimi – MS


Campo Grande, semana dos povos indígenas 2009

Fonte: Cimi MS
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