Mais uma criança Guarani Kaiowá morre desnutrida no Mato Grosso do Sul
As estatísticas da comunidade Kurusu Ambá, no município de Amambai, Mato Grosso do Sul, deixam pouco espaço para a inveja. Apenas durante o ano de 2007, duas pessoas foram assassinadas, quatro foram baleadas por pistoleiros, quatro indígenas foram presos por armação de fazendeiros e houve três despejos. Em 2007 e 2008, também marcaram a comunidade a fome, as pessoas mortas por problemas de saúde e o mais vergonhoso: desnutrição e morte de crianças. Ontem, 15 de dezembro, mais uma criança da comunidade Kurusu Ambá morreu em conseqüência de desnutrição na Casa do Índio de Amambai. A comunidade está num acampamento na beira da estrada que liga Amambai e Coronel Sapucaia, na fronteira com o Paraguai. Gleide Bairro, de um ano seis meses, filho de Ramona Bairro, não resistiu perante o quadro agudo de desnutrição que apresentava e morreu na Casa do Índio de Amambaí. Segundo os familiares a criança não foi atendida, supostamente, por não ter registro de nascimento. No acampamento onde vivem 60 famílias, outras quatro crianças correm risco de morrer pela mesma causa. A fome assola os Kaiowa-Guarani que vivem naquela área desde janeiro de 2007, lutando contra todas as adversidades na busca de recuperarem suas terras tradicionais. Várias outras crianças já morreram por outros tipos de complicações relacionadas à alimentação e saúde no mesmo lugar. Segundo Eliseu Lopes, liderança da comunidade, a causa principal da morte das crianças é a falta de terra. “A morte de nossas crianças é a conseqüência da falta de demarcação de terra porque à comunidade não têm condições de sobreviver na beira da estrada, sem terra, sem água limpa, sim alimentos, e agredidos permanentemente por fazendeiros, policias e pistoleiros”, denunciou Lopes. Kurusu Amba é a mesma comunidade onde em 2007 foram assassinadas às lideranças Xurite Lopes e Ortiz Lopes. Os indígenas de Kurusu Ambá já foram despejados em três oportunidades, depois de cada retomada que fizeram na procura de recuperar o antigo tekoha.