07/03/2007

O debate campesino na Amazônia.

 


Na Amazônia, o camponês é todo aquele que se relaciona com a água, a terra e a floresta: o indígena, a comunidade ribeirinha, os pescadores, quilombolas e outros. Aqui na Amazônia, toda e qualquer luta que se fizer vai adquirir um caráter anti-imperialista, pois é necessário colocar para a sociedade uma outra pauta política e econômica, pensando a luta para além das organizações próprias de cada movimento.


Para tanto é necessário ter uma unidade de análise e de ação, de modo a permitir que toda a luta produza os efeitos esperados para o nosso povo, acumulando forças para um projeto de sociedade que queremos. Para enfrentar esses desafios e fortalecer a organicidade da luta, se realizou entre de 03 de fevereiro a os dias 06 de março de 2007, no Centro de Formação Mártires de março, no bairro de São Félix em Marabá/PA a formação da 1ª turma de militantes da VIA CAMPESINA – Pará.


Em um espaço ainda por ser construído encontraram-se, pela primeira vez, indígenas das etnias Tembé (NE/PA) e Arapium (Santarém), pescadores, pequenos agricultores, Sem-Terra, jovens do Campo e da cidade e de outros segmentos ameaçados pelos projetos exógenos à região, para debater e aprofundar questões sobre o Estado, a Amazônia, organização política e trabalho de base.


O curso de militantes destinou-se a jovens a partir de 15 anos, o que resultou no entrelaçamento das idéias de luta em favor de uma nova Amazônia. É certo que houve no início um certo estranhamento, natural quando povos tão diversos que defendem seus territórios se encontram e passam a conviver em um mesmo espaço. Mas a exuberância da juventude logo pôs por terra todas as barreiras. E pode-se, então, ver esses povos da Amazônia, vindos de diversas partes do Pará e até do Tocantins, aplicando suas energias aos estudos para a compreensão dos mecanismos da sociedade e como se constituiu a desigualdade em nosso país.


Para trabalhar essa questão foi convidado Claudemir Monteiro, Cientista Social e coordenador do CIMI Regional Norte II. O tema trabalhado sugeriu uma reflexão por parte de todos: O que é a Sociedade? De forma simples, foi possível apresentar as diversas explicações de como funcionam as sociedades humanas.


O Estado e sua constituição também foram estudados, o seu funcionamento, sua estrutura e o peso que significa para a sociedade. Contamos para isso com Raimundinho, do Movimento Consulta Popular em Marabá.


Daí, passamos a estudar a Amazônia, sua constituição histórica e geográfica, focalizando no tema dos grandes projetos despejados sobre a região a partir da década de 1950.  Fomos assessorados por Neide Coelho do instituto AMAS.


O esforço dos estudos continuou com a assessoria de Ulisses Manaças e Charles Trocatte, ambos do MST, que apresentaram a história das lutas dos trabalhadores no mundo e a teoria da organização política.


A notícia do atentado contra a vida do cacique Dadá , coordenador do CITA, deixou tristes e preocupados os indígenas e a todos os demais militantes do curso. Por questão de segurança, receberam orientação para que permanecerem no curso e tiveram notícias que felizmente o cacique já estava de volta a sua aldeia.


Prosseguimos com a apresentação das diversas formas de organização política, das organizações e movimentos que compõem a VIA CAMPESINA no Pará e as demais entidades convidadas. MST, MPA, MAB, MMC, CPT, CIMI, CPP, CRB, PJR, Cáritas e ainda GCI, CITA, UJCC, FDA.


A organização da VIA CAMPESINA, sua estrutura e como está espalhada no mundo foi apresentada por Galego, da CPT nacional.


Um dos dias de lazer da turma foi aproveitado pelos indígenas para visitar os parentes que moram próximo a Marabá. Foram até a aldeia dos índios Guarani em Jacundá, e foram recebidos por Regina Guarani, liderança do povo. Foram convidados a dormir na aldeia, o que não puderam fazer devido ao compromisso com o curso.


A lição apreendida nesses dias de convivência foi consolidada com a assessoria de Ranulfo Peloso, do CEPIS, que orientou os militantes no trabalho de base. Ainda tivemos nesta semana oficinas de comunicação, pintura indígena, Capoeira, confecção artesanal de redes de pesca, teatro do oprimido.


Já na última semana do curso, a turma passou a denominar-se Amâncio dos Santos Silva, uma forma de homenagear o primeiro a tombar no massacre da curva do S em Eldorado dos Carajás, no Pará, no ano de 1996. Deste modo, a 1ª turma de militantes da VIA CAMPESINA, Amâncio dos Santos Silva, encerrou esta etapa do curso e os jovens militantes seguiram rumo a Belém para montar o acampamento das mulheres, uma jornada de quatro dias de debates e discussões promovido por movimentos sociais da cidade e do campo durante a semana .


 


 

Luiz Cláudio (CIMI Norte II)

Fonte: Cimi No2
Share this: