14/03/2007

Campanha da Fraternidade 2007 – A Amazônia é aqui (artigo de Jorge Vieira)

Jorge Vieira[1]


 


Finalmente a Amazônia torna-se uma questão de interesse nacional. Anteriormente, quando missionários católicos e ambientalistas levantavam a bandeira contra o desmatamento da floresta amazônica, eram taxados de representantes de interesses escusos e até de invasores do território nacional. Por coincidência, na manhã da Quarta-Feira de Cinzas, dia 21 de fevereiro, cerca de 8 horas, a rádio CBN fazia uma entrevista com o sociólogo, amigo íntimo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Hélio Jaguaribe, quando este retomava os mesmos chavões da era da Ditadura Militar e do governo neoliberal a quem serviu. Momentos depois, no local onde houve a abertura da Campanha da Fraternidade da Arquidiocese de Maceió, um vereador, dizendo-se representante do Poder Legislativo do município de Joaquim Gomes, Alagoas, fez referência a tal entrevista, retomando a falácia de que missionários querem vender a Amazônia.


 


Felizmente, no atual contexto, essas vozes desinformadas e afinadas ideologicamente com interesses do agronegócio, madeireiras e mineradoras não ecoam mais no seio da população em geral. Por isso, não poderia deixar de registrá-las, mas, também, não se trate utilizar esse espaço com absurdos dessa natureza.


 


O que interessa destacar é o debate que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil está fazendo e estimulando, não somente entre seus fiéis, mas em toda a comunidade nacional e internacional. Hoje, a questão do meio ambiente preocupa a humanidade. Junto à preocupação com a Amazônia, deve também estar em pauta a vida daqueles que vivem na floresta: as populações indígenas, quilombolas, ribeirinhos e camponeses.


 


De certa forma é fácil para quem vive longe daquela região discutir seus problemas e até condenar as práticas de poluição dos rios, desmatamento e degradação do meio ambiente – até empresas que desmatam financiam atividades de divulgação da campanha! Por um lado faz o discurso de defesa do meio ambiente e, do outro, defende o avanço das fronteiras agrícolas, a exemplo da soja, da pecuária e do biodiesel. Por ironia macabra, o presidente Bush, em pleno debate sobre a devastação das matas e poluição dos rios, propõe para o Brasil ser parceiro dos Estados Unidos na área de produção de energia renovável! Será que alguém tem dúvida sobre a devastação que o capital internacional vai praticar em nome do desenvolvimento econômico?! O estado do Mato Grosso do Sul é o protótipo disso. Estão sendo instaladas usinas açucareiras em pleno coração do Pantanal sul-mato-grossense, lá onde vivem as populações indígenas Terena, Kaduwéu e Guató.


 


E não será diferente nas outras regiões do país. Em Alagoas, o pouco que resta das terras agricultáveis será objeto de disputa violenta para a ampliação do cultivo da cana-de-açúcar. As conseqüências são históricas: uma maior concentração da terra, poluição dos mananciais e desmatamento do que resta da Mata Atlântica. E mais: aumento da miséria e da violência no campo.


 

O debate não se limita à Amazônia. A exemplo do que afirmou o Diretor-Presidente da empresa alagoana Socôco, Emerson Tenório, em entrevista concedida ao jornalista Ricardo Mota, TV Pajuçara, afiliada da TV Record, no dia 04 de dezembro de 2006, diante da pergunta sobre o meio ambiente e desenvolvimento, profetizando: “O nosso deus é o mercado. É o Senhor que temos que obedecer”.






[1] Missionário do CIMI/NE e Jornalista.

Fonte: Cimi - NE
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