28/11/2006

Manifesto da Aty Guasu dos Professores e Lideranças Indígenas

Realizada em Dourados – MS


 


Em memória de Marçal de Souza Tupã’i, lembrando os 23 anos de seu assassinato; cobrando justiça na impunidade e honrando todo o sangue indígena derramado, nós professores e lideranças Guarani Kaiowá, Ñandeva e Mbyá dos Estados de MS, SC, RS e SP, juntamente com nossos parentes Terena e os parentes Xerente, Krahô, Apinajé, Krahô-Kanela, Karajá-Javaé do Estado de Tocantins, queremos dizer a todo mundo que não só existimos, mas que continuaremos lutando com todas as nossas forças pela nossa vida, dignidade e direitos. Estão matando nossos líderes, querendo nos impedir de viver, mas por cada líder que matam nascem milhares de guerreiros dos nossos povos.


 


Estamos reunidos em mais de setecentas pessoas na Terra Indígena de Dourados, onde vivem mais de doze mil indígenas em três mil e quinhentos hectares. É o exemplo gritante do que fizeram e continuam fazendo com nosso povo. E enquanto estávamos aqui reunidos, um grupo Kaiowá Guarani voltou para seu tekoha, os Kaiowá foram logo presos e expulsos pela polícia, mesmo estando à beira da estrada. E nesse mesmo tempo, no Passo Piraju, houve nova invasão e violência querendo expulsar nossos irmãos de lá, enquanto suas lideranças continuam presas. Em outras áreas fazem três meses que não estão recebendo a cesta básica, o que já levou crianças a morrer de fome. Esse é o triste retrato do que estão fazendo conosco. E nada de demarcar e garantir nossas terras em nosso território tradicional. Parece que estão mesmo querendo nos matar aos poucos, causando grande sofrimento e violência em nossas comunidades e aldeias.


 


Discutimos muito sobre a educação escolar indígena em nossas comunidades e aldeias. Pudemos constatar que já tivemos importantes avanços, desde a educação básica até a universidade. Mas precisamos aperfeiçoar ainda muito esses espaços de formação e luta para que sejam de fato formadores de guerreiros e lutadores da nossa vida e dos nossos direitos.


 


A isso tudo queremos dar um basta. Chega de violência, impunidade e mortes. Queremos que justiça seja feita e que os responsáveis por tantas agressões covardes contra nossa gente, sejam punidas. Que nossas terras tradicionais, tekoha, sejam demarcadas e respeitadas, com urgência. Não agüentamos mais ver tanta gente morrendo enquanto o governo e a justiça parecem estar apenas assistindo ou até agravando esse quadro. O mundo não aceita que o genocídio continue.


 


Nós participantes dessa Aty Guasu (Grande Assembléia) aqui participantes vamos fazer a nossa parte.  Estamos unindo e organizando cada vez mais o nosso povo para lutar na lei e na terra pelos nossos direitos. Estamos dando o nosso grito e buscando amigos e aliados no mundo inteiro.


 


Por fim, queremos dizer que com a iluminação e a força de Ñande Ru, nosso grande Pai e com a sabedoria e a coragem de nossas lideranças religiosas, com a nossa esperança e sonhos que não conseguiram matar, vamos lutar e viver, contando com sempre mais amigos e aliados da nossa causa.


 


Dourados-MS, 23 a 26 de novembro de 2006.


 


Aty Guasu dos Professores e lideranças Kaiowá Guarani


 

Fonte: Cimi - Regional Mato Grosso do Sul
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