Grupo Terena retoma suas terras em MS
Fazendeiro diz que “gado de elite” é mais importante que os índios
Mais de 80 famílias indígenas, 300 pessoas, do povo Terena da Reserva Cachoeirinha, atualmente com aproximadamente 2,5 mil hectares de área, fizeram uma retomada de parte de sua terra tradicional ontem na fazenda Petrópolis, propriedade do ex-governador de Mato Grosso do Sul, Pedro Pedrossian.
A determinação da comunidade de retomar sua terra aconteceu depois de quatro anos de espera pela demarcação física e homologação de aproximadamente 36 mil hectares, resultantes de exaustivos estudos antropológicos.
A região, onde a retomada está gerando conflito com os fazendeiros, fica a 200 quilômetros de Campo Grande no município de Miranda. A ação legítima dos indígenas que lutam pela recuperação de suas terras tradicionais despertou a atenção da mídia e ameaças do ex-governador e do sindicato rural de Miranda. Eles anunciaram recorrer à Federação dos Agricultores de Mato Grosso do Sul (FAMASUL) e qualificaram a decisão dos indígenas de “absurda invasão orquestrada pela Funai”. Igualmente anunciaram que vão entrar com urgente pedido de reintegração de posse.
Desde a lógica do ex-governador Pedro Pedrossian, não é possível deixar os índios entrar na propriedade e “provocar estragos” onde há “gado de elite”. Zacarias Rodrigues, uma das lideranças da aldeia assinalou que o direito indígena é anterior ao de quem tirou deles a terra pela força e por aliciamento, e que, agora, mesmo com mandato de reintegração de posse, a retomada vai continuar.
A liderança indicou que a retomada aconteceu numa área de 1,2 mil hectare com o objetivo de garantir os 36 mil hectares que precisam ser demarcados com urgência a favor dos Terena nessa região. Zacarias pediu também a compreensão e o apoio necessário dos órgãos responsáveis e do governo federal a fim de buscar rapidamente as respostas que aguardam e assim garantir o direito de restituição de terra aos indígenas.
A FAMASUL – Federação da Agricultura e Pecuária do Mato Grosso do Sul, em matéria afirma “A sociedade precisa estar atenta aos objetivos finais destas ações. São recursos e riquezas naturais, recursos hídricos, posição geopolítica estratégica privilegiada, hoje de propriedade da nação brasileira, sendo transferida, sob que pretexto, ao domínio de interesses externos” (Diário do MS,26/08/08). Trata-se de mais uma dessas mentiras que tem o nítido objetivo de enganar a opinião púbica e jogar a população contra os índios, para garantir os privilégios de pequenos grupos.
As terras indígenas são de propriedade da União, portanto duplamente protegidas, enquanto grande quantidade de terras do Mato Grosso do Sul está sendo transferida para capital multinacional.
Dourados, 26 de agosto de 2008