Encontro Sepé Tiaraju
Assembléia Regional do Povo Indígena Guarani São Gabriel- Rio Grande do Sul- BRA 5, 6 e 7 de Fevereiro de 2009. A todos os povos do mundo! No último dia 7 de Fevereiro de 2009, cumpriu-se 253 anos da morte de Sepé Tiaraju e do massacre de Caiboaté, em que os exércitos da Espanha e Portugal mataram 1500 guerreiros para ocupar o território da antiga República Guarani. Há 253 anos o Povo Guarani vem resistindo e, há pouco mais de três décadas, intensificamos nossa luta para reivindicar os espaços territoriais que nos foram tirados e sobre os quais se construíram as cidades, derrubando as florestas, poluindo as terras e águas dos rios. Durante 3 dias, estivemos Sentimos em denunciar que quem deveria ser nosso maior aliado, o órgão criado para trabalhar exclusivamente com os Povos Indígenas do Brasil, a Fundação Nacional do Índio – FUNAI, não está cumprindo com seu papel e vem demonstrando medo em regularizar nossas terras. Nossas comunidades relataram as tristezas e sofrimentos que passam pela demora nos encaminhamentos e soluções dos problemas, pela burocracia e falta de vontade do governo em dar uma solução para essa situação. Assim, solicitamos mais agilidade e coragem na criação dos Grupos de Trabalhos e para realizar os levantamentos antropológicos nas nossas terras que hoje estão ocupadas por fazendas, enquanto nós, que possuímos o direito de viver em nossas terras, estamos há anos em beira de rodovias, correndo perigo todos os dias, sujeitos à expulsão de nossas casas. Isso já ocorreu diversas vezes e, como exemplo, relatamos o que aconteceu em Arroio do Conde, Eldorado do Sul, RS, em julho de 2008, quando algumas famílias foram expulsas do acampamento em que viviam e tiveram suas casas destruídas pela Brigada Militar. Vale ressaltar que a ação policial foi motivada por uma decisão de reintegração de posse, mas as referidas famílias não ocupavam nenhuma propriedade particular, elas estavam às margens da estrada, em espaço público. A nossa comunidade do Lami, na grande Porto Alegre, também receia em sofrer o mesmo e pede agilidade da FUNAI no procedimento de identificação e demarcação da terra. Idêntica realidade de descaso e abandono ocorre nas terras de Petim, Passo Grande, Coxilha da Cruz, Estiva, Capivari, Lomba do Pinheiro, na grande Porto Alegre, RS, que também aguardam os GTs de identificação e demarcação, o que já deveria ter iniciado em 2008. Em Yrapuã, Caçapava do Sul, RS, já ocorreu o estudo antropológico e este foi concluído há anos, no entanto a nossa comunidade está ainda à beira da estrada esperando por uma definição da Funai a fim de que possam entrar na terra, mas o processo ficou estacionado no órgão indigenista. Na terra indígena Pacheca, Camaquã, há conflito com não-índios que têm desrespeitado os limites da área indígena, já demarcada e regularizada, e colocam no seu interior o gado que destrói as plantações da nossa comunidade. Apesar de já termos denunciado por três vezes, não houve intervenção do órgão indigenista para coibir as invasões. A terra de Cantagalo, situada em Viamão, já foi homologada e mesmo assim permanece indefinida, pois a Funai não realizou o pagamento das benfeitorias de boa fé e nem a retirada dos não-índios, que nos dizem que só podem deixar nossa terra quando receberem o referido pagamento por não terem outra fonte de sobrevivência. Também a nossa comunidade da Terra Indígena Mato Preto, No estado do Paraná as nossas comunidades tiveram suas aldeias alagadas, com a instalação da hidrelétrica de Itaipu. Na ocasião muitas famílias tiveram que migrar para outras terras e retornaram depois, vivendo hoje à beira da represa, a espera de resoluções. Nos municípios de São Miguel do Iguaçu e de Santa Helena Velha as nossas comunidades ocupam pequenos acampamentos, sofrem com falta de espaço para o plantio, sem atendimento à saúde e sem fontes de alimentação aguardam pela FUNAI para que realize o reassentamento das nossas famílias. Da mesma forma, vivem as nossas comunidades de Guaíra e Terra Roxa, que esperam regularização das áreas que, a cada dia, perdem espaços territoriais em função da expansão das cidades. Denunciamos também a situação das inúmeras famílias atingidas pela Duplicação da BR 101 em SC e RS, que sofrem com a morosidade na implementação do Programa de Apoio as Comunidades Indígenas Guarani (PACIG). Exemplo disso são as áreas de Varzinha, Riozinho e Campo Molhado, RS, que ainda não receberam nenhum apoio. Alertamos que isso não pode se repetir com a duplicação da BR 116, RS, que vem sendo planejada sem nenhum processo de discussão. Pedimos apoio da sociedade civil e mais empenho dos órgãos responsáveis para a resolução de nossos problemas. Já não há mais tempo para esperas. Enfrentamos o medo todos os dias nas aldeias, pois quando denunciamos os não-índios, que invadem as terras, ou que as ocupam, nós sofremos perseguições e corremos o risco de sermos presos ou expulsos de nossas áreas, mas quando são os brancos que nos arrancam das terras, nos humilham ou nos discriminam, a lei não é cumprida, e sabemos que nada lhes acontece. Essa Terra tem dono! Esse grito foi dado por Sepé Tiaraju em 7 de Fevereiro de 1756, e continua sendo ecoado por nós, o Povo Indígena Guarani e nossas organizações. E assim será, até que nossos direitos sejam respeitados, mantendo a esperança de que um dia, ao invés do grito, possamos voltar a entoar canções. São Gabriel, 7 de Fevereiro de 2009.
Encontro Sepé Tiaraju