Elba Ramalho e o São Francisco – artigo Roberto Malvezzi (Gogó)
“Estou muito feliz em fazer um show aqui às margens do São Francisco. Esse rio tem muita energia. Porque assinei a luta contra a transposição do São Francisco fui perseguida e tive shows cancelados. Venho de uma região da Paraíba que tem problemas de água e quero que todos tenham água. Mas sei que existem caminhos mais simples para pôr água para o povo. Mas nós sabemos como funciona a política aqui na nossa região. Eles tiram um projeto que está na gaveta há mais de 30 anos e querem que a gente apóie as iniciativas deles“
E prosseguiu:
“Estou para completar 30 anos de carreira. Quero comemorar aqui às margens do São Francisco com meu parceiro Geraldo Azevedo, que é aqui de Petrolina. Vamos ver se dá certo. Sou apaixonada por esse rio e devota de São Francisco”.
A cada palavra que Elba foi dizendo sobre o São Francisco na madrugada de domingo, em show público na orla de Petrolina, a multidão veio junto com aplausos. Depois, gritou seu nome de pé. Ela estava emocionada e o público também. Foi simples, sincera e corajosa.
A retaliação por sua posição em relação à obra vem desde a época da primeira greve de fome de Frei Luis. Depois, durante a segunda, enviou uma das cartas mais emocionantes ao bispo.
Elba poderia fazer demagogia hídrica ou ficar calada. Prefere se expor publicamente, como outros artistas, que também sofreram algum tipo de retaliação, mesmo os defensores dos direitos humanos. Ela é a prova que nem toda classe artística é alienada e pode contribuir para a cidadania e a boa nordestinidade.
A transposição já consumiu cerca de 600 milhões de reais (projeto, assessorias, consultorias, obras, etc) sem levar água do nada para lugar algum. Com esse dinheiro o atual governo já poderia ter feito 20% das adutoras previstas no Atlas do Nordeste e resolvido os problemas hídricos das regiões urbanas mais carentes de água do semi-árido.
Elba, essa cantora que tem nome de rio, batizou-se de vez nas águas do Velho Chico.