15/06/2007

Liderança indígena é vítima da negligência do sistema público de saúde

A comunidade Kaingang da Aldeia Conda esta de Luto! Faleceu, na manhã desta quinta-feira, 14 de junho, Valdemar Salvador, de 38 anos, cacique da comunidade, liderança conhecida pela sua personalidade, alegria contagiante e coragem de agir frente aos problemas da comunidade. Valdemar era muito querido, tanto na aldeia como na região, pela sua perspicácia, ousadia, diplomacia em cobrar dos órgãos públicos os anseios e direitos da comunidade.


 


A luta pela reconquista do território tradicional


Valdemar era liderança quando o grupo vivia acampado em um bairro na cidade de Chapecó, “incomodando” aqueles que nunca aceitavam sua presença física e cultural. Autoridades locais sempre usaram da violência para expulsá-los, carregando-os em caminhões para levá-los a outras aldeias, dizendo que ali não era o lugar deles.


 


Mas o grupo sempre retornava ao local onde viram seus antepassados serem expulsos e mortos pelos colonizadores que aqui chegaram. Depois de muitos anos acampados, desprezados pelos brancos, no inicio da década de 90 do século passado, a comunidade se mobilizou, juntamente com entidades de apoio, reivindicando a criação de um Grupo de Trabalho para identificar e delimitar o território tradicional.


 


Em 1998 foi identificado como sendo de ocupação tradicional o lugar onde é hoje a cidade de Chapecó.


 


Através da postura sempre firme e atuante de Valdemar, junto com outras lideranças, garantiu-se a demarcação de 2300 hectares de terra, onde vive hoje aproximadamente 100 famílias.


 


Atendimento medico


 


Valdemar Salvador vinha já há algum tempo lutando contra uma complicação renal. Segundo Samuel Gaudino, vice Cacique da aldeia, Valdemar foi internado há cinco meses, e a Funasa se recusou, na ocasião, a  pagar um exame que custava R$ 350,00, alegando que não havia recurso disponível. Também Adelaide Salvador, mulher de Valdemar, deu um depoimento afirmando que, por muitas vezes, ela e seu marido tiveram que esperar horas na fila de “postinhos” de saúde na cidade para ser atendidos, mesmo quando Valdemar já estava com sua saúde debilitada. A negligência do órgão responsável fez com que Valdemar viesse a ser internado em outras oportunidades, sempre retornando para casa, sem uma solução.


 


Não é admissível que um órgão seja isentado de sua responsabilidade frente a casos como este e outros que já foram denunciados no Ministério Público Federal.


 


A vida de Valdemar Salvador representa a luta de um povo que nunca desistiu de exigir, reivindicar e lutar pela garantia de seus direitos. Direito de sobreviver em meio a uma realidade que insiste em desprezar e ignorar este povo, através do forte preconceito que continua a perpetuar na região, mesmo sabendo que os povos indígenas  foram os primeiros a habitar neste lugar e são detentores de direitos diferenciados.


 


O Conselho Indigenista Missionário é solidário à família de Valdemar Salvador e ao povo Kaingang da Aldeia Conda neste momento de dor e sofrimento.  Valdemar Salvador continuará sempre vivo na memória e vida do povo Kaingang.


 


Chapecó, 15 de julho de 2007


Cimi Sul – Equipe Chapecó

Fonte: Cimi Sul
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