21/07/2008

Carta aos indígenas Guarani do RJ

Meus queridos índios,


 


Em 1970, eu levava meu primeiro amigo indígena, o CACIQUE APOENA ao Aeroporto de Santos Dumont para q ele pegasse o vôo de volta a MATO GROSSO. Ele estava com seu filho Sibopá e outro, o Uarodi. Tinha ido conhece-los na casa da KARIRI, uma pessoa espetacular, q até hoje recebe os índios no RIO.  Apenas li no Jornal do Brasil que eles haviam vindo para o enterro de Francisco Meirelles, e fui átrás deles.


 


Estávamos no meu carro, passando por uma rua, e ele me pediu para que eu parasse. Havia alguém no carro que podia nos traduzir.


 


Eu perguntei pra que parar e ele disse: “alí tem um menino sozinho, uma criança deitada sozinha, vamos leva-lo?” Eu disse: “Não Cacique, aquele é um menino de rua…” e o Cacique continuou: “Mas ele não é da sua tribo?”.


 


Até hoje, meu queridos índios, esta frase ecoa na minha cabeça. Eu tinha 16 anos, já trabalhava há 3 anos como modelo, pra ficar famosa e poder divulgar a Cultura Indígena através dos meus atos, foi por isso q comecei a trabalhar tão cedo. Éramos pouquíssimas pessoas nesta causa. Descriminadíssimos, tentávamos mostrar em Faculdades e diversos lugares, a beleza do pensamento indígena, a farta riqueza de sua filosofia o verdadeiro tesouro Cultural que estava começando a ser ameaçado. Eu era ridicularizada no meio profissional. Riam de mim cada vez q falava da causa indígena na imprensa.


 


Hoje, 38 anos depois, vemos um grupo de índios GUARANÌ, últimos remanescentes do estado do Rio de Janeiro, lutar pacificamente para preservar uma belíssima pequena área onde há ossos de seus ancestrais. Esta ocupação é apenas Cultural, todos nós deveríamos estar a favor. Obviamente, o espaço onde eles estão “acampados” têm alto valor imobiliário, e por isso atearam fogo.


 


Isto ocorreu na hora que todos os homens indígenas haviam saído para uma reunião, e na pequena aldeia havia apenas o Cacique Joaquim, mulheres, adolescentes e lindas crianças, que poderiam ter sido mortos queimados.


 


Desculpem queridos índios. Assim como ainda não sei como responder porque não pegamos o menino na rua, não sei também dizer porque eles fizeram isto com vocês. Parece que faz parte da nossa “cultura”, pois vocês me contaram ontem, que isto vem acontecendo há 500 anos. É a nossa forma de pegar a terra. Desculpem-nos, estou envergonhada com a minha tribo.


 


A vocês, todo meu respeito, carinho e amor eterno,


Brita


 


 


 

Fonte: Brita
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