26/03/2009

Guarani do Araça’í: A luta está apenas começando


Os índios Guarani, que tradicionalmente ocupam a Terra Indígena Guarani do Araça´í, ocalizada nos municípios de Saudades e Cunha Porá, no Oeste de Santa Catarina, continuam sendo vítimas de explícita violação dos direitos humanos. Já enfrentaram situações extremas ao longo dos anos, culminando com a violenta expulsão que sofreram de sua terra no ano 2000, até a proibição judicial de retornarem ao Estado de Santa Catarina no mesmo período.


 


            Desde 2001, vivem sob oito hectares da terra indígena Toldo Chimbangue II, do povo Kaingang, no município de Chapecó. O reduzido espaço ocupado não permite o cultivo que garanta a alimentação na aldeia. Com isso, a dependência da assistência dos órgãos governamentais é acentuada. Entretanto, esta assistência tem sido falha e as conseqüências são visíveis e dramáticas.


 


            Enquanto isso, a portaria do ministro da justiça, que declara os limites da terra tradicionalmente ocupada pelos Guarani precisa ser cumprida pela Funai, com a efetiva demarcação da terra indígena. Em junho de 2007, uma ação Judicial proposta pelos ocupantes não-índios da terra foi contemplada com uma antecipação de tutela, decidida pelo juiz federal Narciso Baez impossibilitando, na época, a realização dos trabalhos de levantamento fundiário. No entanto, Em julho de 2008, uma decisão do TRF da 4ª região, em Porto Alegre, derrubou a referida decisão da primeira instância. Embora com atraso de quase um ano, a FUNAI, neste mês de março de 2009, criou o Grupo de Trabalho a fim de realizar o levantamento fundiário, para, em seguida, iniciar o processo de indenização das benfeitorias dos ocupantes de boa fé e, dessa forma, possibilitar o retorno dos Guarani à sua terra, identificada no ano 2005 com  2.721 hectares.


 


A mobilização dos setores contrários foi imediata. Não conseguindo barrar o procedimento na via judicial, tentam agora apelar para a ação administrativa. Numa tentativa alucinada e colonialista e com os interesses políticos eleitoreiros aguçados pela proximidade do período eleitoral, políticos da região, liderados pelo deputado estadual e líder de bancada Dirceu Dresch (PT), conjuntamente com a Senadora Ideli Salvati (PT), deputados federais Valdir Colatto (PMDB), Celso Maldaner (PMDB) e representante do deputado Cláudio Vignhati, além do prefeito e vice de Saudades (PMDB – PT) e Cunha Porã (DEM) estiveram reunidos em Brasília, no ultimo dia 14, junto ao presidente da FUNAI. Com o argumento de que é “necessário esperar o julgamento do mérito da ação que tramita na justiça federal”, estes setores pressionam o órgão indigenista para que os trabalhos de levantamento fundiário sejam suspensos.


 


Na ultima terça-feira, 24/03, atendendo a proposição do deputado estadual Joares Ponticelli (PP), com apoio do líder da bancada petista, Dirceu Dresch, a Assembléia Legislativa de Santa Catarina aprovou requisição nº. RQS/0257.2/2009, a ser encaminhada ao Ministro da Justiça pedido a suspensão dos trabalhos de levantamento fundiário. Aprovaram ainda a requisição nº RQS/0258.3/2009, solicitando a Senadora Ideli Salvatti, “uma firme atuação junto ao Ministério da Justiça, para serem suspensos os Atos Administrativos de Levantamento Fundiário em relação às comunidades dos Municípios de Cunha Porã e Saudades”.


 


É importante destacar que não existe impedimento jurídico algum para que a FUNAI realize os trabalhos de levantamento fundiário. Estes setores precisam aprender a conviver com a democracia e a cumprir as determinações constitucionais e legais, que devem ser seguidas não apenas quando é de seu interesse, mas também quando esta permite a garantia de um direito básico a um setor de nossa sociedade.


 


Não podemos jamais nos calar diante de tamanha injustiça. Representantes da sociedade, eleitos com o intuito de representá-la, não podem usar deste cargo para provocar tamanha injustiça. Deveriam ser os primeiros a lutar pela efetivação do que está posto na Constituição Federal, pela demarcação das terras indígenas, a justa indenização e reassentamento dos não-indígenas. O Conselho Indigenista Missionário – Regional Sul, mais uma vez, alerta a sociedade e as autoridades competentes quanto a essa lastimável situação. Não é possível que essa realidade perdure numa sociedade que almeja ser considerada democrática.


 


Manifestamos nossa mais profunda contrariedade e indignação. Não podemos admitir que tais pessoas tentem passar por cima de procedimentos administrativos e, utilizando-se da imunidade parlamentar, atuem no intuito de confundir a opinião pública regional. Esperamos que os trabalhos prossigam e sejam feitos de forma rápida a fim de que a injustiça histórica cometida contra os Guarani do Araça´í, com a expulsão violenta que sofreram de sua terra durante o processo de colonização impulsionado pelos governos constituídos no decorrer do século XX, seja minimizada.


 


 


Conselho Indigenista Missionário – Regional Sul


Chapecó, SC, março de 2009 

Fonte: Cimi Sul
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