Povo Anacé planeja sua segunda Assembléia, no Ceará
II Assembléia do Povo Anacé
Debaixo da sombra prazeirosa do cajueiro um importante encontro acontece. Trata-se da preparação da II Assembléia do Povo Anacé, que será realizada nos dias 21 a 23 de setembro de 2007 na aldeia de Matões, localizada em Caucaia, Ceará, a 54 km de Fortaleza.
As lideranças locais convidam representantes do movimento indígena do Ceará: Dourado Tapeba, da Apoinme (Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo) Fernando Tremembé, da Copice (Coordenação das Organizações Indígenas do Ceará); Weber Tapeba, da Acita (Associação das Comunidades dos Índios Tapeba), entre outros.
A pauta será: análise de conjuntura; os mais velhos vão contar a história; questão do território Anacé e os impactos ambientas; educação escolar diferenciada; saúde diferenciada.
Júnior Anacé, jovem liderança, explica por que seu povo vai fazer essa Assembléia: “Pela necessidade que nós temos de organizar o nosso movimento e o apoio dos demais povos do Ceará e do Nordeste; pela preocupação com os grande empreendimentos que estão sendo feito pelo Governo do Estado em nossas terras. A preocupação maior são as desapropriações, que já foram feitas em três aldeias. Hoje, parte de nosso povo vive nos assentamentos de Munguba, Forquilha e Novo Torém. Foi grande o sofrimento que estes parentes enfrentaram em serem retirados de suas terras. Também foi grande o sofrimento dos 32 antigos que morreram nos primeiros sete anos em que foram arrancados de seu território. Morreram de tristeza e desgosto”.
O movimento indígena fortifica-se especialmente nas realizações de Assembléias. A liderança Walter Tapeba explica que elas prestam para troca de experiência entre povos e os povos indígenas. Abrem espaço para discutir e enfrentar os desafios colocados. São local de discussão das demandas atuais, de visibilidade dos povos indígenas e do movimento indígena como um todo, em nível local, regional e nacional.
“Estas reuniões demonstram a autonomia dos povos indígenas em propor Assembléias sem ser pelo Estado, e convidar órgãos governamentais para se pronunciar, dando resposta a nossos questionamentos”, detalha Weber Tapeba que também compõe a Subcomissão de Educação da Comissão Nacional de Política Indigenista.
Quixeramobim – CE, 07/junho/07
Alexandre Fonseca (Cimi Ne)
Entrevista com Dona Valda Anacé, viúva e liderança, conta sua participação no processo de luta pelo reconhecimento territorial e étnico do povo Anacé, iniciado em 2002, e fala também da participação das mulheres.
Dona Valda relata conversa com seu filho.
“O Júnior, meu filho, me chamou e disse:
– tem um convite para a senhora!
– Vixe meu filho! Eu nunca saí – eu respodi
– A senhora precisa sair. Conhecer outros povos.
– Eu tô com medo!
– Vá para me representar.
– Vou pensar.
– Pois então eu fui. Quando cheguei lá na rodoviária de Poranga, fui acolhida por Jorge. Ele me levou para o local do encontro de lideranças indígenas da Região de Crateús.Quem recebeu nós foi as famílias. Encontrei uma viúva, dona Antonia. Ela me escolheu para ficar hospedada em sua casa. Levar e trazer todos os três dias.
Eu fui! Eu pensava: Meu Deus, o que vou falar se não sei de nada! Mesmo assim, falei! Não sabia que tinha essa capacidade. Me identifiquei e disse que tinha ido para trazer e levar notícias da gente sobre a nossa terra. Fui enfrentar. Graças a Deus gostei. O medo foi tão grande que eu soube até falar.
Agora vou a Belo Horizonte para o Encontro das Mulheres Guerreiras. Espero que Deus me abençoa para levar alguma coisa e trazer o que elas têm de bom. Tudo que vem na nossa frente a gente enfrenta: temos que encarar tudo isso.
Existe esse movimento e nós, hoje, estamos avivando o que estava apagado É a história verdadeira contada pelos mais idosos.
– E não faz medo não? – pergunta Alexandre Fonseca
– Medo a quê? Se eu tô no que é meu. Tô defendendo o que é meu. O direito que nós temos. Assim se juntam e se reúnem que todos são iguais. É nossa organização. E quem quiser vir junto com a gente, pode vir. As mulheres têm muita força. Elas nas reuniões fazem mais parte que os homens. Aí, fica de uma para outra: ‘Vamos mulher?. ‘Vamos!’. Estão convencendo os maridos!A luta é grande e difícil, mas é boa! Nossa última reunião tinha 78 pessoas. A maioria mulher”.