Manifestação pública pelo fim do preconceito contra os Guarani em Santa Catarina
Nessa primeira quinzena de setembro de 2007, nossa comunidade e nosso povo, Guarani, foram duramente atingidos por manifestações de preconceito, discriminação e ignorância que beiram a xenofobia. Essas manifestações partiram de representes do poder público e dos trabalhadores da cidade de Gaspar, localizada no Vale do Itajaí, Santa Catarina. O fato começou quando decidimos comprar um pequeno lote de terra no município pra assentar algumas famílias de nossa comunidade.
Assim que a prefeitura municipal tomou conhecimento de que estaríamos comprando a terra, publicou um decreto tornando a terra de utilidade pública. Até esse momento o terreno não estava nos planos da prefeitura, bastou que anunciássemos a compra para que o decreto fosse publicado, ficando claro que o objetivo é impedir nossa presença no município. Em seguida aconteceram diversas manifestações no rádio e jornais locais, como da presidente do sindicato dos trabalhadores rurais que insinua que somos ladrões e preguiçoso: “Vamos ter moradores novos em Gaspar. Índios. Será que nós merecemos povo gasparense? (…) O que virão fazer os índios em nossa cidade?. Comer o peixe de quem trabalha de que faz uma lagoa? (…)Não queremos isso, queremos políticas de apoio aos agricultores, que trabalham e merecem apoio”. Além de pronunciamentos de vereadores e do procurador do município, todos contrários a nossa presença no município.
Lamentamos esse pensamento mesquinho dessas pessoas. Estamos fazendo uma transação imobiliária conforme os costumes dos Juruá kuery/brancos, que é comprar terra, e não conforme nossos costumes, que é fazer nossos tekoha nas terras sonhadas. Mesmo assim não querem permitir. Estamos usando nosso dinheiro, que conseguimos com a indenização da duplicação da BR 101, portanto não estamos pedindo nada a ninguém, queremos nosso direito como todo cidadão brasileiro.
Apesar de a terra ser comprada, vamos usar de nosso jeito tradicional, como nossos velhos ensinaram. Nhanderu/Deus nosso grande pai é quem nos orienta. Começamos pelo respeito à mata, às águas, a terra e a todos os seres que habitam nela. Também aprendemos a respeitar nossos vizinhos. Aprendemos ser tolerantes, partilhar saberes e conhecimentos, nos orgulhamos de ser um povo acolhedor. Em nossas plantações não usamos agrotóxicos ou produtos químicos; as sementes são as verdadeiras, aquelas deixadas por nossos antigos. O rio Itajaí que corta a cidade de Gaspar leva o nome dado por nossos antepassados, será que a prefeitura vai querer mudar também o nome desse rio?
Sabemos que o povo de Gaspar nos acolhe. São algumas pessoas e alguns órgãos públicos que tem pensamento preconceituoso. Como a manifestação de preconceito e racismo é crime vamos solicitar ao MPF que ingresse com uma representação contra essas pessoas, pra que essas atitudes não mais se repitam.
Aveté Katu (Muito obrigado)