Audiência pública reúne cerca duas mil pessoas para discutir
Audiência pública reúne cerca duas mil pessoas para discutir
A situação do povo xakriabá
“ temos mais guerreiros que não abriram mão de morrer em defesa do nosso direito – fala de Domingos Nunes de Oliveira, Cacique do povo Xakriabá ”
Aconteceu nesta terça feira(30/10/2007), uma audiência pública no território xakriabá.
A Audiência teve início as 11: 00 hs da manhã e se estendeu até as 15:00 horas.
A mesa foi coordenada pelo presidente da comissão de segurança pública Deputado Sargento Rodrigues e foi composta pelos Deputados Estaduais Paulo César(PDT) e Paulo Guedes(PT), Dr. Luís chaves (Instituto de terras de Minas Gerais), Waldemar Adilson Krenak (administrador da FUNAI), José Nunes de Oliveira(Prefeito de São João das Missões-MG), Antonio Araújo santana(presidente da câmara municipal de São João das Missões), José Cordoval (Prefeito de Matias Cardoso), os caciques Domingos Nunes de Oliveira, Santo Caetano Barbosa e Antonio Possidonio.
Entidades e movimentos sociais:
Comissão em defesa dos povos excluídos(as)
Conselho Indigenista Missionário – CIMI, Cáritas Diocesana de Januária, CEFET, Comissão Pastoral da Terra, Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas – CAA, Movimento dos Sem terra – MST, Quilombolas, Congregação das Irmãs da Divina Providência, CEIVA, Unimontes
A temática da audiência estava voltada para a preocupante situação em que o povo xakriabá está vivendo no momento.
Dia 16/09/2007, o índio xakriabá Avelino Nunes de Macedo foi brutalmente assassinado.
O deputado Paulo César reforçou a importância da realização da audiência Pública no território Xakriabá, um espaço político importante e que pela primeira vez acontece em um território Indígena.
José Nunes fez um relato sobre o processo de luta pela garantia do território xakriabá, lembrou que a violência contra o seu povo está diretamente ligada ao conflito fundiário que vem acontecendo a décadas. Denunciou o fato de as autoridades só tomarem providências mediante ao derramamento de sangue.
Lembrou que os povos indígenas, antes da invasão eram mais de cinco milhões e hoje são pouco mais de setecentos mil, que a negação dos direitos destas comunidades indígenas que continuam resistindo também é uma forma de extermínio.
O Deputado Paulo Guedes chamou atenção para o descaso do Governo do Estado para com a segurança da população que vive no norte de Minas Gerais, que o Governo Aécio Neves virou as costas para o povo Norte Mineiro, que o efetivo policial não corresponde, que existem delegacias que estão sem viaturas, faltam Delegados, enquanto que o Governo do Estado de Minas Gerais se preocupa com divulgações que enaltecem o seu trabalho.
O diretor do Instituto de Terras de Minas Gerais Dr. Luís Chaves, falou da situação de violência que os povos Indígenas vem sofrendo a séculos, que é preciso discutir as questões da violência que envolve os povos Indígenas nas suas raízes, e que exigir a condenação dos assassinos de Avelino Nunes de Macedo é o obvio , discutir a questão fundiária é fundamental para avançar na efetivação dos direitos dos povos Indígenas.
Denunciou a situação que os povos Indígenas de Minas Gerais vem sofrendo.
Falou da situação dos Aranã, Kaxixó, Pataxó, Krenak, Pankararú, Xukurú, Maxakalí, onde a situação não é diferente, estes povos sofrem todo tipo de discriminação e violência por falta da sensibilidade das autoridades e sociedade envolvente em reconhecer e efetivar os direitos desses povos, principalmente quando envolve a luta pela demarcação de suas terras.
O cacique Domingos Nunes de Oliveira falou que o assassinato de Avelino Nunes de Macedo está inserido no contexto maior, que não é fato isolado do contexto da luta pela terra, disse que o povo Xakriabá está vivendo em menos de um terço do seu território, que o seu pai Rosalino Gomes de Oliveira foi assassinado por defender os direitos do seu povo, que por ocasião da antiga demarcação a população era de 3.000 indios e que hoje vivem na mesma área cerca de 8.000 pessoas.
“ temos mais guerreiros que não abriram mão de morrer em defesa do nosso direito – fala de Domingos Nunes de Oliveira, Cacique do povo Xakriabá ”
Exigiu uma ação urgente da FUNAI PARA EVITAR QUE MAIS LIDERANÇAS VENHAM A SER ASSASSINADAS.
Lembrou que a ampliação do território é urgente e necessária e que a terra é elemento essencial para a sobrevivência dos povos Indígenas.
Denunciou a situação de violência que o povo vem sofrendo devido ao processo de organização em defesa dos seus direitos, que muitos Índios Irão morrer se o Governo Federal não tomar uma providência.
Emocionado, pediu que as autoridades não deixassem que mais Índios venham a ser assassinados, pois o Povo Xakriabá continuará lutando pelo seu território, mesmo que para isso novos guerreiros tenham que perder as suas vidas, derramar o seu sangue, virar adubo.
Parentes de Avelino Nunes de Macedo pediram Justiça, falaram da dor e da preocupação caso os assassinos sejam colocados em liberdade. “ não agüentaremos ver esses assassinos transitarem livremente, passarem em nossa frente como se nada tivesse acontecido”.
O cacique santo Caetano Barbosa denunciou as ameaças que as lideranças envolvidas no processo de luta pela terra vem sofrendo, que novos assassinatos podem acontecer a qualquer momento. Que estão sendo ameaçados de expulsão de uma área que moram e plantam as suas roças a dois anos. Exigiu uma intervenção urgente da FUNAI nas ações possessórias contra o povo Xakriabá.
O administrador da FUNAI, Waldemar Adilson Krenak, relatou a situação em que o órgão vem passando, disse que o quadro de funcionários é insuficiente para acompanhar as demandas, que o processo de reestruturação do órgão é urgente.
Disse que no momento a FUNAI só conta com três antropólogos para realizar o trabalho em todo o território nacional.
Lembrou ainda que a administração Regional de Governador Valadares conta apenas com 36 servidores para acompanhar as demandas de Minas Gerais e Espírito Santo, que muitos estão se aposentando e que não há reposição de quadros, lembrou que existem povos em Minas Gerais que estão sem chefe de posto.
Elizamar Gomes da Silva da aldeia morro vermelho, iniciou sua fala perguntando quantos índios mais terão que morrer para que os seus direitos sejam garantidos, e que a FUNAI não tem assumido o seu papel, que os problemas da FUNAI não podem sobrepor os problemas que as comunidades vem passando, que aquele espaço tem que ser para apresentar soluções para os problemas da comunidade Indígena, não para reforçar um discurso estratégico de negação dos direitos das comunidades Indígenas, “ não queremos ouvir os problemas do governo, queremos solução para os nossos problemas.”
A situação de violência que o povo Xakriabá vem sofrendo, de acordo com a as falas expressadas no sentimento de indignação e preocupação de suas lideranças, reforçam a necessidade de adotar medidas que possam amenizar a tensão que envolve este novo assassinato, a violência contra o povo está vinculada ao processo de luta pela garantia dos seus direitos, em especial a luta pela ampliação do seu território, velhas estratégias do poder político e econômico da região tentam barrar a efetivação dos direitos do povo xakriabá.
A todo momento, as lideranças faziam um paralelo com a violência e discriminação sofrida na década de 80, naquele período várias lideranças foram assassinados, momento em que as ações do povo xakriabá estavam voltadas pela garantia do seu território, o poder político e econômico da região se articulavam numa campanha de difamação contra o povo xakriabá.
A situação atual, onde se inicia um novo processo de retomada de suas terras, as ações de violência continuam.
A audiência foi um desabafo do povo xakriabá, que mais uma vez chamam atenção das autoridades para o clima tenso que se instala na região.
A comissão parlamentar que coordenou a Audiência se reunirá nesta quarta feira para oficializar os encaminhamentos.
Equipe xakriabá