04/01/2008

Carta ao Povo Xukuru

 


Povo Xukuru do Ororuba, guerreiros e guerreiras Xukuru, que a força encantada do Reino do Ororubá, esteja com todos e todas neste momento.


 


Escrevo-lhes da prisão, onde com muita dignidade, tento resistir, como fez meu povo, durante estes 507 anos. Estou sofrendo muito – não apenas pelo fato de estar preso, mas por conta de que me tiraram do meio do meu povo, dos costumes e tradições do povo Xukuru, não permitiram que este ano, eu pudesse estar recebendo com vocês, as forças encantadas do Reino do Ororubá. No entanto não me tiraram algumas coisas que considero essenciais:  a minha dignidade, o meu amor pelo meu povo, o meu compromisso com a construção do projeto de futuro do meu povo, que  significa a construção de um mundo melhor, sem opressores e oprimidos .


 


Aqueles que nos perseguiram no passado, através dos nossos antepassados, ainda hoje nos perseguem, representados pelas elites de Pesqueira, pelos que detém o poder e com ele, conseguem manipular alguns descomprometidos com a luta do nosso povo e que só pensam em tirar proveito próprio.


 


São muitas e articuladas as forças contrarias às nossas lutas ao nosso povo.


 


Estão cada vez mais tentando atrapalhar o trabalho que nossas lideranças vêm buscando desenvolver. No entanto, esses, que se unem para destruir o povo Xukuru, encontram pela frente muitos obstáculos e eis alguns deles:


 


1° Nossas lideranças não se vendem, apesar de terem dificuldades financeiras.


 


2° Somos um povo numeroso e unido, consciente dos direitos e não nos deixamos manipular.


 


3° Nosso povo conta com uma estrutura de organização sólida, como o CISXO – Conselho de Saúde, COPIXO – Conselho de Educação, o Conselho de Lideranças e a Associação do Povo Xukuru.


 


4° Temos um cacique dinâmico que trabalha e nos deixa trabalhar e um pajé, que nos ajudou a enxergar e valorizar a força encantada do Reino do Oroubá.


 


5° Temos uma mediunidade preparada para juntos quebrar-mos toda força contrárias às nossas lutas.


 


Gostaria de, aqui da prisão, pedir a união de toda força encantada.


 


Agradecer os apoios, das demonstrações de confiança em mim e no companheiro Rinaldo, quero ainda afirmar que sou inocente e que acredito na justiça divina.


 


Estou cheio de esperanças que em breve estarei de volta para continuar a luta por dias melhores junto ao meu povo. No entanto, sei que estou pagando um preço alto por estar a frente, junto às demais lideranças, das lutas e conquistas que temos… Portanto, esse preço pago com muita dignidade e peço apenas, nesse momento, tão difícil que as forças continuem unidas, acreditando na nossa inocência.


 


Mas gostaria de dizer ainda, pra finalizar:


 


Pessoas (índios) estão morrendo em nosso território nos últimos anos e a maioria delas, através de emboscadas todas no território Xukuru e isso precisa ter fim. Chico quelé foi a primeira vitima, depois de Xikão. Quem está por trás dessas mortes, destes crimes hediondos, precisa pagar por eles, pois se não inocentes acabam pagando sem dever. Nossa grande luta é pela vida, como nos orienta nosso pai Tupã, da qual seremos sempre os grandes promotores e promotoras.


 


Chega de impunidade, chega de perseguição as lideranças e ao povo Xukuru.


 


Aqueles que tentam nos destruir têm que aprender que aprendemos com o nosso grande professor Xikão: “em cima de medo coragem”, com o Cacique Marcos: “Diga ao povo que avance, diga ao povo que avance!”, com o nosso pajé: “que as nossas forças estão na pedra do Reino do Ororubá”.


 


Agradeço especialmente aos nossos parceiros, pela articulação, pelo crédito no nosso trabalho.


 


Nosso povo é forte e junto comigo continuará resistindo e como disse um grande líder indígena


 


“Somos milhões e mesmo que todo o universo seja destruído, nós viveremos”.


 


Salve as forças encantadas do Reino do Ororubá!


Salve as matas, as pedras e as águas!


Salve a união e a força de todo o povo Xukuru!


 


Um beijo no coração de todo o meu povo e um feliz ano novo cheio de paz e harmonia para todos e todas.


 


Do amigo aprisionado


 


Agnaldo Xukuru


 

Fonte: Cimi
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