27/02/2007

Amazônia em Dourados, MS


Na fachada da catedral aberta uma grande faixa um tanto inusitada “Olhar a Amazônia é olhar a nossa realidade”. Em frente à igreja, um grupo de jovens de mãos dadas fazendo uma prece. Portavam vozes da denúncia: moto serras, machados, foices, facões, latas de veneno e uns frágeis galhos de árvores. Pronta a invasão. As armas da destruição serão depositadas em frente ao altar. Mas não sem antes fazer sentir o estranho barulho da motoserra em plena celebração. Talvez essa tenha sido a primeira vez que as paredes do templo tenham acolhido esse ronco de morte e destruição. Até porque, até há pouco tempo, se freqüentassem esse espaço, seriam vistas como heróis do progresso!


 


Rapidamente são recolhidos os tapetes vermelhos estendidos na escadaria da catedral onde foi feita a abertura da Campanha da Fraternidade “Amazônia, nossa missão nesse chão!”. Sugestivo o grito, em plena mata atlântica agonizante (no Mato Grosso do Sul que hoje é menos de 5% da floresta). Diante do prenúncio de chuva, as pessoas foram se apinhando dentro do templo. Aninhei-me bem à frente para fazer algum registro. Esperava estar entre altos loiros desbotados. “Colonizadores e desbravadores” da cultura da terra arrasada. De repente, olho ao meu redor e me sinto alto em meio a pessoas de baixa estatura, muitos de pele de cor morena e preta. Achei estranho, um careca deslocado, logo me dei conta de que ali estava a Dourados tornada invisível, da periferia, da redondeza. Um tanto invocado e curioso, busquei na multidão algum rosto das habitantes primeiros dessa terra. Não encontrei um Guarani ou Kaiowá sequer. Aliás, um senhor de cabelos já esbranquiçados, olhos puxados, estava na primeira fileira. Continuei vendo tantos pardos, mulatos, negros, desde o altar até o coral. Quem sabe para os índios esse ainda continue sendo um lugar não desejável por ser muito identificado com espaços dos invasores.


 


Na sua fala, o bispo Dom Redovido procurou trazer o tema da Campanha para mais próximo falando do Pantanal ameaçado, da Mata Atlântica destruída, da natureza devastada, do chão envenenado, dos grãos da cobiça e acumulação, do planeta ameaçado, do futuro em risco. “Tenho medo que um dia as crianças daqui não mais conhecerão o Pantanal, a Amazônia!”, externou seu ceticismo com relação ao futuro, caso não consigamos reverter os rumos da política e economia atual.


 


O grito ensurdecedor e a solidariedade


 


Se as árvores falassem, se os rios chorassem, se as aves e animais juntos gritassem o basta à destruição, certamente teríamos um barulho ensurdecedor ao nosso redor, dia e noite. É pena que não somos capazes de ouvir os gritos da natureza e dos nossos irmãos, especialmente os povos indígenas desta região, cujo clamor diário brada por justiça, paz, respeito e direito à vida. Enquanto continuarmos surdos a esse grito, que está ao nosso redor, dificilmente faremos algo eficaz pela Amazônia e seus povos ameaçados.


 


Amazônia é aqui, Amazônia é também Guarani.


 


Egon Heck Cimi MS – Campo Grande, tempo de quaresma, da Campanha da Amazônia

Fonte: Cimi MS
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