11/04/2007

Índios em Manaus – uma face pouco conhecida da cidade

A população indígena de Manaus é de aproximadamente sete mil indivíduos, espalhados pelas quatro zonas cidade, de acordo com Censo feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2000. Vindos de vários municípios do Amazonas e de outros estados, eles vivem nos bairros da periferia, em lugares onde não há saneamento básico, postos de saúde, escolas, segurança e outros serviços básicos. Para sobreviver, muitas famílias produzem e comercializam artesanato, os homens fazem pequenos trabalhos – os “bicos”- e as mulheres são empregadas domésticas.


 


Para conhecer melhor essa realidade e, a partir de dados concretos, formular propostas de políticas públicas, as organizações indígenas da cidade de Manaus, juntamente com a Pastoral Indigenista da Arquidiocese de Manaus (Piama) e o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), estão buscando apoio do IBGE para mapear a população indígena urbana. “Nós queremos saber onde eles moram, como estão vivendo e quais suas mais urgentes necessidades”, explica Ana Delia Oliveira, da Piama.


 


O levantamento desses dados terá início nos próximos dias, começando com uma oficina de formação para todos que trabalharão na busca das informações, com assessoria metodológica de técnicos do IBGE. Os recenseadores serão os próprios indígenas, acompanhados de perto pelos membros da Pastoral Indigenista. O IBGE também irá disponibilizar as informações sobre onde estão localizados os indígenas.


 


Uma das metas desse trabalho é mostrar aos órgãos governamentais, primeiramente, que há uma considerável população indígena na cidade e, segundo, que a Constituição Federal lhes garante um tratamento diferenciado que não está sendo praticado pelos governos, sobretudo municipal e estadual.


 


Uma primeira tentativa de chegar a essa meta foi o encontro entre lideranças das organizações indígenas da cidade e Pastoral Indigenista com o prefeito de Manaus, Serafim Corrêa. A reunião aconteceu em 19 de abril de 2005. Os indígenas apresentaram suas dificuldades e necessidades. O prefeito, por sua vez, determinou aos secretários que atendessem as organizações na medida do possível. A antiga Semtra, dirigida pelo secretário Jéferson Praia, saiu na frente e apoiou a criação da feira de artesanato que desde fevereiro de 2006 ocorre uma vez por mês na Praça da Saudade, para ajudar os indígenas a melhorar sua renda. Porém, quando se trata de saúde e educação, as dificuldades encontram barreiras quase instransponíveis.


 


Assembléia – “Manaus, mostra tua cara indígena”. Este foi o lema da I Assembléia dos Povos Indígenas de Manaus, promovida pela União dos Povos Indígenas de Manaus – Upim, com apoio da Pastoral Indigenista da Arquidiocese de Manaus e Cimi Norte I, nos dias 03 e 04 de abril, no auditório da Reitoria da UEA – Universidade do Estado do Amazonas. Mais de 200 indígenas, de vários povos diferentes, participaram do evento que encerrou com uma manifestação no centro da cidade.


 


Eles ouviram atentamente os relatos de representantes de órgãos como a Manaustur, Amazonastur, Semed, Semsa, Fiocruz e CDH. Apesar desses órgãos terem destacado inúmeras melhorias no atendimento aos indígenas, vários foram os questionamentos, sobretudo dirigidos aos responsáveis pela saúde. Os indígenas reclamavam de que nos postos de saúde, principalmente, não são bem atendidos e nem lhes é permitido praticar suas formas tradicionais de cura. Foi citado o exemplo de uma família Tikuna que recentemente teve problemas em um dos hospitais da cidade que não lhes permitiu acesso a uma criança que estava internada.


 


“Um dos mais graves problemas que os indígenas da cidade enfrentam é o atendimento à saúde, sem dúvida. Quando procuram os hospitais ou postos de saúde e se identificam como indígenas, são mandados para a Funai, que nem é o órgão responsável pela assistência à saúde dos índios. Além da discriminação, a desinformação dos agentes públicos colabora para precarizar ainda mais a vida dos índios que vivem no meio urbano”, diz Ana Delia Oliveira, da Pastoral Indigenista.


 


Segundo ela, as informações e propostas formuladas a partir do levantamento dos indígenas em Manaus servirão para acabar com o preconceito, contribuir para informação dos agentes públicos e para proporcionar melhor assistência por parte dos órgãos municipais e estaduais.


 


Comunidades e organizações indígenas na cidade de Manaus


Aceam


Amarn- Associação de Mulheres Indígenas do Alto Rio Negro


Amism- Associação de Mulheres Indígenas.


Coiab – Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira


Comunidade Apurinã


Comunidade Deni


Comunidade Kokama (Grande Vitória)


Incrasim


Meiam- Movimento dos Estudantes Indígenas do Amazonas


Satere-Mawé Y`apyreh`yt (Redenção)


Tikuna Wotchimaucu (Cidade de Deus)


Upim – União dos Povos Indígenas de Manaus


Waykyhu – Sateré- Mawé (Redenção)


  






















Povos Indígenas em Manaus


De onde vêm


Tikuna, Kokama, Cambeba


 Alto Solimões  e Médio Solimões (Tabatinga, Benjamin Constant, Fonte Boa, Alvarães, Tefé, Santo Antônio do Içá, e outros.


Tukano, Dessano, Tariano, Baniwa, Baré, Piratapuia, Wanana,


Alto Rio Negro (São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel do Rio Negro, Barcelos).


Deni


Juruá (Itamarati).


Sateré Mawé, Munduruku, Mura


Baixo Amazonas (Parintins, Maués, Barreirinha, Autazes, Nova Olinda do Norte, Borba).


Apurinã


Purus (Lábrea, Tapauá).

 

Fonte: J. Rosha - Cimi - Norte I
Share this: